EPÍLOGO

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Casa Grande, maio de 2014

Estou deitada na nossa toalha xadrez de piquenique e olho para o céu claro e azul do verão, minha visão emoldurada por flores silvestres e pela grama verde alta. O calor do sol da tarde de verão aquece minha pele, meus ossos e minha barriga, e eu relaxo, meu corpo virando gelatina. É uma sensação agradável. Nossa, não... na verdade, é maravilhosa. Saboreio o momento, um momento de paz, de satisfação pura e absoluta. Eu deveria me sentir culpada por essa alegria, essa plenitude, mas não me sinto. A vida agora está boa, e eu aprendi a apreciá-la e a viver o presente, como o meu marido. Abro um sorriso e me contorço quando minha mente rememora a deliciosa lembrança da nossa última noite no Escala...

As tiras do açoite deslizam sobre minha barriga protuberante em um ritmo lânguido e ansioso.

— Você já não teve o suficiente, Ana? — sussurra Christian no meu ouvido.

— Ah, por favor — suplico, puxando as amarras acima da minha cabeça. Estou de pé com uma venda nos olhos e presa à grade do quarto de jogos.

A doce corda do açoite belisca minha bunda.

— Por favor o quê?

Solto uma exclamação.

— Por favor, senhor.

Christian toca minha pele ardida e esfrega delicadamente.

— Pronto. Pronto. — Suas palavras são suaves. Sua mão desce e desenha círculos, e seus dedos deslizam para dentro de mim.

Solto um gemido.

— Sra. Grey — sussurra ele, e seus dentes puxam o lóbulo da minha orelha —, você está tão molhada...

Seus dedos entram e saem com facilidade, atingindo novamente aquele ponto mágico, aquele ponto doce e mágico. O açoite cai ruidosamente no chão, e a mão de Christian acaricia minha barriga, indo até os meus seios. Eu me reteso — eles estão extremamente sensíveis.

— Shh — diz Christian, pegando um deles inteiro na mão e, com o polegar, esfregando suavemente o meu mamilo.

— Ah...

Seus dedos são suaves e tentadores, e o prazer se espirala dos meus seios para baixo, mais baixo, mais baixo... Inclino a cabeça para trás, empurrando o mamilo contra sua palma, e solto mais um gemido.

— Eu gosto de ouvir você — sussurra Christian. A ereção dele esbarra no meu quadril, os botões da calça fazendo pressão em minha pele enquanto seus dedos continuam seu ataque inflexível: dentro, fora, dentro, fora... mantendo o ritmo. — Quer que eu faça você gozar assim?

— Não.

Seus dedos interrompem o movimento dentro de mim.

— Mesmo? E isso depende de você? — Seus dedos apertam o meu mamilo.

— Não... Não, senhor.

— Assim está melhor.

— Ah, por favor — imploro.

— O que você quer, Anastasia?

— Você. Sempre.

Ele inspira com força.

— Você todo — acrescento, sem ar.

Ele retira os dedos de dentro de mim, me gira de modo a fitá-lo e tira a venda. Pisco várias vezes e encontro olhos cinzentos que escurecem cada vez mais e queimam ao me olhar. Os dedos indicadores de Christian fazem um desenho em torno do meu lábio inferior e ele enfia o indicador e o médio na minha boca, me fazendo provar do gosto forte e salgado da minha excitação.

— Chupe — murmura ele. Passo a língua ao redor e entre os seus dedos.

Hmm... até eu tenho um gosto bom nos dedos dele.

Suas mãos deslizam pelos meus braços até alcançarem as algemas, acima da minha cabeça, e ele as abre, soltando-me. Ele me faz girar, colocando-me de frente para a parede, e me puxa pela trança para os seus braços. Então inclina minha cabeça para o lado e roça os lábios pelo meu pescoço até a minha orelha, mantendo-me colada em seu corpo.

