CAPÍTULO II A VIAGEM NO NADA

Quando uma aurora chuvosa rompeu a este, por cima do perfil negro das árvores, tudo estava pronto para a partida e os sitiantes mantinham-se no bosque. De vez em quando podiam ser vistos, se movendo entre os troncos umedecidos Deviam ter passado uma noite inconfortável, sob a chuva, ansiosos. Até eu estava inquieto, muito fatigado e perplexo: se não conseguisse sair do ksill sem ser visto, isso significaria para mim intermináveis semanas de interrogatórios, entrevistas, aborrecimentos de toda a ordem.

Pensava em tudo isso molemente, estirado numa poltrona, na divisão onde pela primeira vez tinha visto um Hiss vivo. Aass tocou-me no ombro:

— O que se passa? Você está emitindo há muito tempo ondas de inquietação.

Expliquei-lhe o que se passava em poucas palavras.

— Não é difícil. De um momento para o outro vamos partir. Deixaremos você um pouco mais longe, noutra clareira. Agradecemos ter vindo nos prevenir e, sobretudo, ter você tratado os nossos feridos.

Ficou uns instantes sem transmitir.

Não podemos pensar em lhe levar para Ella. A lei é formal: nenhum contacto com planetas onde a guerra ainda exista. Lamento que assim seja. O seu mundo parece— me comportar, ao mesmo tempo, muito de selvageria e muito de civilização. Mais tarde, quando a humanidade de vocês se transformar, voltaremos. Talvez antes, se a ameaça dos Milsliks aumentar o suficiente para chegar a abolir a lei. A não ser que daqui até lá a humanidade daqui se tenha destruído a si própria, como as dos planetas Aour e Gen, do sol Ep-Han. Que nome dão vocês a este planeta?

— Terra — respondi —, pelo menos no meu país. Noutras paragens tem outros nomes, de acordo com a língua.

— Tserr — repetiu ele em voz alta. — É curioso. Na nossa língua essa palavra significa «violência», mas, também, «fôrça». Venha comigo.

Me conduziu até a secção dos aparelhos mais complicados. Nela estavam Souilik, Essine e uma outra «mulher».

— Vamos partir. Mas antes disso convém afastar os seus compatriotas. É muito perigoso estar próximo de um ksill que vai decolar.

Souilik manobrou algumas delicadas alavancas. Essine apagou a luz e a clareira surgiu desenhada na parede. Os camponeses continuavam teimosamente de sentinela atrás das árvores. Aass emitiu o curto assobio entrecortado que é o modo de rir dos Hiss.

— Repare bem — transmitiu-me ele.

Atrás de um nodoso tronco, tão nitidamente visível como se eu estivesse a três passos, apareciam uma aba de chapéu, um cano de espingarda e uns bigodes eriçados: o Tio Carrêre! Subitamente saltou de trás da árvore, com a cabeça para os pés, rolando entre o tojo e os arbustos, a espingarda pelo ar, gesticulando, vociferando maravilhosas pragas, em bom calão, que os aparelhos de escuta retransmitiram fielmente. Desapareceu atrás de uns castanheiros. A direita e a esquerda os seus companheiros tiveram a mesma sorte.

Aass deu uma ordem.

— Estão suficientemente longe. Vamos partir.

Não ouvi qualquer ruído, não senti a mínima vibração.

E, coisa que muito me surpreendeu, não notei a mínima sensação de aceleração.

O chão desapareceu rapidamente sob nós. Ainda vi a clareira com as marcas do ksill, assinaladas pelos arbustos partidos. Já estávamos longe.

— Há uma outra clareira a este, a pouca distância disse eu. — Poderão deixar-me lá.

Na ocasião em que os Hiss iam desaparecer da minha vida para sempre senti-me cheio de uma curiosidade intensa, devorado por um desejo de partir com eles, tremendo de raiva por um conjunto de circunstâncias estúpidas não me ter permitido saber mais coisas a seu respeito. Entretanto já se avistava a outra clareira, menor do que a do Magnou, mas bastante larga para uma aterragem. Descíamos com bastante velocidade.

Por acaso olhei nesse momento para o céu, através do écran, À nossa esquerda aproximavam-se, a grande velocidade, três pontos negros. Rapidamente compreendi o que se tratava: eram três dos novos caças a jato, da base de Périgueux, capazes de uma velocidade superior a 2.000 quilômetros por hora.

