Capítulo 13


A corrida do acampamento dos caçadores até o aeromóvel abatido cobrira menos de um quilômetro, mas parecera uma eternidade para Dirk. O caminho de volta foi duas vezes mais longo. Depois teve certeza de que não estava inteiramente consciente enquanto andava. Tinha lembranças apenas de fragmentos do percurso. Recordava-se de ter tropeçado e caído, rasgando as calças nos joelhos. De um córrego de águas ligeiras e frias, onde parou, lavou o sangue seco do rosto, tirou as botas e mergulhou os pés na corrente gelada até deixar de senti-los. Da passagem pelo promontório de pedra do qual caíra anteriormente. De uma entrada escura de caverna encarando-o, uma promessa de sono e descanso que recusou. Da perda de orientação, procurando pelo sol, encontrando-o e seguindo-o, e perdendo-se novamente. Dos espectros arbóreos brincando de galho em galho entre os estranguladores, tagarelando com suas pequenas vozes. Das mortas cascas brancas em galhos céreos, olhando para baixo e encarando-o. Do banshee gemendo, sobrevoando, caçando longe dali. De tropeçar novamente, meio sem jeito, meio com medo. Do bastão rolando para longe, descendo uma ladeira curta e inclinada, perdendo-se entre ramas espessas e ele não se incomodando de procurá-la.

Lembrava-se de andar sem parar, colocando um pé na frente do outro, apoiando-se no bastão e depois no laser, quando o bastão se foi, o pé doendo muito. Do banshee novamente, mais perto, quase sobre sua cabeça. De olhar para o céu sombrio através de um emaranhado de galhos, tentando localizá-lo sem sucesso.

De andar, sentindo dor. Lembrava-se de todas essas coisas, e sabia que certamente havia outras coisas entre elas, conectando-as umas às outras, mas não se recordava. Talvez tivesse dormido enquanto caminhava. Mas não parou de andar.

Já era tarde quando chegou à área arenosa próxima ao lago verde. Os aeromóveis ainda estavam ali, um retorcido e tombado na água, os outros três na areia. O acampamento estava deserto. Um dos carros - o imenso veículo abobadado de Lorimaar - era guardado por um cão de caça, preso à porta por uma longa corrente negra. A criatura estava deitada, mas se levantou com a aproximação de Dirk, rosnou e mostrou os dentes ameaçadoramente. Dirk pegou-se gargalhando descontroladamente, quase de modo insano. Percorrera todo este caminho, andara, andara e andara, e dava de cara com um cão amarrado ao aeromóvel, rosnando para ele. Se era para isso, podia ter ficado onde estava.

Deu a volta cuidadosamente por fora do perímetro da corrente do cão e foi até o carro de Janacek. Subiu e fechou a pesada porta atrás de si. A cabine era escura, abafada e apertada. Depois de congelar por tanto tempo, sentia-se quase desconfortavelmente quente. Queria deitar e dormir. Mas primeiro obrigou-se a procurar o compartimento de suprimentos. Encontrou um kit de primeiros socorros. Estava cheio de pílulas, bandagens e sprays. Desejou ter pedido para Janacek jogar o kit perto do carro abandonado, juntamente com o laser. Sabia que devia ir até o lago e lavar metodicamente todos os ferimentos antes de colocar as bandagens, mas a maciça porta blindada era pesada demais para ser movida nesse momento.

Tirou as botas, a jaqueta e a camisa e pulverizou o pé inchado e o braço esquerdo com um pó que supostamente prevenia infecções, ou as combatia, ou algo do gênero. Estava cansado demais para ler todas as instruções. Em seguida, olhou para as pílulas. Tomou duas para a febre, quatro comprimidos de analgésicos e dois de antibiótico, engolindo em seco, pois não tinha água por perto.

Depois, deitou nas placas metálicas entre os assentos. Dormiu instantaneamente.

Acordou com a boca seca, tremendo e muito nervoso, algum efeito colateral das pílulas. Mas estava raciocinando de novo, e sua testa estava fresca (embora coberta com um suor pegajoso) quando a tocou com as costas da mão, e seus pés estavam menos doloridos do que antes. O inchaço do braço também tinha diminuído um pouco, embora ainda estivesse maior do que o normal e um tanto quanto duro. Vestiu a camisa queimada e suja de sangue, colocou a jaqueta por cima, pegou o kit de primeiros socorros e saiu do aeromóvel.

Caía a tarde; o céu ocidental estava vermelho e alaranjado, e dois pequenos sóis amarelos brilhavam intensamente contra as nuvens do pôr do sol. Os Braiths não tinham retornado. Jaan Vikary, armado, vestido e experiente, claramente não era tão fácil de se apanhar quando Dirk.

