CAPÍTULO QUATRO

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Estou agitada. Christian se entocou no seu escritório a bordo faz mais de uma hora. Já tentei ler, ver TV, pegar sol — inteiramente vestida —, mas não consigo relaxar nem me livrar desse sentimento inquietante. Depois de colocar um short e uma camiseta, tiro minha pulseira ridiculamente cara e saio à procura de Taylor.

— Sra. Grey — cumprimenta-me, tomando um susto e largando o romance de Anthony Burgess que está lendo. Está sentado na antessala que precede o escritório de Christian.

— Eu gostaria de sair para fazer compras.

— Sim, senhora. — Ele se levanta.

— E queria ir de jet ski.

Ele fica boquiaberto.

— Hã… — Taylor franze o cenho, sem palavras.

— Não quero incomodar Christian com isso.

Ele reprime um suspiro.

— Sra. Grey… hã… Acho que o Sr. Grey não ficaria muito confortável com isso, e eu gostaria de manter meu emprego.

Ah, pelo amor de Deus! Tenho vontade de externar meu desapontamento, mas em vez disso apenas estreito os olhos, suspirando pesadamente e expressando, eu acho, a quantidade exata de indignação e frustração por não ser senhora do meu próprio destino. Mas não quero que Christian fique zangado com Taylor — nem comigo, aliás. Passando confiantemente por ele, bato na porta do escritório e entro.

Christian está no BlackBerry, apoiado sobre a mesa de mogno. Ele ergue os olhos.

— Andrea, só um minuto — murmura ao telefone, a expressão séria.

Seu olhar é de educada expectativa. Merda. Por que eu me sinto como uma estudante que entrou na sala do diretor? Esse homem me possuiu algemada ontem mesmo. Eu me recuso a ser intimidada, ele é meu marido, droga. Endireito os ombros e abro um largo sorriso.

— Estou indo fazer compras. Vou levar o segurança comigo.

— Claro, leve um dos gêmeos, e Taylor também — diz ele, e sei que o que está acontecendo é grave, porque ele não me questiona mais do que isso. Continuo encarando-o, imaginando se posso ajudá-lo.

— Mais alguma coisa? — pergunta Christian. Ele quer que eu vá embora.

— Quer que eu traga alguma coisa para você?

Ele abre aquele seu sorriso doce e tímido.

— Não, baby, não precisa. A equipe a bordo me ajudará se for preciso.

— Tudo bem.

Quero beijá-lo. Que inferno, eu posso fazer isso: ele é meu marido. Indo até ele de forma decidida, dou um selinho em seus lábios, o que o surpreende.

— Andrea, já ligo de volta para você — balbucia ele.

Christian coloca o BlackBerry na mesa atrás de si, me abraça e me beija apaixonadamente. Estou sem fôlego quando ele me solta. Seus olhos estão escuros e desejosos.

— Você está me distraindo. Tenho que resolver isso para poder voltar para a nossa lua de mel.

Ele passa o dedo indicador pela minha face e acaricia meu queixo, levantando meu rosto.

— Tudo bem. Desculpe.

— Por favor, não peça desculpas, Sra. Grey. Adoro ser interrompido por você. — Ele beija o canto da minha boca. — Vá gastar dinheiro. — E me solta.

— Pode deixar.

Dou um sorriso amarelo para ele ao sair do escritório. Meu inconsciente faz cara de desprezo e aperta os lábios. Você não disse que estava indo de jet ski, ela me castiga com sua voz melódica. Eu a ignoro… Megera.

Taylor está me esperando com paciência.

— Tudo certo com o alto-comando… Podemos ir?

Sorrio, tentando afastar o sarcasmo da minha voz. Taylor não esconde seu sorriso de admiração.

— Sra. Grey, primeiro as damas.

* * *

TAYLOR PACIENTEMENTE ME explica os controles do jet ski e como pilotá-lo. Ele tem uma autoridade calma e gentil sobre o veículo; é um bom professor. Estamos na lancha a motor, sacudindo e dando voltas nas águas calmas do porto ao lado do Fair Lady. Gaston nos observa, sua expressão escondida atrás dos óculos escuros, e tem alguém da tripulação do Fair Lady no controle da lancha. Credo — três pessoas comigo, só porque quero fazer compras. É ridículo.

Fechando meu colete salva-vidas, dou um sorriso radiante para Taylor. Ele estende a mão para me ajudar a subir no jet ski.

— Amarre o cordão da chave de ignição em volta do pulso, Sra. Grey. Se a senhora cair, o motor vai desligar automaticamente — explica ele.

— Tudo bem.

— Pronta?

Faço que sim, entusiasmada.

— Pressione a ignição quando estiver a mais de um metro do barco. Nós vamos seguindo a senhora.

— Ok.

Ele empurra o jet ski para longe da lancha, e o veículo sai flutuando suavemente em direção ao porto principal. Quando ele me dá o sinal, aperto o botão de ignição e o motor ganha vida com um rugido.

— Tudo bem, Sra. Grey, é melhor ir com calma! — grita Taylor.

Aperto o acelerador. O jet ski dá um salto para a frente e para. Droga! Como é que Christian consegue fazer isso parecer tão fácil? Tento de novo, e uma terceira vez, e ele para. Droga, droga, droga!

— É só manter uma pressão estável no acelerador, Sra. Grey — grita Taylor.

