8

Eponine localizou Kimberly em um canto da sala enfumaçada e sentou-se a seu lado. Aceitou o cigarro que a amiga lhe ofereceu, acendeu-o deu uma profunda tragada.

“Ai, como é bom”, disse Eponine suavemente soltando a fumaça em pequenas argolas e olhando enquanto subiam lentamente na direção dos exaustores.

“Por mais que você goste de tabaco e nicotina”, sussurrou-lhe Kimberly, “sei que ia absolutamente adorar kokomo”. A moça americana deu uma tragada em seu cigarro. “Sei que não vai acreditar, Eponine, mas é de verdade melhor do que sexo.”

“Não para mim, mon amie”, respondeu Eponine em tom caloroso e amigável. “Já tenho vícios o bastante. E nunca, jamais, poderia controlar alguma coisa que fosse melhor do que sexo.”

Kimberly Henderson deu uma gostosa gargalhada, sacudindo seu grande cacheado louro que chegava até os ombros. Tinha 24 anos, era mais moça do que sua colega francesa. As duas estavam sentadas fumando na sala para fumantes ao lado dos chuveiros femininos. Era uma salinha mínima, quadrada, com não mais de quatro metros em cada parede, na qual no momento cerca de uma dúzia de mulheres fumavam, de pé ou sentadas.

“Este lugar me lembra a sala dos fundos do bar de Willie em Evergreen, nos arredores de Denver”, disse Kimberly. “Enquanto uns cem caubóis e bóiasfrias ficavam dançando e bebendo no bar principal, oito ou dez de nós nos juntávamos no sagrado ‘escritório’ de Willie, que é como ele o chamava, e nos fodíamos completamente com kokomo.”

Eponine olhou para Kimberly através da fumaça azulada. “Pelo menos aqui não há homens para nos chatear. Estes são terríveis, piores do que os caras na aldeia de detenção em Bourges. Esses caras aí acho que não pensam em nada a não ser sexo o dia inteiro.”

“É fácil saber por quê”, respondeu Kimberly, rindo novamente. “É a primeira vez em não sei quantos anos que não são observados dia e noite sem parar. Quando os homens de Toshio sabotaram todos os monitores ocultos, de repente todo mundo ficou livre.” Lançou um olhar a Eponine. “Mas a coisa tem um lado mau, também. Houve mais dois estupros hoje, um bem na área de recreação para os dois sexos.”

Kimberly acabou seu cigarro e acendeu outro imediatamente. “Você precisa de alguém que a proteja, e eu sei que Walter ia adorar o emprego. Por causa de Toshio, os presos na maioria já desistiram de cismar comigo. Minha maior preocupação agora são os guardas da AEI — eles pensam que são merda importante. Só aquele italiano lindo e parrudo, Marcello não sei das quantas, é que me interessa. Ontem ele me disse que me faria ‘gemer de prazer’ se fosse me juntar a ele no quarto. Fiquei tentadíssima, até ver um dos capangas do Toshio nos olhando.”

Eponine também acendeu outro cigarro. Sabia que era ridículo fumar um depois do outro, mas os passageiros da Santa Maria só tinham três “paradas” de meia hora por dia, e era proibido fumar nas superpopulosas áreas de estar.

Enquanto Kimberly foi momentaneamente distraída por uma pergunta feita por uma mulher fortona de cerca de quarenta anos, Eponine rememorou os primeiros dias desde que deixara a Terra. Em nosso terceiro dia fora, lembrou ela, Nakamura mandou um mediador me procurar. Eu devo ter sido sua primeira escolha.

O imenso japonês, lutador de sumô antes de se tornar cobrador de uma famosa cadeia de jogo, curvara-se formalmente ao aproximar-se dela na sala m/f.

“Srta. Eponine”, dissera ele em inglês, com muito sotaque, “o meu amigo Nakamura-san pediu-me que lhe dissesse que a acha muito bonita. Ele lhe oferece proteção total em troca de sua amizade e um ocasional momento de prazer”.

A oferta tinha seus atrativos, rememorou Eponine, e não difere muito do que a maioria das mulheres de aspecto razoável na Santa Maria acabou por aceitar. Eu já sabia que Nakamura era muito poderoso. Mas não gostei da frieza. E cometi o erro de pensar que poderia permanecer livre.

