JON

A Rainha Selyse caiu sobre Castelo Negro com a filha e o bobo da filha, as criadas e damas de companhia, e uma comitiva de cinquenta cavaleiros, espadas ajuramentadas e homens-de-armas. Todos homens da rainha, sabia Jon Snow. Podem estar ao serviço de Selyse, mas quem servem é Melisandre.

A sacerdotisa vermelha avisara-o da sua vinda, quase um dia antes da chegada do corvo de Atalaialeste com a mesma mensagem.

Encontrou-se com o grupo da rainha junto dos estábulos, acompanhado pelo Cetim, por Bowen Marsh e por meia dúzia de guardas vestidos com longos mantos negros. Nunca poderia apresentar-se àquela rainha sem uma comitiva sua, se metade do que se dizia dela era verdade. Podia confundi-lo com um moço de estrebaria e entregar-lhe as rédeas do cavalo.

As neves tinham finalmente partido para sul, dando-lhes uma folga.

Havia até um vestígio de calor no ar quando Jon Snow caiu sobre um joelho perante a rainha sulista.

— Vossa Graça. Castelo Negro dá as boas-vindas a vós e aos vossos.

A Rainha Selyse olhou-o do alto.

— Agradeço. Acompanhai-me, por favor, ao vosso senhor comandante.

— Os meus irmãos escolheram-me para essa honra. Sou Jon Snow.

— Vós? Disseram que éreis jovem, mas… — A cara da Rainha Selyse era pálida e macilenta. Usava uma coroa de ouro vermelho com pontas em forma de chamas, uma gémea da usada por Stannis. — … podeis erguer-vos, Lorde Snow. Esta é a minha filha, Shireen.

— Princesa. — Jon inclinou a cabeça. Shireen era uma rapariga desa-jeitada, tornada ainda mais feia pela escamagris que lhe deixara o pescoço e parte da cara rígida, cinzenta e estalada.

— Eu e os meus irmãos estamos ao vosso serviço — disse à rapariga.

Shireen enrubesceu.

— Obrigada, senhor.

— Creio que conheceis o meu parente, Sor Axell Florent — prosseguiu a rainha.

— Só por corvo. — E por relatórios. As cartas que recebia de Atalaialeste-do-Mar tinham bastante a dizer sobre Axell Florent, e muito pouco era bom. — Sor Axell.

— Lorde Snow. — Homem robusto, Florent tinha pernas curtas e um peito largo. Pelos ásperos cobriam-lhe as bochechas e o maxilar e projeta-vam-se-lhe das orelhas e narinas.

— Os meus leais cavaleiros — prosseguiu a Rainha Selyse. — Sor Narbert, Sor Benethon, Sor Brus, Sor Patrek, Sor Dorden, Sor Malegorn, Sor Lambert, Sor Perkin. — Os notáveis fizeram vénias, cada um de sua vez. A rainha não perdeu tempo a nomear o bobo, mas os badalos no seu chapéu provido de hastes e os retalhos tatuados nas entufadas bochechas tornavam-no difícil de ignorar. Cara-Malhada. As cartas de Cotter Pyke também o mencionavam. Pyke afi rmava que era um simplório.

Então, a rainha chamou com um gesto outro curioso membro da sua comitiva: um alto e esguio varapau, cuja altura era acentuada por um extravagante chapéu de três plataformas de feltro purpúreo.

— E aqui temos o honrado Tycho Nestoris, um emissário do Banco de Ferro de Bravos, que veio negociar com Sua Graça, o Rei Stannis.

O banqueiro tirou o chapéu e fez uma profunda vénia.

— Senhor comandante. Agradeço-vos, e aos vossos irmãos, pela vossa hospitalidade. — Falava o idioma comum sem falhas, com não mais que um ligeiríssimo vestígio de sotaque. Quinze centímetros mais alto do que Jon, o bravosiano ostentava uma barba fi na como uma corda que lhe brotava do queixo e quase chegava à cintura. O trajo era de um púrpura escuro, guarnecido de arminho. Um colarinho alto e rígido enquadrava-lhe a cara estreita. — Espero que não sejamos para vós demasiado inconvenientes.

— De modo algum, senhor. Sois muito bem-vindo. — Mais bem-vindo do que esta rainha, em boa verdade. Cotter Pyke enviara um corvo a avisar sobre a vinda do banqueiro. Jon Snow em pouco mais pensara desde então.

Jon voltou a virar-se para a rainha.

— Os aposentos reais na Torre do Rei foram preparados para Vossa Graça, durante todo o tempo que desejardes passar connosco. Este é o nosso Senhor Intendente, Bowen Marsh. Arranjará alojamento para os vossos homens.

— Que bondade a vossa terdes arranjado espaço para nós. — As palavras da rainha eram bastante corteses, embora o seu tom de voz dissesse: Não é mais do que o teu dever, e é melhor que esses aposentos me agradem. —

Não passaremos muito tempo convosco. Alguns dias, no máximo. É nossa intenção avançar para os nossos novos domínios em Fortenoite assim que estivermos repousados. A viagem desde Atalaialeste foi fatigante.