— Certo, certo, certo — balbucio.

Tento mais uma vez, pressionando a alavanca delicadamente, e o jet ski dá outro salto para a frente — mas dessa vez continua avançando. Eba! Avança mais um pouco. Ha ha! Continua indo! Quero gritar de empolgação, mas me contenho. Navego suavemente, afastando-me do iate rumo à área principal do porto. Atrás de mim ouço o motor gutural da lancha. Quando pressiono mais forte o acelerador, o jet ski dá uma guinada e sai patinando pela água. Com o vento quente no meu cabelo e um esguicho gostoso de água dos dois lados, eu me sinto livre. Isso é o máximo! Agora entendo por que Christian nunca me deixa dirigir.

Em vez de ir para a costa e abreviar a diversão, dou a volta para circundar o imponente Fair Lady — isso é tão divertido! Ignoro Taylor e os outros assistentes atrás de mim e acelero em volta do iate uma segunda vez. Quando estou completando o circuito, vejo Christian no deque. Acho que ele está boquiaberto, mas é difícil dizer. Corajosamente, levanto uma das mãos do guidom e aceno entusiasmadamente. Ele parece petrificado, mas finalmente levanta a mão em um aceno rígido. Não consigo decifrar sua expressão, e alguma coisa me diz que é melhor não fazê-lo; então vou até a marina cortando a água azul do Mediterrâneo, que cintila de leve à débil luz do sol da tardinha.

No cais, espero Taylor e deixo-o parar na minha frente. Sua expressão é sombria e meu coração se aperta, embora Gaston pareça vagamente divertido. Por um momento penso na possibilidade de ter acontecido algo para esfriar as relações franco-americanas, mas no fundo suspeito que o problema seja comigo. Gaston salta da lancha e a amarra ao ancoradouro, enquanto Taylor me guia para o lado. Muito delicadamente, deixo o jet ski na lateral da lancha e me alinho junto a ele. Sua expressão se ameniza um pouco.

— É só desligar a ignição, Sra. Grey — diz calmamente, pegando o guidom e estendendo a mão para me ajudar a subir na lancha.

Subo a bordo com agilidade, impressionada por não ter caído.

— Sra. Grey — diz Taylor, nervoso, as bochechas novamente rosadas —, o Sr. Grey não está totalmente à vontade em ver a senhora pilotando o jet ski.

Ele está quase se contorcendo de tanto constrangimento, e percebo que ele recebeu uma ligação irada de Christian. Ah, meu pobre marido, meu patologicamente superprotetor marido, o que eu faço com você?

Sorrio com serenidade para Taylor.

— Entendo. Bom, Taylor, o Sr. Grey não está aqui, e se ele não está totalmente à vontade, tenho certeza de que ele vai ter a cortesia de me falar isso pessoalmente quando eu voltar a bordo.

Taylor estremece.

— Muito bem, Sra. Grey — responde, baixinho, entregando-me minha bolsa.

Quando desço da lancha, vejo de relance seu sorriso relutante, o que me faz querer sorrir também. Tenho muito carinho por Taylor, mas não gosto que me repreenda — ele não é meu pai nem meu marido.

Suspiro. Christian está bravoe ele já tem muito com que se preocupar no momento. Onde eu estava com a cabeça? Enquanto estou no cais esperando por Taylor, sinto meu BlackBerry vibrar na bolsa, e pego o aparelho para atender. “Your Love is King”, da Sade, é o toque que eu coloquei para Christian — e só para Christian.

— Oi — murmuro.

— Oi — diz ele.

— Vou voltar na lancha. Não fique zangado.

Ouço-o quase engasgar de surpresa.

— Hum…

— Mas foi divertido — sussurro.

Ele suspira.

— Bem, longe de mim cortar sua diversão, Sra. Grey. Apenas tome cuidado. Por favor.

Puxa! Ganhei permissão para me divertir!

Pode deixar. Quer alguma coisa da cidade?

— Só quero que você volte inteira.

— Vou me esforçar para atender seu pedido, Sr. Grey.

— Fico feliz de ouvir isso, Sra. Grey.

— Nosso objetivo é satisfazer — respondo com uma risadinha.

Sua voz indica que ele está sorrindo.

— Estão me ligando. Até mais, baby.

— Até mais, Christian.

Christian desliga. Crise do jet ski abortada, eu acho. O carro está esperando, e Taylor abre a porta para mim. Pisco para ele ao entrar, e ele balança a cabeça, divertido.

No carro, abro o e-mail no BlackBerry.


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De: Anastasia Grey

Assunto: Obrigada

Data: 17 de agosto de 2011 16:55

Para: Christian Grey


Por não ficar muito irritado.

Sua esposa que te ama

Bjs


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De: Christian Grey

Assunto: Tentando manter a calma

Data: 17 de agosto de 2011 16:59

Para: Anastasia Grey


De nada.

Volte inteira.

Isso não é um pedido.

Bj,

Christian Grey


CEO e Marido Superprotetor, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Sua resposta me faz sorrir. Meu maníaco por controle.

