CAPÍTULO VINTE E UM

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Fico pasma quando leio a mensagem, e olho para meu marido dormindo. Ele ficou fora até uma e meia da madrugada, bebendo — com ela! Christian ressona suavemente, dormindo o sono de um entorpecido e supostamente inofensivo bêbado. Parece tão sereno.

Ah, não, não, não. Sinto minhas pernas perderem a força e afundo lentamente na cadeira ao lado da cama, incrédula. Uma sensação de traição amarga, desleal e humilhante se abate sobre mim. Como ele pôde fazer isso? Como pôde procurar aquela mulher? Lágrimas de raiva descem queimando minhas faces. O medo e a cólera que ele sentiu, a necessidade de me agredir verbalmente — tudo isso eu posso entender e até perdoar. Mas isso… essa traição é demais para mim. Dobro os joelhos de encontro ao peito e abraço minhas pernas, protegendo a mim e ao meu Pontinho. Balanço o corpo para a frente e para trás, chorando silenciosamente.

O que eu esperava? Eu me casei depressa demais com este homem. Eu sabia… sabia que ia dar nisso. Por quê? Por quê? Por quê? Como ele pôde fazer isso comigo? Ele conhece meus sentimentos em relação a essa mulher. Como ele pôde correr logo para ela? Como? Sinto uma adaga se torcer lenta e dolorosamente dentro do meu coração, dilacerando-o. Será que vai ser sempre assim?

Através da cortina das minhas lágrimas, sua silhueta prostrada fica borrada e trêmula. Ah, Christian. Eu me casei com ele porque o amo, e lá no fundo sei que ele também me ama. Sei disso. O presente de aniversário que ele me deu, de uma ternura extrema, me vem à mente.

Por todas as nossas primeiras vezes, no seu primeiro aniversário como minha amada esposa. Bj, C.

Não, não, não… não posso acreditar que vai ser sempre assim, dois passos para a frente e três para trás. Mas é assim que tem sido com ele. Após cada obstáculo que nos faz recuar, caminhamos para a frente, centímetro por centímetro. Ele vai dar a volta por cima… sei que vai. Mas e eu? Será que vou me recuperar dessa… dessa traição? Penso em como ele se comportou nesse último fim de semana, que foi tão horrível quanto maravilhoso. A força silenciosa que ele me transmitiu enquanto meu padrasto jazia ferido e em coma na UTI… minha festa surpresa, a preocupação de trazer os amigos e parentes… a cena em frente ao hotel — me jogando para trás apoiada nos seus braços e me beijando na frente de todos. Ah, Christian, você leva minha confiança e minha fé ao limite… e eu amo você.

Agora, porém, não posso pensar só em mim mesma. Coloco a mão na barriga. Não, não vou deixar que ele faça isso comigo e com o nosso Pontinho. O Dr. Flynn disse que eu deveria lhe dar o benefício da dúvida… tudo bem, mas não dessa vez. Seco as lágrimas dos olhos e limpo o nariz com as costas da mão.

Christian se mexe e se vira, puxando as pernas que pendiam pela beirada da cama, e se aconchega debaixo do edredom. Estica uma das mãos, como se estivesse procurando alguma coisa, e depois balbucia algo ininteligível, franzindo as sobrancelhas, mas acaba por dormir novamente, o braço esticado.

Ah, meu Cinquenta Tons. O que é que eu vou fazer com você? E que diabo você estava fazendo com a Monstra Filha da Mãe? Preciso saber.

Olho mais uma vez para a ultrajante mensagem de texto e depressa traço um plano. Inspiro profundamente e encaminho a mensagem para o meu BlackBerry. Primeiro passo concluído. Em seguida, verifico as outras mensagens que ele recebeu recentemente, mas são todas minhas ou de Elliot, Andrea, Taylor e Ros. Nenhuma de Elena. Ótimo, eu acho. Saio da caixa de entrada, aliviada por ver que ele não tem se correspondido com ela, e neste momento meu coração quase sai pela boca. Meu Deus. O papel de parede do telefone dele é um conjunto de fotos minhas, um patchwork de pequenas Anastasias em várias poses: em nossa lua de mel, no fim de semana que passamos velejando e viajando, além de algumas tiradas por José. Quando foi que ele montou isso? Deve ter sido há pouquíssimo tempo.

Reparo no ícone do e-mail e sinto-me tentada por uma ideia que se insinua em minha mente… Eu podia ler os e-mails do Christian. Ver se ele tem se comunicado com ela. Será que devo? Vestida em seda verde-jade, a boca franzida e zangada, minha deusa interior concorda enfaticamente. Antes que eu possa pensar duas vezes, invado a privacidade dele.

Há centenas e centenas de e-mails. Parecem todos desinteressantes e normais… a maioria enviada por mim, por Ros e por Andrea, além de vários executivos da empresa. Nenhum da Monstra Filha da Mãe. Aproveitando, vejo que também não há nenhum de Leila — o que me deixa aliviada.