“Está pronta?” repetiu Kimberly, e Eponine acordou repentinamente de seu devaneio. Apagando o cigarro, dirigiu-se com a amiga para o vestiário.

Enquanto se despiam e se preparavam para o chuveiro, pelo menos uma dúzia de olhos banqueteavam-se com seus magníficos corpos.

“Não te chateia”, perguntou Eponine quando estavam já lado a lado no chuveiro, “que essas sapatonas fiquem te devorando com os olhos?”

“Neca”, respondeu Kimberly. “De certo modo, eu curto. Não deixa de ser elogioso. Não há muitas mulheres por aqui com o nosso aspecto. Até me excita ver a fome com que elas me olham.”

Eponine lavou a espuma de sabão de seus seios rijos e fartos, e inclinouse para Kimberly. “Então já fez sexo com outra mulher?”

“É claro”, respondeu Kimberly com seu riso grave. “Você, não?” Sem esperar pela resposta, a americana começou com uma de suas histórias.

‘Minha primeira fonte de drogas em Denver era sapatão. Eu só tinha dezoito anos e era absolutamente perfeita, da cabeça aos pés. Quando Loretta me viu nua pela primeira vez, pensou que morrera e fora para o céu. Eu acabava de entrar para a escola de enfermagem, de modo que não tinha muito dinheiro para drogas, e por isso fiz um trato com Loretta. Ela podia trepar comigo, mas só se me fornecesse cocaína regularmente. Nosso caso durou uns seis meses. A essa altura eu mesma já estava traficando e, além disso, tinha me apaixonado pelo Mágico.”

“Pobre Loretta”, continuou Kimberly, enquanto ela e Eponine enxugavam as costas uma da outra no lavatório junto aos chuveiros. “Ela ficou arrasada. Me ofereceu tudo o que você possa imaginar, até mesmo sua lista de clientes. Ela acabou sendo um estorvo, de modo que eu tirei a clientela dela e fiz o Mágico correr com ela de Denver.”

Kimberly percebeu um fugidio olhar de desaprovação no rosto de Eponine.

“Cristo, lá vem você de novo dando uma de moralista em cima de mim. Você é a assassina mais banana que eu conheço. Às vezes, você me faz lembrar todas as santinhas de minhas colegas de secundário.”

Quando estavam a ponto de sair da área dos chuveiros, uma menininha preta de cabelos trançadinhos aproximou-se por trás delas. “Você é Kimberly Henderson?”, perguntou.

“Sou”, confirmou Kimberly, virando-se. “Mas por que…”

“O seu homem é o rei Jap Nakamura?”, interrompeu a moça.

Kimberly não respondeu. “Se for, preciso da sua ajuda”, continuou a pretinha.

“O que é que você quer?”, perguntou Kimberly, sem interesse.

A moça repentinamente caiu em prantos. “O meu homem Reuben não queria dizer nada. Estava bêbado com aquela merda que os guardas vendem. Ele não sabia que estava falando com o rei Jap.”

Kimberly esperou a moça enxugar as lágrimas: “O que é que você tem?”, sussurrou ela, enfim.

“Três facas e duas doses de dinamite kokomo”, respondeu a moça preta também sussurrando.

“Traga tudo para mim”, disse Kimberly com um sorriso. “E eu arranjo uma hora para Reuben se desculpar com o sr. Nakamura.”


“Você não gosta da Kimberly, não é?”, disse Eponine a Walter Brackeen.

Ele era um robusto negro americano de olhos suaves e dedos absolutamente mágicos em um teclado. Estava tocando um medley de jazz leve e olhando para sua linda dama enquanto seus três colegas de quarto tinham ido, de comum acordo, para a área de recreação.

“Não, não gosto”, respondeu Walter lentamente. “Ela não é como nós. Pode ser muito engraçada, mas no fundo é realmente má.”

“O que é que você quer dizer?”