* * *

POR QUE EU QUIS fazer compras? Odeio fazer compras. Mas no fundo sei o motivo, e passo direto pela Chanel, pela Gucci, pela Dior e por outras butiques de marcas famosas para finalmente encontrar o antídoto para o que me aflige em uma lojinha para turistas abarrotada de bugiganga. É uma tornozeleira prateada com minúsculos pingentes em formato de coração e sino, que produzem um som gostoso. Custa cinco euros. Coloco-a assim que compro. Essa sou eu — é disso que eu gosto. Imediatamente me sinto mais confortável, não quero perder em mim a mulher que gosta disso, nunca. Bem no fundo, sei que não fico intimidada apenas com Christian em si, mas também com sua riqueza. Será que algum dia vou me acostumar?

Taylor e Gaston me seguem obedientemente em meio à multidão de gente que lota as ruas no fim de tarde, e logo esqueço que eles estão lá. Quero comprar alguma coisa para Christian, algo que distraia sua mente do que está acontecendo em Seattle. Mas o que comprar para o homem que tem tudo? Paro em uma pequena praça de estilo moderno rodeada de lojas, e olho uma de cada vez. Quando dou uma espiada numa loja de eletrônicos, relembro a galeria que fomos conhecer hoje mais cedo, e também nossa visita ao Louvre. Estávamos olhando a Vênus de Milo… As palavras de Christian ecoam na minha cabeça: “Todos podemos apreciar as formas femininas. Adoramos olhar, seja em mármore, óleo, cetim ou filme.

Isso me dá uma ideia, uma ideia ousada. Só preciso de ajuda para escolher o item certo, e apenas uma pessoa pode me ajudar. Procuro meu BlackBerry na bolsa e ligo para José.

— Quem…? — resmunga ele, sonolento.

— José, aqui é a Ana.

— Ana, oi! Onde você está? Tudo bem? — Ele parece mais alerta agora, preocupado.

— Estou em Cannes, no sul da França, está tudo bem.

— Sul da França, hein? Em um hotel chique?

— Hmm… Não. Estamos hospedados em um barco.

— Um barco?

— Um barco grande — esclareço, suspirando.

— Sei.

Seu tom esfria… Merda, eu não deveria ter ligado para ele. Não preciso disso agora.

— José, preciso de um conselho seu.

— Um conselho meu? — Ele parece surpreso. — Claro — diz, e dessa vez soa bem mais amigável.

Conto meu plano a ele.

* * *

DUAS HORAS DEPOIS, Taylor me ajuda a sair da lancha e a subir a escada para o deque. Gaston está auxiliando um marinheiro com o jet ski. Christian não está por perto, e eu corro até nossa cabine para embrulhar o presente, animada como uma criança.

— Você saiu já faz um tempo.

É Christian, que me surpreende quando estou colando o último pedaço de fita adesiva. Viro-me e o vejo parado à porta da cabine, observando-me atentamente. Ainda estou encrencada por causa do jet ski? Ou é o incêndio no escritório?

— Tudo sob controle na empresa? — pergunto, hesitante.

— Mais ou menos — responde ele, uma expressão de aborrecimento passando pelo rosto.

— Fiz umas comprinhas — murmuro, na esperança de fazê-lo se sentir mais leve, e torcendo para que seu aborrecimento não seja por minha causa. Ele sorri calorosamente, e sei que estamos bem.

— O que você comprou?

— Isso.

Coloco o pé na cama e mostro minha tornozeleira.

— Muito bonita — diz ele.

Christian se aproxima e brinca com os sininhos, que tilintam de leve em volta do meu tornozelo. Mas então franze a sobrancelha de novo ao passar os dedos suavemente na marca vermelha; minha perna fica arrepiada.

— E isso.

Ofereço-lhe a caixa, esperando distraí-lo.

— Para mim? — pergunta ele, surpreso.

Eu confirmo timidamente. Ele pega a caixa e a sacode com cuidado. Então, com um sorriso de menino maravilhado, senta-se na cama ao meu lado e, inclinando-se, pega meu queixo para me beijar.

— Obrigado — diz, com um deleite tímido.

— Você ainda não abriu.

— Eu vou adorar, seja lá o que for. — Ele me fita com os olhos brilhando. — Não costumo ganhar muitos presentes.

— É difícil comprar alguma coisa para você. Você tem tudo.

— Eu tenho você.

— É verdade, você tem.

Abro um sorriso. Ah, você tem mesmo, Christian.

Ele desembrulha rápido a caixa.

— Uma Nikon? — E me olha intrigado.

— Sei que você tem uma câmera digital compacta, mas essa é para… Humm… retratos e coisas parecidas. Vem com duas lentes.

Ele continua me olhando sem entender.

— Hoje na galeria você gostou das fotografias de Florence D’elle. E eu me lembrei do que você comentou no Louvre. E, claro, tinha aquelas suas fotografias. — Engulo em seco, me esforçando para não me lembrar das imagens que vi em seu closet.

Ele para de respirar, os olhos se arregalando quando começa a perceber minha intenção, e continuo depressa, antes que fique muito nervosa:

— Pensei que você poderia, hmm… gostar de tirar fotos de… de mim.

— Fotos? De você? — Ele me olha embasbacado, ignorando a caixa em seu colo.

Aquiesço, tentando desesperadamente avaliar sua reação. Finalmente, ele olha de novo para a caixa, os dedos contornando a ilustração da câmera na frente da embalagem com um respeito fascinante.

