Jube: Sete



Uma batida na porta. Vestido com bermudas xadrez e uma camiseta dos Brooklyn Dodgers, Jube atravessou com cuidado o porão e espiou pelo olho mágico.

Dr. Tachyon estava na entrada, vestindo um terno de verão branco com lapelas largas sobre uma camisa verde-esmeralda. A gravata larga e laranja combinava com o lenço de seda no bolso e a pena de trinta centímetros no seu chapéu borsalino. Estava segurando uma bola de boliche.

Jube puxou o pino da trava, tirou a corrente, ergueu o gancho do ferrolho, girou a chave na tranca e apertou o botão no meio da maçaneta. A porta abriu de uma vez. Dr. Tachyon entrou alegremente no apartamento, trocando a bola de boliche de uma das mãos para a outra. Então, rolou-a pelo assoalho da sala de estar. Acabou parando contra a perna do transmissor de táquions. Tachyon saltou e bateu os calcanhares das botas um contra o outro no ar.

Jube fechou a porta, apertou o botão, girou a chave, baixou o gancho, passou a corrente e apertou o pino da trava antes de se virar.

O ruivo tirou o chapéu com uma mesura e curvou-se.

— Dr. Tachyon, ao seu dispor — disse ele.

Jube fez um som gorgolejante de desalento.

— Os príncipes takisianos nunca estão a serviço de ninguém — disse ele. — E branco não é sua cor. Muito, hum, sem cor. Teve algum problema?

O homem sentou-se no sofá.

— Está gelado aqui — reclamou. — E que cheiro é esse? Não está tentando salvar aquele corpo que conseguiu, não é?

— Não — disse Jube. — É só, hum, um pouco de carne que apodreceu.

Os contornos do homem começaram a estremecer e ficar borrados. Num piscar de olhos, ele cresceu 20 centímetros e ganhou 22 quilos, o cabelo vermelho ficou longo e cinzento, e os olhos lilases tornaram-se pretos, e uma barba desgrenhada brotou do queixo quadrado.

Ele travou as mãos em torno do joelho.

— Não se preocupe — ele reportou com uma voz muito mais profunda que a de Tachyon. — Fiquei com a aparência de uma aranha com cabeça humana, e disse a eles que tinha pés de atleta. Oito deles. Ninguém além de Tachyon encostaria num caso desses, então eles me botaram atrás de uma cortina e foram buscá-lo. Me transformei na Grande Enfermeira e entrei no banheiro feminino perto do laboratório dele. Quando eles mandaram uma mensagem de pager para ele, o doutor foi para o sul e eu fui para o norte, vestindo o rosto dele. Se alguém procurou nos monitores de segurança, viu o Dr. Tachyon entrando no laboratório, é isso. — Ele manteve as mãos erguidas, como se avaliasse a situação, girando-as para cima e para baixo. — Eu era o sentimento mais estranho. Digo, podia ver minhas mãos enquanto caminhava, juntas inchadas, pelos nas costas dos dedos, unhas sujas. Obviamente, não havia qualquer tipo de transformação física envolvida. Mas sempre que eu passava num espelho, via quem eu deveria ser, como todo mundo. — Ele deu de ombros. — A bola de boliche estava atrás de uma divisória de vidro. Estavam examinando-a com scanners, equipamentos por controle remoto, raios X, coisas assim. Enfiei a bola debaixo do braço e saí de lá.

— Eles simplesmente deixaram você sair? — Jube não conseguia acreditar.

— Bem, não exatamente. Pensei que estava livre, quando o Troll passou e disse tenha uma tarde tão boa quanto desejar. Eu até dei um beliscão numa enfermeira e agi como se estivesse culpado por algo que não era minha culpa, então pensei que fosse garantir as coisas para mim. — Ele limpou a garganta. — Então, o elevador chegou ao primeiro andar, e quando eu estava saindo, o verdadeiro Tachyon entrou. Me deu um baita susto.

Jube coçou uma presa.

— O que você fez?

Croyd deu de ombros.

— O que eu poderia fazer? Estava bem na minha frente, e meu poder não o enganou nem por um segundo. Me transformei no Teddy Roosevelt, esperando que pudesse driblá-lo, e sinceramente desejei estar em outro lugar. De repente, eu estava.