Walter mudou para uma balada suave, com melodia mais fácil, e tocou durante quase um minuto antes de falar. “Acho que aos olhos da lei nós somos todos iguais, todos assassinos. Mas não aos meus olhos. Eu acabei com a vida de um homem que sodomizou meu irmão menor. Você matou um filho da mãe doido que estava acabando com a sua vida.” Walter parou por um momento e virou os olhos. “Mas aquela sua amiga, a Kimberly, ela e o namorado liquidaram três pessoas que nem sequer conheciam, só pelo dinheiro e as drogas.”

“Ela estava doidona na hora.”

“Não importa. Todos nós somos responsáveis por nosso comportamento.

Se eu me encho de uma merda que me torna abominável, o erro é meu. Mas não posso tirar o corpo fora de minhas responsabilidades.”

“A ficha dela no centro de detenção foi perfeita. Todos os médicos que trabalharam com ela disseram que é uma excelente enfermeira.”

Walter parou de tocar seu teclado e olhou para Eponine por vários segundos. “Não vamos falar mais de Kimberly. O tempo que temos para ficarmos juntos já é tão pouco… Você pensou na minha proposta?”

Eponine suspirou. “Pensei, Walter. E embora eu goste de você e ache fazer amor com você ótimo, o arranjo que você sugeriu parece demais com um compromisso… Além do mais, acho que a idéia só agrada a seu ego. A não ser que meu palpite esteja errado, você prefere Malcolm…”

“Malcolm não tem nada a ver conosco”, interrompeu Walter. “Há anos que é meu grande amigo, desde os meus primeiros tempos no centro de detenção da Geórgia. Nós tocamos música juntos. Compartilhamos sexo quando estamos ambos muito solitários. Somos irmãos de alma…”

“Eu sei, eu sei… Malcolm não é a questão principal; é antes o princípio da coisa que me incomoda. Eu gosto de você, Walter, você sabe disso. Mas…” A voz dela foi sumindo, enquanto Eponine enfrentava sua luta interior.

“Estamos a três semanas da Terra”, disse Walter, “e temos mais seis antes de atingirmos Marte. Eu sou o homem maior da Santa Maria. Se eu disser que você é a minha pequena, ninguém a incomodará durante essas seis semanas.”

Eponine relembrou a cena desagradável que acontecera naquela manhã, quando dois condenados alemães conversaram sobre o quanto era fácil estuprar alguém do alojamento dos condenados. Eles sabiam que ela podia ouvi-los e não fizeram o menor esforço para abaixar a voz.

Finalmente, ela se aconchegou dentro dos imensos braços de Walter.

“Está bem”, disse. “Mas não espere muita coisa… Eu sou uma mulher assim meio difícil.”


“Acho que Walter talvez tenha um problema cardíaco”, sussurrou Eponine. Era tarde da noite e as duas outras companheiras de quarto estavam dormindo. Kimberly, no beliche embaixo do de Eponine, continuava chumbada com o kokomo que fumara havia duas horas. Não conseguiria dormir ainda por várias horas.

“Os regulamentos desta nave são uma porra de uma estupidez. Cruzes, até o Complexo de Detenção de Pueblo tinha menos regulamentos. Por que raios não podemos ficar nas áreas comuns depois da meia-noite? Que mal estamos fazendo?”

“Volta e meia, ele tem umas dores no peito, e quando fazemos sexo com muito vigor, muitas vezes ele se queixa depois de falta de ar… Será que você podia dar uma espiada nele?” “E que tal aquele Marcello? Hein? Mas que cretino mais estúpido! Dizendo que posso ficar acordada a noite inteira se quiser ir ao quarto dele. Na hora em que estou sentada com Toshio. O que é que ele acha que está fazendo? Ora, nem os guardas têm direito de brincar com o rei Jap… O que foi que você disse, Eponine?”

Eponine levantou o torso, apoiou-se em um cotovelo e inclinou-se para fora de seu beliche. “Walter Brackeen, Kim; estou falando de Walter Brackeen.

Será que você pode dar um tempo e ouvir o que eu estou dizendo?”

“Tudo bem, tudo bem. O que é que há com Walter? O que é que ele quer?