— Atenção!… Perigo!… gritei, sem pensar que os Hiss não compreendiam a nossa palavra articulada.

Aass também os vira, pelo que, em vez de continuarmos a descer, subimos. Os caças lançaram-se em nossa perseguição Um deles ultrapassou-nos, e tão próximo que vi perfeitamente o piloto No posto de comando Souilik manobrou febrilmente um conjunto de instrumentos.

Deixamos os caças longe, atrás de nós — pequenos pontos negros diminuindo, progressivamente, de amplitude, cada vez mais distantes. A superfície visível da Terra crescia, de momento a momento, até poder abrangê-Ia com um só olhar. O céu passou de azul a índigo e, depois, a negro. As estrelas tornaram-se visíveis.

Compreendi que deixávamos a atmosfera terrestre!

Uma meia hora depois da nossa partida a Terra era totalmente visível: uma enorme bola esverdeada, cheia de manchas brancas. Eu era o primeiro homem que escapava da atração terrestre!

Ficamos imóveis no Espaço enquanto durou o «conselho de guerra» que se reuniu na minha presença. Os meus companheiros nada fizeram para esconder a discussão que se desenrolava. Antes pelo contrário: Essine não deixou de me transmitir os pontos mais importantes. Resumindo: Aass opinava que se esperasse que anoitecesse para me desembarcarem; Souilik, ao invés, apoiado por Essine e por dois outros Hiss, pretendia levar-me para o planeta Ella. Parecia que o seu principal argumento era ser eu um representante do «planeta humano» mais distante que eles conheciam; por outro lado, que a regra de não estabelecer relações com os mundos onde a guerra ainda reinava só dizia respeito aos planetas galáxicos e não aos extra— galáxicos. Dava-se o caso, acrescentou ele, de a nossa humanidade não ter a menor noção do «caminho do ahun», e, portanto, Ella não corria perigo algum. Em qualquer altura eu podia regressar. E mais ainda: quem poderia negligenciar o menor apoio que fosse quando a ameaça dos Milsliks estava a menos de um milhão de anos-luz?

Quem podia, sobretudo, insistiu ele, negligenciar o apoio de uma humanidade de sangue vermelho?

Finalmente Aass voltou-se para mim e disse.

— Se você quiser poderemos lhe levar para o nosso planeta, desde que você possa ingerir os nossos alimentos, porque a viagem é longa. Vai comer conosco. Se tudo correr bem, partiremos para Ella e lhe traremos de volta mais tarde.

E foi assim que comi o meu primeiro repasto extraterreno, refeição que depressa seria seguida de muitas outras. O «disco» — ou, como direi a partir de agora, o ksill — conservava-se imóvel, a 25.000 quilômetros da Terra.

Os Hiss, salvo no caso de banquetes solenes, tomam as refeições de pé. Comemos na própria divisão onde estávamos. Os alimentos compunham-se de uma geleia rosada, de ótimo paladar, e biscoitos, que pareciam feitos com uma farinha de cereal, regados por um líquido que lembrava o hidromel. Os pratos e os talheres eram de uma matéria transparente, de azul muito lindo, inquebrável, segundo observei ao deixar cair o meu prato. Com grande alívio, verifiquei que ficara rapidamente satisfeito e digeria perfeitamente os alimentos.

Passei a tarde a olhar para a Terra, esta Terra que ia deixar para ir não sei para onde. De noite, após uma refeição idêntica, indicaram-me uma cama baixa. Apesar da minha excitação mental, a fadiga adormeceu-me.

Quando acordei estava sozinho na divisão. Ao lado ouvia um ruído contínuo. Me levantei, abri a porta e encontrei Aass. — Ia lhe acordar — transmitiu ele — Vocês, terrestres, dormem muito.

Me conduziu para o laboratório.

— Antes de prosseguir, já é tempo, creio eu, de lhe dar uma idéia das subdivisões do nosso ksill. São mais ou menos invariáveis Os ksills têm uma forma exterior de lentilha, cujo diâmetro varia de 15 a 150 metros, indo a espessura de 2 a 18 metros.

Num ksill de envergadura média, como aquele onde eu estava, e que media 30 por 3,5 metros, o centro era ocupado pelo posto de comando, ou séall, divisão hexagonal com cerca de 5 metros de lado. Em volta havia outras seis divisões, com as mesmas dimensões: dormitório, casa dos motores (havia três), etc. Ao redor destas divisões, e diminuindo progressivamente de altura para a periferia, estavam alojados os armazéns de víveres, os acumuladores de energia, os reservatórios de ar, etc. A equipagem normal de um ksill deste tipo é de doze pessoas.