Um dos e-mails, porém, chama minha atenção. Foi enviado por Barney Sullivan, o sujeito responsável pela TI na empresa, e o assunto da mensagem é: Jack Hyde. Lanço um rápido olhar de culpa para Christian, mas ele continua ressonando suavemente. Eu nunca o tinha visto roncar. Abro o e-mail.


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De: Barney Sullivan

Assunto: Jack Hyde

Data: 13 de setembro de 2011 14:09

Para: Christian Grey


O rastreamento da caminhonete branca que conseguimos fazer pelas câmeras de segurança de Seattle só chegam até a Rua South Irving. Antes disso, não consigo encontrar nenhum rastro, então Hyde deve ter partido daquela área.

Como Welch já lhe disse, o carro do elemento foi alugado por uma mulher desconhecida com uma carteira falsa, mas nada liga o veículo à área da South Irving.

No arquivo anexado, seguem detalhes de funcionários conhecidos da GEH e da SIP que moram na área. Enviei o arquivo também para Welch.

No computador que Hyde usava na SIP não havia nada sobre suas ex-assistentes.

Só para lembrar, aqui vai uma lista do que foi obtido no computador de Hyde na SIP.


Endereços de residências dos Grey:

Cinco propriedades em Seattle

Duas propriedades em Detroit


Resumos detalhados das vidas de:

Carrick Grey

Elliot Grey

Christian Grey

Dra. Grace Trevelyan

Anastasia Steele

Mia Grey


Artigos de jornais impressos e digitais relacionados a:

Dra. Grace Trevelyan

Carrick Grey

Christian Grey

Elliot Grey


Fotografias:

Carrick Grey

Dra. Grace Trevelyan

Christian Grey

Elliot Grey

Mia Grey


Vou continuar investigando para ver se encontro mais alguma coisa.


B. Sullivan


Diretor de TI, Grey Enterprises Holdings Inc.

Esse e-mail estranho desvia minha atenção momentaneamente desta noite de infortúnio. Clico no anexo para verificar os nomes da lista, mas obviamente é imensa, extensa demais para ser aberta no BlackBerry.

O que eu estou fazendo? É tarde. Tive um dia desgastante. Não encontrei e-mails da Monstra Filha da Mãe ou de Leila Williams, o que já me deixa um pouco reconfortada. Olho para o relógio: já são pouco mais de duas da madrugada. Hoje foi um dia repleto de revelações. Vou ser mãe, e meu marido andou confraternizando com a inimiga. Bom, ele que arque com as consequências. Não vou ficar dormindo aqui com ele. Ele que acorde sozinho amanhã de manhã. Depois de deixar o BlackBerry dele na mesa de cabeceira, apanho minha bolsa, que está ao lado da cama, e, após um último olhar para o meu angelical Judas adormecido, saio do quarto.

A chave reserva do quarto de jogos está no local costumeiro, no armário da lavanderia. De posse da chave, corro lá para cima. Pego travesseiro, edredom e lençóis do armário de rouparia, depois destranco a porta do quarto de jogos e entro, ajustando a luz para uma iluminação suave. É esquisito eu achar o aroma e o ambiente desse cômodo reconfortantes, considerando que acabei usando a palavra de segurança na última vez que estive aqui. Tranco a porta após entrar, deixando a chave na fechadura. Sei que de manhã Christian vai ficar fora de si tentando me encontrar, e acho que ele não vai me procurar aqui se a porta estiver trancada. Bem-feito para ele.

Eu me aconchego no sofá Chesterfield, enrolo-me no edredom e tiro meu BlackBerry da bolsa. Encontro a mensagem de texto da diabólica Monstra Filha da Mãe que eu encaminhei do telefone de Christian para mim mesma. Aperto “encaminhar” e digito:

*VAI QUERER QUE A SRA. LINCOLN ESTEJA PRESENTE QUANDO DISCUTIRMOS ESTA MENSAGEM QUE ELA MANDOU PARA VOCÊ? ASSIM NÃO VAI PRECISAR CORRER ATÉ ELA DEPOIS. SUA ESPOSA*

Aperto “enviar” e coloco o celular no modo silencioso. Então me encolho embaixo do edredom. Apesar de minha suposta bravura, sinto-me esmagada pela enormidade da decepção que tive com Christian. Essa deveria ser uma ocasião feliz. Puxa, vamos ser pais. Por breves instantes revivo o momento em que contei a Christian que estou grávida e fantasio que ele cai de joelhos na minha frente de tanta alegria, abraçando-me e me dizendo o quanto ama a mim e ao nosso Pontinho.