Caminhou até o lago. A água estava gelada, mas ele se acostumou logo, e sentia a lama escorrendo lentamente entre os dedos dos pés. Tirou a roupa, submergiu a cabeça e se lavou, depois pegou o kit de primeiros socorros e fez novamente tudo o que fizera mais cedo, limpando e colocando curativos nos pés antes de calçar as botas de Pyr, limpando os ferimentos com desinfetante e esfregando as marcas inflamadas de mordidas no braço com um unguento que afirmava reduzir reações alérgicas. Engoliu outro punhado de analgésicos, desta vez com a ajuda de um pouco de água fresca do lago.

A noite caía rapidamente quando finalmente ficou pronto e vestido. O cão Braith estava deitado ao lado do aeromóvel de Lorimaar, roendo um pedaço de carne, mas não havia sinais de seus mestres. Dirk caminhou cuidadosamente ao redor da besta até o terceiro veículo, o que pertencia à Pyr e seu teyn. Decidiu que podia ficar com os suprimentos deles com relativa impunidade; os outros Braiths, quando retornassem ao acampamento vazio, jamais saberiam como algo fora levado dali.

Dentro do aeromóvel, Dirk encontrou um compartimento de armas: quatro rifles laser com o familiar brasão com a cabeça de lobo branco, um jogo de espadas de duelo, facas, uma lâmina de arremesso de prata de dois metros e meio de comprimento, e uma bainha vazia ao lado. E duas pistolas jogadas sem cuidado em um assento. Também encontrou um pacote de roupas limpas e se trocou, escondendo os trajes sujos e estragados. A roupa não lhe caiu bem, mas era bem confortável. Vestiu um cinturão de cota de malha de aço e pegou uma pistola e um sobretudo de tecido-camaleão que lhe chegava aos joelhos.

Ao tirar o casaco do lugar em que estava pendurado, Dirk encontrou outro compartimento de suprimentos. Abriu-o. Dentro estavam as quatro botas familiares e os aeropatinetes de Gwen. Pyr e seu teyn aparentemente tinham reivindicado os apetrechos como recompensa.

Dirk sorriu. Nunca pretendera pegar um aeromóvel; as chances de que os caçadores o vissem imediatamente eram grandes demais, especialmente se fizesse isso durante o dia. Mas tampouco estava animado com a perspectiva de caminhar. Os patinetes eram a resposta perfeita. Não perdeu tempo em colocar o par de botas maior, embora tivesse que deixá-lo desatado por conta da bandagem que tinha no pé.

Havia comida estocada no mesmo compartimento dos patinetes; barras de proteína, pedaços de carne seca, uma pequena porção de queijo duro. Prendeu uma bússola no punho direito, colocou a mochila nas costas e saiu do aeromóvel para colocar a plataforma de metal prateado na areia.

Era noite cerrada. Sua guia da noite anterior, a estrela de Alto Kavalaan, queimava brilhante, vermelha e solitária sobre a floresta. Dirk a viu e sorriu. Esta noite, ela não seria sua guia; apostava que Jaan Vikary iria direto para Kryne Lamiya, na direção oposta. Mas a estrela ainda parecia uma amiga.

Pegou um rifle laser recém-carregado, tocou no controle do patinete que estava na palma de sua mão e saiu voando. Atrás dele, o cão Braith se levantou e começou a uivar.

Voou por toda a noite, mantendo-se a vários metros da copa das árvores, consultando a bússola de tempos em tempos e estudando as estrelas. Havia muito pouco para ver. Abaixo dele, a floresta se estendia infinita, negra e encoberta, sem fogueiras ou luzes para romper a escuridão. De vez em quando, tinha a impressão de que estava parado, e lembrava de sua última viagem de aeropatinete, pelos túneis abandonados de Worlorn.

O vento era sua companhia constante; vinha por trás, atingindo suas costas com força, e Dirk aceitava grato o empurrão extra que recebia. Fazia seu casaco se agitar entre as pernas e, de tempos em tempos, jogava seu cabelo comprido nos olhos. Lá embaixo, podia ouvir o vento movendo as árvores, fazendo as mais flexíveis se curvarem, sacudindo as mais duras com selvagens mãos frias até que suas folhas caíssem. Apenas os estranguladores pareciam intocados, mas eram a maioria. O vento percorria seus galhos emaranhados com um silvo fino. O som era adequado; este era o vento de Kryne Lamiya, Dirk pensou, nascido nas montanhas e controlado pelas máquinas climáticas de Escuralba, movendo-se em direção ao seu destino. Adiante, as torres brancas esperavam, e as mãos congeladas atraíam o vento em sua direção.

Havia outros barulhos também: movimentos confinados na mata abaixo, os gritos dos caçadores noturnos, o murmúrio de um córrego, o estrondo de uma corredeira. Várias vezes Dirk ouviu o chiado alto dos espectros arbóreos e viu pequenas formas brincando de galho em galho. Seus olhos e ouvidos tornaram-se estranhamente sensíveis. Passou sobre um grande lago e ouviu alguma coisa mergulhando nas águas escuras, então várias coisas mergulharam também. Ao longe, na costa, um grito curto sacudiu a noite. E, logo depois, uma resposta desafiante; um uivo prolongado. O banshee.