— Onde? — Jube não tinha certeza de que queria mesmo saber.

— Minha antiga escola — disse Croyd, envergonhado. — Aula de álgebra do nono ano. Na mesma carteira que estava sentado quando o Jetboy explodiu sobre Manhattan em 1946. Tenho que dizer, não me lembro de qualquer das garotas parecendo aquelas de quando eu estava no nono ano. — Ele soou um pouco triste. — Eu teria ficado para a aula, mas causou certa comoção quando Teddy Roosevelt de repente apareceu na sala segurando uma bola de boliche. Então, eu saí e aqui estou. Não se preocupe, eu mudei de metrô duas vezes e de corpo quatro vezes. — Ele ficou em pé e se esticou. — Morsa, eu tinha que te falar isso, nunca é tedioso trabalhar para você.

— Eu não pago exatamente um salário mínimo também — disse Jube.

— Pois é — Croyd admitiu. — E agora que você mencionou isso… já viu a Veronica? Uma das meninas do Fortunato. Estava a fim de levar ela pro Aces High e ver se conseguia falar pro Hiram servir o carré de cordeiro.

Jube tinha as pedras no bolso. Contou-as e entregou-as nas mãos do Dorminhoco.

— Você sabe — Jube falou quando os dedos de Croyd se fecharam sobre o pagamento —, poderia ter ficado com o dispositivo. Talvez conseguisse muito mais de outra pessoa.

— Isso aqui basta — disse Croyd. — Além disso, não jogo boliche. Nunca aprendi calcular a pontuação. Acho que fazem aquilo com álgebra. — Seus contornos brilharam por um instante, e de repente era o ator Jimmy Cagney lá em pé, vestido com um terno azul-claro vivo com uma flor na lapela. Quando subiu as escadas para a rua, começou a assobiar a canção de um velho musical chamado O rei da zona.

Jube fechou a porta, apertou o botão, girou a chave, baixou o gancho e prendeu a corrente. Quando deslizou o pino da trava, ouviu passos suaves atrás dele e virou-se.

Red estava trêmulo numa camisa havaiana verde e amarela roubada do armário de Jube. Perdera todas as coisas no ataque ao Mosteiro. A camisa era tão grande que ele parecia um balão murcho.

— Esse é o treco? — ele perguntou.

— Sim — Jube respondeu. Cruzou a sala e ergueu a esfera preta com reverência cuidadosa. Estava morna.

Jube estava assistindo à coletiva de imprensa televisionada quando o Dr. Tachyon voltou do espaço para anunciar que a Mãe do Enxame não era mais uma ameaça. Tachyon falava com eloquência e detalhes sobre sua jovem colega Mai e seu grande sacrifício, a coragem dela dentro da Mãe, sua humanidade altruísta. Jhubben viu-se mais interessado pelo que o takisiano não disse. Minimizou seu papel na questão e não fez menção de como Mai entrou na Mãe do Enxame para fazer a fusão da qual ele falava de forma tão comovente. Os repórteres pareciam supor que Tachyon simplesmente voou com a Baby até a Mãe e estacionou nela. Jube sabia que não era bem assim.

Quando o Dorminhoco acordou, decidiu pôr em prática seu plano.

— Odeio te dizer isso, mas parece uma bola de boliche para mim — disse Red, amigável.

— Com isso, eu poderia enviar as obras completas de Shakespeare para a galáxia que vocês chamam de Andrômeda — Jube disse para ele.

— Camarada — disse Red —, eles apenas mandariam de volta e diriam que não estava de acordo com as necessidades atuais.

Ele estava muito mais em forma agora do que quando apareceu pela primeira vez na soleira da porta de Jube, três semanas depois de os ases destruírem o novo templo, vestindo um poncho horrível comido por traças, luvas de trabalho, uma máscara de esqui e óculos espelhados. Jube não o reconheceu até que ele ergueu os óculos e mostrou a pele vermelha em torno dos olhos. “Me ajude”, ele disse. E, então, desmaiou.

