CAPÍTULO SEIS

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—Alguma coisa em mente? — murmura Christian, cravando em mim um olhar atrevido.

Dou de ombros, repentinamente agitada e sem fôlego. Não sei se foi a perseguição, a adrenalina, o meu mau humor prévio — não entendo, mas quero isso, e quero ardentemente. O rosto de Christian deixa entrever uma expressão intrigada.

— Trepada sacana? — pergunta, e suas palavras são como um carinho.

Confirmo, sentindo meu rosto arder. Por que estou tão constrangida? Já fiz todo tipo de sacanagem com este homem. Ele é meu marido, ora bolas! Estou constrangida porque quero isso e tenho vergonha de admitir? Meu inconsciente me olha feio. Pare de pensar tanto.

— Carta branca? — Suas palavras saem num sussurro, e ele me examina com atenção, como se estivesse tentando ler minha mente.

Carta branca? Puta merda — o que será que vem por aí?

— Sim — murmuro, nervosa, a excitação já crescendo dentro de mim. Ele lentamente abre um sorriso sensual.

— Venha — diz, e me puxa para as escadas.

Sua intenção é clara. Quarto de jogos!

No alto da escadaria, ele solta minha mão e destranca a porta. A chave está no chaveiro de Seattle com a palavra “Sim” que eu dei para ele pouco tempo atrás.

— Depois de você, Sra. Grey — diz, e escancara a porta de uma vez.

O quarto de jogos tem um cheiro familiar que me conforta, cheiro de couro, madeira e cera. Fico ruborizada ao pensar que a Sra. Jones deve ter vindo limpar este cômodo enquanto estávamos na lua de mel. Christian acende as luzes quando entramos, e as paredes de um vermelho escuro se iluminam com uma luz suave e difusa. Continuo de pé, olhando para ele, sentindo nas veias uma expectativa cada vez maior e mais forte. O que vai fazer? Ele tranca a porta e se vira. Inclinando o rosto para o lado, olha para mim pensativo e depois, com um ar de quem está se divertindo, balança a cabeça.

— O que você quer, Anastasia? — pergunta docemente.

— Quero você. — Minha resposta sai como um suspiro.

Ele ri de um jeito malicioso.

— Eu já sou seu. Sou seu desde o dia em que você pisou no meu escritório.

— Então me surpreenda, Sr. Grey.

Ele retorce a boca em um misto de humor contido e promessa carnal.

— Como quiser, Sra. Grey. — Ele dobra os braços e leva o comprido dedo indicador na altura dos lábios ao me avaliar. — Acho que vamos começar tirando você dessas roupas. — Ele dá um passo à frente. Segurando meu casaco curto de brim, abre-o e o joga para trás pelos meus ombros, fazendo-o cair no chão. Depois apanha a barra da minha blusa preta. — Levante os braços.

Obedeço, e ele a faz passar pela minha cabeça. Abaixando-se, deposita um beijo meigo nos meus lábios, os olhos brilhando com uma mistura cativante de luxúria e amor. A blusa logo está fazendo companhia ao casaco no chão.

— Aqui — sussurro, olhando nervosa para Christian enquanto tiro o elástico de cabelo do meu pulso e o estendo para ele.

Ele não se mexe, e seus olhos se arregalam momentaneamente, mas não entregam nada. Afinal, ele pega o elástico.

— Vire-se — ordena.

Aliviada, sorrio para mim mesma e obedeço imediatamente. Parece que ultrapassamos esse obstáculo. Ele junta meu cabelo e o trança rápida e eficientemente antes de prendê-lo com o elástico. Então puxa a trança, forçando minha cabeça para trás.

— Bem pensado, Sra. Grey — sussurra no meu ouvido, e belisca o lóbulo da minha orelha. — Agora vire-se de novo e tire a saia. Deixe cair no chão.

Ele me solta e dá um passo para trás, esperando que eu me volte para ele. Sem tirar os olhos dos seus, desabotoo o cós da minha saia e abaixo o zíper. A peça cai no chão e se espalha como um leque ao redor dos meus pés.

— Deixe-a aí — ordena.