No entanto, aqui estou eu, na fria solidão de um quarto de jogos repleto de fantasias BDSM. Subitamente me sinto velha, mais velha do que realmente sou. Lidar com Christian sempre foi um desafio, mas hoje ele se superou.

Onde estava com a cabeça? Bom, se o que ele quer é briga, é o que vou lhe dar. De jeito nenhum vou aceitar que ele se veja no direito de correr para aquela mulher monstruosa sempre que tivermos um problema. Ele vai ter que escolher — ou ela ou eu e nosso Pontinho. Fungo baixo, mas estou tão exausta que logo caio no sono.

* * *

ACORDO SOBRESSALTADA, momentaneamente desorientada… Ah, simestou no quarto de jogos. Como não há janelas, não faço ideia de que horas são. A maçaneta da porta chacoalha.

— Ana! — grita Christian lá de fora.

Congelo onde estou, mas ele não entra. Ouço vozes indistintas, mas depois se afastam. Solto o ar dos pulmões e vejo as horas no BlackBerry. São sete e meia, e há quatro chamadas perdidas e duas mensagens de voz. As chamadas são quase todas de Christian, mas tem também uma de Kate. Ah, não. Ele deve ter ligado para ela. Não tenho tempo para ouvir os recados. Não quero chegar atrasada no trabalho.

Eu me enrolo no edredom e pego minha bolsa antes de me dirigir à porta. Destranco-a devagar e espio do lado de fora. Ninguém à vista. Ah, merda… Talvez eu esteja sendo meio melodramática. Reviro os olhos para mim mesma, depois respiro fundo e desço as escadas.

Taylor, Sawyer, Ryan, a Sra. Jones e Christian estão todos parados à entrada da sala, Christian dando instruções a toque de caixa. Todos se viram ao mesmo tempo e me olham perplexos. Christian usa as mesmas roupas com que dormiu. Está desalinhado, pálido e lindo de morrer. Seus grandes olhos cinzentos estão arregalados, não sei se por medo ou raiva. É difícil dizer.

— Sawyer, vamos sair em uns vinte minutos — murmuro, enrolando-me mais ainda no edredom, como uma proteção.

Ele faz um gesto de aquiescência, e todos os olhares se viram para Christian, que ainda me fita intensamente.

— Gostaria de alguma coisa para o café, Sra. Grey? — pergunta a Sra. Jones.

Balanço a cabeça em negativa.

— Não estou com fome, obrigada.

Ela aperta os lábios, mas não diz mais nada.

— Onde você estava? — pergunta Christian, numa voz baixa e rouca.

De súbito, como se fossem ratos apavorados em um navio prestes a afundar, Sawyer, Taylor, Ryan e a Sra. Jones se dispersam, desaparecendo na direção do escritório de Taylor, do hall ou da cozinha.

Ignoro Christian e me encaminho para o quarto.

— Ana — ele me chama —, responda.

Ouço seus passos atrás de mim, seguindo-me até o quarto, mas me dirijo ao banheiro da suíte e rapidamente tranco a porta.

— Ana! — Christian começa a esmurrar a porta. Ligo o chuveiro. A porta sacode. — Ana, abra essa porra dessa porta.

— Vá embora!

— Não vou a lugar algum.

— Como quiser.

— Ana, por favor.

Entro no chuveiro, deixando-o lá fora. Ah, tão quentinho… A água revigorante cai sobre mim, lavando minha pele de toda a exaustão da noite passada. Nossa. Tão gostoso… Por um momento, por um breve momento, consigo fingir que está tudo bem. Lavo o cabelo e quando termino já me sinto melhor, mais forte, pronta para enfrentar o trator chamado Christian Grey. Enrolo o cabelo em uma toalha, enxugo-me rapidamente com outra e depois a enrolo no corpo.

Destranco a porta e, quando a abro, vejo Christian encostado na parede oposta, as mãos atrás do corpo. Ele tem uma expressão prudente, semelhante à de um predador sendo caçado. Passo rapidamente por ele e entro no closet.

— Você está me ignorando? — pergunta Christian, incrédulo, parado à porta do closet.

— Que perspicaz, você — murmuro distraidamente enquanto escolho o que vestir.

Ah, sim… meu vestido ameixa. Tiro-o do cabide, pego as botas pretas de cano longo e salto agulha e volto para o quarto. Paro por um momento, esperando que Christian saia do meu caminho, o que ele acaba fazendo — suas boas maneiras falam mais alto. Sinto seus olhos me atravessando enquanto cruzo o quarto até a cômoda e, pelo espelho, dou uma espiada nele, estático na porta, examinando-me. Em um ato digno de uma vencedora de Oscar, deixo a toalha cair no chão e finjo não me importar. Ouço seu suspiro contido e ignoro.

— Por que você está fazendo isso? — pergunta ele, em voz baixa.

— O que você acha? — Minha voz é suave como veludo. Enquanto isso vou pegando uma linda calcinha de renda preta da La Perla.