— Eu quero dentro da sua boca. — Sua voz é suave e sedutora. Meu corpo, já pronto, se contrai bem lá no fundo. O prazer é doce e intenso.

Solto um gemido. Virando-me para encará-lo, puxo sua cabeça para mim e beijo-o com força, minha língua invadindo sua boca, saboreando-o, apreciando-o. Ele geme, pega na minha bunda e me puxa contra si, mas apenas o meu ventre grávido o toca. Mordo seu queixo e desenho uma trilha de beijos pelo seu pescoço, levando os dedos para sua calça jeans. Ele inclina a cabeça para trás, expondo o pescoço ainda mais; eu passo a língua, descendo até seu peito e lambendo os pelos do seu tórax.

— Ah.

Puxo o cós da sua calça, fazendo os botões se abrirem, e ele agarra meus ombros quando caio de joelhos à sua frente.

Ergo o rosto, encarando-o através dos cílios e sentindo seu olhar sobre mim. Seus olhos estão escuros, a boca entreaberta, e ele inspira profundamente quando o liberto e capturo com a boca. Adoro fazer isso com Christian. Vê-lo perder o controle, ouvir sua respiração entrecortada e os suaves gemidos que lhe saem da garganta. Fecho os olhos e chupo com força, engolindo-o todo, saboreando seu gosto, deliciando-me em ouvi-lo ofegante.

Ele agarra minha cabeça, deixando-me imóvel, e eu cubro os dentes com os lábios e o empurro mais para dentro da minha boca.

— Abra os olhos e olhe para mim — ordena ele em voz baixa.

Olhos ardentes encontram os meus, e ele flexiona os quadris, preenchendo minha boca até o fundo da garganta e depois tirando rapidamente. Ele enfia de novo e eu tento agarrá-lo. Ele interrompe o movimento e me faz ficar parada.

— Não toque, ou vou algemar você de novo. Só quero a sua boca — fala ele, em tom gutural.

Puxa vida. Vai ser assim? Coloco as mãos para trás e o encaro inocentemente, com a boca cheia.

— Boa menina — diz ele, rindo para mim, a voz rouca. Ele se retrai e, me prendendo suave mas firmemente, mete de novo em mim. — Você tem uma boca tão boa de comer, Sra. Grey.

Ele fecha os olhos e penetra a minha boca, e eu o aperto entre meus lábios, passando a língua por cima e em volta dele. Eu o tomo mais fundo e retiro, vezes e mais vezes, repetidamente, ouvindo o ar sibilar entre seus dentes.

— Ah! Pare — diz ele, e se afasta, me deixando com mais vontade.

Christian agarra meus ombros e me suspende para que eu fique em pé. Puxando minha trança, me dá um beijo intenso, sua língua persistente, gulosa e generosa ao mesmo tempo. De repente ele me solta e, antes que eu me dê conta, me pega no colo e me leva até a cama com dossel. Delicadamente me deita no colchão, de forma que a minha bunda fique na beirada.

— Abrace minha cintura com as pernas — ordena.

Faço isso, e o puxo na minha direção. Ele se abaixa, as mãos uma de cada lado da minha cabeça, e, ainda de pé, me penetra bem devagar.

Ah, como isso é bom. Fecho os olhos e me deleito em ser possuída lentamente.

— Tudo bem? — pergunta ele, num tom de evidente preocupação.

— Ah, meu Deus, Christian. Tudo bem. Tudo bem. Por favor.

Aperto as pernas em volta dele e me empurro contra seu corpo. Ele solta um ruído rouco. Eu me agarro em seus braços, e ele flexiona os quadris, no início devagar, dentro, fora.

— Christian, por favor. Mais forte: eu não vou quebrar.

Ele geme e começa a se mexer, mexer mesmo, forçando a penetração repetidamente. Ah, é uma sensação celestial.

— Isso — exclamo, ofegante, apertando-o ainda mais, quando começo a gozar...