Dou um passo na direção dele, que se ajoelha rápido na minha frente e agarra meu tornozelo direito. Habilidosamente, ele desafivela minhas sandálias, uma de cada vez, enquanto me curvo para a frente, equilibrando-me com uma das mãos na parede, embaixo dos pinos onde costumavam ficar todos os seus chicotes e varas. O açoite e o chicote de montaria são os únicos objetos que sobraram. Eu os observo com curiosidade. Será que ele vai usar isso?

Tendo tirado minha sandália e me deixado só com o meu conjunto rendado de calcinha e sutiã, Christian se senta sobre os calcanhares, encarando-me.

— Você é uma linda visão, Sra. Grey. — De repente ele se ajoelha, agarra meus quadris e me puxa, enterrando o nariz no alto das minhas coxas. — E está cheirando a mim, a você e a sexo — diz, inalando com força. — É intoxicante.

Ele me beija por cima da renda e eu perco o fôlego ao ouvir suas palavras; me derreto por dentro. Ele é tão… malvado. Juntando minhas roupas e sandálias, ele se levanta com um movimento único e gracioso, como um atleta.

— Vá e fique de pé ao lado da mesa — diz calmamente, apontando com o queixo. Então vira-se e caminha até a cômoda de museu.

Olhando para trás, ele sorri maliciosamente.

— De frente para a parede — ordena. — Assim você não vai saber o que eu estou planejando. Nosso objetivo é satisfazer, Sra. Grey, e você queria uma surpresa.

Eu me viro de costas, ouvindo atentamente — de repente, meus tímpanos estão sensíveis aos menores sons. Se existe uma coisa em que ele é bom, é isso: criar expectativas em mim, incitar meu desejo… fazer-me esperar. Ouço-o colocar minhas sandálias no chão e minhas roupas na cômoda, acho; depois, o barulho dos seus sapatos caindo ao chão, um de cada vez. Humm… adoro quando está descalço. Um minuto depois, ouço-o abrir uma gaveta.

Brinquedos! Ah, eu gosto tanto, tanto, tanto dessa expectativa! A gaveta se fecha e sinto minha respiração entrecortada. Como é possível que o som de uma gaveta me deixe assim, atordoada e trêmula? Não faz sentido. O chiado baixo do sistema de som ligando indica que teremos um interlúdio musical. Começo a ouvir um solo de piano, tranquilo e suave, e acordes melancólicos enchem o cômodo. Não conheço a melodia. Então entra uma guitarra. O que é isso? Surge a voz de um homem e eu mal consigo distinguir as palavras, algo sobre não se ter medo de morrer.

Christian vem sem pressa na minha direção, os pés descalços ressoando contra o piso de madeira. Sinto sua presença atrás de mim no mesmo momento em que uma mulher começa a cantar… ou a choramingar… a cantar?

— Algo bruto, não é mesmo? — sussurra ele no meu ouvido esquerdo.

— Hmm.

— Você tem que me mandar parar se eu for longe demais. Se você disser “pare”, eu paro imediatamente. Entendeu?

— Entendi.

— Preciso que você jure que entendeu.

Inspiro com força. Cacete, o que ele vai fazer?

— Eu juro — murmuro, ofegante, lembrando-me de suas palavras de hoje mais cedo: “Não quero machucar você, mas ficaria muito feliz em brincar”.

— Boa menina.

Inclinando-se, ele dá um beijo no meu ombro nu. Enfia um dedo por baixo da tira do sutiã e traça uma linha que atravessa minhas costas por baixo dela. Tenho vontade de gemer. Como ele consegue tornar sensual o toque mais insignificante?

— Tire — sussurra ele no meu ouvido.

Obedeço imediatamente, deixando meu sutiã cair ao chão.

Suas mãos deslizam pelas minhas costas, até que ele engancha os dois polegares na minha calcinha e a faz descer pelas minhas pernas.

— Um passo — ordena.

Uma vez mais eu obedeço, dando um passo para me livrar da calcinha. Ele beija minha bunda e se levanta.

— Vou vendar você para que fique tudo mais intenso.

Ele coloca uma máscara de dormir sobre meus olhos, e meu mundo mergulha na escuridão. A mulher geme incoerentemente na música… uma melodia pungente, inquietante.