Aquele barulho gelou a alma de Dirk na primeira vez que o escutou. Mas o medo passou logo. Quando estava nu na floresta, o banshee era uma ameaça terrível, a morte encarnada em asas. Agora, tinha um rifle e uma pistola, e a criatura dificilmente seria uma ameaça. Na verdade, refletiu, talvez fosse um aliado. Salvara sua vida uma vez. Talvez pudesse fazer isso novamente.

Da segunda vez que o banshee soltou seu grito estridente - ainda atrás dele, mas mais alto agora, ganhando altitude -, Dirk apenas sorriu. Elevou-se ainda mais, para voar sobre a besta, e traçou um lento círculo para tentar avistá-la. Mas o animal ainda estava longe, e era negro como o tecido-camaleão que ele próprio vestia, e tudo o que pôde ver foi uma vaga impressão de movimento contra a floresta, talvez apenas os galhos se movendo ao vento.

Mantendo a altitude, consultou a bússola novamente e completou o círculo para retomar o vôo em direção a Kryne Lamiya. Por duas outras vezes naquela noite pensou ter ouvido o banshee gritando, mas os sons estavam muito distantes e fracos, portanto não teve certeza.

O céu oriental apenas começara a se iluminar quando escutou as primeiras notas musicais flutuando no ar, fragmentos dispersos de desespero, familiares demais para seu gosto. A cidade escuralbina estava bem perto agora.

Diminuiu a velocidade, preocupado. Voara pelo caminho que imaginara que Jaan Vikary faria em sua fuga, mas não vira nada. Talvez sua conjectura estivesse completamente errada e Vikary tivesse atraído os caçadores para outra direção. Mas Dirk não acreditava nisso. Era mais provável que tivesse passado sobre eles, sem vê-los e sem ser visto, na escuridão da noite.

Começou a refazer o trajeto no sentido oposto, voando a favor do vento desta vez, sentindo os gelados dedos fantasmagóricos de Lamiya-Bailis no rosto. Com a luz do dia, sua tarefa seria mais fácil, esperava. O Olho do Inferno se erguia, assim como os Sóis Troianos, um a um. Nuvens tênues branco-acinzentadas corriam pelo céu melancólico, enquanto as brumas matinais caminhavam no solo da floresta. As árvores lá embaixo passaram de negras para amarelo-acastanhadas; estranguladores se abraçavam por todos os lados como amantes desajeitados, e uma luz vermelha brilhava vagamente dos galhos céreos. Dirk se elevou e seu horizonte se expandiu. Viu rios, o reflexo do sol na água. E lagos, sem reflexo algum, cobertos por uma película flutuante esverdeada. E neve, ou algo que parecia neve, até que se aproximou e viu que era uma área recoberta de fungos branco-encardidos.

Viu uma falha geológica, um corte na rocha que seguia pela floresta de norte a sul, reta como se tivesse sido traçada com uma régua. E planícies lamacentas, negras e marrons, malcheirosas, nos dois lados de um largo e lento curso de água. E um penhasco de pedra cinzenta desgastada, que se erguia inesperadamente no meio da floresta, com estranguladores cobrindo sua base e outros erguendo-se em estranhos ângulos no topo, mas nada na face vertical da rocha além de alguns liquens brancos e da carcaça de um enorme pássaro morto no ninho. E nenhum sinal de Jaan Vikary ou dos caçadores que o perseguiam.

Na metade da manhã, os músculos de Dirk doíam de fadiga, seu braço começava a latejar novamente, e sua esperança diminuía. A floresta parecia não ter fim, quilômetro após quilômetro, um vasto tapete amarelo no qual procurava uma migalha, em um mundo silencioso coberto pelo crepúsculo. Virou-se na direção de Kryne Lamiya mais uma vez, convencido de que retrocedera demais. Começou a voar a esmo, cobrindo a rota em ziguezague, em vez de seguir em linha reta, procurando, sempre procurando. Estava muito cansado. Perto do meio-dia decidiu voar em círculos sobre a área mais provável, descendo em espiral para tentar investigar todo o território.

E ouviu o banshee gritando.

Dessa vez conseguiu vê-lo. Estava voando baixo, perto do nível das árvores, bem abaixo dele. Parecia incrivelmente lento e quieto. O corpo negro e triangular mal parecia se mover; as asas estavam paradas, muito rígidas, e a criatura parecia flutuar no vento de Escuralba. Quando queria mudar de rumo, pegava uma corrente ascendente e traçava um círculo amplo antes de descer novamente. Dirk, sem nada melhor para fazer, começou a seguir o animal.

O banshee gritou novamente. O som ficou parado no ar.

E então Dirk ouviu uma resposta.