— Como quiserdes, Vossa Graça — disse Jon. — Tenho a certeza de que deveis ter frio e fome. Uma refeição quente aguarda-vos na nossa sala comum.

— Muito bem. — A rainha olhou o pátio em volta. — Mas primeiro desejamos trocar impressões com a Senhora Melisandre.

— Claro, Vossa Graça. Os seus aposentos também ficam na Torre do Rei. Por aqui, por favor. — A Rainha Selyse anuiu com a cabeça, pegou na mão da filha e autorizou-o a indicar-lhes o caminho para fora dos estábulos.

Sor Axell, o banqueiro bravosiano e o resto do grupo dela seguiram-nos, como outros tantos patinhos vestidos de lã e peles.

— Vossa Graça — disse Jon Snow — os meus construtores fi zeram tudo o que puderam para deixar Fortenoite pronto para vos receber… mas muito do castelo permanece em ruínas. É um castelo grande, o maior da Muralha, e só conseguimos restaurá-lo em parte. Talvez estivésseis mais confortável em Atalaialeste-do-Mar.

A Rainha Selyse soltou uma fungadela.

— Estamos fartos de Atalaialeste. Não gostámos daquilo por lá. Uma rainha deve ser soberana sob o seu telhado. Achámos o vosso Cotter Pyke um homem canhestro e desagradável, quezilento e avaro.

Devias ouvir o que Cotter diz de ti.

— Lamento sabê-lo, mas temo que Vossa Graça vá achar as condições em Fortenoite ainda menos do vosso agrado. Estamos a falar de uma fortaleza, não de um palácio. É um lugar sombrio e frio. Ao passo que Atalaialeste…

— Atalaialeste não é seguro. — A rainha pôs uma mão no ombro da filha. — Esta é a verdadeira herdeira do rei. Shireen sentar-se-á um dia no Trono de Ferro e governará os Sete Reinos. Tem de ser protegida do mal, e será em Atalaialeste que se dará o ataque. Esse Fortenoite é o lugar que o meu marido escolheu para os nossos domínios e será aí que habitaremos.

Nós… oh!

Uma enorme sombra saiu de trás da casca da Torre do Senhor Comandante. A Princesa Shireen soltou um guincho, e três dos cavaleiros da rainha arquejaram em uníssono. Outro praguejou.

— Que os Sete nos salvem — disse, esquecendo-se por completo do seu novo deus vermelho com o choque.

— Não tenhais medo — disse-lhes Jon. — Não há nele qualquer maldade, Vossa Graça. Este é o Wun Wun.

— Wun Weg Wun Dar Wun. — A voz do gigante estrondeava como um pedregulho a cair pela vertente de uma montanha. Caiu de joelhos à frente deles. Mesmo ajoelhado erguia-se acima dos outros. — Ajoelhar rainha. Pequena rainha. — Palavras que Couros lhe ensinara, sem dúvida.

Os olhos da Princesa Shireen ficaram tão grandes como pratos de jantar.

— É um gigante! Um gigante real e verdadeiro, como os das histórias.

Mas porque é que fala desta maneira esquisita?

— Ele só conhece algumas palavras do idioma comum, por enquanto

— disse Jon. — Na terra deles, os gigantes falam o idioma antigo.

— Posso tocar-lhe?

— É melhor não — avisou a mãe. — Olha para ele. Uma criatura nojenta. — A rainha virou a carranca para Jon. — Lorde Snow, que está esta criatura bestial a fazer do nosso lado da Muralha?

— Wun Wun é um hóspede da Patrulha da Noite, tal como vós.

A rainha não gostou da resposta. Os seus cavaleiros também não. Sor Axell fez uma careta de repugnância, Sor Brus soltou um risinho nervoso, Sor Narbert disse:

— Foi-me dito que todos os gigantes estavam mortos.

— Quase todos. — Ygritte chorou por eles.

— Na escuridão, os mortos estão a dançar. — O Cara-Malhada mexeu os pés num grotesco passo de dança. — Eu sei, eu sei, hei hei hei. — Em Atalaialeste alguém lhe fizera um manto de retalhos de peles de castor, de ovelha e de coelho. O chapéu exibia hastes, penduradas das quais havia campainhas, e longas abas de pele de esquilo que pendiam sobre as orelhas.

Todos os passos que dava punham-nas a retinir.

Wun Wun olhou-o de boca aberta, fascinado, mas quando o gigante estendeu a mão para ele, o bobo afastou-se aos saltos, a cantarolar.

— Oh não, oh não, oh não. — Isso fez Wun Wun pôr-se em pé. A rainha agarrou na Princesa Shireen e puxou-a para trás, os cavaleiros levaram as mãos às espadas, e o Cara-Malhada recuou alarmado, perdeu o equilíbrio e esparramou-se de traseiro num monte de neve.

