CAPÍTULO DEZESSETE

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—Sr. Rodriguez, o que aconteceu? — Minha voz soa rouca e pesada devido às lágrimas contidas. Ray. O querido Ray. Meu pai.

— Ele sofreu um acidente de carro.

— Ok, estou indo… já estou indo.

A adrenalina invade minha corrente sanguínea, deixando um rastro de pânico. Não consigo respirar direito.

— Ele foi transferido para Portland.

Portland? O que ele está fazendo em Portland?

Ele foi transportado via aérea, Ana. Estou indo para lá agora. Para o hospital universitário. Ah, Ana, eu não vi o carro. Simplesmente não consegui ver… — Sua voz falha.

Sr. Rodrigueznão!

Vejo você lá. — O Sr. Rodriguez reprime um soluço e a ligação é encerrada.

Uma sensação sombria de terror aperta meu pescoço, deixando-me sem ar. Ray. Não. Não. Respiro fundo para me acalmar, apanho o telefone e ligo para Roach. Ele atende no segundo toque.

— Ana?

— Jerry. É o meu pai.

— Ana, o que aconteceu?

Explico, mal conseguindo parar para respirar.

— Vá, sim. Claro, você deve ir. Espero que o seu pai esteja bem.

— Obrigada. Eu mando notícias.

Sem querer, bato o telefone na cara dele, mas, no momento, essa é a última das minhas preocupações.

— Hannah! — grito, consciente da ansiedade em minha voz.

Minutos depois ela enfia a cabeça pela porta e me encontra arrumando a bolsa e apanhando alguns papéis para colocar na pasta.

— Sim? — Ela franze o cenho.

— Meu pai sofreu um acidente. Tenho que ir.

— Ah, meu Deus…

— Cancele todos os meus compromissos de hoje. E de segunda-feira. Você vai ter que terminar de preparar a apresentação sobre o livro digital; minhas anotações estão no arquivo da rede. Peça ajuda a Courtney, se precisar.

— Claro — murmura Hannah. — Tomara que ele esteja bem. Não se preocupe com nada aqui. A gente se vira.

— Estou com o BlackBerry.

A inquietação estampada em seu rosto pálido e aflito quase me deixa devastada.

Meu pai.

Apanho o casaco, a bolsa e a pasta.

— Eu ligo se precisar de alguma coisa.

— Claro, ligue mesmo. Boa sorte, Ana. Espero que ele esteja bem.

Dou-lhe um sorriso breve e tenso, lutando para manter a compostura, e deixo a minha sala. Tenho que me segurar para não sair correndo. Sawyer fica de pé num salto quando me vê.

— Sra. Grey? — pergunta ele, intrigado por eu surgir tão de repente.

— Vamos para Portland. Agora.

— Certo, madame — diz ele, franzindo o cenho, mas abre a porta.

Faz bem me movimentar.

— Sra. Grey — pergunta Sawyer enquanto corremos em direção ao estacionamento —, importa-se se eu perguntar por que vamos fazer essa viagem imprevista?

— Meu pai. Ele sofreu um acidente.

— Entendo. O Sr. Grey já sabe?

— Vou ligar para ele do carro.

Sawyer faz um gesto de concordância e abre a porta traseira do Audi SUV para que eu possa entrar. Com dedos trêmulos, pego o BlackBerry e disco o número do celular de Christian.

— Sra. Grey. — A voz de Andrea soa clara e eficiente.

— O Christian está por aí? — murmuro.

— Hmm… Ele está em algum lugar da empresa, madame. Deixou o BlackBerry aqui para carregar.

Resmungo por dentro, frustrada.

— Você pode lhe dizer que eu liguei e que preciso falar com ele? É urgente.

— Eu posso tentar descobrir onde ele se encontra. Ele tem esse costume de andar por aí às vezes.

— Por favor, basta pedir que ele retorne minha ligação — imploro, lutando contra as lágrimas.

— Claro, Sra. Grey. — Ela hesita. — Está tudo bem?

— Não — sussurro, insegura quanto à minha própria voz. — Por favor, peça para ele me ligar.

— Sim, senhora.

Desligo. Não consigo mais conter minha angústia. Puxando os joelhos para o peito, eu me encolho toda no banco traseiro e as indesejáveis lágrimas descem pela minha face.

— Para onde vamos em Portland, Sra. Grey? — pergunta Sawyer, com delicadeza.

— Hospital universitário — falo entre um soluço e outro. — Aquele grande.

Sawyer pega a rua e rumamos para a Interestadual 5. No banco traseiro, fico choramingando baixinho, balbuciando orações. Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

Meu celular toca, e “Your Love Is King” interrompe bruscamente meu mantra.

— Christian — exclamo, sem ar.

— Por Deus, Ana. O que aconteceu?

— Foi o Ray… ele sofreu um acidente.

— Merda!

— É. Estou indo para Portland.

— Portland? Por favor, me diga que o Sawyer está com você.

— Sim, ele está dirigindo.

— Onde está o Ray?

— No hospital universitário.