— Abaixe-se e se incline sobre a mesa. — Ele fala com suavidade. — Agora.

Sem hesitar, me inclino na lateral da mesa e descanso o torso sobre a madeira polida, sentindo meu rosto corar ao encostar na superfície dura. O tampo da mesa é frio; o odor lembra vagamente cera de abelha com um toque cítrico.

— Estenda os braços para cima e segure nas beiradas.

Ok… Esticando-me, agarro a outra extremidade da mesa. É bem larga, e meus braços estão completamente estendidos.

— Se você soltar, vou bater em você. Entendeu?

— Entendi.

— Você quer apanhar, Anastasia?

Meu corpo se retesa deliciosamente abaixo da cintura. Percebo que quero isso desde que ele me ameaçou na hora do almoço, e nem a perseguição de carro nem nossa subsequente sessão íntima saciaram essa necessidade.

— Quero. — Minha voz é um sussurro rouco.

— Por quê?

Ah… preciso ter um motivo? Dou de ombros.

— Diga — insiste ele.

— Humm…

E sem mais nem menos ele me dá uma palmada forte.

— Ah! — grito.

— Quieta agora.

Carinhosamente ele esfrega meu traseiro, no lugar onde bateu. Depois se inclina sobre mim, seus quadris pressionando minha bunda, crava um beijo entre as minhas omoplatas e inscreve uma trilha de beijos nas minhas costas. Ele tirou a camisa, e o pelo de seu peito me faz cócegas; sua ereção pressiona meu corpo por sob o tecido grosso da calça.

— Abra as pernas — exige.

Eu obedeço.

— Mais.

Solto um gemido e afasto ainda mais as pernas.

— Boa menina — diz ele em voz baixa.

Com o dedo, ele traça uma linha pelas minhas costas, passando pela minha bunda, bem na junção das nádegas, até atingir meu ânus, que se contrai ao ser tocado.

— Vamos nos divertir com isso aqui — sussurra ele.

Porra!

Seu dedo continua pelo meu períneo e lentamente desliza para dentro de mim.

— Vejo que você está bem molhada, Anastasia. De antes ou de agora?

Solto um gemido, e ele enfia e tira o dedo, várias vezes. Empurro o quadril contra a sua mão, saboreando a invasão.

— Ah, Ana. Acho que é por causa das duas coisas. Acho que você adora ficar aqui, assim. Minha.

Adoro — ah, eu adoro. Ele tira o dedo e me dá outra palmada forte.

— Conte para mim — sussurra, a voz ríspida e rouca.

— Sim, eu adoro — choramingo.

Ele me bate forte novamente e eu grito; depois, enfia dois dedos dentro de mim. Retira-os imediatamente, lambuzando a secreção por cima e ao redor do meu ânus.

— O que você vai fazer? — pergunto, ofegante. Minha nossa… será que ele vai comer meu cu?

— Não é o que você está pensando — fala ele baixinho, tranquilizando-me. — Já disse, um passo de cada vez, baby.

Ouço o leve barulho de um líquido ser derramado, provavelmente de um tubo, e então seus dedos estão me massageando ali de novo. Ele está me lubrificando… ali! Eu me contorço, meu medo lutando contra a excitação do desconhecido. Ele me dá mais uma palmada, mais embaixo dessa vez, atingindo meu sexo. Dou um gemido. Isso é tão… tão gostoso.

— Fique quieta — diz ele. — E não solte.

— Ah…

— É lubrificante.

Ele me lambuza ainda mais. Tento não me mexer por baixo dele, mas meu coração está aos pulos e meu pulso descontrolado, o desejo e a ansiedade crescendo dentro de mim.

— Eu queria fazer isso com você já faz algum tempo, Ana.

Solto um som abafado. E sinto algo frio, frio como metal, descer pela minha espinha.

— Tenho um presentinho para você aqui — sussurra Christian.

Uma imagem de nossa sessão de demonstração vem à minha mente. Puta merda. Um plugue anal. Christian o desliza pelo espaço entre minhas nádegas.

Cacete.

— Vou meter isso em você, bem devagar.

Estou arfando, eletrificada pela expectativa e pela ansiedade.

— Vai doer?

— Não, baby. É pequeno. Mas quando estiver todo lá dentro, vou te comer com força.