Wun Wun desatou a rir. O riso de um gigante era capaz de envergonhar o rugido de um dragão. O Cara-Malhada tapou as orelhas, a Princesa Shireen encostou a cara às peles da mãe, e o mais ousado dos cavaleiros da rainha avançou, de aço na mão. Jon ergueu um braço para lhe bloquear o caminho.

— Vós não quereis enfurecê-lo. Embainhai o aço, sor. Couros, leva o Wun Wun de volta para a Torre de Hardin.

— Comer agora, Wun Wun? — perguntou o gigante.

— Comer agora — concordou Jon. Ao Couros disse: — Eu mando um barril de legumes para ele e carne para ti. Acende uma fogueira.

Couros fez um sorriso.

— Acenderei, senhor, mas a Torre de Hardin está um gelo. O senhor pode mandar também um pouco de vinho para nos aquecer?

— Para ti. Para ele não. — Wun Wun nunca provara vinho até chegar a Castelo Negro, mas depois de provar ganhara um gigantesco gosto pela bebida. Gosto demasiado. Jon tinha o sufi ciente com que lutar naquele momento sem acrescentar um gigante bêbado à confusão. Voltou a virar-se para os cavaleiros da rainha. — O senhor meu pai costumava dizer que um homem não deve nunca puxar pela espada, a menos que pretenda usá-la.

— Usá-la era a minha intenção. — O cavaleiro estava escanhoado e queimado pelo vento; sob um manto de peles brancas usava um sobretudo de pano de prata decorado com uma estrela azul de cinco pontas. — Fui levado a crer que a Patrulha da Noite defendia o reino contra tais monstros.

Ninguém falou em tê-los como animais de estimação.

Outro maldito idiota do sul.

— E vós sois…?

— Sor Patrek da Montanha Real, se aprouver ao senhor.

— Não sei como cumpris os direitos de hóspede na vossa montanha, sor. No Norte consideramo-los sagrados. Wun Wun é aqui um hóspede.

Sor Patrek sorriu.

— Dizei-me, Senhor Comandante, se os Outros aparecerem planeais oferecer-lhes hospitalidade também a eles? — O cavaleiro virou-se para a sua rainha. — Vossa Graça, aquilo ali é a Torre do Rei, se não me engano.

Posso ter a honra?

— Como quiserdes. — A rainha deu-lhe o braço e passou pelos homens da Patrulha da Noite sem lhes dirigir um segundo olhar.

Aquelas chamas na coroa são a coisa mais quente que tem.

— Lorde Tycho — chamou Jon. — Um momento, por favor.

O bravosiano parou.

— Eu não sou nenhum lorde. Só um simples criado do Banco de Ferro de Bravos.

— Cotter Pyke informou-me de que chegastes a Atalaialeste com três navios. Um galeão, uma galé e uma coca.

— É verdade, senhor. A travessia pode ser perigosa nesta estação. Um navio sozinho pode ir a pique, enquanto três juntos podem auxiliar-se uns aos outros. O Banco de Ferro é sempre prudente em tais assuntos.

— Antes de partirdes talvez possamos ter uma conversa sossegada?

— Estou ao vosso serviço, senhor comandante. E em Bravos dizemos que não há melhor altura do que o presente. Convirá?

— É tão boa altura como qualquer outra. Retemperamo-nos no meu aposento privado, ou gostaríeis de ver o topo da Muralha?

O banqueiro olhou para cima, para onde o gelo se erguia vasto e claro contra o céu.

— Temo que faça um frio de rachar lá em cima.

— Faz frio, e também vento. Aprende-se a caminhar bem longe da borda. Já houve homens que foram soprados da Muralha abaixo. Ainda assim, a Muralha é diferente de tudo o resto na terra. Podeis não voltar a ter oportunidade de a ver.

— Sem dúvida irei arrepender-me da minha cautela no meu leito de morte, mas depois de um longo dia na sela uma sala quente parece-me preferível.

— Seja então o meu aposento privado. Cetim, um pouco de vinho com especiarias, por favor.

Os aposentos de Jon por trás do armeiro estavam bastante sossegados, ainda que não estivessem particularmente quentes. A lareira apagara-se algum tempo antes; Cetim não era tão diligente a alimentá-la como o Edd Doloroso fora. O corvo de Mormont cumprimentou-os com um guincho de “Grão!” Jon pendurou o manto. — Procurais Stannis, correto?

— Correto, senhor. A Rainha Selyse sugeriu que talvez possamos enviar uma mensagem para Bosque Profundo, por corvo, a fim de informar Sua Graça de que o aguardo em Fortenoite. O assunto que pretendo colocar à sua consideração é demasiado delicado para ser confi ado a cartas.

— Uma dívida. — Que mais poderá ser? — Uma dívida dele? Ou do irmão?

O banqueiro apertou os dedos uns contra os outros.