Ouço uma voz abafada ao fundo.

— Sim, Ros — diz Christian, ríspido. — Eu sei! Desculpe, querida: só poderei estar lá daqui a umas três horas. Tenho um assunto a resolver aqui. Posso ir voando.

Ah, merda. O Charlie Tango está de volta, e a última vez que Christian voou nele…

— Tenho uma reunião com uns caras de Taiwan. Não posso cancelar agora. É uma transação que estamos negociando há meses.

Como é que eu não sei nada sobre isso?

— Assim que puder eu vou.

— Certo — sussurro. E quero dizer que não tem problema, fique aqui em Seattle e conclua essa negociação, mas a verdade é que eu o quero ao meu lado.

— Ah, baby — diz ele, baixinho.

— Vou ficar bem, Christian. Vá quando puder. Não corra. Não quero me preocupar com você também. E faça uma boa viagem.

— Pode deixar.

— Amo você.

— Também amo você, baby. Vou encontrá-la assim que der. Mantenha o Luke por perto.

— Está bem.

— Até mais tarde.

— Tchau.

Depois de desligar, abraço novamente os joelhos. Não sei nada sobre o trabalho de Christian. Que diabo ele está fazendo com esse pessoal de Taiwan? Olho pela janela quando passamos pelo Aeroporto Internacional de King County. Ele precisa viajar em segurança. Meu estômago dá um nó e começo a ficar enjoada. Ray e Christian. Acho que meu coração não aguentaria. Eu me recosto e recomeço meu mantra: Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

* * *

— SRA. GREY — a voz de Sawyer me desperta —, já chegamos ao hospital. Agora tenho que encontrar a Emergência.

— Eu sei onde é.

Minha mente me leva de volta à minha última visita ao hospital universitário. Foi no meu segundo dia de trabalho na Clayton’s, quando caí de uma escada de mão e torci o tornozelo. Lembro-me de Paul Clayton se inclinando sobre mim e estremeço com a recordação desagradável.

Sawyer para no local de desembarque de passageiros e salta para abrir a porta para mim.

— Vou estacionar, madame, e volto para encontrar a senhora. Pode deixar que eu levo a sua pasta, deixe no carro.

— Obrigada, Luke.

Ele aquiesce, e eu caminho resoluta até à barulhenta recepção da Emergência. A recepcionista no balcão sorri polidamente; após alguns minutos, ela localiza Ray e me encaminha para o centro cirúrgico, no terceiro andar.

Centro cirúrgico? Droga!

Obrigada — balbucio, tentando me concentrar no caminho indicado por ela para os elevadores. Sinto um frio na barriga e quase bato com a cara na porta de um deles.

Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

É uma agonia a lentidão do elevador, parando em todos os andares. Anda logo… Anda logo! Fico torcendo para que vá mais rápido e fecho a cara para as pessoas que entram e saem, impedindo-me de chegar até o meu pai.

Finalmente as portas se abrem no terceiro andar, e corro para mais um balcão de recepção. Neste, as enfermeiras trajam uniformes azul-marinho.

— Posso ajudar? — pergunta uma prestativa enfermeira de olhar míope.

— Meu pai, Raymond Steele. Ele acabou de dar entrada. Está no centro cirúrgico 4, acho. — Digo as palavras desejando ardentemente que não sejam verdadeiras.

— Vou verificar, Srta. Steele.

Aquiesço, sem me dar o trabalho de corrigi-la, e aguardo enquanto ela procura as informações na tela do computador.

— Certo. Ele chegou há umas duas horas. Se a senhora puder esperar, vou avisar da sua presença. A sala de espera é ali. — Ela indica uma grande porta branca com os dizeres sala de espera pintados em grossas letras azuis.

— Ele está bem? — pergunto, tentando manter minha voz calma.

— A senhora vai ter que esperar um dos médicos para ter informações sobre ele.

— Obrigada — balbucio, mas por dentro estou gritando: Quero saber agora!

Abro a porta e me vejo em uma sala de espera austera e funcional, onde estão sentados o Sr. Rodriguez e José.

— Ana! — exclama o Sr. Rodriguez.

Ele tem o braço engessado e o rosto machucado em um dos lados. Está sentado em uma cadeira de rodas com uma das pernas também engessada. Abraço-o energicamente.

— Ah, Sr. Rodriguez — digo, soluçando.

— Ana, querida. — Ele me dá tapinhas nas costas com o braço livre. — Eu lamento muito — balbucia, sua voz rouca quase falhando.

Ah, não.

Não, Papá — diz José suavemente atrás de mim, em tom de reprimenda. Quando me viro, ele me puxa e me abraça.

— José — balbucio.

E não consigo mais me controlar… as lágrimas caem, liberando toda a tensão, o medo e a dor que estavam presos em meu coração nas últimas três horas.

— Ei, Ana, não chore.

José acaricia meu cabelo suavemente. Enrosco meus braços em volta do seu pescoço e choro baixinho. Ficamos assim por uma eternidade, e me sinto aliviada por ter meu amigo por perto. Afastamo-nos quando Sawyer aparece na sala de espera. O Sr. Rodriguez me passa um lenço de papel, que ele pega de uma caixa deixada convenientemente à mão, e eu enxugo as lágrimas.