Quase tenho um convulsão. Curvando-se sobre mim, ele me beija novamente entre as omoplatas.

— Pronta? — Sua voz é um sussurro.

Pronta? Eu estou pronta para isso?

— Sim — murmuro baixinho, a boca seca.

Ele desliza outro dedo entre meu ânus e o períneo e o enfia em mim. Porra, é o polegar. Ele envolve meu sexo com a mão e seus dedos acariciam meu clitóris. Eu gemo… é tão… bom. E suavemente, enquanto seus dedos estão operando aquela mágica, ele empurra o plugue frio dentro de mim, devagarzinho.

— Ah!

Solto um gemido forte, e meus músculos protestam contra a intrusão. Ele faz um círculo dentro de mim com o polegar e empurra com ainda mais força o plugue, que se encaixa facilmente e não sei se é porque estou tão excitada ou se é porque ele me distraiu com seus dedos deliciosos, mas meu corpo parece aceitar. É pesado… esquisito… está ali!

— Ah, baby.

E eu posso senti-lo… no lugar onde o seu polegar gira, dentro de mim… e o plugue pressionando… ai… Lentamente ele gira o plugue, arrancando de mim um gemido que vem lá do fundo.

— Christian — falo baixinho, como se o nome dele fosse um mantra, enquanto me adapto a essa nova sensação.

— Boa menina.

Ele desliza a mão livre pelo meu corpo até chegar aos quadris. Devagar, tira o polegar, e eu ouço o som que denuncia a abertura do seu zíper. Segurando um dos lados do meu quadril, ele me puxa e afasta minhas pernas ainda mais, seu pé empurrando o meu.

— Não solte a mesa, Ana — avisa.

— Não vou soltar — respondo, ofegante.

— Quer que eu seja bruto? Avise se eu estiver sendo bruto demais. Entendeu?

— Entendi — respondo em um sussurro.

Ele entra em mim e me puxa para si ao mesmo tempo, empurrando o plugue cada vez mais fundo…

— Merda! — eu berro.

Ele para, sua respiração agora mais áspera, e estamos arquejantes no mesmo ritmo. Tento assimilar todas as sensações: a delícia de estar toda preenchida, o sentimento indescritível de estar fazendo algo proibido, o prazer erótico que exala de uma parte minha bem lá no fundo. Ele mexe o plug suavemente.

Meu Deus… Gemo de novo, e ouço sua respiração entrecortada — um sinal de prazer puro e genuíno. Que incendeia meu sangue. Será que alguma vez já me senti tão devassa?… tão…

— Quer mais? — sussurra ele.

— Quero.

— Relaxe — ordena. E sai de mim para me penetrar com força de novo.

Ai… era isso que eu queria.

— Isso… — sussurro.

Ele pega ritmo, a respiração mais difícil, junto com a minha, enquanto mete com força.

— Ah, Ana — balbucia.

Christian tira uma das mãos dos meus quadris e gira o plugue mais uma vez, puxando-o lentamente, depois o retira e o empurra de volta. A sensação é indescritível, e acho que vou desmaiar na mesa. Ele não perde o ritmo, movimentando-se dentro de mim cada vez mais forte e mais rápido, todo o interior do meu corpo tremendo e se contraindo.

— Puta que pariu — gemo. Isso vai me rasgar toda.

— Isso aí — diz ele, sibilando.

— Por favor… — imploro, e não sei exatamente pelo quê: para parar, para não parar nunca, para girar o plugue de novo. Meu corpo parece se contrair em volta dele e do plugue.

— Isso — fala ele, ofegante, e me dá uma palmada forte na bunda, e eu gozo: mais e mais, caindo, caindo, rodando, palpitando… e Christian tira o plugue com cuidado.

— Merda! — grito, e ele agarra meus quadris, imobilizando-me, e goza alto.

* * *

A MULHER AINDA está cantando. Christian sempre coloca as músicas para repetirem aqui. Estranho. Estou enroscada nos braços dele, nossas pernas entrelaçadas, minha cabeça descansando em seu peito. Estamos no chão do quarto de jogos, ao lado da mesa.

— Bem-vinda de volta — diz ele, retirando a venda dos meus olhos.