Tocou nos controles na palma da mão e começou a descer rapidamente, ouvindo, repentinamente alerta mais uma vez. O som era fraco mas inconfundível: uma matilha de cães Braiths, latindo freneticamente de raiva e medo. Perdeu o banshee de vista - não importava agora - e perseguiu o som que desaparecia rapidamente. Veio do norte, pensou. Voou naquela direção.

Em algum lugar nas proximidades, um cão começou a uivar.

Dirk ficou um pouco alarmado. Era possível que estivesse voando muito baixo, e que os cães estivessem latindo para ele, em vez de para o banshee. Era uma situação perigosa de qualquer jeito. Seu casaco fazia o melhor possível para adaptar-se às cores do céu de Worlorn, mas o tom prateado do aeropatinete brilhava o suficiente para ser visto por qualquer um que olhasse para cima. E com um banshee nos arredores, todos estariam olhando para cima.

Mas se queria ajudar Jaan Vikary e sua Jenny, não tinha outra alternativa. Segurou a arma com força e continuou a descer. Sob ele, cortando a floresta como uma faca, estava um rio azul-esverdeado que corria rapidamente. Dirk se dirigiu para lá, vasculhando de um lado ao outro sem descanso. Ouviu o ruído de corredeiras, procurou a origem do som e encontrou. Pareciam rápidas e perigosas vistas de cima. Rochas nuas assomavam como dentes podres, marrons e irregulares, com a água a espumar branca e feroz ao redor delas, os estranguladores aglomerando-se em uma margem. Na jusante, o rio aumentava e ficava mais tranqüilo. Dirk olhou rapidamente nessa direção, então voltou para a corredeira. Sobrevoou a água, dando uma volta e depois outra.

Um cão latiu alto. Os outros o imitaram.

Dirk voltou novamente a atenção para a jusante. Viu pontos negros na água, avançando onde a corrente parecia mais amigável. Voou naquela direção. Os pontos cresceram, assumindo a forma humana. Um homenzinho corpulento vestido de amarelo-acastanhado, lutando para atravessar o rio. Outro homem estava ali perto, na margem, com seis imensos cães.

O homem na água retrocedeu. Tinha um rifle na mão, Dirk notou. Era baixo e bem corpulento. Rosto pálido, torso amplo, braços e pernas fortes - Saanel Larteyn, o gordo teyn de Lorimaar. E Lorimaar na margem, segurando a matilha. Nenhum deles olhava para cima. Dirk diminuiu a velocidade para manter distância.

Saanel saiu da água. Ainda estava do lado errado do rio, juntamente com Lorimaar, na margem oposta a Kryne Lamiya. Estava tentando atravessar, no entanto. Mas não ali. Agora os dois caçadores começaram a se afastar, descendo mais o rio, movendo-se desajeitadamente entre a relva, as pedras e os estranguladores na margem.

Dirk não os seguiu. Estava com o aeropatinete e sabia para onde estavam indo; podia ir atrás deles mais tarde, se precisasse. Mas onde estavam os outros? Roseph e seu teyn? Garse Janacek? Virou-se e seguiu rio acima, sentindo-se um pouco mais confiante. Se o grupo de caça estava dividido, seria mais fácil lidar com eles. Voou baixo sobre o rio, rapidamente, a água agitando-se a dois metros de seus pés, enquanto seus olhos procuravam nas margens por outro grupo tentando atravessar.

Dois quilômetros a nordeste da correnteza - o canal era mais estreito e rápido ali -, Dirk encontrou Janacek de pé na beira da água com uma expressão perplexa no rosto. Parecia estar sozinho. Dirk gritou para ele. Janacek olhou para cima, sobressaltado, e acenou.

Dirk se aproximou. Mas a aterrissagem não foi muito boa. O penhasco sobre o qual Janacek estava parado era coberto com um musgo verde escorregadio, e um dos lados do aeropatinete de Dirk deslizou, quase fazendo-o ser arremessado no rio. Janacek o segurou pelo braço. Dirk desligou o controle de gravidade.

- Obrigado - murmurou. - Não parece muito fácil nadar aqui.

- Era exatamente o que eu estava pensando enquanto estava parado aqui - Janacek respondeu. Parecia abatido. Seu rosto e roupas estavam sujos, e a barba ruiva estava úmida de suor. Uma mecha de cabelo desgrenhada e gordurosa caía por sua testa. - Estava tentando decidir se corria o risco de enfrentar a correnteza ou se perdia tempo continuando rio abaixo, na vaga esperança de encontrar um lugar mais seguro para atravessar. - Um sorriso tênue iluminou seu rosto. - Mas você resolveu esse problema com o brinquedo de Gwen. Onde...?

- Pyr - Dirk respondeu. Começou a contar para Janacek sua fuga até o aeromóvel abatido.