— Este é o Sr. Sawyer. Segurança — murmuro.

Sawyer acena educadamente para José e o Sr. Rodriguez e depois vai se acomodar em uma cadeira no canto.

— Sente-se, Ana. — José me conduz para uma poltrona estofada em vinil.

— O que aconteceu? Dá para saber como ele está? O que estão fazendo com ele?

José levanta as mãos para interromper minha avalanche de perguntas e se senta ao meu lado.

— Não tivemos notícias ainda. Ray, meu pai e eu estávamos indo pescar em Astoria. Fomos atingidos por um maldito bêbado idiota…

O Sr. Rodriguez tenta interromper, gaguejando uma frase de desculpas.

Cálmate, Papá! — diz José, rispidamente. — Eu quase não me machuquei, só estou com umas costelas doloridas e um galo na cabeça. Meu pai… bom, meu pai quebrou o pulso e o tornozelo. Mas o carro atingiu o lado do carona… e Ray.

Ah, não, não… O pânico começa a inundar meu cérebro novamente. Não, não, não. Meu corpo é invadido por estremecimentos e calafrios quando imagino o que estará acontecendo com Ray no centro cirúrgico.

— Ele está sendo operado. Fomos levados para o hospital comunitário em Astoria, mas transferiram o Ray de helicóptero para cá. Não sabemos o que estão fazendo. Estamos esperando por notícias.

Começo a tremer.

— Ei, Ana, está com frio?

Faço que sim com a cabeça. Estou usando uma camisa branca sem manga e um casaco preto leve, e nenhum dos dois me aquece o suficiente. José tira a própria jaqueta de couro na mesma hora e a coloca nos meus ombros.

— Quer um pouco de chá, madame?

Sawyer está ao meu lado. Aceito agradecida, e ele sai da sala.

— Por que vocês estavam indo pescar em Astoria? — pergunto.

José dá de ombros.

— Dizem que lá é um bom lugar para a pesca. Era um encontro só dos homens. Eu queria passar um tempo com o meu velho antes que os estudos ficassem puxados demais no meu último ano.

Os olhos escuros de José estão bem abertos e deixam transparecer medo e arrependimento.

— Você podia ter se ferido também. E o Sr. Rodriguez… poderia ter sido pior.

Engulo em seco ao pensar na possibilidade. A temperatura do meu corpo cai ainda mais, e tremo novamente. José pega minha mão.

— Caramba, Ana, você está gelada.

O Sr. Rodriguez aproxima-se lentamente e apoia minha outra mão na sua ilesa.

— Ana, eu lamento muito.

— Sr. Rodriguez, por favor. Foi um acidente… — Minha voz se reduz até um sussurro.

— Por favor, pode me chamar de José — ele me corrige.

Dirijo-lhe um sorriso débil, porque é o máximo que consigo. Estremeço uma vez mais.

— A polícia prendeu o filho da mãe. Sete da manhã e o sujeito já tinha enchido a cara — diz José, num tom baixo e cheio de desprezo.

Sawyer retorna trazendo um copo descartável com água quente e um saquinho de chá separado. Ele sabe como eu gosto do meu chá! Fico surpresa e satisfeita com a interrupção. O Sr. Rodriguez e José soltam minhas mãos, e eu, agradecida, pego o copo que Sawyer me oferece.

— Os senhores querem alguma coisa? — pergunta Sawyer, dirigindo-se ao Sr. Rodriguez e a José. Ambos recusam a oferta, e Sawyer volta a se sentar no canto. Mergulho o saquinho de chá na água e, depois de balançar um pouco, jogo-o na pequena lata de lixo.

— Por que estão demorando tanto? — murmuro para ninguém especificamente, e tomo um gole.

Papai… Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

— Logo vamos saber, Ana — diz José, amável.

Aceno positivamente com a cabeça e tomo mais um gole. Sento-me ao lado dele outra vez. Esperamos… e esperamos. O Sr. Rodriguez mantém os olhos fechados — rezando, eu acho — e José segura minha mão, apertando-a de vez em quando. Tomo o chá aos poucos. Não é Twinings, mas uma marca barata e ruim, e o gosto é horrível.

Lembro-me da última vez que fiquei esperando por alguma notícia. Da última vez que pensei que tudo estava perdido, quando o Charlie Tango desapareceu. Fechando os olhos, rezo mentalmente para que meu marido faça uma boa viagem. Dou uma olhada no relógio: duas e quinze. Ele já deve estar chegando. Meu chá esfriou… Argh!

Eu me levanto e ando um pouco de um lado para o outro, depois volto a me sentar. Por que os médicos não vieram falar comigo? Pego a mão de José, e ele aperta a minha para me tranquilizar. Por favor, que ele esteja bem. Por favor, que ele esteja bem.

O tempo se arrasta de tão devagar.