O que ele está pensando? Ah, essa não era a reação que eu esperava, e meu inconsciente me fuzila com os olhos como se eu fosse um animal dócil de fazenda. Christian nunca reage da maneira como espero. Ele volta a erguer o olhar para mim, a expressão em seu rosto cheia de… não sei… dor?

— Por que você acha que eu quero fazer isso? — pergunta ele, confuso.

Não, não, não! Você disse que adorava…

Você não quer? — pergunto, recusando-me a dar ouvidos ao meu inconsciente, que está questionando por que alguém iria querer fotos eróticas minhas.

Christian engole em seco e passa a mão pelo cabelo. Parece tão perdido, tão confuso… Ele respira fundo.

— Para mim, fotos assim sempre foram uma apólice de seguro, Ana. Sei que tratei as mulheres como objeto por muito tempo — diz ele, e depois faz uma pausa constrangedora.

— E você acha que tirar fotos de mim seria… me tratar como um objeto?

Eu me sinto sem ar, e o sangue some do meu rosto.

Ele aperta os olhos.

— Estou tão confuso — sussurra ele.

Quando abre os olhos de novo, estão arregalados e atentos, cheios de alguma emoção crua.

Merda. É culpa minha? Minhas perguntas mais cedo sobre sua mãe biológica? O incêndio no escritório?

— Por que está dizendo isso? — pergunto, o pânico crescendo na minha garganta.

Pensei que ele estivesse feliz. Pensei que nós estivéssemos felizes. Pensei que eu o fizesse feliz. Não quero confundi-lo. Ou será que quero? Minha mente vira um turbilhão. Ele não vê Flynn há quase três semanas. Será que é isso? É essa a explicação? Merda, será que devo ligar para Flynn? E em um momento possivelmente único de clareza e profundidade extraordinárias, tudo fica claro — o incêndio, Charlie Tango, o jet ski… Ele está com medo, está com medo por mim, e ver essas marcas na minha pele deve trazer isso à tona. Passou o dia inteiro incomodado com isso, e fica confuso porque não está acostumado a se sentir desconfortável por infligir dor a alguém. O pensamento faz meu sangue gelar.

Ele dá de ombros, e mais uma vez seu olhar pousa em meu pulso, onde estava a pulseira que ele comprou hoje mais cedo. Bingo!

Christian, isso não importa. — Levanto o pulso, mostrando a marca descorada. — Você me deu uma palavra de segurança. Caramba: ontem foi divertido! Eu gostei. Pare de remoer isso. Eu gosto de sexo bruto, já lhe disse antes. — Fico bem vermelha à medida que tento conter meu pânico, que só aumenta.

Ele me fita absorto, e não tenho ideia do que passa pela sua mente. Talvez esteja avaliando minhas palavras. Continuo, meio atrapalhada:

— É por causa do incêndio? Você acha que tem alguma ligação com o Charlie Tango? É por isso que está preocupado? Fale comigo, Christian… por favor.

Ele me olha fixamente, sem dizer nada, e o silêncio se expande entre nós de novo, como aconteceu hoje à tarde. Puta merda! Ele não vai falar comigo, já sei.

— Não pense demais nisso, Christian — repreendo-o com carinho.

As palavras ecoam, perturbando a lembrança de um passado recente — o que ele me disse sobre seu estúpido contrato. Pego a caixa do seu colo e a abro. Ele me observa passivamente, como se eu fosse um alienígena fascinante. Sabendo que o superprestativo vendedor da loja deixou a câmera já pronta para usar, pesco-a da caixa e tiro a tampa da lente. Aponto-a para ele até enquadrar seu lindo rosto, todo tenso. Pressiono o botão e seguro, e logo dez fotos da expressão preocupada de Christian são capturadas digitalmente para a posteridade.

— Agora você é um objeto para mim — murmuro, apertando o obturador mais uma vez.

Na última foto, seus lábios se torcem quase imperceptivelmente. Tiro mais uma, e dessa vez ele sorri… um sorriso breve, mas ainda assim um sorriso. Aperto uma vez mais o botão e o vejo relaxar fisicamente na minha frente e fazer beicinho, chupando as bochechas — um beicinho exagerado, posado, ridículo —, o que me faz rir. Ah, graças a Deus. O Sr. Inconstante está de volta — e eu nunca fiquei tão feliz em vê-lo.

— Pensei que o presente fosse meu — murmura ele, amuado, mas acho que está só me provocando.

— Bem, era para ser divertido, mas aparentemente é um símbolo da opressão feminina.

Continuo tirando fotos dele, e vejo uma expressão divertida surgir no seu rosto em super close-up. Então seus olhos escurecem e sua expressão torna-se predatória.

— Você quer ser oprimida? — murmura ele, de modo sensual.

— Oprimida não. Não — respondo, batendo mais fotos.

— Eu poderia oprimir você de verdade, Sra. Grey — ameaça ele, a voz áspera.

— Eu sei, Sr. Grey. Você faz isso frequentemente.

Sua expressão é de surpresa. Merda. Abaixo a câmera e o encaro.

— O que houve, Christian? — Minha voz transpira frustração. Por favor, me diga!

Ele não fala nada. Argh! É tão irritante. Aproximo a câmera do meu olho de novo.

— Diga — insisto.

— Nada — responde ele, e desaparece abruptamente do visor.

Em um movimento rápido e suave, ele joga a caixa da câmera no chão, me agarra e me empurra para a cama. Monta em mim.