Ele geme, movimentando-se dentro de mim com determinação renovada... e eu estou quase. Ah, por favor. Não pare.

— Goze, Ana — ruge ele entre os dentes, e eu me deixo explodir em volta dele, meu orgasmo indo e vindo, indo e vindo. Grito seu nome e Christian fica imóvel, gemendo bem alto, no momento em que ele próprio atinge o clímax dentro de mim. — Ana! — grita.

* * *

CHRISTIAN ESTÁ DEITADO ao meu lado, a mão acariciando minha barriga, os compridos dedos bem abertos.

— Como está a minha filha?

— Ela está dançando. — Sorrio.

— Dançando? Ah, sim! Uau. Estou sentindo. — Ele ri quando o Pontinho Número Dois dá um salto dentro de mim.

— Acho que ela já gosta de sexo.

Christian franze o cenho.

— Sério? — diz ele secamente. E aproxima o rosto da minha barriga redonda. — Nada disso até completar trinta anos, hein, mocinha?

Dou uma risada.

— Ah, Christian, você é tão hipócrita.

— Não, sou só um pai preocupado. — Ele me olha, a testa franzida, traindo sua ansiedade.

— Você é um pai maravilhoso, exatamente como eu previa. — Acaricio seu lindo rosto, e ele abre seu sorriso tímido.

— Gosto disso — murmura ele, afagando e depois beijando minha barriga. — Mais uma igual a você.

Faço cara feia.

— Não quero outra igual a mim.

— É maravilhoso quando você goza.

— Christian!

— E eu estou doido para sentir o gosto de leite no seu peito de novo.

— Christian! Você é tão sacana...

Ele me ataca subitamente, beijando-me com força, jogando a perna sobre a minha e prendendo minhas mãos acima da minha cabeça.

— Você adora uma trepada sacana — sussurra ele, e esfrega o nariz de leve no meu.

Eu rio, retribuindo seu sorriso cheio de malícia e contagioso.

— É, eu adoro uma trepada sacana. E eu adoro você. Demais.

Desperto com um sobressalto. Fui acordada por um gritinho agudo de alegria do meu filho, e mesmo sem vê-lo ou a Christian, sorrio como uma boba, de puro prazer. Ted acordou do seu cochilo e agora está brincando com o pai aqui por perto. Fico deitada quieta, ainda admirada com a habilidade de Christian para brincadeiras. Sua paciência com Teddy é extraordinária — muito mais do que comigo. Dou uma fungada de puro despeito. Na verdade, porém, é assim que deve ser. E o meu lindo garotinho, tão querido pelos seus pais, não conhece o medo. Christian, por outro lado, ainda é superprotetor — tanto comigo quanto com nosso filho. Meu doce, instável e controlador Cinquenta Tons.

— Vamos procurar a mamãe. Ela está em algum lugar aqui da campina.

Ted diz alguma coisa que não consigo ouvir, e Christian ri à vontade, feliz. É um som mágico, cheio de alegria paterna. Não consigo resistir. Com esforço, me levanto sobre os cotovelos para espiá-los daqui do meu esconderijo em meio à grama alta.

Christian está balançando Ted, girando e girando, fazendo-o dar mais gritinhos de alegria. Ele para, o lança alto no ar — prendo a respiração —, para então agarrá-lo. Ted dá um gritinho de despreocupação infantil, e eu respiro aliviada. Ah, meu homenzinho, meu querido homenzinho, não para nunca.

— De novo, papai! — grita ele.

Christian repete a brincadeira, e meu coração vai na garganta quando ele joga novamente o menino e o agarra no ar, apertando-o em seus braços. Christian beija o cabelo cor de cobre de Ted e depois sua bochecha; e então começa a fazer cócegas sem piedade. Teddy urra de tanto gargalhar, se contorcendo e empurrando o peito de Christian, tentando se soltar dos braços do pai. Rindo, Christian o coloca no chão.