De súbito a porta se abre, e todos erguemos o olhar, ansiosos. Sinto um nó na barriga. Será agora?

Christian entra apressado. Seu rosto escurece por um instante quando ele me vê de mãos dadas com José.

— Christian! — exclamo, e fico de pé em um salto, agradecendo a Deus por ele ter chegado são e salvo.

Depois estou em seus braços, seu nariz no meu cabelo, e eu sinto seu cheiro, seu carinho, seu amor. Uma pequena porção de mim se acalma, ficando mais forte e mais animada simplesmente porque ele está aqui. Ah, a diferença que sua presença faz para minha paz de espírito.

— Alguma notícia?

Balanço negativamente a cabeça, incapaz de falar.

— José. — Ele o cumprimenta com a cabeça.

— Christian, este é o meu pai, José.

— Sr. Rodriguez. Nós nos conhecemos no casamento. Deduzo que o senhor também estava no acidente.

José conta a história de maneira breve.

— E vocês dois se sentem bem o suficiente para estarem aqui? — indaga Christian.

— Não queremos ir para nenhum outro lugar — responde o Sr. Rodriguez, com a voz baixa e cheia de dor.

Christian aquiesce; depois, pegando na minha mão, me faz sentar e se instala ao meu lado.

— Você já comeu? — pergunta ele.

Nego com a cabeça.

— Está com fome?

Balanço a cabeça novamente.

— Mas está com frio? — continua ele, olhando para a jaqueta de José.

Admito que sim. Ele se mexe desconfortável na cadeira, mas, sensatamente, não diz nada.

A porta se abre mais uma vez, e entra um jovem médico de uniforme azul-claro. Ele parece exausto e aflito.

Todo o sangue se esvai da minha cabeça quando me levanto, cambaleante.

— Ray Steele — sussurro. Christian está ao meu lado, com o braço em volta da minha cintura.

— É parente próxima? — pergunta o médico.

Seus olhos azuis brilhantes são quase da mesma cor do jaleco, e, em outras circunstâncias, eu o teria achado atraente.

— Sou Ana, filha dele.

— Srta. Steele…

— Sra. Grey — corrige Christian.

— Perdão — gagueja o médico, e por um minuto tenho vontade de dar um chute em Christian. — Sou o Dr. Crowe. Seu pai está estável, mas em condição crítica.

O que isso significa? Meus joelhos vacilam sob o peso do meu corpo, e só o braço de Christian em volta de mim me impede de cair no chão.

— Ele sofreu diversos traumas internos — explica o Dr. Crowe —, principalmente no diafragma, mas conseguimos reconstituir os tecidos e também salvar o baço. Infelizmente, ele sofreu um ataque cardíaco durante a cirurgia por causa da perda de sangue. Reestabilizamos o coração, mas isso ainda nos preocupa. Nossa maior preocupação, porém, é com a cabeça, que teve contusões graves, e a ressonância magnética mostra inchaço no cérebro. Ele está em coma induzido para permanecer imóvel enquanto controlamos o edema no cérebro.

Dano cerebral? Não.

— Trata-se do procedimento padrão nesses casos. Por enquanto, só nos resta esperar e ver como a condição dele progride.

— Qual é o prognóstico? — pergunta Christian friamente.

— Sr. Grey, é difícil dizer no momento. É possível que ele consiga se recuperar por completo, mas isso agora está nas mãos de Deus.

— Quanto tempo ele vai ser mantido em coma?

— Depende de como o cérebro vai reagir. Em geral, são de setenta e duas a noventa e seis horas.

Ai, tanto tempo!

Eu posso ver o meu pai? — murmuro.

— Pode, sim. Dentro de mais ou menos meia hora. Ele foi levado para a UTI, no sexto andar.

— Obrigada, doutor.

O Dr. Crowe faz um cumprimento com a cabeça, dá meia-volta e vai embora.

— Bom, ele está vivo — sussurro para Christian. E as lágrimas começam a rolar novamente pelo meu rosto.

— Sente-se — ordena Christian, com gentileza.

— Papá, acho que devemos ir embora. Você precisa descansar. Não vamos ter outra notícia tão cedo — murmura José para o Sr. Rodriguez, que olha para o filho com uma expressão vazia no rosto. — Podemos voltar de noite, depois que você descansar. Tudo bem por você, Ana? — pergunta ele em tom suplicante, virando-se para mim.

— É claro.

— Vocês vão ficar em Portland? — pergunta Christian.

José confirma.

— Querem uma carona para casa?

José franze o cenho.

— Eu ia chamar um táxi.

— O Luke pode levar vocês.

Sawyer se levanta, e José parece confuso.

— Luke Sawyer — esclareço.

— Ah… Claro. Acho que seria bom mesmo. Obrigado, Christian.

Levantando-me, abraço rapidamente pai e filho.

— Seja forte, Ana — sussurra José em meu ouvido. — O Ray é um homem saudável e que se cuida. Isso conta a favor dele.

— Espero que sim.

Dou-lhe um abraço apertado. Depois, tiro a sua jaqueta e a devolvo a ele.