— Não seria apropriado da minha parte discutir as dívidas do Lorde Stannis ou a falta delas. Quanto ao Rei Robert… foi realmente nosso o prazer de prestar assistência a Sua Graça nas suas necessidades. Enquanto Robert viveu, tudo esteve bem. Agora, contudo, o Trono de Ferro cessou todos os pagamentos.

Poderão os Lannister ser realmente tão tolos?

— Não podeis pretender responsabilizar Stannis pelas dívidas do irmão.

— As dívidas cabem ao Trono de Ferro — declarou Tycho — e quem quer que se sente nessa cadeira tem de as pagar. Uma vez que o jovem Rei Tommen e os seus conselheiros se tornaram tão obstinados, pretendemos abordar o assunto junto do Rei Stannis. Se ele se mostrar mais merecedor da nossa confiança, seria naturalmente com grande prazer que lhe prestaríamos toda a ajuda de que necessitasse.

— Ajuda — gritou o corvo. — Ajuda, ajuda, ajuda.

Jon concluíra muito daquilo no momento em que soubera que o Banco de Ferro mandara um emissário à Muralha.

— Segundo as últimas notícias que recebemos, Sua Graça marcha sobre Winterfell para confrontar o Lorde Bolton e os seus aliados. Podeis procurá-lo lá se quiserdes, embora isso acarrete um risco. Podíeis dar por vós enredado nesta guerra.

Tycho baixou a cabeça.

— Aquele que serve o Banco de Ferro enfrenta a morte tão frequentemente como vós, os que servis o Trono de Ferro.

Será isso o que eu sirvo? Jon Snow já não tinha a certeza.

— Posso fornecer-vos cavalos, provisões, guias, tudo o que seja necessário para vos levar a Bosque Profundo. Daí, tereis de chegar pelos vossos próprios meios até junto de Stannis. — E podes perfeitamente descobrir a cabeça dele num espigão. — Haverá um preço.

— Preço — gritou o corvo de Mormont. — Preço, preço.

— Há sempre um preço, não é verdade? — O bravosiano sorriu. — Que quer a Patrulha?

— Os vossos navios, para começar. Com as tripulações.

— Todos os três? Como regressarei eu a Bravos?

— Só preciso deles para uma viagem.

— Uma viagem perigosa, presumo. Para começar, dissestes?

— Também precisamos de um empréstimo. Ouro sufi ciente para nos manter alimentados até à primavera. Para comprar comida e contratar navios para no-la trazerem.

— Primavera? — Tycho suspirou. — Não é possível, senhor.

Que lhe dissera Stannis? Regateais como uma velha por um bacalhau, Lorde Snow. Será que o Lorde Eddard vos gerou numa peixeira? Talvez o tivesse feito.

Demorou a maior parte de uma hora até o impossível se tornar possível, e outra hora até conseguirem concordar com os termos. O jarro de vinho com especiarias que o Cetim trouxe ajudou-os a limar os pontos mais bicudos. Quando Jon Snow assinou o pergaminho que o bravosiano redigiu, estavam ambos meio bêbados e bastante descontentes. Jon tomou isso como bom sinal.

Os três navios bravosianos fariam subir a frota fundeada em Atalaialeste para onze embarcações, incluindo o baleeiro ibbenês que Cotter Pyke requisitara por ordem de Jon, uma galé mercante vinda de Pentos recrutada à força de forma semelhante e três maltratados navios de guerra lisenos, restos da antiga frota de Salladhor Saan empurrados para norte pelas tempestades de outono. Todos os navios de Saan tinham grande necessidade de reparações, mas por aquela altura o trabalho devia estar concluído.

Onze navios não eram sufi cientes, mas se esperasse mais o povo livre em Larduro estaria morto quando a frota de salvamento chegasse. Zarpar agora ou não zarpar de todo. Agora, se a Mãe Toupeira e a sua gente estariam sufi cientemente desesperados para confiar as vidas à Patrulha da Noite…

O dia escurecera quando ele e Tycho Nestoris abandonaram o aposento privado. Começara a nevar.

— A nossa folga foi breve, ao que parece. — Jon enrolou-se melhor no manto.

— O inverno já quase chegou. No dia em que saí de Bravos havia gelo nos canais.

— Três dos meus homens passaram por Bravos há pouco tempo — disse-lhe Jon. — Um velho meistre, um cantor e um jovem intendente.

Acompanhavam uma rapariga selvagem e o seu filho para Vilavelha. Suponho que não tereis calhado encontrá-los?

— Temo que não, senhor. Todos os dias passa gente de Westeros por Bravos, mas a maior parte chega ao Porto do Trapeiro e parte daí. Os navios do Banco de Ferro atracam no Porto Púrpura. Se quiserdes, posso indagar o que lhes terá acontecido quando regressar a casa.

— Não é necessário. Por esta altura devem estar em segurança em Vilavelha.

— Esperemos que sim. O mar estreito é perigoso nesta altura do ano, e nos últimos tempos tem havido relatos perturbadores de avistamentos de navios estranhos nos Degraus.

— Salladhor Saan?