- Você está vivo - o Jadeferro disse rapidamente. - Posso ficar sem os detalhes tediosos, t'Larien. Muita coisa aconteceu desde ontem de manhã. Você viu os Braiths?

- Lorimaar e seu teyn estavam seguindo rio abaixo - falou Dirk.

- Sei disso - Janacek interrompeu. - Eles cruzaram?

- Não, ainda não.

- Isso é bom. Jaan está muito perto agora, talvez apenas a meia hora na nossa frente. Eles não podem alcançá-lo primeiro. - Seus olhos percorreram a outra margem do rio, e ele suspirou. - Você tem o outro patinete, ou tenho que pegar o seu?

Dirk deixou o rifle na rocha e começou a tirar a mochila das costas.

- Estou com o outro aqui - falou. - Onde está Roseph? O que está acontecendo?

- Jaan fugiu magnificamente até agora. - Janacek comentou.

- Ninguém esperava que pudesse cobrir tanto terreno tão rápido. Os Braiths não imaginavam, na verdade. E ele fez mais do que simplesmente fugir. Também montou algumas armadilhas.

- Jogou o cabelo que caía na testa para trás, com as costas da mão.

- Ele acampou noite passada. Estava bem na nossa frente. Encontramos as cinzas da fogueira dele. Roseph caiu em um fosso oculto e enterrou o pé em uma estaca enterrada. - Janacek sorriu.

- Está voltando para os veículos, com a ajuda de seu teyn. E você diz que Pyr e Arris estão mortos? - Dirk assentiu. Tirou as botas e o segundo patinete da mochila. Janacek aceitou-os sem fazer comentários. - Os caçadores estão em número cada vez menor. Acho que vencemos, t'Larien. Jaan Vikary deve estar cansado. Fugiu sem dormir por um dia e duas noites. Mas sabemos que não está ferido, que está armado e que é de Jadeferro. Lorimaar e aquele imbecil que mantém como teyn não encontrarão uma presa fácil. - Ajoelhou-se e começou a desamarrar as botas, sem parar de falar. - A vaidade louca de criar um novo grupo não irá muito longe. Lorimaar é insano só de sonhar com isso. Acho que ficou com alguma coisa solta naquela cabeça quando o laser de Jaan o acertou em Desafio. - Tirou uma das botas. - Sabe por que Chell e Bretan não estão entre eles, t'Larien? Porque aquela dupla tem sanidade demais para esse projeto de Alto-Larteyn! Roseph me disse isso enquanto caçávamos. A verdade, segundo ele, é esta: Lorimaar anunciou a loucura quando os Braiths retornaram para Larteyn depois que Myrik foi morto. Os seis que encontramos na floresta estavam lá, além do velho Raymaar. Bretan Braith Lantry e Chell Fre-Braith não estavam. Eles tentaram perseguir você e Jaantony e depois sobrevoaram algumas das cidades que consideravam prováveis refúgios. Então, Lorimaar estava essencialmente sem oposição. Ele sempre intimidou os outros, exceto, talvez, Pyr, e Pyr nunca esteve interessado em outra coisa que não fosse tirar cabeças de quase-homens. - Janacek estava com dificuldades para colocar as estreitas botas de Gwen. Fez uma careta e puxou com força, obrigando a bota a entrar. - Quando Chell retornou, ficou furioso. Não deixaria isso seguir adiante. Não quis nem ouvir. Bretan tentou acalmá-lo, Roseph afirmou, mas não conseguiu. O velho Chell é um Braith, e o novo grupo de Lorimaar era uma traição para ele. Desafiou-o para um duelo. Lorimaar estava imune ao duelo, na verdade, já que estava ferido, mas aceitou mesmo assim. Chell era muito velho. Como desafiado, Lorimaar fez a primeira das quatro escolhas, a escolha dos números. - Janacek se levantou e pisou com força na rocha escorregadia para acomodar melhor a bota apertada. - Preciso dizer que ele escolheu combate singular? Teria sido um duelo muito diferente se Bretan Braith se confrontasse juntamente com Chell Braços-Vazios. Lorimaar, mesmo ferido, venceu o velho com relativa facilidade. Lutaram no quadrado da morte, com espadas. Chell recebeu vários golpes, golpes demais, talvez. Roseph acredita que ele deve estar agonizando em Larteyn. Bretan Braith ficou com ele e, mais importante ainda, continua sendo Bretan Braith. - Janacek colocou o patinete no chão.

- Descobriu alguma coisa sobre Ruark? - Dirk lhe perguntou.

O kavalariano deu de ombros.