— Ana…

Ele para quando me vê vestir a calcinha.

— Vá perguntar à sua Mrs. Robinson. Tenho certeza de que ela vai lhe dar alguma explicação — sussurro, enquanto procuro o sutiã que forma o conjunto.

— Ana, eu já disse que ela não é minha…

— Não quero ouvir, Christian. — Faço um gesto de desdém com a mão. — A oportunidade de conversar foi ontem, mas, em vez disso, você preferiu se divertir e se embebedar com a mulher que abusou de você durante anos. Ligue para ela. Tenho certeza de que ela vai ter a maior boa vontade em escutar você.

Encontro o sutiã que procurava e o visto lentamente. Christian avança e coloca as mãos na cintura.

— Por que você estava me espionando? — pergunta ele.

Apesar da minha firmeza, fico vermelha.

— Essa não é a questão, Christian — retruco com rispidez. — O fato é que, quando as coisas complicam, você corre para ela.

Ele aperta a boca numa expressão severa.

— Não foi bem assim.

— Não estou interessada.

Pegando um par de meias sete oitavos pretas com barra rendada, vou até a cama. Então me sento, estico a ponta do pé e, delicadamente, cubro minha perna até a coxa com o leve tecido.

— Onde você estava? — pergunta ele, seus olhos seguindo minhas mãos ao longo das minhas pernas, mas continuo a ignorá-lo e passo para a outra meia.

Fico de pé e me curvo para secar meu cabelo com a toalha. Através das minhas coxas entreabertas, posso ver seus pés descalços e sentir seu olhar penetrante. Quando termino, volto a me levantar e vou até a cômoda para pegar o secador de cabelo.

— Responda. — Sua voz é baixa e ríspida.

Ligo o secador e não consigo mais ouvir sua voz. Pelo espelho, olho para ele de cabeça baixa enquanto seco o cabelo com os dedos. Ele me encara com olhos semicerrados e frios, gélidos até. Olho para o outro lado e foco na minha tarefa, tentando reprimir o calafrio que percorre meu corpo. Engulo em seco e me concentro em secar meu cabelo. Ele ainda está bravo. Ele sai com aquela filha da puta e está bravo comigo? Que ousadia! Quando meu cabelo parece rebelde e volumoso, paro. Sim… gostei. Desligo o secador.

— Onde você estava? — pergunta ele, seu tom de voz agora congelante.

— E você se importa?

— Ana, pare com isso. Agora.

Dou de ombros, e Christian atravessa o quarto rapidamente na minha direção. Dou um giro e um passo para trás quando ele tenta me alcançar.

— Não toque em mim — falo rispidamente, e ele congela no meio do movimento.

— Onde você estava? — pergunta, o punho cerrado pendendo ao longo do corpo.

— Eu não estava enchendo a cara com o meu ex — respondo, ardendo de raiva. — Você dormiu com ela?

Ele leva um susto.

O quê? Não!

Olhando para mim perplexo, ele tem o desplante de parecer ao mesmo tempo magoado e zangado. Meu inconsciente solta um breve e bem-vindo suspiro de alívio.

— Você acha que eu trairia você? — Seu tom de voz sugere um ultraje moral.

— Você traiu — falo com hostilidade. — Abrindo nossa vida particular para aquela mulher e mostrando fraqueza ao contar tudo para ela.

Christian fica boquiaberto.

— Fraqueza. É isso que você pensa? — Seus olhos estão em brasa.

— Christian, eu li a mensagem. Disso eu sei.

— A mensagem não era endereçada a você — rebate ele.

— Bom, o fato é que eu vi a mensagem quando o BlackBerry caiu do seu casaco enquanto eu tentava tirar a sua roupa porque você estava tão bêbado que não conseguia nem se trocar sozinho. Você tem ideia de como me magoou indo ver aquela mulher?

Ele empalidece por um instante, mas eu engatei a primeira e continuo, soltando minha fera interior:

— Você se lembra da noite passada, quando chegou em casa? Lembra-se do que disse?

Ele me encara sem reação, o rosto estático.

— Pois bem: você tinha razão. Tendo que escolher, eu escolho este bebê indefeso em vez de você. É o que faria qualquer mãe ou pai decente. É o que a sua mãe deveria ter feito com você. E eu lamento muito que ela não tenha feito isso, porque não estaríamos nesta discussão agora se ela tivesse agido de outra maneira. Só que você já é um adulto; então cresça, porra, olhe à sua volta e pare de agir como um adolescente petulante.

“Você pode não estar feliz com este filho. Também não estou dando pulos de alegria, por não ser a hora e por causa da sua reação mais que indiferente a este novo ser, sangue do seu sangue, carne da sua carne. Mas você pode encarar essa situação junto comigo, ou eu vou encarar sozinha. A decisão é sua.