— Ei! — exclamo, e tiro mais fotografias dele, que sorri com más intenções.

Ele pega a câmera pela lente e a fotógrafa se torna o alvo quando ele aponta a Nikon para mim e pressiona o botão.

— Então você quer que eu tire fotos de você, Sra. Grey? — pergunta ele, achando graça. Tudo que eu consigo ver do seu rosto é o cabelo rebelde e um sorriso na boca perfeitamente esculpida. — Bem, para começar, acho que você deveria estar sorrindo.

Ele então faz cócegas impiedosas na minha barriga, fazendo-me gargalhar e me contorcer debaixo dele até que eu agarro seu pulso em uma tentativa vã de fazê-lo parar. Seu sorriso se alarga e Christian renova os ataques de cócegas, tirando mais fotos.

— Não! Pare! — grito.

— Está brincando? — rosna ele, e coloca a câmera de lado para poder me torturar com ambas as mãos.

— Christian!

Eu gaguejo e engasgo no meu protesto em meio a gargalhadas. Ele nunca fez cócegas em mim antes. Mas que merda, pare com isso! Agito a cabeça de um lado para o outro, tentando sair de debaixo dele, rindo e empurrando suas mãos, mas ele persiste — rindo de mim e curtindo meu tormento.

— Christian, pare! — imploro, e ele para subitamente.

Christian agarra minhas mãos e as segura uma de cada lado da minha cabeça, curvando-se sobre mim. Estou sem fôlego de tanto rir. Sua respiração entra no ritmo da minha e ele me olha com… o quê? Meus pulmões param de funcionar. Fascinação? Amor? Reverência? Ai, meu Deus. Aquele olhar!

— Você. É. Tão. Linda — suspira.

Meus olhos estão erguidos para seu rosto tão, tão querido, e me sinto imersa na intensidade de seu olhar. É como se ele me visse pela primeira vez. Inclinando-se, ele fecha os olhos e me beija, extasiado. É uma chamada à minha libido… vê-lo assim, desprotegido, por minha causa. Nossa. Ele solta minhas mãos e enterra os dedos em meu cabelo, segurando minha cabeça delicadamente. Meu corpo se ergue e se enche de excitação, em resposta ao seu beijo. Mas de repente a natureza do beijo se altera, não mais doce, respeitoso e admirador, e sim carnal, profundo e devorador — sua língua invadindo minha boca, possuindo em vez de oferecer, seu beijo transmitindo um gosto de desespero e carência. À medida que o desejo percorre meu sangue, despertando cada músculo e cada nervo, sinto uma sensação súbita de temor.

Ah, meu amor, o que há de errado?

Ele respira fundo e geme.

— Ah, o que você faz comigo — murmura ele, perdido.

Num movimento súbito, ele se deita sobre mim, pressionando-me contra o colchão — uma das mãos cobrindo meu queixo e a outra deslizando pelo meu corpo, meus seios, minha cintura, meus quadris e minha bunda. Ele me dá outro beijo, colocando a perna entre as minhas, levantando meu joelho e me apertando, sua ereção se forçando contra nossas roupas e meu sexo. Arfando, solto um gemido contra seus lábios, perdendo-me na sua paixão ardente. Deixo de lado os distantes sinos de alarme que soam no fundo da minha mente, pois sei que ele me quer, que precisa de mim e que, quando se trata de se comunicar comigo, essa é a sua forma favorita de se expressar. Beijo-o com abandono renovado, acariciando seu cabelo, apertando-o com força, segurando-o junto a mim. Seu gosto é tão bom e seu cheiro é de Christian, meu Christian.

Ele para abruptamente, levanta-se e me puxa para fora da cama, de forma que fico parada à sua frente, confusa. Ele abre o botão do meu short e se ajoelha depressa, arrancando-o junto com minha calcinha, e antes que eu possa respirar de novo já estou de volta à cama, embaixo do seu corpo, e ele está abrindo a calça. Uau! Ele não vai tirar a roupa nem minha camiseta. Apenas segura minha cabeça e, sem preliminares, enfia-se em mim, fazendo-me gritar — mais de surpresa do que por qualquer outro motivo —, mas ainda posso ouvir o ruído da sua respiração pelos seus dentes cerrados.

— Hmmm — geme ele na minha orelha. Então fica imóvel e depois gira os quadris uma vez, metendo bem fundo, fazendo-me gemer também. — Eu preciso de você — grunhe ele, sua voz baixa e rouca.

Ele passa os dentes pela linha do meu maxilar, mordiscando e chupando, e então me beija de novo, com violência. Envolvo-o com minhas pernas e braços, embalando-o e segurando-o com força contra mim, determinada a eliminar o que quer que o esteja preocupando, e ele começa a movimentar-se… como se tentasse escalar para dentro de mim. Repetidamente, frenético, primitivo, desesperado, e antes que eu me perca no ritmo e no passo insanos que ele estabelece, rapidamente me pergunto, mais uma vez, o que será que o está pressionando, preocupando-o. Mas meu corpo toma o controle, afastando esse pensamento, até que eu fico inundada pela sensação, correspondendo ao ataque de Christian com contra-ataque. Escutando sua respiração áspera, difícil e ofegante no meu ouvido. Sabendo que ele está se perdendo em mim… Dou um gemido alto, ofegante. É tão erótico — a necessidade que ele tem de mim. Estou quase lá… quase lá… E ele me impele a ir mais alto, desarmando-me, levando-me, e eu quero isso. Quero tanto… Por ele e por mim.