- Em geral o que já suspeitávamos. Ruark contactou Lorimaar Alto-Braith pela tela, e se ofereceu para revelar onde Jaan estava escondido, se Lorimaar o nomeasse korariel e lhe garantisse proteção. Lorimaar concordou alegremente. Ninguém parece saber onde o kimdissiano está agora. Jaan teve sorte de estar no aeromóvel quando eles chegaram. Ele simplesmente levantou voo e fugiu. Eles o perseguiram e finalmente Raymaar o alcançou um pouco além das montanhas, mas era outro velho e nem de perto o piloto que Jaan Vikary é. - Havia uma nota de orgulho satisfeito na voz de Janacek, como um pai se gabando do filho. - O Braith foi abatido em combate, mas o veículo de Jaan também ficou danificado, então ele foi forçado a pousar e fugir. Já havia partido quando os altos-senhores de Larteyn descobriram o lugar em que caíra. Haviam perdido tempo tentando ajudar Raymaar. - Fez um gesto impaciente com a mão.

- Por que você se separou de Lorimaar? - Dirk perguntou.

- Por que você acha? Jaan está perto agora. Preciso alcançá-lo antes deles. Saanel insistiu que cruzar rio abaixo seria mais fácil, e eu aproveitei para discordar. Lorimaar está cansado demais para suspeitar de qualquer coisa. Pensa apenas na presa. Seu ferimento ainda queima, t'Larien! É como se visse Jaan Vikary sangrando aos seus pés e se esquecesse de quem está perseguindo. Então, me afastei deles, rio acima, e por algum tempo temi ter cometido um erro. A travessia era mais fácil rio abaixo, não era?

- Dirk assentiu novamente e Janacek sorriu. - Então sua chegada foi uma sorte, na verdade.

- Você vai precisar de mais do que sorte para encontrar Jaan.

- Dirk o avisou. - Os Braiths provavelmente já cruzaram o rio agora, e eles têm cães.

- Isso não me preocupa muito - Janacek falou. - Jaan está fugindo em linha reta, agora, e sei algo que Lorimaar não sabe. Sei para onde ele está indo. Para uma caverna, t'Larien! Meu teyn sempre foi fascinado por cavernas. Quando éramos meninos, em Jadeferro, ele sempre me levava para explorar sob a terra. Levou-me a mais minas abandonadas do que jamais desejei ver, e várias vezes percorremos os subterrâneos das antigas cidades, as ruínas assombradas pelos demônios. - Sorriu. - Fortalezas devastadas também, lareiras enegrecidas em antigas altas-guerras e ainda repletas de almas penadas. Jaan Vikary conhecia todos esses lugares. Costumava me guiar por ali, contando infinitas histórias sobre Aryn Alto-Pedrardente e Jamis-Leão Taal e sobre os canibais das Moradas do Carvão Profundo. Sempre foi um contador de histórias. Fazia os antigos heróis ganharem vida novamente, assim como todos os horrores vividos nos tempos passados.

Dirk não pôde deixar de sorrir.

- Ele o assustava, Garse?

O outro gargalhou.

- Me assustar? Sim! Ele me aterrorizava, mas me acostumei com o tempo. Éramos ambos jovens, t'Larien. Mais tarde, muito mais tarde, foi nas cavernas sob as Colinas de Lameraan que ele e eu fizemos nosso juramento de ferro-e-fogo.

- Tudo bem - Dirk falou. - Então Jaan gosta de cavernas...

- Um sistema de cavernas fica bem perto de Kryne Lamiya - Janacek falou, voltando às preocupações mais imediatas -, com uma segunda entrada perto de onde estamos. Nós três o exploramos durante nosso primeiro ano em Worlorn. Agora, acho que Jaan completará sua fuga pelo subterrâneo, se puder. Portanto, podemos interceptá-lo. - Levantou seu rifle.

Dirk também pegou sua arma.

- Você nunca o encontrará na floresta - falou. - Os estranguladores dão muita cobertura.

- Eu o encontrarei - Janacek respondeu asperamente. - Lembre-se de nosso laço, t'Larien. Ferro-e-fogo.

- Ferro vazio agora. - Dirk comentou, assinalando com os olhos o pulso direito de Janacek.

O Jadeferro esboçou seu sorriso típico.

- Não. - discordou. Levou a mão ao bolso, tirou-a e abriu. Tinha uma pedrardente na palma estendida. Uma única joia, redonda e toscamente facetada, quase duas vezes o tamanho da joia-sussurrante de Dirk, negra e quase opaca na luz avermelhada da manhã.

Dirk a encarou, então tocou-a suavemente com a ponta do dedo e moveu-a levemente na mão de Janacek.

- Parece... fria - disse.

Janacek franziu o cenho.

- Não - replicou. - Ao contrário, arde como fogo. - A pedrardente voltou para seu bolso. - Há histórias, t'Larien, poemas em antigo kavalariano, contos que as crianças escutam na creche do grupo. Até as eyn-kethi conhecem as histórias. Elas as contam em suas vozes femininas, mas Jaan Vikary as conta melhor. Pergunte para ele algum dia. Sobre as coisas que um teyn já chegou a fazer por seu teyn. Ele lhe falará sobre grandes mágicas e heroísmos ainda maiores, e sobre glórias impossíveis. Não sou um contador de histórias, ou eu mesmo contaria para você. Talvez então você consiga entender um pouco do significado de ser teyn de um homem e partilhar o laço de ferro.