Fico piscando até meus olhos se ajustarem à luz fraca. Ele pega meu queixo e me beija na boca com carinho, seus olhos procurando os meus ansiosamente. Acaricio seu rosto. Ele sorri.

— E então, cumpri a tarefa? — pergunta ele, bem-humorado.

— Tarefa? — Franzo a testa.

— Você queria alguma coisa bruta — diz ele suavemente.

Não posso evitar um sorriso.

— É, acho que sim…

Christian levanta as sobrancelhas e retribui o sorriso.

— Fico feliz em saber. Você está com uma cara de quem acabou de ser muito bem comida, e está linda. — Ele acaricia meu rosto, seus dedos compridos tocando minha face.

— É como eu me sinto — digo, quase ronronando.

Ele se curva para me beijar ternamente, os lábios macios, quentes e entregues.

— Você nunca me decepciona. — Ele chega para trás a fim de me olhar nos olhos. — Como se sente? — Sua voz soa terna, preocupada.

— Bem — respondo num murmúrio, sentindo o rubor colorir meu rosto. — Muito bem comida. — Sorrio timidamente.

— Ora, Sra. Grey, mas que linguagem mais chula. — Ele se finge de ofendido, mas percebo seu tom de brincadeira.

— Isso é porque eu sou casada com um homem muito, muito pervertido, Sr. Grey.

Ele dá uma risada ridiculamente idiota — e é contagiosa.

— Que bom que você se casou com ele.

Carinhosamente ele pega minha trança, leva-a aos lábios e beija a ponta com um ar de reverência, os olhos brilhantes de amor. Ah, meu Deus… alguma vez eu seria capaz de resistir a esse homem?

Pego a sua mão esquerda e beijo sua aliança, um anel de platina simples igual ao meu.

— Meu — murmuro.

— Seu — responde ele, abraçando-me e enterrando o nariz no meu cabelo. — Quer que eu prepare um banho para você?

— Hmm. Só se você entrar comigo.

— Tudo bem.

Ele me coloca de pé e se levanta. Ainda está de calça jeans.

— Você vai vestir a sua… outra calça jeans?

Ele franze a testa.

— Outra calça?

— Aquela que você costumava usar aqui.

— Aquela? — murmura ele, piscando em surpresa, confuso.

— Você fica muito sexy naquela calça.

— Fico?

— Fica… muito sexy.

Ele sorri timidamente.

— Bem, para você, Sra. Grey, talvez eu use.

Ele se abaixa para me beijar e depois apanha na mesa a tigela com o plugue anal, o lubrificante, a venda e a minha calcinha.

— Quem limpa esses brinquedinhos? — pergunto, seguindo-o até a cômoda.

Ele levanta as sobrancelhas, como se não entendesse minha pergunta.

— Eu. A Sra. Jones.

— O quê?

Ele faz que sim, com um ar que me parece satisfeito e constrangido ao mesmo tempo. Ele desliga a música.

— Bom… é…

— Eram as suas submissas que faziam isso? — termino a frase.

Ele dá de ombros, como que se desculpando.

— Tome.

Ele me passa sua camisa, que eu visto, puxando-a ao redor do meu corpo. Seu perfume ainda está entranhado no linho, e logo esqueço minha preocupação com a limpeza do plugue anal. Ele deixa tudo em cima da cômoda, pega minha mão e, destrancando a porta do quarto de jogos, me conduz para fora dali, descendo as escadas. Eu me deixo levar.

A ansiedade, o mau humor, a emoção, o medo e a excitação da perseguição — tudo sumiu. Sinto-me relaxada; finalmente saciada e tranquila. Quando entramos no banheiro, bocejo alto e me espreguiço… à vontade comigo mesma, para variar.

— O que foi? — pergunta Christian ao abrir a torneira.

Balanço a cabeça em negativa.

— Conte para mim — pede ele, suavemente.

Vejo-o despejar óleo de banho de jasmim na água, inebriando o ambiente com o aroma doce e sensual.

Fico corada.

— Estou me sentindo melhor, só isso.

Ele sorri.