— Goze comigo — diz ele, arfante, e se coloca todo sobre mim, de modo que sou obrigada a soltá-lo. — Abra os olhos — ordena ele. — Preciso ver você.

Sua voz é urgente, implacável. Meus olhos se abrem momentaneamente, e a visão dele por cima de mim — seu rosto tenso de ardor, os olhos crus e brilhantes. Sua paixão e seu amor são onde me perco, e nisso eu gozo, jogando a cabeça para trás enquanto meu corpo pulsa a seu redor.

— Ah, Ana — grita ele, e atinge o clímax junto comigo, movimentando-se dentro do meu corpo, depois se aquietando e caindo por cima de mim.

Ele gira o corpo, de forma que me vejo esticada em cima dele, que ainda está dentro de mim. Enquanto me recupero do meu orgasmo e meu corpo se estabiliza e se acalma, quero fazer um gracejo sobre ser oprimida e tratada como objeto, mas seguro a língua, incerta do seu estado de espírito. Com o rosto apoiado em seu peito, ergo o olhar para observar sua expressão. Seus olhos estão fechados e seus braços me envolvem, apertando meu corpo. Beijo seu peito por sob o tecido fino da camisa de linho.

— Christian, me diga, o que está havendo? — pergunto delicadamente, e espero ansiosa para ver se agora, satisfeito pelo sexo, ele me dirá.

Sinto seus braços me apertando mais, mas é sua única resposta. Ele não vai falar. Então tenho um surto de inspiração.

— Eu lhe prometo ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza — murmuro.

Ele se retesa. Seu único movimento é arregalar os impenetráveis olhos e me fitar à medida que continuo com meus votos de casamento:

— Eu prometo amá-lo incondicionalmente, apoiá-lo nos seus objetivos e sonhos, honrá-lo e respeitá-lo, rir e chorar com você, dividir com você minhas esperanças e sonhos e lhe dar conforto quando necessário.

Faço uma pausa, esperando que ele fale comigo. Ele me observa, os lábios entreabertos, mas não diz nada.

— E tratá-lo com carinho por todos os dias da nossa vida.

Suspiro.

— Ah, Ana — sussurra ele, e muda de posição de novo, quebrando o precioso contato de nossos corpos para ficarmos deitados lado a lado. Ele acaricia meu rosto com as costas da mão.

— Eu prometo ser seu porto seguro e guardar no fundo do meu coração nossa união e você — sussurra ele, a voz rouca. — Prometo amá-la fielmente, renunciando a todas as outras, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, não importa o rumo que nossa vida tomar. Eu a protegerei e a respeitarei, e confiarei em você. Partilharei das suas alegrias e tristezas, e a confortarei quando preciso. Prometo cuidar de você, apoiar suas esperanças e seus sonhos e mantê-la segura a meu lado. Tudo o que é meu agora passa a ser também seu. Dou-lhe minha mão, meu coração e meu amor a partir deste momento, até que a morte nos separe.

As lágrimas enchem meus olhos. Vejo seu rosto se suavizar enquanto ele me olha.

— Não chore — murmura, e, com o polegar, seca uma lágrima que escorre.

— Por que você não fala comigo? Por favor, Christian.

Ele fecha os olhos como se sentisse dor.

— Eu prometi que lhe daria conforto quando preciso. Por favor, não me deixe quebrar minha promessa — rogo.

Ele suspira e abre os olhos, a expressão triste.

— Foi incêndio criminoso — diz simplesmente, e de repente parece muito jovem e vulnerável.

Ah, merda.

E minha maior preocupação é de que estejam atrás de mim. E se estão atrás de mim… — Ele para, incapaz de continuar.

— …podem me pegar — completo, num sussurro.

Ele fica lívido, e sei que finalmente descobri a raiz da sua tensão. Acaricio seu rosto.

— Obrigada — digo.

Ele franze a sobrancelha.

— Pelo quê?

— Por me contar.

Ele balança a cabeça, e um sorriso pálido aparece em seus lábios.

— Você pode ser muito persuasiva, Sra. Grey.

— E você fica remoendo e internalizando todos os seus sentimentos, morrendo de preocupação. Vai acabar tendo um infarto fulminante antes dos quarenta anos, e eu quero você por perto durante muito mais tempo.

Você é que é fulminante. Quando vi você no jet ski… quase tive um infarto, de verdade.

Ele se deixa cair de costas na cama pesadamente e cobre os olhos com a mão; sinto-o estremecer.

— Christian, é um jet ski. Até crianças pilotam jet skis. Imagine como você vai ficar quando formos visitar a sua casa em Aspen e eu esquiar pela primeira vez?

Ele inspira o ar com força e se vira para me encarar; tenho vontade de rir do terror estampado em seu rosto.

— Nossa casa — diz, após uns instantes.

Eu o ignoro.

— Sou uma mulher adulta, Christian, e muito mais forte do que aparento. Quando você vai aprender isso?

Ele dá de ombros e aperta a boca. Decido mudar de assunto:

— Então, o incêndio. A polícia sabe que foi criminoso?

— Sabe. — Ele está sério.

— Ótimo.