Jube arrastou-o para dentro e trancou a porta. Red estava abatido e febril. Após fugir do Mosteiro (Jube perdeu a coisa toda, pelo que ficou profundamente agradecido), Red colocou Kim Toy num ônibus de viagem para San Francisco, onde tinha velhos amigos em Chinatown que a esconderiam. Porém, não havia maneira de ir com ela. Sua pele o tornava um alvo fácil; apenas no Bairro dos Curingas ele poderia permanecer no anonimato. Estava sem dinheiro após dez dias nas ruas e começou a comer das latas de lixo atrás do Hairy’s desde então. Com Roman preso e Matthias morto (liofilizado por algum novo ás cujo nome foi cuidadosamente escondido da imprensa), o restante do círculo interno era alvo de uma caçada humana por toda a cidade.

Jube poderia entregá-lo. Em vez disso, ele o alimentou, lavou e cuidou dele até ficar novamente saudável. Dúvidas e temores o consumiam. Algo daquilo que ele aprendeu sobre os maçons o chocou, e os maiores segredos a que aludiram eram muito, muito piores. Talvez ele devesse chamar a polícia. O capitão Black ficou espantado com o envolvimento de um dos seus próprios homens na conspiração, e jurou publicamente que prenderia todos os maçons no Bairro dos Curingas. Se Red fosse encontrado ali, as coisas ficariam péssimas para Jube.

Porém, Jube lembrou-se daquela noite na qual ele e 12 outras pessoas foram iniciadas no Mosteiro, lembrou-se da cerimônia, as máscaras de falcão e chacal e o brilho frio de Lorde Amon quando ele se avultou sobre eles, austero e terrível. Lembrou-se do som de TIAMAT quando os iniciados disseram a palavra pela primeira vez, e lembrou-se da história que o Mestre Venerável contou para eles sobre as origens sagradas da ordem, de Giuseppe Balsamo, chamado de Cagliostro, e o segredo confiado a ele pelo Irmão Brilhante numa floresta inglesa.

Nenhum segredo a mais chegaria naquela noite das noites. Jube era apenas um iniciado de primeiro grau, e as maiores verdades estavam reservadas para o círculo interno. Ainda assim, foi o suficiente. Sua suspeita foi confirmada, e quando Red, em seus delírios, encarava a sala de estar de Jube e gritava Shakti!, ele não teve mais dúvida.

Não poderia abandonar o maçom ao destino que merecia. Os pais não abandonavam filhos, não importasse quanto pudessem crescer depravados e corruptos com o passar dos anos. Os filhos poderiam ser deformados, confusos e ignorantes, mas ainda eram sangue do seu sangue, a árvore que crescera de sua semente. O professor não abandonava o aluno. Não havia outro; a responsabilidade era dele.

— Vamos ficar aqui em pé o dia todo? — Red perguntou quando o deslocador de singularidade formigava contra a palma das mãos de Jube. — Ou vamos ver se essa coisa funciona?

— Desculpe — disse Jube. Erguendo um painel curvo no transmissor de táquions, ele deslizou o deslocador para o campo de matriz. Ele começou a se alimentar da célula de fusão e observou enquanto o fluxo de energia envolveu o deslocador. O fogo de santelmo corria para cima e para baixo pelas estranhas geometrias da máquina. Os impulsos magnéticos flutuavam pelas superfícies de metal brilhantes em um roteiro cheio de pontas que Jube quase havia esquecido, e desapareceram em ângulos que pareciam curvos de um jeito errado.

Red teve uma recaída de catolicismo irlandês e fez o sinal da cruz.

— Jesus, Maria, José — disse ele.

Funciona, Jhubben pensou. Ele deveria estar celebrando. Em vez disso, sentia-se fraco e confuso.

— Preciso de uma bebida — Red falou.

— Tem uma garrafa de rum encorpado embaixo da pia.

Red encontrou a garrafa e encheu dois copos com rum e gelo picado. Bebeu o seu de uma vez. Jube sentou-se no sofá, copo na mão, e encarava o transmissor de táquions, seu som alto e agudo pouco audível com o ar-condicionado ligado.

— Morsa — disse Red enquanto enchia o copo novamente —, pensei que você fosse um lunático. Um lunático amável, claro, e agradeço por me trazer para sua casa e tudo o mais, com a polícia atrás de mim do jeito que está. Mas, quando vi que você construiu sua própria máquina Shakti, bem, quem me culparia por pensar que você tinha pouca massa cinzenta? — Ele deu mais gole no rum. — A sua é quatro vezes maior que a do Kafka — ele falou. — Parece um modelo feio. Mas nunca vi a do barata brilhar desse jeito.