— Vamos encontrar a mamãe. Ela está escondida na grama.

Ted fica radiante, adorando a brincadeira, e começa a procurar pela campina. Pegando a mão de Christian, ele aponta para um lugar onde não estou, me fazendo dar risadinhas. Volto a me deitar rapidamente, entrando na brincadeira.

— Ted, eu ouvi a mamãe. Você ouviu?

— Mamãe!

Dou uma risada, mal podendo acreditar no tom autoritário de Ted. Minha nossa... ele parece tanto com o pai e só tem dois anos.

— Teddy! — grito de volta, olhando para o céu com um sorriso ridículo no rosto.

— Mamãe!

Logo ouço os passos dos dois correndo pela campina, e primeiro Ted depois Christian irrompem pela grama alta.

— Mamãe! — exclama Ted com um grito agudo, como se tivesse encontrado o tesouro perdido de Sierra Madre, e pula em cima de mim.

— Oi, meu querido!

Eu o aninho em meus braços e beijo sua bochecha. Ele dá uma risada e retribui meu beijo, depois tenta se soltar.

— Olá, mamãe. — Christian sorri para mim.

— Olá, papai.

Sorrio de volta, enquanto ele pega Ted e se senta ao meu lado com nosso filho no colo.

— Mais carinho com a mamãe — ele repreende Ted.

Eu rio — a duplicidade da frase não me passou despercebida. Christian tira do bolso o BlackBerry e o empresta a Ted, o que provavelmente vai nos dar uns cinco minutos de paz, no máximo. Teddy examina o aparelho com as pequenas sobrancelhas enrugadas. Ele parece muito sério, os olhos azuis concentrados, assim como o pai quando lê e-mails. Christian afaga o cabelo de Ted, e meu coração se enternece ao vê-los juntos. Meus amores: meu filho sentado quieto — pelo menos por alguns minutos — no colo do meu marido. Meus dois homens prediletos no mundo todo.

Obviamente, Ted é a criança mais linda e talentosa do planeta, mas como sou a mãe dele pensaria assim de qualquer forma. E Christian é... bem, Christian é ele mesmo. Com uma camiseta branca e calça jeans, está sensual como sempre. O que eu fiz para merecer esse enorme prêmio?

— Você está com uma cara boa, Sra. Grey.

— Você também, Sr. Grey.

— A mamãe não está bonita? — sussurra Christian no ouvido do filho. Ted o empurra, mais interessado no BlackBerry do pai.

Dou uma risada.

— Você não consegue enrolar o Ted.

— Eu sei. — Christian ri e beija o cabelo do filho. — Nem acredito que ele vai fazer dois anos amanhã — diz em tom melancólico. Depois, aproxima-se de mim e coloca a mão aberta sobre a minha barriga protuberante. — Vamos ter uma porção de filhos.

— Pelo menos mais um. — Abro um sorriso, e ele acaricia minha barriga.

— Como está a minha filha?

— Está bem. Dormindo, eu acho.

— Olá, Sr. Grey. Olá, Ana.

Nós dois nos viramos para ver Sophie, a filha de dez anos de Taylor, surgir em meio à grama alta.

— Sofííí — grita Ted, feliz ao reconhecer a menina. Com certo esforço, ele sai do colo do pai e deixa o BlackBerry de lado.

— Ganhei uns picolés da Gail — diz Sophie. — Posso dar um para o Ted?

— É claro — respondo. Ai, meu Deus, vai ser uma bagunça.

— Colé! — Ted estende as mãozinhas, e Sophie dá um para ele. Já está até pingando.

— Venha aqui, deixe a mamãe ver.

Eu me sento, pego o picolé da mão de Ted e rapidamente o coloco na minha boca para lamber o excesso de caldo. Hmm... amora... refrescante e delicioso.

— Meu! — protesta Ted, sua voz vibrando de indignação.