No laboratório estavam reunidos — sem contar Aass — os nove sobreviventes, que assim vi todos juntos pela primeira vez. Eram cinco homens e quatro mulheres.

Contrariamente ao que acontece habitualmente quando se entra em contacto com uma raça diferente, não tive nenhuma dificuldade em distinguir os indivíduos uns dos outros. Aass era o mais avantajado, mais alto alguns centímetros do que eu. Os outros eram nitidamente mais baixos. Nenhuma das mulheres atingia 1,65 m. Já tinha contacto com dois deles, além de Aass: Souilik e Essine.

Aass fez as apresentações. Segundo o que percebi, era físico, ou, tal como me transmitiu, «estudava as fôrças». Além disso, chefiava a expedição. Souilik era o capitão e comandava o ksill.

Dois outros eram «marinheiros», se assim me posso exprimir. Os dois restantes estudavam os planetas, o que, traduzido, queria dizer astrônomos. Como já lhe disse, o médico morrera na brutal aterragem de emergência. O outro morto, especialista de astronomia estelar, perecera atingido pelos foguetões do avião americano. Das quatro mulheres, duas eram botânicas, uma psicóloga e Essine ocupava-se de antropologia comparada.

Me perguntaram em que eu trabalhava na Terra. Respondi que tinha feito estudos de medicina mas que, atualmente, «estudava a vida». Pareceram ficar muito satisfeitos com esta resposta.

Iniciaram depois uma viva discussão oral que não julgaram útil traduzirem para mim. No final dispersaram-se e fiquei sozinho no laboratório com Aass e Souilik. Aass pediu-me que me sentasse e depois transmitiu-me:

— Decidimos levar você para o nosso planeta. Não me pergunte a que distância está da Terra. Nada poderei lhe dizer. Em breve compreenderá porquê. O mundo de vocês está no mesmo universo que o nosso — o mesmo universo no sentido lato do termo —, porque, se assim não fosse, não nos teria sido possível o nosso encontro.

Vamos iniciar a viagem de regresso. Quando chegarmos a Ella os Sábios decidirão qual a sua sorte. Na pior das hipóteses, farão você regressar para a Terra.

Somente há duzentos e quarenta émis que exploramos o «Grande Espaço» (um émis corresponde a dois anos e meio terrestres). Já conhecemos centenas de mundos onde vivem humanidades mais ou menos semelhantes a da Terra, mas é a primeira vez que encontramos um planeta onde o sangue dos homens é vermelho.

Você constitui, portanto, material de estudo e é só por essa razão que lhe levaremos para Ella, apesar da lei de exclusão.

Agora, que já estamos suficientemente afastados da Tserr, vamos passar para o ahun. Não se assuste com nada, mas não toque em nenhum aparelho Segundo o que verificamos no aparelho que nos atacou, vocês ainda usam motores químicos.

Por isso não poderá compreender os nossos.

— Também temos motores físicos — disse eu. — Mas o que é o ahun?

— É o «Não-Espaço», que rodeia o Espaço e o separa dos universos negativos. É, também, o «Não-Tempo». No ahun não existem distâncias nem tempo. Eis a razão por que não posso lhe dizer a que distância se encontra Ella da Terra, embora saibamos que está a mais de um milhão de anos-luz.

— Mas ainda há pouco me dizia que a Terra é o planeta mais longínquo que vocês conhecem!

Aass contraiu os lábios, o que nele, segundo mais tarde soube, era um indício de perplexidade.

— Como fazer você compreender? Para ser franco, nem nós próprios compreendemos. Utilizamos, simplesmente. Sabe que o Espaço e o Tempo estão ligados?

— Sim, um nosso genial físico descobriu isso ainda há bem pouco tempo.