- Talvez eu já entenda. - Dirk comentou.

Um longo silêncio caiu entre eles enquanto permaneceram em pé na pedra coberta de musgo, a meio metro de distância, frente a frente, Janacek sorrindo levemente enquanto olhava Dirk. Embaixo deles, o rio corria incessante, o ruído das águas apressando-os a partir.

- Você não é um homem tão mau, t'Larien - Janacek falou finalmente. - E fraco, eu sei, mas talvez porque nunca ninguém tenha lhe dito que é forte.

Inicialmente aquilo pareceu um insulto, mas o kavalariano não parecia ter essa intenção. Dirk parou para pensar naquilo e descobriu outro significado.

- Dar um nome a alguma coisa? - perguntou, sorrindo.

Janacek assentiu.

- Me escute, Dirk. Não falarei duas vezes. Lembro, quando eu ainda era criança em Jadeferro, da primeira vez que fui prevenido contra os quase-homens. Uma mulher, uma eyn-kethi, que você chamaria de minha mãe, embora essas distinções não tenham sentido no meu mundo, me contou a lenda. Mesmo assim, me contou de um jeito diferente. Os quase-homens contra os quais ela me preveniu não eram os demônios sobre os quais eu aprenderia mais tarde dos lábios dos altos-senhores. Eram apenas homens, ela disse, não títeres de outro mundo, nem parentes dos sugadores de almas. Mesmo assim eram transmorfos, de certo modo, porque não tinham formas reais. Eram homens nos quais não se podia confiar, homens que haviam esquecido seus códigos, homens sem laços. Não eram reais; eram uma ilusão da humanidade, sem substância. Entende? A substância da humanidade... um nome, um laço, uma promessa. Está dentro de nós, ainda que a usemos em nossos braços. Assim ela me disse. É por isso que os kavalarianos têm teyn, ela disse, e saem aos pares, porque... porque a ilusão pode endurecer até se tornar um fato, se você a ligar ao ferro.

- Um belo discurso, Garse - Dirk comentou quando o outro terminou. - Mas que efeitos têm a prata na alma de um quase-homem?

A raiva passou rapidamente pelo rosto de Janacek, como a sombra de uma tempestade. Então ele sorriu.

- Esqueci sua sabedoria kimdissiana - falou. - Outra coisa que aprendi na juventude foi a nunca discutir com um manipulador. - Deu uma gargalhada, estendeu o braço, pegou a mão de Dirk e a apertou com firmeza. - Basta. Nunca nos entenderemos completamente, ainda assim posso ser seu amigo, se você puder ser meu keth.

Dirk deu de ombros, sentindo-se estranhamente comovido.

- Tudo bem - concordou.

Mas Garse já estava pronto para partir. Soltou o braço de Dirk, tocou os controles do patinete e elevou-se a um metro de altura. Voltou-se para a água, avançando rapidamente, de um modo ligeiro e gracioso no ar. A luz do sol brilhava em seus longos cabelos ruivos, e suas roupas pareciam tremeluzir e mudar de cor. Na metade do rio, virou a cabeça para trás e gritou algo para Dirk, mas o barulho da correnteza levou suas palavras, e Dirk percebeu apenas o tom exultante e selvagem.

Observou até que Janacek chegasse ao outro lado do córrego, de algum modo cansado demais acompanhá-lo. Colocou a mão livre no bolso da jaqueta e tocou a jóia-sussurrante. Não parecia tão fria quanto antes, e as promessas - oh, Jenny - ressoavam debilmente.

Janacek sobrevoava as árvores amarelas, subindo em direção a um céu cinza e carmesim, sua silhueta diminuindo rapidamente. Exausto, Dirk o seguiu.

Janacek podia desdenhar os aeropatinetes, chamando-os de "brinquedos", mas sem dúvida sabia como usá-los. Logo estava bem distante de Dirk, aproveitando as correntes de vento para subir até chegar a quase vinte metros de altura da floresta. A distância entre os dois parecia aumentar progressivamente; ao contrário de Gwen, Janacek não estava disposto a parar e esperar que Dirk o alcançasse.

Dirk se contentou com o papel de perseguidor. O Jadeferro era fácil de ser visto - estavam sozinhos no céu lúgubre -, então não havia perigo de ficar perdido. Voou impulsionado pelos ventos escuralbinos novamente, aceitando o empurrão nas costas enquanto se abandonava a divagações sem objetivo. Mesmo desperto, teve estranhos sonhos com Jaan e Garse, com laços de ferro e jóias-sussurrantes, com Guinevere e Lancelote, os quais - percebeu repentinamente - também haviam quebrado suas promessas.