— Tome. — Devolvo um picolé um pouco menos derretido, que vai diretamente para sua boca. Ele ri feliz.

— O Ted pode dar um passeio comigo? — pergunta Sophie.

— Claro.

— Não vá muito longe.

— Pode deixar, Sr. Grey.

Sophie arregala os olhos castanho-claros, em uma expressão compenetrada. Acho que ela tem um pouco de medo de Christian. Ela estende a mão, que Teddy pega contente. Eles se afastam, atravessando a grama alta.

Christian os observa.

— Eles vão ficar bem, Christian. O que pode acontecer de errado aqui com os dois? — Ele me olha com uma expressão séria por um instante, e eu engatinho até seu colo. — Além disso, Ted está completamente apaixonado pela Sophie.

Christian solta um resmungo e afaga meu cabelo.

— Ela é uma criança encantadora.

— É verdade. E bonita também. Um anjinho louro.

Christian fica imóvel, depois coloca as mãos na minha barriga.

— Meninas, hein? — Sua voz soa um pouco tremida. Seguro sua nuca.

— Você só vai ter que se preocupar com a sua filha daqui a três meses. Agora, ela está bem protegida comigo. Tudo bem?

Ele me beija atrás da orelha e arranha de leve a ponta do lóbulo com os dentes.

— Como quiser, Sra. Grey. — E me morde. Eu solto um gritinho.

— Gostei da noite passada — diz ele. — Podíamos fazer aquilo mais vezes.

— Também acho.

— E podíamos mesmo, se você parasse de trabalhar...

Reviro os olhos, e ele aperta os braços em volta de mim e sorri com o rosto encostado no meu pescoço.

— Está revirando os olhos para mim, Sra. Grey? — Sua ameaça é implícita mas sensual, me fazendo rir; mas como estamos no meio da campina, com as crianças por perto, ignoro o convite.

— A Grey Publishing tem um autor na lista dos mais vendidos do New York Times; as vendas de Boyce Fox estão nas alturas, o projeto de livros digitais estourou e eu finalmente tenho a equipe que queria.

— E você está ganhando dinheiro nessa época de crise — acrescenta Christian, sua voz refletindo seu orgulho. — Mas... eu gosto de ter você em casa.

Eu me inclino para trás a fim de ver seu rosto. Ele me fita, os olhos brilhantes.

— Também gosto — murmuro, e ele me beija, as mãos ainda na minha barriga.

Notando seu bom humor, decido abordar um assunto delicado:

— Você já pensou melhor na minha sugestão?

Ele fica parado.

— Ana, a resposta é não.

— Mas Ella é um nome tão bonito...

— Não vou dar à minha filha o nome da minha mãe. Não. Fora de cogitação.

— Tem certeza?

— Tenho. — Pegando meu queixo, ele me lança um olhar determinado, irradiando irritação. — Ana, desista. Não quero que a minha filha fique marcada pelo meu passado.

— Tudo bem. Desculpe. — Merda... Não quero deixá-lo zangado.

— É melhor. Pare de tentar consertar as coisas — balbucia ele. — Você já conseguiu que eu admitisse que amava minha mãe, já me arrastou até o túmulo dela. Agora basta.

Ah, não. Eu giro no seu colo de forma a ficar montada nele, e seguro sua cabeça nas mãos.

— Desculpe. De verdade. Por favor, não fique bravo comigo.

Dou-lhe um beijo, e depois outro apenas no canto de sua boca. Após um instante, ele aponta para o outro canto. Sorrio, e beijo também esse lado. Ele aponta para o nariz. Eu o beijo ali também. Ele dá um amplo sorriso e me agarra.

— Ah, Sra. Grey... o que vou fazer com você?

— Você vai pensar em alguma coisa, tenho certeza — murmuro. Ele abre outro sorriso e, girando de maneira repentina, me joga sobre a toalha.

— Que tal agora? — sussurra ele, com um sorriso lascivo.