— A segurança vai ser reforçada — diz ele, sem demonstrar qualquer emoção.

— Entendo.

Olho para seu corpo. Ele ainda está de bermuda e camisa, e eu de camiseta. Puxa! Isso é que é rapidinha… Pensar nisso me faz rir.

— O que foi? — pergunta Christian, sem entender.

— Você.

— Eu?

— É. Você. Ainda vestido.

— Ah.

Ele baixa o olhar para si mesmo e depois volta a me fitar, abrindo um enorme sorriso.

— Ah, você sabe como é difícil manter as mãos longe de você, Sra. Grey. Ainda mais quando eu a vejo rindo como uma garotinha.

Ah, sim… as cócegas. Ha! As cócegas. Com um movimento rápido, eu monto nele, mas, percebendo minhas más intenções, ele imediatamente agarra meus pulsos.

— Não — diz, e está falando sério.

Faço charminho, mas vejo que ele não está no clima para isso.

— Por favor, não — sussurra ele. — Eu não aguentaria. Nunca me fizeram cócegas quando criança.

Ele faz uma pausa; eu desisto, para que ele não precise me conter.

— Eu via Carrick brincando com Elliot e Mia, fazendo cócegas neles, e parecia tão divertido, mas eu… eu…

Encosto o indicador nos seus lábios.

— Shh, eu sei — sussurro, e deposito um beijinho em seus lábios, onde meu dedo estava um segundo atrás, depois me aninho em seu peito.

Aquela dor familiar se avoluma dentro de mim e a tristeza profunda que sinto pela infância de Christian toma conta do meu coração mais uma vez. Sei que eu faria qualquer coisa por esse homem, pois o amo tanto!

Ele coloca os braços ao redor de mim e cheira meu cabelo, respirando fundo enquanto delicadamente acaricia minhas costas. Não sei por quanto tempo ficamos deitados ali, mas finalmente quebro o confortável silêncio entre nós:

— Qual o máximo de tempo que você passou sem ver o Dr. Flynn?

— Duas semanas. Por quê? Você não está se aguentando de vontade de me fazer cócegas?

— Não. — Dou uma risada. — Acho que ele ajuda você.

Christian bufa.

— E deve; eu pago muito bem a ele.

Christian puxa meu cabelo delicadamente, virando meu rosto para si. Levanto a cabeça e encontro seus olhos.

— Está preocupada com o meu bem-estar, Sra. Grey? — pergunta suavemente.

— Toda boa esposa se preocupa com o bem-estar do marido amado, Sr. Grey — respondo, provocando-o.

— Amado? — sussurra ele, e é uma pergunta intensa pairando entre nós.

— Muito amado.

Eu ergo o corpo bem rápido para beijá-lo, e ele abre seu sorriso tímido.

— Quer ir comer em terra?

— Quero comer em qualquer lugar em que você esteja feliz.

— Ótimo. — Ele abre um sorriso. — A bordo é onde eu consigo manter você segura. Obrigado pelo presente.

Ele se inclina para pegar a câmera e, estendendo o braço, tira uma foto de nós dois no nosso abraço pós-cócegas, pós-coito e pós-confissão.

— O prazer é todo meu.

Sorrio e seus olhos se iluminam.

Passeamos pelo opulento e dourado esplendor oitocentista do Palácio de Versalhes. No início apenas um humilde alojamento para comitivas de caça, foi transformado pelo Rei Sol em uma majestosa e exagerada sede do poder; porém, antes mesmo de o século XVIII terminar, ele testemunhou a queda do último dos monarcas absolutistas.

A sala mais impressionante é sem dúvida a Galeria dos Espelhos. A luz do início da tarde penetra pelas janelas a oeste, reluzindo nos espelhos que se alinham na parede leste e iluminando a decoração de folhas douradas e os enormes lustres de cristal. É de tirar o fôlego.

— Interessante ver o que acontece com um déspota megalomaníaco que se isola em tamanho esplendor — cochicho para Christian, de pé ao meu lado.

Ele olha para mim e pende a cabeça para o lado, achando graça no meu comentário.

— O que quer dizer com isso, Sra. Grey?

— Ah, foi só uma observação, Sr. Grey. — E gesticulo com as mãos, indicando o cenário que nos cerca.

Sorrindo com afetação, ele me segue até o centro da sala, onde paro e olho estupefata para a vista: os espetaculares jardins refletidos nos espelhos e o espetacular Christian Grey, meu marido, refletido atrás de mim, seu olhar brilhante e incisivo.

— Eu construiria isso para você — sussurra ele. — Só para ver a luz incidindo no seu cabelo como agora, bem aqui. — Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Você parece um anjo. — Ele me beija bem embaixo do lóbulo da orelha, pega minha mão e sussurra: — Nós, déspotas, fazemos isso pelas mulheres que amamos.

Fico ruborizada com seu elogio e sorrio com timidez, acompanhando-o pelo amplo salão.

— No que está pensando? — pergunta Christian suavemente, tomando um gole de seu habitual café após o jantar.

— Em Versalhes.

— Ostentoso, não é?

Ele sorri. Olho em volta, para o esplendor não comentado da sala de jantar do Fair Lady, e aperto os lábios.

— Isso aqui não é ostentoso — diz Christian, um pouco na defensiva.

— Eu sei. É lindo. A melhor lua de mel que uma mulher poderia querer.