— O pirata liseno? Há quem diga que ele regressou aos seus velhos hábitos, é verdade. E a frota de guerra do Lorde Redwyne também atravessa o Braço Quebrado. A caminho de casa, sem dúvida. Mas esses homens e os seus navios são bem conhecidos por nós. Não, essas outras velas… de mais a leste, talvez… ouvem-se estranhas conversas sobre dragões.

— Bom seria que tivéssemos cá um. Um dragão poderia aquecer um pouco as coisas.

— O senhor graceja. Perdoar-me-eis se não me rir. Nós, os bravosianos, descendemos daqueles que fugiram de Valíria e da fúria dos senhores dos dragões. Não brincamos sobre dragões.

Não, suponho que não.

— As minhas desculpas, Lorde Tycho.

— Não são necessárias desculpas, senhor comandante. Descubro agora que tenho fome. Emprestar somas de ouro tão avultadas causa apetite a um homem. Tereis a bondade de me mostrar o caminho para o vosso salão de banquetes?

— Levo-vos pessoalmente até lá. — Jon fez um gesto. — Por aqui.

Uma vez lá chegado, teria sido descortês não quebrar pão com o banqueiro, portanto Jon mandou Cetim ir buscar-lhes comida. A novidade dos recém-chegados tinha feito sair quase todos os homens que não estavam de serviço ou a dormir, e a cave estava cheia de gente e quente.

A rainha propriamente dita encontrava-se ausente, e a sua filha também. Naquela altura era provável que estivessem a instalar-se na Torre do Rei. Mas Sor Brus e Sor Malegorn estavam ali, entretendo os irmãos que se tinham reunido com as últimas notícias de Atalaialeste e do ultramar. Três das damas da rainha estavam sentadas juntas, servidas pelas respetivas aias e acompanhadas por uma dúzia de admiradores da Patrulha da Noite.

Mais perto da porta, o Mão da Rainha atacava um par de capões, chupando os ossos até os deixar sem carne e empurrando para baixo cada bocado com cerveja. Quando viu Jon Snow, Axell Florent deitou um osso fora, limpou a boca com as costas da mão e aproximou-se calmamente.

Com as suas pernas tortas, peito em forma de barril e orelhas proeminentes, apresentava uma aparência cómica, mas Jon não era tolo ao ponto de se rir dele. O homem era tio da Rainha Selyse, e estivera entre os primeiros na aceitação do deus vermelho de Melisandre. Se não é um assassino de parentes, disso se aproxima. O irmão de Axell Florent fora queimado por Melisandre, segundo informações que o Meistre Aemon lhe fornecera, mas Sor Axell fi zera menos que pouco para o impedir. Que tipo de homem pode ficar parado a ver o seu próprio irmão a ser queimado vivo?

— Nestoris — disse Sor Axell — e o senhor comandante. Posso juntar-me a vós? — Deixou-se cair sobre o banco antes de terem tempo de responder. — Lorde Snow, se puder perguntar… esta princesa selvagem sobre a qual Sua Graça, o Rei Stannis, escreveu… onde poderá estar, senhor?

A longas léguas daqui, pensou Jon. Se os deuses forem bons, por esta altura já encontrou Tormund Terror dos Gigantes.

— Val é a irmã mais nova de Dalla, que foi esposa de Mance Rayder e mãe do seu filho. O Rei Stannis aprisionou Val e a criança depois de Dalla morrer de parto, mas ela não é princesa alguma, segundo o entendimento que vós tendes da palavra.

Sor Axell encolheu os ombros.

— Seja ela o que for, em Atalaialeste os homens afirmavam que a rapariga era bonita. Gostava de ver com os meus próprios olhos. Algumas destas mulheres selvagens, bem, um homem teria de as virar de costas para cumprir o seu dever de marido. Se aprouver ao senhor comandante, trazei-a para fora, deixai-nos dar-lhe uma olhadela.

— Ela não é um cavalo para ser exibido para inspeção, sor.

— Prometo que não lhe contarei os dentes. — Florent sorriu. — Oh, não temais, tratá-la-ei com toda a cortesia que lhe é devida.

Ele sabe que não a tenho. Uma aldeia não tinha segredos, e Castelo Negro não os tinha mais. Não se falava abertamente da ausência de Val, mas alguns homens sabiam, e à noite, na sala comum, os homens conversavam. Que ouviu ele dizer?, perguntou Jon a si próprio. Em quanto do que ouviu acredita?

— Perdoai-me, sor, mas Val não irá juntar-se-nos.

— Eu vou ter com ela. Onde guardais a rapariga?

Longe de ti.

— Num lugar seguro. Basta, sor.

A cara do cavaleiro ficou corada.

— Senhor, esqueceste-vos de quem eu sou? — O hálito do homem cheirava a cerveja e a cebola. — Deverei falar com a rainha? Basta uma palavra de Sua Graça para que me tragam esta rapariga selvagem nua ao salão para nossa inspeção.