— Christian! — exclamo.

Subitamente, ouvimos o gritinho agudo de Ted. Com a agilidade de uma pantera, Christian se levanta de um salto e corre na direção de onde veio o som. Vou atrás, só que mais devagar. No fundo, não estou tão preocupada quanto ele — não foi um grito capaz de me fazer subir as escadas de dois em dois degraus.

Christian apanha Teddy e o coloca no colo. Nosso menininho está chorando desconsoladamente e apontando para o chão, onde os restos de seu picolé se derretem na grama, formando uma massa empapada.

— Ele deixou cair — diz Sophie, com ar triste. — Eu teria dado o meu, mas já acabou.

— Ah, Sophie querida, não se preocupe. — Afago seu cabelo.

— Mamãe! — choraminga Ted, estendendo as mãos para mim. Relutantemente, Christian o deixa vir para o meu colo.

— Pronto, passou.

— Colé — diz ele, soluçando.

— Eu sei, queridinho. Vamos procurar a Sra. Taylor e pedir outro.

Beijo sua cabeça... hmm, que cheiro bom. O cheiro do meu menininho.

— Colé. — Ele funga. Pego sua mão e beijo seus dedos melados.

— Estou sentindo o gosto do picolé aqui nos seus dedos.

Ted para de chorar e examina a própria mão.

— Ponha o dedo na boca.

Ele obedece.

— Colé!

— Isso. Picolé.

Ele ri. Meu menininho instável, exatamente como o pai. Bom, pelo menos ele tem uma desculpa: só tem dois anos de idade.

— Vamos procurar a Sra. Taylor? — Ele concorda, abrindo seu lindo sorriso infantil. — Você vai no colo do papai?

Ele balança a cabeça e abraça meu pescoço, apertando-me forte ao enterrar o rosto acima da minha clavícula.

— Acho que o papai também quer provar o picolé — sussurro no seu pequeno ouvido.

Ted franze a testa, depois olha para a própria mão e a estende para o pai. Christian sorri e chupa os dedinhos do filho.

— Hmm... gostoso.

Ted dá uma risada e se estica, querendo que o pai o carregue. Christian me dá um grande sorriso e pega Ted no colo, acomodando-o no quadril.

— Sophie, onde está a Gail?

— Ela estava na casa principal.

Dou uma olhada para Christian. Seu sorriso deixou transparecer um sinal de amargor, e eu me pergunto o que ele estará pensando.

— Você é tão boa com ele — murmura Christian.

— Este pequeno aqui? — Despenteio o cabelo de Ted. — É porque eu conheço bem os integrantes masculinos da família Grey. — E abro um sorriso para o meu marido.

Ele ri.

— É verdade, Sra. Grey.

Ted se contorce para sair do colo de Christian. Agora ele quer andar, meu menininho teimoso. Eu seguro sua mão, o pai pega a outra, e juntos o balançamos entre nós dois durante o caminho de volta para a casa. Sophie vai saltitando na nossa frente.

Aceno para Taylor, que, em um raro dia de folga, está do lado de fora da garagem, de calça jeans e camiseta regata, consertando uma velha motocicleta.

Paro do lado de fora do quarto de Ted e fico escutando Christian ler para o garoto:

— Eu sou o Lorax! Eu falo pelas árvores...

* * *

ESPIO PARA DENTRO do quarto e Teddy já está no sétimo sono, enquanto Christian continua a ler. Ele ergue o olhar quando abro a porta, e fecha o livro. Encosta o dedo nos lábios e liga a babá eletrônica perto do berço. Ele arruma os lençóis de Ted, acaricia sua bochecha, depois se ergue e vem até mim na ponta dos pés, sem emitir um único ruído. É difícil não rir com a cena.

Já no corredor, Christian me puxa para um abraço.

— Meu Deus, eu amo esse garoto, mas é tão bom quando ele está dormindo... — murmura junto à minha boca.