— É maior do que precisa porque construí com componentes eletrônicos primitivos — Jube disse para ele e esticou as mãos, três dedos grossos e o dedão rombudo curvado. — E estas mãos são incapazes de fazer um trabalho delicado. O dispositivo no Mosteiro teria acendido se tivesse sido energizado. — Ele olhou para Red. — Como o Venerável Mestre planejava fazer isso?

Red balançou a cabeça.

— Não posso te dizer. Claro, e você é um príncipe por salvar meu traseiro vermelho, mas ainda é um príncipe de primeiro grau, se é que me entende.

— Um iniciado de primeiro grau poderia construir uma máquina Shakti? — Jube perguntou a ele. — Quantos graus você passou antes de eles revelarem que o dispositivo existia? — Ele balançou a cabeça. — Tudo bem, eu sei o final da piada. Quantos curingas são necessários para acender uma lâmpada? Um, contanto que o nariz dele seja de corrente alternada. O Astrônomo ia energizar a máquina.

O olhar no rosto de Red era toda a confirmação de que Jube precisava.

— O Shakti de Kafka deveria dar à Ordem o domínio sobre a Terra — disse o maçom.

— Sim — disse Jube. O Irmão Brilhante na floresta entregou o segredo a Cagliostro, e disse a ele para mantê-lo seguro, entregá-lo de geração a geração até a chegada da Irmã Obscura. Provavelmente o Irmão Brilhante deu a Cagliostro outros artefatos; sem dúvida, deu a ele uma fonte de força, não havia maneira de o carta selvagem takisiano ter sido antecipado dois séculos antes.

— Esperto — Jube disse em voz alta —, sim, mas ainda um homem do seu tempo. Primitivo, supersticioso, ganancioso. Usou as coisas que recebeu para ganho pessoal e egoísta.

— Quem? — Red perguntou, confuso.

— Balsamo — Jube respondeu. Balsamo inventou o restante ele mesmo, os mitos egípcios, os graus, os rituais. Pegou as coisas que ouvira e distorceu-os em seu próprio benefício. — O Irmão Brilhante era um ly’bahr — ele anunciou.

— O quê? — Red perguntou.

— Um ly’bahr — Jube disse. — São ciborgues, Red, mais máquina que carne, extraordinariamente poderosos. Os curingas do espaço, nenhum deles é parecido, mas você não gostaria de encontrar um no beco. Alguns dos meus melhores amigos são ly’bahres. — Percebeu que estava balbuciando, mas não conseguia parar. — Ah, sim, pode ter sido outra espécie, talvez um kreg, ou mesmo um do meu povo num traje espacial de metal líquido. Mas acho que foi um ly’bahr. Sabe por quê? TIAMAT.

Red apenas o encarava.

— TIAMAT — Jhubben repetiu, o jornaleiro desaparecera de sua voz e do comportamento, falando como um cientista da Rede poderia falar. — Uma deidade assíria. Eu verifiquei. Ainda assim, por que chamar a Irmã Obscura por aquele nome? Por que não Baal ou Dagon, ou uma daquelas divindades inferiores que vocês, humanos, inventaram? Por que a principal palavra de poder é assíria, quando o resto da mitologia que Cagliostro escolheu era egípcia?

— Não sei — Red falou.

— Mas eu sei. Porque TIAMAT parece vagamente com algo que o Irmão Brilhante disse. Thyat M’hruh. Escuridão-da-raça. O termo ly’barês para o Enxame. — Jube riu. Contava piadas havia trinta anos, mas ninguém tinha ouvido sua gargalhada verdadeira antes. Soava como o grito de uma foca. — O Mestre Comerciante nunca daria a vocês o domínio do mundo. Não entregamos nada de graça. Mas teríamos vendido o mundo para vocês. Vocês teriam sido uma elite de altos sacerdotes, com “deuses” que de fato ouviriam e produziriam milagres sob demanda.