Isso seria um belo truque, mesmo para uma rainha.

— A rainha nunca abusaria da nossa hospitalidade — disse Jon, esperando que fosse verdade. — Agora temo que deva retirar-me antes que me esqueça dos deveres de um anfitrião. Lorde Tycho, peço que me desculpeis.

— Sim, claro — disse o banqueiro. — Foi um prazer.

Lá fora, a neve caía mais pesadamente. Do outro lado do pátio, a Torre do Rei transformara-se numa gigantesca sombra, com as luzes das janelas obscurecidas pela neve que caía.

De volta ao seu aposento privado, Jon foi encontrar o corvo do Velho Urso empoleirado no espaldar da cadeira de couro e carvalho por trás da mesa de armar. A ave começou a gritar por comida no momento em que entrou. Jon tirou um punhado de grãos secos do saco que se encontrava ao lado da porta e espalhou-os pelo chão, após o que reclamou para si a cadeira.

Tycho Nestoris deixara para trás uma cópia do acordo. Jon leu-o três vezes até ao fim. Isto foi simples, refl etiu. Mais simples do que me atrevi a esperar. Mais simples do que devia ter sido.

Isso causava-lhe uma sensação incómoda. O dinheiro bravosiano permitiria que a Patrulha da Noite comprasse comida ao sul quando as provisões próprias começassem a escassear, comida sufi ciente para aguentarem o inverno, por mais longo que este se revelasse. Um inverno longo e duro deixará a Patrulha tão profundamente endividada que nunca sairemos do buraco, fez Jon lembrar a si próprio, mas quando a alternativa é entre a dívida e a morte, é melhor pedir emprestado.

Mas não tinha de gostar. E na primavera, quando chegasse o momento de pagar todo aquele ouro, gostaria ainda menos. Tycho Nestoris parecera-lhe culto e cortês, mas o Banco de Ferro de Bravos tinha uma reputação temível no que tocava à coleta de dívidas. Cada uma das Nove Cidades Livres tinha o seu banco, e algumas possuíam mais do que um, lutando por cada moeda como cães por um osso, mas o Banco de Ferro era mais rico e poderoso do que todos os outros juntos. Quando os príncipes incumpriam as obrigações para com bancos menores, os banqueiros arruinados vendiam as mulheres e os filhos para a escravatura e abriam as veias. Quando os príncipes deixavam de pagar ao Banco de Ferro, novos príncipes brotavam de nenhures e conquistavam-lhes os tronos.

Como o pobre e rechonchudo Tommen pode estar prestes a aprender.

Sem dúvida que os Lannister tinham bons motivos para se recusarem a pagar as dívidas do Rei Robert, mas não deixava de ser uma loucura. Se Stannis não fosse demasiado inflexível para aceitar as condições deles, os bravosianos dar-lhe-iam todo o ouro e prata de que necessitasse, dinheiro sufi ciente para comprar uma dúzia de companhias mercenárias, para subornar uma centena de senhores, para manter os seus homens pagos, alimentados, vestidos e armados. A menos que Stannis jaza morto à sombra das muralhas de Winterfell, pode perfeitamente ter acabado de conquistar o Trono de Ferro. Perguntou a si próprio se Melisandre teria visto isso nos seus fogos.

Jon recostou-se, bocejou, espreguiçou-se. De manhã esboçaria ordens para Cotter Pyke. Onze navios para Larduro. Trazer todos os que for possível, mulheres e crianças primeiro. Estava na altura de zarparem. Mas devo ir pessoalmente ou será melhor deixar a expedição com Cotter? O Velho Urso liderara uma patrulha. Pois. E nunca regressara.

Jon fechou os olhos. Só por um momento…

… e acordou, hirto como uma tábua, com o corvo do Velho Urso a resmungar “Snow, Snow,” e Mully a sacudi-lo.

— Senhor, sois esperado. Perdão, senhor. Foi encontrada uma moça.

— Uma moça? — Jon sentou-se, afastando o sono dos olhos com as costas das mãos. — Val? Val regressou?

— Não é Val, senhor. Foi deste lado da Muralha, foi pois.

Arya. Jon endireitou-se. Tinha de ser ela.

— Moça — gritou o corvo. — Moça, moça.

— Ty e Dannel deram com ela duas léguas a sul de Vila Toupeira.

Andavam à caça de uns selvagens que tinham abalado estrada de rei abaixo.

Tam’ém os trouxeram de volta, mas depois deram com a moça. É bem-nascida, senhor, e ‘tá a perguntar por vós.

— Vieram quantos homens com ela? — Deslocou-se até à bacia, salpicou a cara com água. Deuses, como estava cansado.

— Nenhum, senhor. Veio sozinha. O cavalo ‘tava a morrer debaixo dela. Todo pele e costelas, coxo e cheio de espuma. Soltaram-no e capturaram a moça para a interrogar.

Uma rapariga cinzenta num cavalo moribundo. Os fogos de Melisandre não tinham mentido, aparentemente. Mas o que acontecera a Mance Rayder e às suas esposas de lanças?