“Enquanto você se afunda no seu poço de autopiedade e auto-ódio, eu vou trabalhar. E quando voltar, vou levar minhas coisas para o quarto de cima.”

Ele me olha em choque.

— Agora, se me der licença, eu queria terminar de me vestir. — Minha respiração é ofegante.

Muito lentamente, Christian dá um passo para trás, adotando uma atitude mais dura.

— É isso que você quer? — sussurra ele.

— Não sei mais o que eu quero.

Meu tom de voz reflete o dele, e faço um esforço monumental para fingir desinteresse ao molhar as pontas dos dedos com o hidratante e passar suavemente no rosto. Eu me olho no espelho. Enormes olhos azuis, rosto pálido, mas faces rosadas. Você está se saindo muito bem. Não ceda agora. Não ceda agora.

— Você não me quer? — murmura ele.

Ah, não… ah, não, nem comece com isso, Grey.

— Ainda estou aqui, não é? — retruco.

Pego o rímel e começo a passar no olho direito.

— Você pensou em me deixar? — Mal ouço suas palavras.

— Quando o seu marido prefere a companhia da ex-amante, não costuma ser um bom sinal.

Lanço o desdém apenas no nível necessário, fugindo da pergunta dele. Agora brilho labial. Com a boca brilhante, faço um biquinho para minha imagem no espelho. Fique forte, Steele… quer dizer, Grey. Puta merda, nem consigo me lembrar do meu sobrenome. Apanho as botas, vou até a cama novamente e as calço, puxando-as até a altura dos joelhos. Isso aí. Estou só de calcinha, sutiã e botas, bem sexy. Sei disso. Eu me levanto e olho para ele sem paixão. Ele pisca várias vezes, e seus olhos percorrem meu corpo rápida e avidamente.

— Eu sei o que você está fazendo — murmura ele, e sua voz adota um viés quente e sedutor.

— Sabe, é?

Minha voz falha. Não, Ana… aguente firme.

Ele engole em seco e avança. Dou um passo para trás e levanto as mãos.

— Nem pense nisso, Grey — sussurro ameaçadoramente.

— Você é minha esposa — diz ele, suave e ameaçador.

— Sou a mulher grávida que você abandonou ontem, e, se você tocar em mim, vou gritar até arrebentar os vidros.

Ele levanta as sobrancelhas, sem acreditar.

— Vai gritar, é?

— Até morrer. — Estreito os olhos.

— Ninguém iria ouvir você — murmura ele, encarando-me intensamente, e por um breve momento me lembro da nossa manhã em Aspen. Não. Não. Não.

— Está tentando me assustar? — balbucio, quase sem fôlego, deliberadamente tentando detê-lo.

Funciona. Ele para e engole em seco.

— Não era minha intenção. — Ele franze a testa.

Mal consigo respirar. Se ele me tocar, não vou resistir. Conheço o poder que ele exerce sobre mim e sobre meu corpo traiçoeiro. Conheço bem. Então me agarro à minha raiva.

— Eu tomei um drinque com uma pessoa que costumava ser próxima de mim. Só para espairecer. Não vou vê-la de novo.

— Você a procurou?

— Não de primeira. Tentei entrar em contato com o Flynn. Mas acabei indo para o salão de beleza.

— E você espera que eu acredite que não vai mais ver aquela mulher? — Não consigo conter minha fúria ao cuspir as palavras. — E da próxima vez que eu cruzar uma linha imaginária? É sempre a mesma briga, toda vez a mesma coisa. Parece até que estamos presos à roda de Íxion. Se eu fizer mais alguma merda, você vai correr para ela outra vez?

— Não vou vê-la de novo — diz ele, com uma determinação desconcertante. — Ela finalmente entendeu como eu me sinto.

Levo um tempo para absorver suas palavras.

— O que isso quer dizer?

Ele se enrijece e passa a mão no cabelo, irritado, bravo e mudo. Tento uma tática diferente:

— Por que você pode falar com ela e não comigo?

— Eu estava zangado com você. Como estou agora.

— Não me diga! — disparo. — Pois bem: eu estou zangada com você agora. Por você ter sido tão frio e insensível ontem, quando eu precisava de você. Por me acusar de engravidar deliberadamente, o que não foi o caso. Por me trair.

Consigo engolir um soluço. Ele abre a boca, chocado, e fecha os olhos por um instante, como se eu tivesse lhe dado uma bofetada. Engulo em seco. Acalme-se, Anastasia.

— Eu deveria ter sido mais cuidadosa com as aplicações do anticoncepcional. Mas não foi de propósito. Esta gravidez também é um choque para mim — balbucio, tentando um mínimo de civilidade. — Além do mais, o método pode ter falhado.

Ele me encara com ar de reprovação, em silêncio.