— Você é louco, camarada — Red falou com jocosidade forçada. — O dispositivo Shakti iria…

Shakti significa apenas poder — disse Jhubben. — É um transmissor de táquions e sempre foi. — Ele se ergueu do sofá e bamboleou até ficar ao lado da máquina. — Setekh viu isso e me poupou. Pensou que eu fosse um desgarrado, um resto de algum ramo do desdobramento. Provavelmente sentiu que seria inteligente me manter por perto no caso de algo acontecer com Kafka. Ele estaria aqui agora, mas quando TIAMAT voltou para as estrelas, o dispositivo Shakti deve ter parecido algo irrelevante.

— Claro, e não é?

— Não. O transmissor foi calibrado. E se eu mandar a chamada, será ouvida no posto avançado da Rede mais próximo numa questão de semanas. Poucos meses depois, a Opportunity chegará.

— Que Opportunity é essa, irmão? — Red perguntou.

— O Irmão Brilhante virá — Jhubben disse a ele. — A carruagem dele é do tamanho da ilha de Manhattan, e os exércitos de anjos e demônios e deuses lutam aos seus serviços. Eles levaram a melhor. Conseguiram contratos vinculativos, todos eles.

Os olhos de Red se apertaram.

— Você está me dizendo que não acabou — ele quis saber. — Ainda pode acontecer, mesmo sem a Irmã Obscura.

— Poderia, mas não vai — disse Jube.

— Por que não?

— Não pretendo enviar o chamado. — Ele queria fazer Red entender. — Pensei que fôssemos a cavalaria. Os takisianos usaram sua raça como cobaias. Pensei que fôssemos melhores que isso. Não somos. Não vê, Red? Sabíamos que ela estava a caminho. Mas não haveria lucro se ela nunca chegasse, e a Rede não dá nada de graça.

— Acho que estou entendendo — Red disse. — Ele pegou a garrafa, mas o rum havia acabado. — Preciso de outra bebida. E você?

— Não — respondeu Jube.

Red foi até a cozinha. Jube ouviu-o abrindo e fechando gavetas. Quando voltou, tinha uma grande faca de trinchar na mão.

— Mande a mensagem — ele falou.

— Uma vez, fui ver os Dodgers — Jube lhe disse. Estava cansado e decepcionado. — Três tacadas e você está fora no velho jogo, não é isso o que dizem? Os takisianos, minha própria cultura e, agora, a humanidade. Existe alguém que se importe por qualquer coisa além de si mesmo?

— Não estou brincando, Morsa — Red falou. — Não quero fazer isso, meu camarada, mas nós, irlandeses, somos um bando de camaradas teimosos. Ei, a polícia está caçando a gente lá fora. Que tipo de vida é essa para mim e para Kim Toy? Se existe uma escolha entre comer de latas do lixo e dominar o mundo, todas as vezes vou optar pelo mundo. — Ele sacudia a faca de trinchar. — Mande a mensagem. Então, eu largo isso aqui e podemos pedir uma pizza e trocar algumas piadas, ok? Você pode pedir carne podre na sua metade.

Jube pôs a mão embaixo da camisa e mostrou uma pistola. Era preta, vermelha e translúcida, suas linhas suaves e sensuais e, ainda assim, inquietantes, seu cano da finura de um lápis. Pontos de luz piscavam bem dentro dela, e encaixava-se com perfeição na mão de Jube.

— Pare com isso, Red — disse ele. — Não será você que dominará o mundo. Será o Astrônomo, e o Ceifador, ou caras como eles. São desgraçados, você mesmo me disse.

— Nós somos todos desgraçados — Red lhe disse. — E os irlandeses não são tão durões como dizem. Essa é uma arma de brinquedo, meu camarada.

— Dei para o garoto que mora no andar de cima, no Natal — Jube disse. — Seu tutor devolveu. Não quebraria, sabe, mas o metal era tão duro que Doughboy estava quebrando tudo na casa quando brincava com ela. Coloquei a célula de energia de volta nela, e usava o coldre sempre que ia ao Mosteiro. Fazia com que eu me sentisse um pouco mais corajoso.

— Não quero fazer isso — disse Red.

— Nem eu — Jhubben respondeu.

Red deu um passo adiante.

O telefone tocou por muito tempo. Finalmente, alguém atendeu do outro lado.

— Alô?

— Croyd — Jube falou —, desculpe incomodá-lo. É sobre aquele corpo…

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