— Concordo plenamente.

Ele me fita com o olhar suave.

— Quase não acredito que já faz dois anos.

— Eu sei.

Dou-lhe um beijo e por um momento me sinto transportada de volta ao nascimento de Teddy: a cesariana de emergência, a ansiedade devastadora de Christian, a calma e eficiência da Dra. Greene quando o meu Pontinho estava em perigo. Estremeço por dentro com a recordação.

— Sra. Grey, a senhora está em trabalho de parto há quinze horas. As contrações ficaram mais lentas, apesar da Pitocina. Precisamos fazer uma cesariana: o bebê corre perigo. — A Dra. Greene está inflexível.

— Porra, já não era sem tempo! — Christian urra para ela. A Dra. Greene o ignora.

— Christian, fique quieto. — Aperto a mão dele. Minha voz é baixa e fraca, e tudo em volta está rodopiando: as paredes, as máquinas, as pessoas de verde... Eu só quero dormir. Mas tenho uma coisa importante para fazer antes... Ah, se tenho. — Queria eu mesma fazer o bebê nascer.

— Sra. Grey, por favor. Cesárea.

— Por favor, Ana — implora Christian.

— Vou poder dormir?

— Vai, querida, vai. — É quase um soluço, e Christian beija minha testa.

— Eu quero ver o Pontinho.

— Você vai ver.

— Tudo bem — sussurro.

— Finalmente — murmura a Dra. Greene. — Enfermeira, avise o anestesista. Dr. Miller, prepare material para cesariana. Sra. Grey, vamos transferi-la para o centro cirúrgico.

— Transferir? — falamos Christian e eu, ao mesmo tempo.

— Sim. Agora.

E de repente estou em movimento — e rápido; as luzes do teto ficando borradas e se transformando numa longa listra brilhante à medida que vou sendo levada às pressas pelo corredor.

— Sr. Grey, o senhor vai ter que vestir uma roupa hospitalar.

— O quê?

— Agora, Sr. Grey.

Ele aperta a minha mão e logo me solta.

— Christian! — chamo, o pânico tomando conta de mim.

Passamos por outras portas e logo a enfermeira está ajeitando uma tela acima do meu peito. A porta se abre e se fecha, e a sala está lotada de gente. Tanto barulho... quero ir para casa.

— Christian? — Procuro por meu marido entre os rostos presentes.

— Ele já vem, Sra. Grey.

Um minuto depois, ele está ao meu lado, com traje azul de médico, e seguro sua mão.

— Estou com medo — murmuro.

— Não, baby, não. Eu estou aqui. Não fique com medo. Não a minha Ana, que é tão forte. — Ele beija minha testa, e percebo, por seu tom de voz, que alguma coisa está errada.

— O que houve?

— O quê?

— O que está acontecendo?

— Não aconteceu nada. Tudo está correndo bem. Você só está exausta, querida. — Seus olhos estão queimando de medo.

— Sra. Grey, o anestesista está aqui. Ele vai aplicar a peridural, e então podemos prosseguir.

— Ela está tendo mais uma contração.

Tudo se aperta como uma faixa de aço em volta da minha barriga. Merda! Comprimo a mão de Christian até a contração passar. É isso que é exaustivo — suportar a dor. Estou tão cansada... Sinto o líquido dormente se espalhar... para baixo. Eu me concentro no rosto de Christian. Nas rugas entre suas sobrancelhas. Ele está tenso. Está preocupado. Por que ele está preocupado?

— Está sentindo isso, Sra. Grey? — A voz etérea da Dra. Greene vem do outro lado da cortina.

— Isso o quê?

— Não está sentindo.

— Não.

— Ótimo. Dr. Miller, vamos começar.

— Você está indo bem, Ana.

Christian está pálido. Há suor na sua testa. Ele está assustado. Não fique assustado, Christian. Não fique assustado.

— Amo você — sussurro.