— Você fez muita merda ontem — sussurro, a raiva fervendo dentro de mim. — Passei por poucas e boas nas últimas semanas.

— E você fez uma merda das grandes três ou quatro semanas atrás. Ou sei lá quando você esqueceu de tomar a injeção.

— Bom, Deus me ajude a não ser perfeita como você!

Ah, pare, pare, pare. Ficamos ali imóveis, fulminando um ao outro com o olhar.

— Bela performance, Sra. Grey — sussurra ele.

— Fico feliz de saber que mesmo grávida sou uma boa diversão.

Ele me olha sem expressão e murmura:

— Preciso tomar um banho.

— E já chega do meu espetáculo de cabaré.

— É um ótimo espetáculo, aliás — sussurra ele, e dá um passo à frente. Novamente eu dou um passo para trás.

— Não ouse.

— Odeio quando não me deixa tocar em você.

— Que ironia, não?

Seus olhos se estreitam ainda mais.

— Não decidimos muita coisa, não é?

— Eu diria que não. Só decidi me mudar para o outro quarto.

Os olhos dele se arregalam e brilham por um breve instante.

— Ela não significa nada para mim.

— A não ser quando você precisa dela.

— Eu não preciso dela. Preciso de você.

— Você não precisou de mim ontem. Aquela mulher é um limite rígido para mim, Christian.

— Ela não faz mais parte da minha vida.

— Como eu queria acreditar em você.

— Puta que pariu, Ana.

— Por favor, preciso terminar de me vestir.

Ele suspira e passa a mão no cabelo novamente.

— Vejo você à noite — diz, a voz fria e destituída de qualquer emoção.

E por um breve momento tenho vontade de envolvê-lo em meus braços e tranquilizá-lo… mas resisto, porque estou irada demais. Ele se vira e se dirige ao banheiro. Permaneço estática até ouvir a porta se fechar.

Vou cambaleante até a cama e me jogo. Não recorri a lágrimas ou gritos ou homicídio, nem sucumbi a seus encantos de especialista em sexo. Mereço uma medalha de honra; no entanto, me sinto lá no chão. Merda. Não resolvemos nada. Estamos à beira de um precipício. Será que nosso casamento está correndo perigo? Como é que ele não consegue perceber que agiu como um completo babaca quando foi se encontrar com aquela mulher? E o que ele quer dizer ao afirmar que nunca mais vai vê-la de novo? Afinal, como é que eu vou conseguir acreditar nisso? Olho para o relógio: oito e meia. Droga! Não quero me atrasar. Inspiro profundamente.

— O segundo assalto terminou em empate técnico, Pontinho — sussurro, afagando a barriga. — O papai talvez seja uma causa perdida, mas espero que não. Por que, Pontinho, por que você veio tão cedo? Agora é que as coisas estavam ficando boas. — Meus lábios tremem, mas respiro fundo para me recuperar e controlar minhas emoções. — Vamos, Pontinho. Vamos lá arrasar no trabalho.

* * *

NÃO ME DESPEÇO de Christian. Ele ainda está no chuveiro quando Sawyer e eu saímos. Fico olhando para fora pelos vidros escuros do SUV, e nesse momento minha postura desaba e meus olhos se enchem de lágrimas. Meu estado de espírito se reflete no céu cinzento e lúgubre, e tenho um mau pressentimento. Não chegamos a conversar sobre o bebê. Tive menos de vinte e quatro horas para assimilar a novidade do meu Pontinho. Christian teve ainda menos tempo.

— Ele nem sabe o seu nome.

Acaricio a barriga e limpo as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

— Sra. Grey. — É Sawyer, interrompendo meus devaneios. — Chegamos.

— Ah. Obrigada, Sawyer.

— Vou dar um pulo na confeitaria, madame. A senhora quer alguma coisa?

— Não, obrigada. Não estou com fome.

* * *

HANNAH ME RECEBE com meu café com leite já pronto. Tomo um golinho e meu estômago fica embrulhado.

— Hmm… pode me trazer um chá, por favor? — murmuro, constrangida.

Eu sabia que havia uma razão para eu nunca ter gostado muito de café. Nossa, que cheiro ruim.

— Você está bem, Ana?

Faço que sim e corro para a segurança do meu escritório. O BlackBerry toca. É Kate.

— Por que Christian estava procurando você? — pergunta ela, sem preâmbulos.

— Bom dia, Kate. Tudo bem?

— Poupe-me do papo furado, Steele. O que aconteceu? — E assim começa o Interrogatório de Katherine Kavanagh.

— Christian e eu brigamos, só isso.

— Ele machucou você?

Reviro os olhos.

— Sim, mas não do jeito que você está pensando. — Não quero me abrir com Kate agora. Sei que vou chorar, e no momento estou orgulhosa de mim mesma por não ter desabado esta manhã. — Kate, eu tenho uma reunião. Depois eu ligo.