— É, hoje você estava meio estranha, Sra. Grey. — Ele ergue as costas e me pega nos braços. — Sei que você está preocupada com os acontecimentos recentes. Lamento que você tenha sido envolvida nisso. Não sei se é uma vingança, um ex-funcionário ou um concorrente. Se acontecer alguma coisa com você por minha causa… — Sua voz torna-se um sussurro doloroso. Eu o envolvo em meus braços.

— E se algo acontecer com você, Christian? — digo, expressando meu medo.

Ele me fita.

— Vamos dar um jeito. Agora tire a camisa e entre no banho.

— Você não tem que falar com o Sawyer?

— Ele pode esperar.

Sua boca se retesa, e de repente sinto pena de Sawyer. O que será que ele fez para aborrecer Christian?

Ele me ajuda a tirar a camisa e franze a testa quando me viro para ele. Meus seios ainda trazem manchas esmaecidas dos chupões da nossa lua de mel, mas decido não provocá-lo com isso.

— Será que o Ryan conseguiu alcançar o Dodge?

— Vamos saber, mas só depois do banho. Entre.

Ele me oferece a mão. Entro na água morna e perfumada e me sento aos poucos.

— Ai. — Meu ânus está sensível e a água quente me faz estremecer.

— Devagar, baby — diz Christian, mas assim que ele fala, a sensação desagradável desaparece.

Christian tira a roupa e também entra na banheira, sentando-se atrás de mim e me puxando para junto de seu peito. Eu me aninho entre as pernas dele e ficamos ali, felizes, aproveitando a água morna. Deslizo os dedos pelas suas pernas e ele brinca com a minha trança.

— Precisamos rever as plantas da casa nova. Pode ser hoje mais tarde?

— Claro.

Aquela mulher vem aqui novamente. Meu inconsciente desvia os olhos do volume três das Obras completas de Charles Dickens e me fuzila com o olhar. Concordo com o meu inconsciente. Suspiro. Infelizmente, as curvas de Gia Matteo são impressionantes.

— Tenho que organizar minhas coisas para voltar ao trabalho — sussurro.

Ele para tudo.

— Você sabe que não precisa voltar a trabalhar — diz ele.

Ah, não… de novo não.

— Christian, já discutimos isso. Por favor, não desenterre essa questão.

Ele puxa minha trança e meu rosto se ergue para trás.

— Só estou dizendo… — E me beija ternamente.

* * *

VISTO UMA CALÇA de moletom e uma camiseta de alça e resolvo ir pegar minhas roupas no quarto de jogos. Quando passo pelo corredor, ouço Christian aos brados no escritório. Paro na mesma hora.

— Onde é que você se meteu, porra?

Que merda. Ele está gritando com Sawyer. Meu corpo se tensiona e eu disparo para cima rumo ao quarto de jogos. Quero fugir dali para não ouvir o que Christian está dizendo a Sawyer — ainda acho assustador o Christian que grita. Coitado do Sawyer. Pelo menos eu posso gritar de volta.

Junto minhas roupas e o sapato de Christian e então reparo que a pequena tigela de porcelana com o plugue anal continua sobre a cômoda. Bem… Acho que devo limpar isso. Acrescento à pilha de coisas que eu já levava e desço as escadas de volta. Dou uma olhada nervosa para a sala, mas está tudo quieto. Graças a Deus.

Taylor deve voltar amanhã à noite; Christian geralmente fica mais calmo com ele por perto. Taylor foi passar os dias de hoje e amanhã com a filha. Será que algum dia vou conhecê-la?, pergunto-me distraidamente.

Dou com a Sra. Jones vindo da área de serviço. Nós duas levamos um susto.

— Sra. Grey, não tinha visto a senhora. — Ah, então agora sou a Sra. Grey!

— Olá, Sra. Jones.

— Bem-vinda, e meus parabéns. — Ela sorri.

— Por favor, me chame de Ana.

— Sra. Grey, eu não ficaria à vontade.

Ah! Por que tudo deve mudar apenas pelo fato de eu ter um anel no dedo?

— A senhora gostaria de conferir o cardápio para a semana? — pergunta ela, demonstrando certa expectativa.

Cardápio?

— Hmm… — Essa é uma pergunta que eu nunca imaginei ouvir.

Ela sorri.