— Verdade? — diz ele, genuinamente surpreso. E abre seu sorriso tímido.

— Claro que sim.

— Só temos mais dois dias aqui. Tem alguma coisa que você queira ver ou fazer?

— Só quero estar com você — murmuro.

Ele levanta, dá a volta na mesa e me beija na testa.

— Bom, você pode ficar sem mim por uma hora? Preciso ver meus e-mails, descobrir o que está acontecendo em Seattle.

— Claro — digo efusivamente, tentando esconder minha decepção diante da ideia de passar uma hora sem ele. É muita obsessão eu querer ficar com ele o tempo todo?

— Obrigado pela câmera — diz ele, e vai para o escritório.

* * *

DE VOLTA À NOSSA CABINE, decido checar meus e-mails também, e abro o laptop. Há alguns da minha mãe e de Kate, contando-me as últimas fofocas e me perguntando como vai a lua de mel. Ia ótima, até alguém decidir incendiar a empresa de Christian… Assim que termino de responder a minha mãe, aparece mais um e-mail de Kate na minha caixa de entrada.


_________________________________________

De: Katherine L. Kavanagh

Data: 17 de agosto de 2011 11:45

Para: Anastasia Grey

Assunto: Ai meu Deus!!!!


Ana, acabei de ficar sabendo do incêndio no escritório do Christian.

Vc acha que foi criminoso?

Bjocas

K.

Kate está on-line! Pulo em cima do meu mais novo brinquedo — o Skype — e vejo que ela está disponível. Rapidamente digito uma mensagem.


Ana:Ei, está aí?

Kate:SIM, Ana! Tudo bem? Como vai a lua de mel? Viu meu e-mail? O Christian sabe do incêndio?

Ana:Tudo bem. A lua de mel está ótima. Sim, vi seu e-mail. Sim, Christian sabe.

Kate:Imaginei. As notícias sobre o que aconteceu não são muito completas. E o Elliot não me fala nada.

Ana:Você está catando uma matéria?

Kate:Você me conhece bem demais.

Ana:Christian não me disse muita coisa.

Kate:Elliot soube pela Grace!

Ah, não… Tenho certeza de que Christian não vai querer que isso se espalhe por toda Seattle. Tento minha patenteada técnica de distrair a persistente Kavanagh.


Ana:Como vão Elliot e Ethan?

------------------------------Kate:Ethan foi aceito no mestrado de psicologia em Seattle. Elliot é um fofo.

Ana:Mandou bem, Ethan.

Kate:E o nosso ex-dominador preferido?

Ana:Kate!

Kate:O que foi?

Ana:VOCÊ SABE O QUÊ!

Kate:Ok. Desculpe.

Ana:Ele vai bem. Mais do que bem. :)

Kate:Bem, contanto que você esteja feliz, eu fico feliz.

Ana:Estou transbordando de felicidade.

Kate::)Tenho que correr. A gente se fala depois?

Ana: Não sei. Veja se estou on-line. Esse negócio de fuso horário é um saco!

Kate:É verdade. Te amo, Ana.

Ana:Também te amo. Até mais. Bj.

Kate:Até mais. <3

Com certeza Kate não vai largar a pista dessa história. Com ar de enfado, fecho o Skype antes que Christian veja a nossa conversa. Ele não iria gostar do comentário sobre o ex-dominador, e não tenho certeza se ele é completamente ex…

Suspiro alto. Kate sabe de tudo desde nossa noite de bebedeira três semanas antes do casamento, quando finalmente sucumbi à inquisição Kavanagh. Foi um alívio finalmente falar com alguém sobre isso.

Olho o relógio. Já se passou cerca de uma hora desde o jantar e estou com saudades do meu marido. Volto para o deque para ver se ele terminou seu trabalho.

Estou na Galeria dos Espelhos e Christian está parado ao meu lado, sorrindo para mim com amor e afeição. Você parece um anjo. Eu olho para ele alegremente, mas quando me viro para o espelho, percebo que estou sozinha e que o salão é cinza e sombrio. Não! Viro depressa a cabeça de novo para seu rosto e o vejo sorrir triste e melancolicamente. Ele coloca meu cabelo atrás da minha orelha. Então, se vira sem falar nada e se afasta devagar, o som dos seus passos ecoando no imenso salão, para longe dos espelhos, em direção às portas duplas ornamentadas no final da sala… um homem solitário, um homem sem reflexo… E é quando acordo, sem ar, o pânico tomando conta de mim.

— Ei — sussurra ele ao meu lado na escuridão, sua voz cheia de preocupação.

Ah, ele está aqui. Ele está bem. O alívio me percorre.

— Ah, Christian — murmuro, tentando controlar os batimentos do meu coração.

Ele me abraça, e só então percebo que há lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Ana, o que foi?

Ele afaga minha face, enxugando as lágrimas, e percebo a angústia em sua voz.

— Nada. Um pesadelo bobo.

Ele beija minha testa e minhas faces úmidas, confortando-me.

— Foi só um sonho ruim, querida — murmura ele. — Estou aqui com você. Vou protegê-la.

Inebriada pelo seu cheiro, aninho-me em seu corpo, tentando ignorar a desorientação e a devastação que senti no sonho. Nesse momento, sei que meu medo mais profundo e mais sombrio é perdê-lo.

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