— Ok. Você está bem?

— Sim. — Não. — Eu ligo mais tarde.

— Tudo bem, Ana, como quiser. Se precisar, estou aqui.

— Sei disso — sussurro, lutando contra a torrente de emoções que me vêm por causa das palavras amigas de Kate. Não vou chorar. Não vou chorar.

— O Ray está bem?

— Está — murmuro.

— Ai, Ana — sussurra ela.

— Não diga nada.

— Tudo bem. A gente se fala mais tarde.

— Certo.

* * *

NO DECORRER DA MANHÃ, de vez em quando verifico meu e-mail, na esperança de encontrar alguma palavra de Christian. Mas não há nada. À medida que o dia transcorre, percebo que ele simplesmente não vai entrar em contato comigo e que ainda está zangado. Ora, eu também estou zangada. Entrego-me ao trabalho, fazendo uma pausa apenas para comer um sanduíche de salmão e cream cheese na hora do almoço. É impressionante como me sinto melhor depois de conseguir comer alguma coisa.

Às cinco, Sawyer e eu vamos ao hospital fazer uma visita a Ray. Sawyer está mais vigilante do que o normal, chega a ser exageradamente solícito. É irritante. Quando nos aproximamos do quarto de Ray, ele me interpela:

— A senhora quer um chá enquanto visita seu pai?

— Não, obrigada, Sawyer. Estou bem.

— Vou esperar lá fora.

Ele abre a porta para mim, e fico aliviada ao me ver livre dele por alguns instantes. Ray está sentado na cama, lendo uma revista. Está barbeado e usa uma camisa de pijama — parece novamente o Ray que eu conheço.

— Oi, Annie. — Ele sorri. E seu rosto murcha.

— Ah, papai…

Corro para ele e, em um gesto pouco usual de sua parte, ele abre os braços e me acolhe.

— Annie? — sussurra. — O que aconteceu?

Ele me abraça apertado e beija meu cabelo. Enquanto estou assim aninhada em seus braços, percebo como são raros esses momentos entre nós dois. Por que será? E será que é por isso que gosto de ficar no colo de Christian? Depois de um minuto, solto-o e me sento na cadeira ao lado da cama. Ele tem o cenho franzido em uma expressão de preocupação.

— Conte ao seu velho.

Balanço a cabeça. Ele não precisa dos meus problemas nesse momento.

— Não é nada, pai. Você está com uma aparência boa. — Aperto sua mão.

— Já estou me sentindo recuperado, apesar dessa perna engessada me acossando.

— Acossando? — A palavra me faz sorrir.

Ele retribui o sorriso.

— “Acossar” soa melhor que “coçar”.

— Ah, pai, fico tão feliz de ver você bem.

— Eu também, Annie. Ainda vou querer colocar meus netinhos sentados nesse joelho acossado um dia. Não ia perder isso por nada no mundo.

Olho para ele receosa. Merda. Será que ele sabe? E luto contra as lágrimas que teimam em surgir nos cantos dos meus olhos.

— Você e o Christian estão bem?

— Tivemos uma briga — murmuro, tentando falar mesmo com o nó que aperta minha garganta. — Mas a gente supera.

Ray aquiesce.

— Ele é um homem bom, o seu marido — diz ele, para me reconfortar.

— Ele tem seus momentos. O que os médicos disseram?

Não quero continuar a falar sobre o meu marido agora; é um assunto doloroso.

* * *

QUANDO CHEGO EM casa, Christian ainda não voltou.

— Christian ligou e disse que ficaria trabalhando até tarde — informa-me Sra. Jones, em tom de quem pede desculpas.

— Ah. Obrigada por me avisar.

Por que ele próprio não me avisou? Puxa, ele realmente está levando sua pirraça para um patamar acima. Por breves instantes me recordo da briga que tivemos sobre nossos votos de casamento e sobre a fúria que se apoderou dele na ocasião. Mas dessa vez eu é que fui magoada.

— O que gostaria de comer? — A Sra. Jones tem um brilho forte e determinado no olhar.

— Massa.

— Espaguete, penne, fusilli? — Ela sorri.

— Espaguete, com o seu molho à bolonhesa.

— É pra já. E, Ana… você deveria ter visto como o Sr. Grey ficou transtornado hoje de manhã, quando ele achou que você tinha ido embora. Ficou fora de si. — Ela sorri amigavelmente.

Ah

* * *

ÀS NOVE HORAS, ainda nada de Christian. Sentada à minha mesa na biblioteca, fico matutando onde ele pode estar. Telefono para ele.

— Ana — atende ele, a voz fria.

— Oi.

Ele inspira suavemente.

— Oi — diz ele, mais baixo.

— Você vem para casa?

— Mais tarde.

— Está no escritório?

— Claro. Onde mais eu estaria?

Com ela.