O rio desapareceu. Os tranqüilos lagos vieram e se foram, assim como a colônia de fungos brancos que formava uma crosta sobre o bosque. Dirk ouviu os latidos da matilha de Lorimaar uma vez, bem atrás dele, os ruídos trazidos pelo vento. Não se preocupou com isso.

Viraram para sul. Janacek era um pontinho negro, brilhando em tons de prata quando um raio de sol capturava a plataforma do aeropatinete. Ficava cada vez menor. Dirk ia atrás, um pássaro manco. Finalmente Janacek começou a fazer uma espiral para baixo, até o nível das copas das árvores.

Era uma região inóspita. Rochosa, em grande parte, com algumas colinas ondulantes e afloramentos de pedra negra com estrias de ouro e prata. Havia estranguladores por toda parte, estranguladores e mais estranguladores. Dirk olhava de um lado para o outro, procurando por uma única árvore-prata, por um viúvo azul, ou uma escura e sombria árvore fantasma. Um labirinto amarelo se estendia ininterruptamente, para todos os lados que sua vista alcançava. Dirk ouvia os barulhos frenéticos dos espectros arbóreos e os viu embaixo de seus pés, voando trechos curtos com suas pequenas asas. O ar ao redor de Dirk estremeceu com o grito de um banshee, e um arrepio cruzou sua espinha sem qualquer razão aparente. Olhou para cima rapidamente, ao longe, e viu um pulso de luz.

Breve e intenso, irritando seus olhos cansados, o repentino feixe de luz que apareceu em sua frente não pertencia a este lugar, não aqui, não a este mundo cinza e crepuscular. Não pertencia, mas estava ali. Irrompendo do bosque abaixo, o selvagem feixe de fogo logo se perdeu no céu.

Janacek era um pequeno boneco de trapo diante dele, perto da luz. O tênue fio escarlate o alcançou e passou por ele, tocando rápida e fugazmente a plataforma prateada. A imagem ficou congelada diante dos olhos de Dirk. Absurdamente, Janacek começou a cair, agitando os braços. Era como uma vara negra deslizando e desaparecendo entre os estranguladores, chocando-se contra os galhos entrelaçados.

Barulhos. Dirk ouviu barulhos. A música desse infinito vento de inverno. Madeira estalando, seguida de gritos de dor e raiva, animal e humano, humano e animal, ambos e nenhum deles. As torres de Kryne Lamiya fulguravam no horizonte, nebulosas e translúcidas, e cantavam um canto de morte.

Os gritos pararam repentinamente; as torres brancas se diluíram no ar, e o vento que empurrava Dirk varreu todos os pedaços para longe. Dirk mergulhou em direção ao bosque e empunhou o laser.

Havia um buraco escuro no topo da folhagem por onde Garse Janacek atravessara durante sua queda: galhos amarelos retorcidos e quebrados, uma cavidade grande o suficiente para o corpo de um homem. Escuridão. Dirk deu uma volta ao redor do buraco e não pôde ver Janacek no chão da floresta, de tão espessas que eram as sombras. Mas, no galho superior, viu um pedaço de tecido rasgado tremendo ao vento e mudando de cor. Em cima, um pequeno fantasma montava guarda solenemente.

- Garse! - gritou, sem se preocupar com o inimigo embaixo, o homem com o laser. Os espectros arbóreos responderam com um coro de chiados.

Ouviu ruído entre as árvores; a luz do laser cintilou novamente. Não para cima, desta vez, mas na horizontal, um impossível raio de sol na penumbra da floresta. Dirk voava em círculos, indeciso. Um espectro arbóreo apareceu no galho bem embaixo dele, estranhamente destemido, seus olhos líquidos encarando-o, as asas abertas tremendo ao vento. Dirk apontou o laser e disparou, até que a pequena criatura se reduziu a uma mancha escura na árvore amarela.

Então moveu-se novamente, circulando em espiral até que encontrou uma abertura entre os estranguladores, larga o suficiente para que pudesse descer. O chão da floresta era lúgubre; os estranguladores, completamente entrelaçados, deixavam passar apenas um décimo da fraca luz do Olho do Inferno. Imensos troncos erguiam-se por todos os lados, com galhos amarelos e disformes, rígidos e nodosos. Dirk se ajoelhou - o musgo espalhado pelo chão estava se decompondo - e soltou as botas da plataforma prateada. Então as sombras se abriram entre os estranguladores e Jaan Vikary apareceu. Dirk olhou para cima.

O rosto de Jaan estava marcado por linhas de expressão. Estava coberto com sangue e, nos braços, carregava um corpo flácido com o mesmo cuidado que uma mãe levaria o filho doente. Garse tinha um olho fechado e o outro estava faltando, arrancado com a metade do rosto. Sua cabeça descansava gentilmente contra o peito de Jaan.

-Jaan...

Vikary estremeceu.

- Atirei nele - disse. Tremendo, derrubou o corpo.

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