— Bem, o Espaço-Tempo, o universo, vagueia no ahun. O Espaço está dobrado sobre si próprio, mas o Tempo é aberto: o passado não volta. Nada pode existir no ahun, onde o Espaço também não existe. Imagina que deslocamos uma pequena quantidade de Espaço que vai se alojar no interior do ksill. Nós nos encontraremos encerrados neste Espaço, no ahun, ao lado (se estas palavras têm um sentido) do Grande Espaço do universo, mas sem nos confundirmos com ele Vamos derivar em relação a ele Ao fim de um dado tempo — tempo do nosso ksill — faremos a manobra inversa e nos encontraremos no Espaço-Tempo do universo, num ponto que, segundo a experiência o demonstrou, estará distante alguns milhões de quilômetros de Ella. Nessa altura, para empreender o regresso, vamos passar no lado exterior do Espaço-Tempo. Da outra vez percorrêramos o lado interno. É possível que, simultaneamente com a viagem de uns bilhões de quilômetros no Espaço, haja uma outra viagem no Tempo. Mas isso não poderei garantir, dado que a física do ahun é ainda muito recente. Talvez que nós, os Hiss, ainda não existamos em relação ao vosso planeta E talvez que já tivéssemos desaparecido há milênios, o que não creio, devido aos Milsliks: se prosseguirem, não levarão milênios a atingir vocês, por mais longe que estejam. De fato, nós somos, em relação a vocês, como vocês o são em relação a nós, os Seres de Parte Alguma e do Tempo Nulo. Todavia, existimos no Espaço-Tempo, mas ninguém poderá jamais dizer que são as distâncias e o tempo que devemos cruzar para nos encontrarmos, pois que para o fazer é necessário passar para o ahun o Não-Espaço e o Não-Tempo. Compreende?

— Não muito bem. Só um dos nossos físicos o perceberia.

— O perigo são os universos negativos que nos rodeiam. A teoria demonstra que qualquer universo positivo deve estar rodeado de dois universos negativos. Se nos afastamos muito do nosso universo, corremos o risco de encontrar um deles: a nossa matéria desapareceria numa prodigiosa fogueira de luz. É o que deve ter acontecido a alguns ksills, no início da experiência, que nunca mais regressaram. Depois aprendemos a controlar melhor a nossa passagem no ahun. Agora tenho de ir dirigir a manobra. Quer vir?

Passamos para o séall, a sala de direção. Souilik, debruçado sobre o quadro de comandos, estava ocupado em minuciosas manobras. Aass indicou-me um assento, dizendo:

— Aconteça o que acontecer, fique calado!

Iniciou, com Souilik, uma longa litania que me fez lembrar a check-list dos pilotos dos bombardeiros pesados. Após cada resposta Souilik puxava um manipulo, rodava um botão, baixava uma alavanca. Quando a manobra terminou Aass voltou-se para mim e arvorou um dos seus singulares sorrisos.

— Ahêsch! — gritou.

Durante dez segundos nada aconteceu. Eu aguardava, angustiado. Então o ksill estremeceu violentamente e tive de me agarrar aos braços da cadeira para não cair.

Começou a ouvir-se um ruído surdo. Foi tudo. O silêncio voltou, o chão deixou de estremecer. Aass ergueu-se:

— Agora vamos esperar cento e um basikes.

Pedi que me explicasse o que era um basike. É a unidade de tempo deles, medida em minúsculos relógios. Um basike equivale a uma hora, onze minutos e dezenove segundos.

Não insistirei nesta espera de cento e um basikes. A vida no ksill é tão monótona como num dos nossos submarinos. Não havia nenhuma manobra a fazer. Os Hiss, com exceção de um guarda no séall, distraíam-se com um jogo que lembrava muito vagamente o das «damas», ou liam em volumosos livros impressos a azul numa matéria esquisita, ou, então, conversavam. Percebi rapidamente que, com exceção de Aass, Souilik e Essine, os outros não me respondiam quando tentava entrar em comunicação com eles Limitavam-se a sorrir-me e prosseguiam.

Aass ficou a maior parte do tempo fechado no laboratório. Souilik e Essine, pelo contrário, mostravam-se afáveis, faziam-me múltiplas perguntas sobre a Terra, a forma como os homens vivem, a história da humanidade. Iludiam habilmente as perguntas que eu lhes fazia, dando respostas evasivas, adiando sempre para outra ocasião os dados precisos. Apesar disso, sentia-os muito parecidos conosco.

Cansado de instruir os Hiss sobre a Terra sem receber informações em troca, fui procurar Aass, a quem expus a situação. Olhou-me demoradamente e depois respondeu: — Agem assim por ordem minha. Se os Sábios aceitarem a sua permanência em Ella, você terá muito tempo para aprender o que deseja. Entretanto, preferimos que não saiba muitas coisas sobre nós.