— Pode ficar, você ainda está com frio.

— Não, já estou bem. Obrigada.

Olhando nervosa para Christian, vejo que ele nos observa impassível. Christian pega minha mão.

— Se houver alguma mudança no quadro dele, eu aviso vocês na hora — digo para José, que empurra a cadeira de rodas do pai até a porta que Sawyer mantém aberta.

O Sr. Rodriguez levanta a mão, e os dois param à porta.

— Vou incluir seu pai nas minhas orações, Ana — diz ele, a voz vacilante. — Foi tão bom retomar o contato com o Ray depois de todos esses anos… Ele se tornou um bom amigo.

— Eu sei.

E então eles vão embora. Christian e eu ficamos sozinhos. Ele acaricia meu rosto.

— Você está pálida. Venha cá.

Ele senta-se na cadeira e me coloca no colo, abraçando-me mais uma vez, e eu me deixo levar de boa vontade; aconchego-me nele, sentindo-me aflita com o infortúnio do meu padrasto mas grata por ter meu marido aqui, para me consolar. Ele faz um suave carinho no meu cabelo e segura minha mão.

— Como estava o Charlie Tango? — pergunto.

Ele sorri.

— Ah, ele estava yar — responde ele, com certo orgulho na voz, o que me faz rir pela primeira vez em muitas horas. Eu o fito, intrigada.

Yar?

— É um trecho de Núpcias de escândalo. O filme favorito da Grace.

— Não conheço.

— Acho que eu tenho em casa, em blu-ray. Podemos assistir e dar uns amassos. — Ele beija meu cabelo e eu sorrio novamente.

— Será que eu consigo convencer você a comer alguma coisa? — pergunta ele.

Meu sorriso desaparece.

— Agora não. Quero ver o Ray primeiro.

Seus ombros se curvam em desânimo, mas ele não insiste.

— E os taiwaneses?

— Foram afáveis — responde ele.

— Afáveis como?

— Aceitaram me vender o estaleiro deles por menos do que eu estava disposto a pagar.

Ele comprou um estaleiro?

E isso é bom?

— É bom, sim.

— Mas eu pensei que você já tivesse um estaleiro. Aqui na cidade.

— Eu tenho. Vamos usar o daqui para o acabamento. E construir os cascos no Extremo Oriente. Sai mais barato.

Ah.

— E quanto aos funcionários do estaleiro daqui?

— Vamos realocar. Acho que conseguiremos fazer com que o número de demissões seja mínimo. — Ele beija meu cabelo. — Vamos ver como está o Ray? — pergunta, em voz baixa e suave.

* * *

A UTI, NO SEXTO ANDAR, é uma ala austera, estéril e funcional, com vozes sussurradas e sons estridentes dos equipamentos. Quatro pacientes estão internados, cada um em uma área high-tech separada. Ray está na última.

Papai.

Ele parece tão pequeno na imensa cama, cercado por toda aquela aparelhagem. É um choque. Meu pai nunca me pareceu tão diminuído. Há um tubo na sua boca, e em cada braço uma agulha recebe as gotas vindas de diversas ramificações. Uma espécie de pinça está presa a um dos seus dedos. Fico me perguntando vagamente para que será que serve. A perna dele está apoiada em travesseiros, envolta em uma bota azul. Um monitor mostra o batimento cardíaco: bip, bip, bip. É um ritmo forte e regular. Isso eu posso perceber. Eu me aproximo lentamente. Seu peito está coberto por uma enorme e recente atadura, que desaparece por baixo do fino lençol que protege seu corpo.

Percebo que o tubo que sai do canto direito de sua boca segue até um respirador mecânico, cujo barulho se combina com o bip, bip, bip do monitor cardíaco e forma uma batida percussiva rítmica. Sugando, expelindo, sugando, expelindo, sugando, expelindo no tempo marcado pelos bips. Há quatro linhas na tela do monitor cardíaco, cada uma delas se movendo de um lado ao outro, demonstrando claramente que Ray ainda está conosco.

Ah, papai.

Mesmo com a boca repuxada pelo tubo do respirador, sua aparência é tranquila, como se ele estivesse dormindo.

Uma enfermeira jovem e baixinha está de pé ao lado da cama, verificando os monitores.

— Posso tocá-lo? — pergunto, buscando hesitante a mão dele.

— Pode.

Ela sorri amigavelmente. O crachá diz “ENFERMEIRA KELLIE”. Ela é loura e tem olhos muito, muito escuros; deve estar na casa dos vinte anos.

Christian está aos pés da cama, observando-me com atenção. Ao pegar a mão de Ray, sinto-a surpreendentemente quente, e isso me faz desabar. Afundo na cadeira próxima da cama, encosto a cabeça de leve no braço de Ray e começo a chorar.

— Ah, pai. Por favor, melhore logo — sussurro. — Por favor.

Christian coloca a mão no meu ombro e aperta ligeiramente, com a intenção de me tranquilizar.

— Todos os sinais vitais do Sr. Steele estão se mantendo bons — diz a enfermeira Kellie, baixinho.