— Quando comecei a trabalhar para o Sr. Grey, todo domingo à noite ele repassava comigo o cardápio para a semana e fazia uma lista do que eu teria que comprar no mercado.

— Entendo.

— Quer que eu leve isso para a senhora?

Ela estende as mãos para pegar as roupas.

— Ah… hum. Na verdade, ainda vou usar essas coisas.

E as roupas estão escondendo o potinho com o plugue! Fico vermelha. É impressionante que eu ainda possa encarar a Sra. Jones. Ela sabe o que fazemos — ela limpa o quarto de jogos. Credo, que esquisito não ter privacidade.

— Quando quiser, Sra. Grey. Vai ser ótimo repassar as coisas com a senhora.

— Obrigada.

Somos interrompidas por um Sawyer lívido, que sai do escritório de Christian e atravessa a sala a passos largos. Ele nos cumprimenta rapidamente, sem encarar a nenhuma de nós duas, e se refugia no escritório de Taylor. Fico aliviada com sua aparição, pois no momento não estou muito a fim de conversar sobre cardápios ou plugues anais com a Sra. Jones. Dando-lhe um breve sorriso, volto apressadamente para o quarto. Será que algum dia vou me acostumar a ter criados em casa à minha disposição? Balanço a cabeça… um dia, quem sabe.

Jogo os sapatos de Christian no chão e minhas roupas na cama, e levo para o banheiro o potinho com o plugue anal. Observo desconfiada o pequeno objeto. Parece inofensivo e surpreendentemente limpo. Para acabar logo com isso, lavo-o rapidamente com água e sabão. Será suficiente? Vou ter que perguntar ao Sr. Especialista em Sexo se deve ser esterilizado ou algo do gênero. Sinto um arrepio só de pensar.

* * *

GOSTEI DE CHRISTIAN ter deixado a biblioteca para o meu uso. Agora ela está mobiliada com uma bela escrivaninha de madeira branca onde posso trabalhar. Pego meu laptop e verifico as anotações que fiz sobre os cinco manuscritos que li durante nossa lua de mel.

Pronto, tenho tudo de que preciso. Uma parte de mim está apreensiva com a volta ao trabalho, mas jamais poderei confessar isso a Christian. Ele aproveitaria a oportunidade para me fazer sair de lá. Lembro-me da reação apoplética de Roach quando lhe contei que ia me casar e com quem, e também de que, pouco tempo depois, meu cargo foi confirmado. Percebo agora que era porque eu ia me casar com o chefe. Não é um pensamento bem-vindo. Não sou mais assistente — sou Anastasia Steele, editora.

Ainda não encontrei coragem para contar a Christian que não vou mudar meu nome no trabalho. Acho meus motivos consistentes. Preciso manter alguma distância dele, mas sei que vai dar briga quando ele finalmente descobrir. Talvez eu deva discutir isso com ele à noite.

Ajeitando-me na cadeira, dou início à minha última tarefa do dia. Verifico o relógio digital do laptop, que indica serem sete horas da noite. Christian ainda não saiu do escritório, então tenho algum tempo. Retiro o cartão de memória da câmera Nikon e o conecto ao laptop para transferir as fotos. Enquanto espero as fotos descarregarem, reflito sobre o que se passou no dia. Será que Ryan já voltou? Ou ainda está a caminho de Portland? Será que ele alcançou a tal mulher misteriosa? Será que Christian teve notícias dele? Queria algumas respostas. Não me importa que Christian esteja ocupado; quero saber o que está acontecendo, e subitamente me sinto um pouquinho ressentida por ele me manter no escuro. Então eu me levanto, com a intenção de confrontá-lo no seu escritório, mas justo nesse momento as fotos dos últimos dias de nossa lua de mel começam a surgir na tela.

Caramba!

