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não é todo dia que aparece um elefante em nossa vida, muito menos chamado Salomão. Pois é esse formoso e meigo paquiderme, nascido em goa, trans-portado pelos mares a Portugal no século Xvi, o herói da viagem que aqui se conta. foi numa conversa de alcova, nos idos de 1551, que dom João iii e sua mulher, Catarina d’áustria, selaram o destino do animal. ele despertara grande curiosidade ao desembarcar em lisboa, mas agora vegetava, sujo e malcheiroso, num cercado para os lados de Belém, junto com seu cornaca indiano. assim é a lei da vida, nos diz Saramago: triunfo e esquecimento. Suas altezas dão novo alento a Salomão quando resolvem oferecê-lo de presente de casamento ao arquiduque austríaco maximiliano ii, recém-casado com a filha do imperador Carlos v.

e lá se vai a caravana. meses a fio, um punhado de soldados, cavalos, bois e um elefante de três metros de altura e quatro toneladas de peso, percorrem os caminhos de Portugal, espanha e itália, enfrentan-do intempéries, perigos reais e imaginários, vivendo aventuras ao lado de uma profusão de atores que sur-gem e logo desaparecem do palco do relato. depois de uma heróica travessia dos alpes sob tempestade de neve, que Salomão encara com a galhardia de seus ilustres antepassados liderados por aníbal, o general cartaginês, a viagem chega ao fim no dia 6 de janeiro de 1552, em viena.

Com sua finíssima ironia e muito humor, sua prosa que destila poesia,

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