Se as estrelas aparecessem apenas por uma noite a cada mil anos, como os homens haveriam de crer e adorar, e preservar por muitas gerações a lembrança da cidade de Deus!
Outro mundo! Não existe outro mundo! Toda a realidade está aqui ou em lugar nenhum.
Kalgash é um mundo alienígena e não é nossa intenção levá-lo a pensar que se trata de um mundo idêntico à Terra, mesmo que as pessoas sejam retratadas falando uma língua que você pode compreender e usando termos que lhe são familiares. Essas palavras devem ser consideradas como meros equivalentes de termos alienígenas, isto é, como um conjunto de termos equivalentes semelhante ao que um autor utiliza quando mostra dois personagens estrangeiros conversando entre si em sua própria língua, mas transcreve o diálogo para a língua do leitor. Assim, quando os habitantes de Kalgash falam de “quilômetros”, de “mãos”, de “automóveis” e de “computadores”, estão se referindo às suas próprias um unidades de distância, aos seus próprios órgãos de manipulação, aos seus próprios veículos de transporte, às suas próprias máquinas de processamento de dados, e assim por diante. Os computadores usados em Kalgash não são necessariamente compatíveis com os que são usados em Nova York, Londres ou Estocolmo, e o “quilômetro” que usamos neste livro não é necessariamente a unidade do nosso sistema métrico. Entretanto, pareceu-nos mais simples e desejável usar esses termos familiares para descrever acontecimentos neste mundo alienígena do que inventar uma longa série de expressões exclusivamente kalgashianas.
Em outras palavras, poderíamos dizer que um dos personagens parou para amarrar seus quonglishes antes de começar um passeio de sete vorks pela gleebish principal da sua znoob natal, e nossa descrição teria um ar extremamente alienígena. Seria, porém, muito mais difícil compreender o que estávamos tentando relatar, e isto não nos pareceu interessante. A essência desta história não está no número de expressões exóticas que poderíamos ter inventado e, sim, nas reações de um grupo de pessoas parecidas conosco, vivendo em um mundo parecido com o nosso, a não ser por um detalhe muito significativo, que faz com que tenham que lidar com uma situação que nunca ocorreu na Terra. Nas circunstâncias, achamos melhor informar ao leitor que alguém parou para amarrar as botas antes de começar um passeio de sete quilômetros do que carregar o texto com quonglishes, vorks e gleebishes.
Se preferir, o leitor pode imaginar que no texto está escrito “vorks” em vez de “quilômetros”, “gliizbiiz” em vez de “horas” e “sleshtraps” em vez de “olhos”. Ou pode inventar seus próprios termos. Vorks ou quilômetros, não faz a menor diferença quando as Estrelas desaparecem.