— Obrigado — murmura Christian.

Ergo o olhar para ela a tempo de vê-la ficar boquiaberta. Finalmente ela deu uma boa olhada no meu marido. Não ligo. Pode admirá-lo o quanto quiser, contanto que faça meu pai melhorar.

— Ele consegue me ouvir? — pergunto.

— Está em um sono profundo. Mas nunca se sabe…

— Posso ficar aqui por um instante?

— Claro.

A enfermeira sorri para mim, suas faces rosadas denunciando-a. Incongruentemente, me pego pensando que ela deve ser loura falsa.

Christian se vira para mim, ignorando-a.

— Preciso dar um telefonema. Vou estar aqui fora. Fique um tempo a sós com o seu pai.

Faço que sim com a cabeça, ele beija meu cabelo e sai da sala. Pego a mão de Ray, impressionada com a ironia de que só agora que ele está inconsciente e não pode me ouvir é que eu realmente quero lhe dizer o quanto o amo. Esse homem tem sido um porto seguro para mim. Minha rocha. E eu nunca tinha pensado nisso até agora. Não sou sangue do seu sangue, mas ele é o meu pai e eu o amo muito. As lágrimas escorrem pelas minhas faces. Por favor, por favor, fique bom.

Bem baixinho, para não perturbar ninguém, conto para ele sobre o fim de semana em Aspen e sobre o fim de semana anterior, quando velejamos e viajamos a bordo do Grace. Conto também sobre a casa nova, os projetos, nossa expectativa de torná-la ecologicamente sustentável. Prometo que vamos levá-lo conosco para Aspen, para que ele possa pescar com Christian, e garanto-lhe que o Sr. Rodriguez e José também serão bem-vindos. Por favor, esteja aqui para fazer tudo isso, pai. Por favor.

Ray permanece imóvel, o sugar e expelir do respirador mecânico e o monótono mas tranquilizador bip, bip, bip do monitor cardíaco são sua única resposta.

Quando levanto o olhar, vejo Christian sentado quieto ao pé da cama. Não sei há quanto tempo ele está ali.

— Oi — diz ele, seus olhos transbordando compaixão e preocupação.

— Oi.

— Quer dizer que eu vou pescar com o seu pai, o Sr. Rodriguez e o José? — pergunta ele.

Confirmo com a cabeça.

— Tudo bem. Vamos comer. Deixe o Ray dormir.

Franzo o cenho. Não quero deixá-lo.

— Ana, ele está em coma. Eu dei os números dos nossos celulares para as enfermeiras daqui. Se alguma coisa mudar no quadro dele, elas ligam. Vamos comer, arranjar um hotel, descansar um pouco, e à noite voltamos para cá.

* * *

A SUÍTE NO HEATHMAN está exatamente como eu me lembro. Quantas vezes eu já pensei naquela primeira noite e naquela manhã que passei com Christian Grey? Paro na entrada do quarto, paralisada. Nossa, tudo começou aqui.

— O lar quando estamos longe do lar — diz Christian, a voz suave, colocando minha pasta no chão ao lado de um dos sofás confortáveis. — Quer tomar um banho? Ficar um pouco na banheira? Do que você precisa, Ana?

Christian me fita, e eu sei que ele está desnorteado: meu garotinho perdido lidando com acontecimentos que estão além do seu controle. Ele ficou fechado e contemplativo a tarde toda. Trata-se de uma situação que ele não pode manipular nem prever. Essa é a vida real em sua essência, e ele se manteve por tanto tempo afastado dela que agora se sente vulnerável e impotente. Meu querido e protegido Cinquenta Tons.

— Um banho de banheira. É o que eu quero agora — murmuro, ciente de que lhe dar uma ocupação vai fazê-lo se sentir melhor, até mesmo útil. Ah, Christian… estou entorpecida e sinto frio e medo, mas que bom que você está aqui comigo.

— Banheira. Ótimo. Tudo bem.

Ele cruza o quarto a passos largos e desaparece no suntuoso banheiro. Alguns momentos depois, ecoa na sala o barulho da água correndo para encher a banheira.

Finalmente, reúno minhas forças ante de ir para o quarto. Fico espantada ao ver diversas sacolas da Nordstrom em cima da cama. Christian volta ao quarto, sem gravata nem paletó, as mangas da camisa arregaçadas.

— Mandei o Taylor fazer umas compras. Camisola, essas coisas — diz ele, me observando com certo temor.

Mas é claro que ele fez isso. Sinalizo minha aprovação de modo a fazê-lo sentir-se melhor. Cadê o Taylor?

— Ah, Ana — murmura Christian. — Nunca vi você assim. Normalmente você é tão forte e corajosa…

Não sei o que dizer. Apenas olho para ele, com os olhos bem abertos. Não tenho nada a lhe oferecer no momento. Acho que estou em choque. Abraço a mim mesma, tentando controlar o frio insistente, mas sei que é em vão, já que o frio vem de dentro de mim. Christian me envolve em seus braços.