— Onde está agora a moça?

— Nos aposentos do Meistre Aemon, senhor. — Os homens de Castelo Negro ainda lhe chamavam assim, apesar de por aquela altura o velho meistre dever estar quente e em segurança em Vilavelha. — A moça ‘tava azul de frio, tremia como varas verdes, de modo que o Ty quis que Clydas lhe desse uma olhadela.

— Isso é bom. — Jon voltou a sentir-se com quinze anos. Irmãzinha.

Levantou-se e envergou o manto.

A neve continuava a cair quando atravessou o pátio com Mully. Uma aurora dourada rebentava a leste, mas por trás da janela da Senhora Melisandre na Torre do Rei, uma luz avermelhada ainda tremeluzia. Será que ela nunca dorme? Que jogo estás a jogar, sacerdotisa? Tinhas alguma outra tarefa para Mance?

Queria acreditar que seria Arya. Desejava voltar a ver a cara dela, sorrir-lhe e despentear-lhe o cabelo, dizer-lhe que estava em segurança. Mas não estará em segurança. Winterfell está queimado e quebrado, e já não há lugares seguros.

Não a podia manter ali com ele, por mais que quisesse fazê-lo. A Muralha não era lugar para uma mulher, muito menos para uma rapariga de nascimento nobre. E tampouco iria entregá-la a Stannis ou a Melisandre.

O rei só quereria casá-la com um dos seus homens, Horpe, ou Massey, ou Godry, o Mata-Gigantes, e só os deuses sabiam que uso a mulher vermelha poderia querer dar-lhe.

A melhor solução que conseguia ver significaria enviá-la para Atalaialeste e pedir a Cotter Pyke para a pôr num navio para algum sítio do outro lado do mar, para fora do alcance de todos aqueles reis quezilentos.

Isso teria de esperar que os navios regressassem de Larduro, com certeza.

Ela podia regressar a Bravos com Tycho Nestoris. O Banco de Ferro talvez possa ajudar a encontrar alguma família nobre que a crie. Bravos era a mais próxima das Cidades Livres, porém… o que fazia dela ao mesmo tempo a melhor e a pior opção. Lorath ou o Porto de Ibben talvez fossem mais seguros. Enviasse-a para onde enviasse, contudo, Arya precisaria de prata para a sustentar, de um telhado sobre a cabeça, de alguém que a protegesse. Não passava de uma criança.

Os velhos aposentos do Meistre Aemon estavam tão quentes que a súbita nuvem de vapor quando Mully abriu a porta foi sufi ciente para os cegar a ambos. Lá dentro, um fogo acabado de acender ardia na lareira, com a lenha a estalar e a crepitar. Jon passou por cima de um charco de roupa húmida.

— Snow, Snow, Snow — gritaram os corvos lá de cima. A rapariga estava enrolada perto do fogo, envolta num manto negro de lã, bom para alguém com o triplo do seu tamanho, e profundamente adormecida.

Parecia-se o sufi ciente com Arya para o fazer hesitar, mas só por um momento. Era uma rapariga alta, magrinha e ardente, toda ela pernas e cotovelos, e tinha o cabelo castanho apanhado numa grossa trança e atado com tiras de couro. Possuía uma cara comprida, um queixo pontiagudo, orelhas pequenas.

Mas era mais velha do que devia ser, muito mais velha do que devia ser. Esta rapariga tem quase a minha idade.

— Ela comeu? — perguntou Jon a Mully.

— Só pão e caldo, senhor. — Clydas levantou-se de uma cadeira.

— O Meistre Aemon sempre disse que é melhor avançar devagar. Mais alimento, e ela podia não ser capaz de o digerir.

Mully confi rmou com a cabeça.

— O Dannel tinha uma das salsichas do Hobb e deu-lhe um bocado, mas ela não quis tocar-lhe.

Jon não a censurava por isso. As salsichas de Hobb eram feitas de gordura, sal e coisas em que era melhor não pensar.

— Talvez devêssemos simplesmente deixá-la descansar.

Foi nesse momento que a rapariga se sentou, apertando o manto aos pequenos seios pálidos. Parecia confusa.

— Onde…

— Castelo Negro, senhora.

— A Muralha. — Os olhos encheram-se-lhe de lágrimas. — Estou aqui.

Clydas aproximou-se mais.

— Pobre criança. Que idade tens?

— Terei dezasseis no próximo dia do meu nome. E não sou criança nenhuma, mas uma mulher crescida e florescida. — Bocejou, tapou a boca com o manto. Um joelho nu espreitou por entre as dobras deste. — Não usais corrente. Sois um meistre?

— Não — disse Clydas — mas servi um.

Ela realmente parece-se um pouco com Arya, pensou Jon. Está faminta e escanzelada, mas tem o cabelo da mesma cor e os olhos também.