— Ah, Ana. — Ele soluça. — Também amo você. Muito.

Sinto um puxão esquisito dentro de mim. Uma sensação que nunca experimentei antes. Christian olha por cima da tela e fica branco, mas mantém os olhos fixos, fascinado.

— O que está acontecendo?

— Sucção! Excelente...

De repente ouço um agudo choro raivoso.

— A senhora ganhou um menino, Sra. Grey. Verifiquem sua escala de Apgar.

— Nove.

— Posso ver meu bebê? — pergunto, ofegante.

Christian desaparece do meu campo de visão por um segundo e logo em seguida reaparece carregando meu filho, enrolado numa manta azul. Seu rostinho é rosado e está coberto de sangue e de um viscoso líquido branco. Meu bebê. Meu Pontinho... Theodore Raymond Grey.

Quando olho novamente para Christian, seus olhos estão marejados.

— Este é o seu filho, Sra. Grey — murmura ele, a voz embargada e rouca.

— Nosso filho — sussurro. — Ele é lindo.

— É mesmo — diz Christian, e dá um beijo na testa do nosso lindo menino, abaixo de uma mecha de cabelo escuro.

Theodore Raymond Grey está indiferente ao que se passa ao redor. Olhos fechados, o choro do nascimento esquecido, ele dorme. É a coisa mais linda que eu já vi. Tão maravilhoso que começo a chorar.

— Obrigado, Ana — murmura Christian, também com os olhos cheios de lágrimas.

— O que houve? — Christian ergue meu queixo.

— Estava só me lembrando do nascimento do Ted.

Christian empalidece e pousa a mão na minha barriga.

— Não vou passar por aquilo de novo. Desta vez, vai ser uma cesariana planejada.

— Christian, eu...

— Não, Ana. Você quase morreu da outra vez, merda. Não.

— Quase morri, nada.

— Não. — Seu tom é enfático, sem deixar margens a discussões, mas, ao me fitar, seu olhar é terno. — Gosto de Phoebe — murmura ele, e esfrega o nariz no meu.

— Phoebe Grey? Phoebe... É. Também gosto. — Sorrio para ele.

— Que bom. Eu queria preparar o presente do Ted.

Ele pega minha mão, e descemos as escadas. Christian transborda entusiasmo; ele estava esperando por esse momento o dia inteiro.

* * *

— ACHA QUE ELE vai gostar? — Seu olhar apreensivo encontra o meu.

— Ele vai adorar. Por uns dois minutos. Christian, ele tem só dois anos.

Christian acabou de arrumar o conjunto de trenzinho de madeira que comprou para Teddy de aniversário. Ele pediu que Barney, que trabalha com ele, convertesse dois pequenos motores para energia solar, como o do helicóptero que dei a Christian alguns anos atrás. Christian parece ansioso para ver o sol nascer. Tenho minhas suspeitas de que é porque ele próprio quer brincar com o trenzinho. O esquema cobre a maior parte do chão de pedra da nossa sala ao ar livre.

Amanhã vamos dar uma festa para Ted. Ray e José virão, além de todos os Grey, inclusive a nova priminha de Ted, Ava, a filhinha de dois meses de Kate e Elliot. Estou ansiosa para conversar com Kate e ver como ela está se saindo com a maternidade.

Ergo o olhar para ver o sol sumir por trás da península Olympic. É tudo aquilo que Christian prometeu que seria, e ainda hoje me sinto tão emocionada com esta visão quanto na primeira vez. Simplesmente deslumbrante: o pôr do sol sobre o Canal. Christian me puxa para seus braços.

— É uma bela vista.

— Verdade — concorda Christian, e, quando me viro para olhá-lo, está me encarando. Ele me dá um beijo suave na boca. — É uma bela vista — murmura. — A minha predileta.

— Nosso lar.

Ele sorri e me beija novamente.

— Amo você, Sra. Grey.

— Também amo você, Christian. Para sempre.

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