— Baby, ele está vivo. Os sinais vitais estão bons. Só temos que ser pacientes — murmura. — Venha.

E, pegando-me pela mão, ele me leva até o banheiro. Com delicadeza, faz meu casaco deslizar pelos ombros e o coloca na cadeira do banheiro; depois, vira-se de novo e desabotoa minha camisa.

* * *

A ÁGUA ESTÁ deliciosamente morna e perfumada, o aroma de flor de lótus invadindo o ar quente e abafado do banheiro. Estou recostada entre as pernas de Christian, minhas costas de encontro ao seu corpo, meus pés descansando sobre os dele. Estamos ambos calados e introspectivos, e finalmente sinto-me mais aquecida. Christian, com o braço ao redor dos meus ombros, beija meu cabelo de vez em quando; eu apenas estouro as bolhas de espuma, sem pensar em nada.

— Você não ficava na banheira com a Leila, ficava? Naquela época você dava banho nela? — pergunto.

Ele se retesa, solta um barulho rouco, e a mão que descansa no meu ombro se contrai.

— Hmm… não. — Seu tom de voz indica surpresa.

— Imaginei. Que bom.

Ele puxa de leve meu cabelo, preso em um coque improvisado, fazendo minha cabeça se inclinar para trás de forma a poder ver meu rosto.

— Por que a pergunta?

Dou de ombros.

— Curiosidade mórbida. Não sei… ver a Leila essa semana…

A expressão em seu rosto endurece.

— Entendo. Menos dessa morbidez, por favor. — Seu tom de voz transmite uma reprimenda.

— Até quando você vai sustentá-la?

— Até ela conseguir andar com as próprias pernas. Não sei. — Ele dá de ombros. — Por quê?

— Existem outras?

— Outras?

— Alguma outra ex que você sustente.

— Havia outra, sim. Mas acabou.

— Ah, é?

— Ela estava estudando medicina. Já se formou e arranjou outra pessoa.

— Outro Dominador ?

— É.

— A Leila disse que você tem dois quadros dela — murmuro.

— Eu tinha, mas não gostava muito. Apresentavam certa qualidade técnica, mas eram muito coloridos para o meu gosto. Acho que estão com o Elliot. Como você bem sabe, ele não tem bom gosto.

Dou uma risadinha, e ele passa o outro braço ao redor do meu corpo, entornando água pela lateral da banheira.

— Assim está melhor — sussurra ele, e me dá um beijo na têmpora.

— Ele vai se casar com a minha melhor amiga.

— Então é melhor eu calar a boca.

* * *

SINTO-ME MAIS RELAXADA depois do banho. Enrolada no roupão macio do Heathman, dou uma olhada nas várias sacolas em cima da cama. Nossa, deve ter muito mais do que roupa de dormir aí. Hesitante, espreito uma delas. Uma calça jeans e um suéter azul-claro, com capuz, do meu tamanho. Caramba… Taylor comprou um enxoval completo para um fim de semana — e ele conhece o meu gosto. Sorrio, lembrando que não foi a primeira vez que ele comprou roupas para mim enquanto eu estava hospedada no Heathman.

— Tirando aquela vez que você foi me assediar na Clayton’s, algum dia você efetivamente entrou em uma loja para comprar alguma coisa?

— Assediar você?

— Exato, me assediar.

— Você ficou toda nervosa, se bem me lembro. E aquele rapaz estava sempre rodeando você. Como era mesmo o nome dele?

— Paul.

— Um dos seus muitos admiradores.

Reviro os olhos, e ele sorri — um sorriso genuíno, aliviado — e me beija.

— Essa é a minha garota — sussurra ele. — Vá se vestir. Não quero que fique com frio de novo.

* * *

— ESTOU PRONTA — MURMURO.

Christian está trabalhando no seu Mac. Ele veste uma calça jeans preta e um suéter cinza de tricô; eu coloquei a calça, o casaco com capuz e camiseta branca.

— Você parece tão jovem — diz Christian, baixinho, os olhos brilhando ao me fitar. — E pensar que vai ficar um ano inteiro mais velha amanhã.

Sua voz soa melancólica. Abro um sorriso triste.

— Não estou muito a fim de celebrações. Podemos ir ver o Ray agora?

— Claro. Eu queria que você comesse alguma coisa. Você mal tocou na comida.

— Christian, por favor. Não estou com fome. Talvez depois de ver o Ray. Quero dar boa-noite a ele.

* * *

QUANDO CHEGAMOS À UTI, encontramos José saindo. Ele está sozinho.

— Ana, Christian, oi.

— Cadê seu pai?

— Estava cansado demais para vir. Afinal de contas, ele também sofreu um acidente de carro hoje de manhã. — José força um sorriso triste. — E os analgésicos contribuíram. Ele capotou. Tive que brigar para poder entrar e ver o Ray, já que eu não sou da família.

— E aí? — pergunto, ansiosa.

— Ele está bem, Ana. Na mesma… mas bem.

Sinto uma onda de alívio. Falta de notícia é boa notícia.