— Disseram-me que perguntastes por mim. Sou…

— … Jon Snow. — A rapariga atirou a trança para trás. — A minha casa e a vossa estão ligadas pelo sangue e pela honra. Escutai-me, parente.

O meu tio Cregan segue de perto o meu rasto. Não podeis deixar que me leve de volta para Karhold.

Jon estava de olhos fi tos. Eu conheço esta rapariga. Havia algo nos seus olhos, na maneira como se conduzia, no modo como falava. Por um momento, a memória fugiu-lhe. Depois chegou.

— Alys Karstark.

Aquilo trouxe-lhe o fantasma de um sorriso aos lábios.

— Não tinha a certeza de que vos lembraríeis. Tinha seis anos da última vez que me vistes.

— Viestes a Winterfell com o vosso pai. — O pai que Robb decapitou.

— Não me lembro para quê.

Ela corou.

— Para poder conhecer o vosso irmão. Oh, houve outro pretexto qualquer, mas o verdadeiro motivo foi esse. Era quase da idade de Robb e o meu pai achou que talvez pudéssemos casar. Houve um banquete. Dancei tanto convosco como com o vosso irmão. Ele foi muito cortês e disse que eu dançava lindamente. Vós estáveis carrancudo. O meu pai disse que era de se esperar num bastardo.

— Lembro-me. — Só era meia mentira.

— Continuais um pouco carrancudo — disse a rapariga — mas perdoo-vos por isso se me salvardes do meu tio.

— O vosso tio… será por acaso o Lorde Arnolf?

— Ele não é lorde nenhum — disse Alys em tom desdenhoso. — O senhor legítimo é o meu irmão Harry e, pela lei, eu sou herdeira dele. Uma filha tem precedência sobre um tio. O Tio Arnolf é só castelão. Na verdade é meu tio-avô, tio do meu pai. Cregan é filho dele. Suponho que isso faz dele um primo, mas sempre lhe chamámos tio. Agora querem obrigar-me a chamar-lhe marido. — Cerrou o punho. — Antes da guerra, estava pro-metida a Daryn Hornwood. Só estávamos à espera da minha fl oração para nos casarmos, mas o Regicida matou Daryn no Bosque dos Murmúrios. O meu pai escreveu que arranjaria um qualquer senhor do sul para se casar comigo, mas não chegou a fazê-lo. O vosso irmão Robb cortou-lhe a cabeça por matar Lannisters. — A boca torceu-se-lhe. — Julgava que a razão de terem marchado para sul era precisamente matar uns quantos Lannisters.

— As coisas… não são assim tão simples. O Lorde Karstark matou dois prisioneiros, senhora. Rapazes desarmados, escudeiros numa cela.

A rapariga não pareceu surpreendida.

— O meu pai nunca berrou como o Grande-Jon, mas não é menos perigoso quando se enfurece. Mas agora também está morto. O vosso irmão também. Mas vós e eu estamos aqui, ainda vivos. Há alguma rixa de sangue entre nós, Lorde Snow?

— Quando um homem veste o negro, põe as rixas para trás das costas. A Patrulha da Noite não tem qualquer querela com Karhold, nem convosco.

— Ótimo. Tive receio… supliquei ao meu pai que deixasse um dos meus irmãos como castelão, mas nenhum deles quis perder a glória e os resgates a serem ganhos no sul. Agora, Torr e Edd estão mortos. Segundo as últimas notícias que recebemos, Harry era prisioneiro em Lagoa da Donzela, mas isso foi há quase um ano. Pode também estar morto. Não sei para onde mais posso virar-me, se não for para o último filho de Eddard Stark.

— Porque não para o rei? Karhold declarou apoiar Stannis.

— O meu tio declarou apoiar Stannis, na esperança de que isso pudesse levar os Lannister a cortar a cabeça do pobre Harry. Se o meu irmão morrer, Karhold deverá passar para mim, mas os meus tios querem o meu direito de nascimento para eles. Depois de Cregon gerar um filho em mim deixarão de precisar de mim. Já enterrou duas mulheres. — Limpou uma lágrima com um gesto zangado, como Arya poderia ter feito. — Ireis ajudar-me?

— Casamentos e heranças são assuntos para o rei, senhora. Escreverei a Stannis em vosso nome, mas…

Alys Karstark riu-se, mas foi um riso de desespero.

— Escrevei, mas não espereis resposta. Stannis estará morto antes de receber a vossa mensagem. O meu tio tratará disso.

— Que quereis dizer?

— Arnolf corre para Winterfell, é verdade, mas só para poder es-petar a adaga nas costas do vosso rei. Já há muito que apostou em Roose Bolton… por ouro, pela promessa de um perdão, e pela cabeça do pobre Harry. O Lorde Stannis marcha para um massacre. Portanto não me pode ajudar, e nem ajudaria mesmo se pudesse. — Alys ajoelhou na frente dele, agarrando-se ao manto negro. — Vós sois a minha única esperança, Lorde Snow. Em nome do vosso pai, suplico-vos. Protegei-me.


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