Todo mundo quer alguma coisa do rei Jap. Acho que isso me faz rainha, de algum modo…”

“Acho que Walter tem um coração meio pifado”, disse a exasperada Eponine em voz mais alta. “E gostaria que você desse uma olhada nele.”

“Sh…” respondeu Kimberly. “Eles vêm nos pegar, como fizeram com aquela louca sueca… Merda, Ep, eu não sou médica. Eu reconheço quando a batida de um coração está irregular, mas é só… Você devia levar Walter àquele médico também preso, que é um cardiologista de verdade, como é o nome dele, aquele superquieto que fica sozinho sempre que não está examinando alguém…”

“Dr. Robert Turner”, cortou Eponine.

“Isso mesmo… muito profissional, isolado, distante, só sabe falar mediquês, é difícil acreditar que ele estourou os miolos de dois homens, com uma escopeta, em um tribunal… não faz sentido.” “E como é que você sabe disso?”

“Marcello me contou. Eu estava curiosa, nós estávamos rindo, ele estava me provocando, dizendo coisas como “aquele japonês te faz gemer?” e “e aquele quietinho, será que ele te faz gemer?…”

“Cruzes, Kim”, disse Eponine, agora alarmada: “Você tem ido para a cama com o Marcello também?”

A outra riu. “Só duas vezes. Ele é melhor de papo que de foda. E que ego!

O rei Jap pelo menos aprecia o que recebe.”

“E Nakamura sabe?”

“Está pensando que eu sou louca? Eu não quero morrer. Mas pode ser que ele desconfie… Não vou fazer mais. Mas se o tal do dr. Turner só sussurrasse um pouquinho no meu ouvido, eu me lambusava toda de creme…”

Kimberly continuou a resmungar sem sentido. Eponine pensou uns momentos no dr. Robert Turner. Ele a examinara pouco depois do lançamento, quando ela aparecera com umas marcas peculiares. Ele sequer notou meu corpo, lembrou-se ela. Foi um exame completamente profissional.

Eponine esqueceu de Kimberly e concentrou-se na imagem do belo doutor.

Surpreendeu-se ao perceber que estava sentindo uma pequena fagulha de interesse romântico. Havia qualquer coisa de positivamente misteriosa a respeito do médico, pois não havia nada em seus modos ou personalidade que tivessem a mínima relação com um assassinato duplo. Deve haver uma história interessante ali, pensou.

* * *

Eponine estava sonhando. Era o mesmo pesadelo que já tivera centenas de vezes desde o assassinato. O professor Moreau estava caído no chão com os olhos fechados, em seu estúdio, e o sangue corria de seu peito. Eponine caminhava até a pia, limpava a grande faca de cozinha, e a colocava de volta no lugar. Quando passava por cima do cadáver, aqueles olhos odiados se abriam e ela via neles sua delirante insanidade. Ele estendia os braços para ela…

“Enfermeira Henderson. Enfermeira Henderson.” A batida na porta foi ficando mais alta. Eponine acordou de seu sonho e esfregou os olhos. Kimberly e uma das outras companheiras de quarto chegaram à porta quase ao mesmo tempo.

O amigo de Walter, Malcolm Peabody, um homem branco, pequenino, amaneirado, de cerca de quarenta anos, estava na porta, desesperado. “O dr. Turner pediu uma enfermeira. Venha depressa. Walter teve um ataque de coração.”

Quando Kimberly começou a se vestir, Eponine deslizou para fora da cama. “Como está ele, Malcolm?”, perguntou, enfiando um robe. “Está morto?”

Malcolm ficou momentaneamente confuso. “Ah, oi, Eponine”, disse ele humildemente, “eu me esquecera que você e a enfermeira Henderson… Quando eu saí ele ainda estava respirando mas…”

Tomando cuidado para manter sempre um pé no chão, Eponine correu pela porta afora, pelo corredor, para a área comum central, depois pelo alojamento dos homens. Vários alarmes soaram à medida que os monitores iam lhe seguindo os passos. Quando chegou na entrada da ala de Walter, Eponine parou um momento para tomar fôlego.

Um bando de gente estava parada no corredor, do lado de fora do quarto de Walter. Sua porta estava escancarada e o terço inferior de seu corpo jazia para o lado de fora, já no hall. Eponine abriu à força seu caminho até o quarto.