— Vejo você amanhã, aniversariante?

— Claro. Vamos ficar por aqui.

José olha Christian de esguelha rapidamente e depois me dá um breve abraço.

Mañana.

— Boa noite, José.

— Boa noite, José — repete Christian.

José acena e segue pelo corredor.

— Ele ainda é louco por você — diz Christian calmamente.

— Não é não. E mesmo que fosse… — Dou de ombros, porque, no momento, não me importo nem um pouco.

Christian me dá um sorriso contido, e meu coração se derrete.

— Meus parabéns — murmuro.

Ele franze a testa.

— Por não espumar pela boca.

Ele me olha boquiaberto, e vejo que ficou magoado — mas também achou graça.

— Eu nunca fiz isso. Vamos ver o seu pai. Tenho uma surpresa para você.

— Surpresa? — Arregalo os olhos, temerosa.

— Venha.

Christian me pega pela mão, e juntos abrimos as portas duplas da UTI.

Ao pé da cama está Grace, entretida numa conversa com Crowe e uma mulher que eu ainda não tinha visto, também médica. Ao nos ver, Grace sorri.

Ah, graças a Deus.

— Christian.

Ela o beija no rosto, depois se volta para mim e me envolve em um abraço afetuoso.

— Ana. Como você está se aguentando?

— Estou bem. É com o meu pai que eu estou preocupada.

— Ele está em boas mãos. A Dra. Sluder é especialista nessa área. Estudamos juntas em Yale.

Ah…

— Sra. Grey — cumprimenta muito formalmente a Dra. Sluder. Ela tem um porte franzino, cabelo curto, um sorriso tímido e um leve sotaque do sul. — Como a principal médica do seu pai nesse momento, fico feliz em dizer que tudo está correndo conforme o previsto. Os sinais vitais dele estão fortes e estáveis. Temos muita fé em que ele vai se recuperar plenamente. O edema cerebral cessou e mostra sinais de que está diminuindo. Isso é muito promissor depois de tão pouco tempo.

— Que boa notícia — murmuro.

Ela sorri afetuosamente.

— É mesmo, Sra. Grey. Estamos cuidando muito bem dele. — Ela se volta para Grace. — Foi bom ver você de novo.

Grace sorri.

— Digo o mesmo, Lorraina.

— Dr. Crowe, vamos deixar a família fazer uma visita ao Sr. Steele. — E Crowe segue junto com a Dra. Sluder até a saída.

Volto minhas atenções para Ray, e pela primeira vez desde o acidente me sinto mais esperançosa. As palavras gentis de Grace e da Dra. Sluder renovaram minha fé.

Grace pega minha mão e a aperta ligeiramente.

— Ana, querida, fique sentada ao lado dele. Fale com ele. Isso só faz bem. Ficarei com o Christian na sala de espera.

Aquiesço, e Christian sorri, transmitindo tranquilidade. Ele e a mãe me deixam com meu querido pai dormindo em paz ao som da canção de ninar do respirador mecânico e do monitor cardíaco.

* * *

VISTO A CAMISETA branca de Christian e me enfio na cama.

— Você parece mais animada — diz ele cautelosamente ao vestir o pijama.

— É verdade. Acho que conversar com a Dra. Sluder e com a sua mãe fez uma grande diferença. Foi você que pediu à Grace para vir até aqui?

Christian desliza para debaixo dos lençóis e me puxa para seus braços, virando-me de costas para si.

— Não. Ela quis vir e verificar pessoalmente como estava o seu pai.

— Como ela soube?

— Liguei para ela hoje de manhã.

Ah.

— Baby, você está exausta. Durma um pouco.

— Aham — murmuro.

Ele tem razão. Estou tão cansada! Foi um dia cheio de emoções. Viro a cabeça e o observo por um breve momento. Não vamos fazer amor? E fico aliviada. Na verdade, durante todo o dia ele se comportou como se não devesse me tocar muito. Fico pensando se devo ficar preocupada com isso; porém, como a minha deusa interior deu uma saída, levando minha libido consigo, resolvo pensar no assunto amanhã de manhã. Eu me viro e me aconchego em Christian, enroscando minha perna na dele.

— Quero que me prometa uma coisa — diz ele suavemente.

— Hmm? — É uma pergunta, já que estou cansada demais para articular qualquer palavra.

— Prometa que vai se alimentar amanhã. Posso até tolerar ver você usando a jaqueta de outro homem sem espumar pela boca, mas, Ana… você tem que comer. Por favor.

— Hmm — concordo. Ele beija meu cabelo. — Obrigada por estar aqui — balbucio, e, já meio dormindo, beijo seu peito.

— E onde mais eu estaria? Quero estar onde você estiver, Ana. Estar aqui me faz pensar em como chegamos tão longe. E na primeira noite que dormimos juntos. Que noite! Fiquei observando você por horas e horas. Você era simplesmente… yar — sussurra ele.

Abro um sorriso com o rosto encostado em seu peito.

— Durma — murmura ele, e é uma ordem.

Fecho os olhos e me entrego.

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