Milhares de fotos minhas. Dormindo, muitas fotos em que estou dormindo, meu cabelo caído no rosto ou espalhado no travesseiro, os lábios entreabertos… droga — chupando o dedo. Não chupo o dedo há anos! Tantas fotos… Eu não tinha ideia de que ele tinha tirado isso tudo. Tem algumas sequências longas e meigas, entre elas uma em que estou debruçada sobre a amurada do iate, o olhar perdido à frente. Como eu não notei que estava sendo fotografada? Não contenho um sorriso quando me vejo enroscada por baixo dele, rindo — meu cabelo voando enquanto tento me desvencilhar dos seus dedos, que me atormentavam com as cócegas. E há uma outra de nós dois na cama da cabine, que ele mesmo tirou, esticando o braço. Estou aninhada em seu peito e ele olha para a câmera, um ar jovem, os olhos bem abertos… apaixonado. Sua outra mão está apoiada na minha cabeça, e eu sorrio como uma boba louca de amor, sem conseguir desviar os olhos de Christian. Ah, meu querido marido, o cabelo pós-foda todo despenteado, os olhos cinzentos brilhando, os lábios entreabertos e sorrindo. Meu lindo marido, que não suporta sentir cócegas, que não suportava ser tocado até pouco tempo mas que agora tolera meu toque. Tenho que lhe perguntar se ele gosta ou se me deixa tocá-lo não pelo seu próprio prazer, mas pelo meu.

Olho para sua imagem com as sobrancelhas franzidas, subitamente tomada pelos sentimentos que tenho por ele. Alguém em algum lugar tem a intenção de lhe fazer mal — primeiro o Charlie Tango, depois o incêndio na sede da empresa, e em seguida esse maldito carro nos perseguindo. Engulo em seco, levando a mão à boca quando um soluço involuntário me escapa. De um salto eu me levanto, abandonando o computador, e saio a procurá-lo — agora não mais para confrontá-lo, apenas para ter certeza de que ele está são e salvo.

Sem me dar o trabalho de bater à porta, irrompo em seu escritório. Christian está a sua mesa, falando ao telefone. Ele ergue um olhar de contrariedade e surpresa, mas a irritação em seu rosto some quando ele vê que sou eu.

— Mas então, não dá para ampliar mais? — pergunta, continuando a conversa ao telefone mas mantendo os olhos em mim.

Sem hesitação, circundo sua mesa, e ele, franzindo o cenho, vira a cadeira para ficar de frente para mim, uma expressão intrigada no rosto. Percebo que ele está pensando: O que será que ela quer? Quando monto nele, suas sobrancelhas se erguem de súbito, em surpresa. Coloco os braços em volta de seu pescoço e me aconchego em seu corpo. Ele cautelosamente me envolve com um braço.

— Hmm… É, Barney. Pode esperar um momento? — E encosta o aparelho no ombro. — Ana, aconteceu alguma coisa?

Balanço a cabeça em negativa. Levantando meu queixo, ele me olha bem nos olhos. Solto a cabeça da mão dele e a deito embaixo do seu queixo, aninhando-me ainda mais em seu colo. Intrigado, ele me aperta ainda mais em seu braço e me beija no alto da cabeça.

— Certo, Barney, o que você estava dizendo? — continua Christian, segurando o telefone contra a orelha com o ombro, e digita uma tecla no laptop.

Uma imagem granulada e em preto e branco de circuito fechado de TV surge na tela, revelando um homem de cabelo escuro vestindo um macacão claro. Christian pressiona outra tela e o homem está caminhando em direção à câmera, mas de cabeça baixa. Quando ele se aproxima, Christian congela a imagem. É uma sala branca e muito iluminada, e à esquerda do homem vemos o que parece ser uma série de armários escuros. Deve ser a sala dos servidores da empresa.

— Ok, Barney, mais uma vez.

A tela ganha vida. Uma janela aparece em volta da cabeça do homem na gravação do circuito fechado e de repente é ampliada. Eu levanto o corpo, fascinada.

— É o Barney que está fazendo isso? — pergunto baixinho.

— É — responde Christian. — Tem como definir melhor a foto? — pergunta ele a Barney.

A imagem fica borrada mas depois ganha foco novamente, definindo um pouco melhor o homem que propositadamente olha para baixo, evitando a câmera. Enquanto o observo, sinto na espinha um calafrio de reconhecimento. Há algo de familiar na linha do seu maxilar. Ele tem um cabelo estranho, é curto, preto e seboso, todo desgrenhado… e na imagem melhorada, percebo um brinco, uma argolinha.

Puta merda! Eu sei quem é.

— Christian — sussurro —, é Jack Hyde.

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