— Você acha que me mandarão embora? Não vejo que perigo possa representar a minha presença no planeta de vocês.

Mal pronunciara estas palavras, empalideci. Sim, havia perigo! E não só para eles!

Para mim, sobretudo. Na minha qualidade de médico já devia ter pensado nisso: os micróbios! Devia levar comigo milhões de germes aos quais o meu organismo estava adaptado, protegido por uma lenta auto-vacinação, mas que poderiam ser mortais para os Hiss. E eles decerto que eram portadores de germes mortais para mim.

Alarmado, transmiti as minhas reflexões a Aass, que sorriu. — Já há muito tempo que esse problema se levantara para nós. Para ser preciso, foi na época em que a nossa humanidade abandonou o nosso planeta natal, Ella-Ven, da estrela Oriabor, para colonizar Ella-Tan, da estrela Ialthar. Já não existe no seu corpo qualquer germe. E durante o seu primeiro sono a bordo, após a partida, submetemos você ao hassrn.

— O que é o hassrn?

— Você saberá mais tarde. Tiramos um pouco do seu sangue de maneira a podermos lhe re-imunizar, se você voltar de novo para a Terra. Quanto a nós, nada pode acontecer, pois de dois em dois dias somos submetidos aos raios do hassrn quando estamos num outro planeta, E, a propósito do sangue, que tiramos, me diga: todos os seres da Terra têm tanto ferro no sangue como você?

— Sim, exceto alguns invertebrados, cujo pigmento respiratório é na base do cobre.

— Então vocês são aparentados com os Milsliks!

— Quem são os Milsliks, de que estão sempre falando?

— Você saberá em breve. E o seu planeta também o saberá!…

E Aass acenou a cabeça, como sempre fazia quando dava uma conversa por terminada.

As horas — os basikes — passaram. Aass veio me procurar, para me levar ao séall, quando íamos passar novamente para o «Grande Espaço». Fizeram as mesmas manobras. Souilik pôs a funcionar o écran de visão: estávamos no vácuo, rodeados de estrelas uma estava nitidamente mais próxima de nós do que as outras. O diâmetro aparente era aproximadamente a terça parte do da Lua. Aass apontou para ela, dizendo:

— Ialthar, o nosso sol. Dentro de alguns basikes estaremos em Ella.

Foram longos esses Basikes! Fascinado, via crescer a estrela para onde nos dirigíamos. Ligeiramente azulada, logo me impressionou. Voltei depois a minha atenção para os planetas que giravam em sua volta. Souilik ensinou-me a manejar um periscópio, que, na realidade, era um potente telescópio. Em volta de Ialthar rodavam doze planetas Chamam-se, respectivamente, do mais distante ao mais próximo, Aphen, Sétor, Sigon, Héran, Tan, Sophir, Réssan, Marte — sim, Marte, uma curiosa coincidência —, Ella, Song, Eiklé e Roni. Sigon e Tan têm anéis como o nosso Saturno. O maior é Héran e os menores Aphen e Roni. Marte e Ella são das mesmas dimensões, um pouco maiores do que a Terra. Réssan, menor ainda, é habitado, bem como Marte e, evidentemente, Ella. Na maior parte dos outros planetas os Hiss possuem colônias industriais ou científicas, por vezes mantidas em condições difíceis.

Quase todos os planetas têm satélites, repartidos segundo uma curiosa lei numérica.

Roni e Eiklé não têm nenhum; Song tem um; Ella, dois (Ari e Arzi); Marte, três (Sen, San e Sun); Réssan, quatro (Atua, Atéa, Asua e Aséa); Sophir, cinco; Tan, seis. Depois os números decrescem novamente, até Sétor, que tem três, e Aphen, que não tem nenhum. Um dos satélites de Héran, um mundo enorme, maior do que Júpiter, tem as dimensões da Terra. Aphen está a onze bilhões de quilômetros de Ialthar! Note que todas estas informações só as obtive mais tarde.

Estávamos no Espaço, entre a órbita de Sophir e a de Réssan. Passamos perto deste último o suficiente para conseguir distinguir nitidamente, através do telescópio, uma cordilheira rodeada de nuvens. Em contrapartida, Marte estava muito longe, do outro lado de Ialthar. Finalmente, Ella deixou de ser um ponto perdido no céu para se tornar uma pequena esfera que aumentava de minuto para minuto.

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