— Vou deixar você trabalhar, então.

Ambos continuamos na linha, o silêncio entre nós se alongando e se avolumando.

— Boa noite, Ana — diz ele, afinal.

— Boa noite, Christian.

Ele desliga.

Ah, merda. Fico olhando para o BlackBerry. Não sei o que ele espera que eu faça. Não vou deixar que passe por cima dos meus sentimentos. Sim, ele está zangado, ok. Eu também estou. Mas estamos neste barco juntos. Não fui eu que saí correndo com a língua solta atrás da minha ex-amante pedófila. Quero que ele reconheça que essa atitude não é aceitável.

Eu me recosto na cadeira, olhando para a mesa de sinuca da biblioteca, e me lembro de tempos divertidos jogando isso. Ponho a mão na barriga. Talvez ainda seja muito cedo. Talvez isso não deva acontecer… E, logo que penso nisso, meu inconsciente grita Não! Se eu interromper esta gravidez, nunca vou me perdoar — ou a Christian.

— Ah, Pontinho, o que você fez com a gente?

Não tenho ânimo para ligar para Kate. Não tenho ânimo para ligar para ninguém. Mando uma mensagem para ela, prometendo telefonar em breve.

Lá pelas onze horas, não consigo mais manter as pálpebras abertas. Resignada, vou para o meu antigo quarto. Encolho-me embaixo do edredom e não me contenho mais: soluço com a cabeça enfiada no travesseiro, grandes soluços de tristeza, sacudindo-me toda sem a menor classe feminina…

* * *

QUANDO ACORDO, sinto a cabeça pesada. Pelas grandes vidraças do quarto brilha a luz clara do outono. Olho para o radiorrelógio e descubro que já são sete e meia. Meu pensamento imediato é: Onde está Christian? Sento-me e jogo as pernas para fora da cama. Vejo jogada no chão a gravata prateada de Christian, a minha preferida. Isso não estava aqui quando fui dormir. Apanho-a e fico olhando para a gravata, acariciando o tecido sedoso entre o polegar e o indicador; depois a aperto contra o meu rosto. Ele esteve aqui, observando-me enquanto eu dormia. E um lampejo de esperança se acende dentro de mim.

* * *

QUANDO DESÇO, a Sra. Jones está ocupada em seus afazeres na cozinha.

— Bom dia — diz ela, radiante.

— Bom dia. E o Christian? — pergunto.

O rosto dela perde a vivacidade.

— Já saiu.

— Então ele veio para casa?

Preciso ter certeza, apesar da evidência da gravata.

— Veio, sim. — Ela faz uma pausa. — Ana, por favor, me perdoe por me intrometer, mas não desista dele. Ele é muito teimoso.

Faço um gesto de concordância e ela não insiste. Tenho certeza de que minha expressão deixa claro que não quero conversar sobre o meu malcomportado marido neste momento.

* * *

LOGO QUE CHEGO ao trabalho, verifico os e-mails. Meu coração quase salta do peito quando vejo uma mensagem de Christian.


_________________________________________

De: Christian Grey

Assunto: Portland

Data: 15 de setembro de 2011 06:45

Para: Anastasia Grey


Ana,

Vou a Portland hoje.

Tenho alguns negócios a fechar com a WSU.

Achei que você fosse querer saber.

Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Ah. As lágrimas brotam nos meus olhos. Só isso? Sinto um nó no estômago. Merda! Vou vomitar. Corro para o banheiro e chego justo a tempo de pôr todo o meu café da manhã para fora. Deixo-me cair no chão do cubículo e coloco as mãos na cabeça. Será que esse é o fundo do poço? Depois de um tempo, alguém bate delicadamente à porta.

— Ana? — É Hannah.

Merda.

— Sim?

— Você está bem?

— Já vou sair.

— Boyce Fox está aqui para falar com você.

Merda.

— Leve-o para a sala de reuniões. Chego lá em um minuto.

— Você quer chá?

— Sim, por favor.

* * *

DEPOIS DO ALMOÇO — mais um sanduíche de salmão com cream cheese, só que dessa vez consigo manter a comida no estômago —, fico sentada olhando distraída para o computador, procurando inspiração e matutando sobre como Christian e eu vamos resolver nosso imenso problema.

Dou um pulo de susto quando meu BlackBerry toca. Olho para a tela: é Mia. Minha nossa, é tudo o que eu queria agora: o entusiasmo desmedido de Mia. Hesito, considerando simplesmente ignorar, mas a boa educação prevalece.

— Mia — atendo com animação.

— Ora, ora, olá, Ana… há quanto tempo não nos falamos.

É uma voz masculina que me soa familiar. Puta que pariu!

Meu couro cabeludo começa a pinicar, e todos os pelos do meu corpo se eriçam — a adrenalina flui nas minhas veias e o mundo para de girar.

É Jack Hyde.

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