O dr. Robert Turner estava ajoelhado ao lado de seu paciente, segurando os eletrodos junto ao peito de Walter. O corpo do homenzarrão sacudia com cada choque, depois saía um pouco do chão até o médico empurrá-lo de novo para a superfície.

O dr. Turner olhou para cima quando Eponine chegou. “Você é a enfermeira?”, perguntou ele, bruscamente.

Por uma fração de segundo, Eponine ficou sem fala. E embaraçada. Ali estava o seu namorado morrendo, e a única coisa que ela conseguia pensar era no azul dos olhos quase perfeitos do dr. Turner. “Não”, conseguiu dizer finalmente, perturbada. “Sou a namorada… A enfermeira Kimberly é minha companheira de quarto… Ela deve estar chegando.”

Kimberly e dois guardas AEI como escolta chegaram naquele momento. “O coração dele parou completamente há quarenta e cinco segundos”, disse o médico a Kimberly. “É tarde demais para removê-lo para a enfermaria. Vou abri-lo e tentar usar o estimulador Komori. Trouxe suas luvas?” Quando Kimberly colocou as luvas, o dr. Turner mandou toda aquela gente se afastar do paciente. Eponine não se mexeu. Quando os guardas a agarraram pelos braços, o dr. Turner resmungou alguma coisa e eles a soltaram.

O dr. Turner entregou a Kimberly seus instrumentos cirúrgicos e, trabalhando com incrível velocidade e habilidade, fez uma incisão profunda no peito de Walter. Abrindo as dobras da pele, expôs o coração. “Já executou esse tipo de procedimento, enfermeira Henderson?”

“Não”, respondeu Kimberly.

“O estimulador Komori é um engenho eletroquímico que se adapta ao coração, forçando-o a bater e a continuar a bombear o sangue. Se a patologia for temporária, como um coágulo na veia ou uma válvula espástica, então às vezes o problema se resolve e o coração do paciente começa a funcionar novamente.”

O dr. Turner inseriu o estimulador Komori, que tinha o tamanho de um selo, atrás do ventrículo esquerdo do coração e ligou a força no sistema portátil que estava pousado no chão. O coração de Walter começou a bater lentamente dois ou três segundos mais tarde. “Agora temos mais ou menos oito minutos para localizar o problema”, disse o médico para si mesmo.

Ele completou sua análise dos subsistemas primários do órgão em menos de um minuto. “Nada de coágulos, nem veias ou válvulas defeituosas…”

resmungou ele; “então, por que parou de bater?”

O dr. Turner levantou com eficiência o coração latejante e inspecionou os músculos da parte inferior. O tecido muscular do aurículo direito estava descolorido e mole. Ele o tocou muito de leve com um de seus instrumentos pontudos e partes do tecido caíram como flocos.

“Meu Deus”, disse o médico “mas o que é isso?” Enquanto o dr. Turner sustentava o coração, o órgão de Walter Brackeen contraiu-se mais uma vez e uma das longas estruturas fibrosas no meio do tecido muscular descolorido começou a se desenrolar. “Mas o que…?” Turner piscou duas vezes e levou a mão direita ao rosto.

“Olhe isto aqui, enfermeira”, disse ele, baixo. “É absolutamente espantoso.

Os músculos estão completamente atrofiados. Nunca vi nada parecido. Não posso ajudar este homem.”

Os olhos de Eponine encheram-se de lágrimas quando o dr. Turner retirou o estimulador e o coração de Walter tornou a parar de bater. Kimberly começou a tirar os grampos que prendiam a pele em torno da área, mas o médico a impediu.

“Ainda não. Vamos levá-lo para a enfermaria para eu poder fazer uma autópsia completa. Quero aprender tudo o que for possível.”

Os guardas e dois dos companheiros de quarto de Walter colocaram-no cuidadosamente na maca e o corpo foi removido do alojamento. Malcolm Peabody soluçava em silêncio no beliche de Walter. Eponine caminhou até ele. Trocaram um abraço silencioso e depois ficaram sentados juntos, de mãos dadas, durante a maior parte da noite.

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