Capítulo Dezesseis


Bem cedo, na manhã em que o julgamento de Ashley Paterson estava previsto para começar, David foi ver Ashley no centro de detenção. Ela estava à beira de um ataque histérico.

- Eu não posso continuar com isso. Não posso! Quero que me deixem em paz.

- Ashley, vai ficar tudo bem. Nós vamos enfrentá-los e vamos vencer.

- Você não sabe... não sabe o que é isso. Eu me sinto como se estivesse num inferno!

- Nós vamos tirá-la disso. Estamos dando o primeiro passo.

Ela tremia.

- Estou com medo... com medo de que façam alguma coisa terrível comigo.

- Eu não vou deixar - falou David com firmeza. - Quero que você acredite em mim. E não se esqueça... você não é responsável pelo que aconteceu. Não fez nada de errado. Eles estão à nossa espera.

Ela respirou fundo.

- Tudo bem. Eu vou ficar bem. Vou ficar bem. Vou ficar bem.


Sentado na ala reservada aos espectadores, estava o Dr. Steven Paterson. Ele respondera à barreira de repórteres do lado de fora do tribunal com uma única declaração:

- Minha filha é inocente.

A várias fileiras de distância estavam Jesse e Emily Quiller, presentes para dar apoio moral.

Á mesa da promotoria, sentavam-se Mickey Brennan e duas assistentes, Susan Freeman e Eleanor Tucker.

Sandra e Ashley estavam sentadas à mesa dos réus, com David entre elas. As duas haviam se encontrado pela primeira vez na semana anterior.

- David, dá para olhar para Ashley e ver que ela é inocente.

- Sandra, dá para olhar para as provas que Ashley deixou em suas vítimas e ver que ela as matou. Mas matá-las e ser culpada são duas coisas diferentes. Agora, eu só tenho de convencer o júri.

A juíza Williams entrou no tribunal e se dirigiu à sua mesa. O oficial de justiça anunciou:

- Todos de pé. Está iniciada a sessão. Preside a meritíssima juíza Tessa Williams.

A juíza Williams falou:

- Podem se sentar. Este é o caso do Estado da Califórnia contra Ashley Paterson. Vamos começar - A juíza Williams olhou para Brennan. - O promotor gostaria de fazer uma declaração de abertura?

Mickey Brennan se levantou.

- Sim, meritíssima. - Ele se virou para o júri e se aproximou. - Bom dia! Como todos sabem, senhoras e senhores, a ré está sob julgamento, acusada de cometer três assassinatos hediondos. Os assassinos surgem sob vários disfarces. - Ele fez um gesto com a cabeça na direção de Ashley. - O dela é o de uma jovem moça inocente e vulnerável. Mas o estado há de provar-lhes, sem sombra de dúvida, que a ré, por vontade própria e em plena consciência, assassinou e mutilou três homens inocentes. Ela usou um nome fictício para cometer um desses assassinatos, na esperança de não ser descoberta. Sabia exatamente o que estava fazendo. Estamos falando de assassinato calculado a sangue-frio. à medida que for se desenrolando o julgamento, eu vou lhes mostrar todas as evidências, uma a uma que amarram este caso à ré que ali se encontra. Obrigado!

Ele voltou ao seu lugar.

A juíza Williams olhou para David.

- A defesa tem alguma declaração de abertura?

- Sim, meritíssima. - David se levantou de frente para o júri. Respirou profundamente. - Senhoras e senhores, no decurso deste julgamento, vou provar-lhes que Ashley Paterson não é responsável pelo que aconteceu. Ela não tinha motivo para praticar nenhum dos assassinatos, tampouco sabia deles. Minha cliente é uma vítima. uma vítima de DPM... distúrbio de personalidade múltipla, que lhes será explicado no decorrer deste julgamento - disse David.

Ele olhou de relance para a juíza Williams e falou com firmeza:

- O DPM é facto comprovado em termos médicos. Significa que há outras personalidades, ou alteres, que assumem o controle dos indivíduos e controlam suas acções. O DPM tem um histórico longo. Benjamin Rush, médico e signatário da Declaração de Independência, discutiu casos de DPM em suas palestras. Muitos incidentes de DPM foram registrados durante todo o século XIX e também durante este século, sendo os indivíduos subjugados pelos alteres.

Brennan estava escutando David, com um sorriso cínico estampado no rosto.

- Nós vamos provar-lhes que foi um alter que assumiu o comando e cometeu os assassinatos que Ashley Paterson não tinha razão absolutamente alguma para cometer. Nenhum motivo. Ela não tinha o controle do que estava acontecendo e, portanto, não é responsável pelo que aconteceu. Durante o curso deste julgamento, estarei trazendo eminentes médicos que irão explicar o DPM em maiores detalhes. Felizmente, trata-se de uma perturbação curável.

Ele olhou bem nos rostos dos jurados.

- Ashley Paterson não teve controle algum sobre o que fez, e em nome da justiça pedimos que Ashley Paterson não seja condenada por crimes sobre os quais não teve responsabilidade.

David voltou ao seu lugar

A juíza Williams olhou para Brennan.

- O estado está pronto para prosseguir?

Brennan se levantou.

- Sim, meritíssima. - Ele lançou um sorriso para suas assistentes e foi para a frente da bancada do júri. Brennan ficou ali parado um instante e, deliberadamente, soltou um sonoro arroto. Os jurados ficaram olhando para ele, surpresos. Brennan os fitou por um breve instante, como que intrigado, e em seguida a conturbação se dissipou de seu rosto.

- Ah, entendi. Vocês estavam esperando que eu pedisse desculpas. Ora, eu não pedi porque não fiz nada. Foi meu alter ego, Pete, quem fez.

David se levantou, furioso.

- Objeção. Meritíssima, é a coisa mais ultrajante...

- Mantida.

Mas o prejuízo já havia sido feito.

Brennan lançou um sorriso condescendente para David e voltou-se para o júri.

- Ora, eu acho que não há defesa igual desde o julgamento das bruxas de Salem, há trezentos anos! - Ele se virou de frente para Ashley - Eu não fiz nada. Não, senhor. O demónio me levou a fazer isso.

David se levantou novamente.

- Objeção, o...

- Indeferida.

David tornou a se sentar, com violência.

Brennan deu um passo mais para perto da bancada dos jurados.

- Eu lhes prometi que iria provar que a ré, por vontade própria e em plena consciência, assassinou e mutilou três homens inocentes: Dennis Tibble, Richard Melton e o delegado Samuel Blake. Três homens! Apesar do que diz a defesa - ele se virou e tornou a apontar para Ashley -, só há uma ré ali sentada, e foi ela quem cometeu os assassinatos. Como foi que o Sr. Singer chamou? Distúrbio de personalidade múltipla? Ora, eu vou trazer alguns renomeados médicos que lhes dirão, sob juramento, que isso não existe! Mas, primeiramente, vamos escutar alguns especialistas que vão associar a ré aos crimes.

Brennan se virou para a juíza Williams.

- Eu gostaria de chamar a minha primeira testemunha, o agente especial Vincent Jordan.

Um homem baixo e calvo se levantou e foi até o banco das testemunhas.

O oficial de justiça disse:

- Queira dizer o seu nome completo e soletre-o para que seja registrado.

- Agente especial Vincent Jordan, J-o-r-d-a-n.

Brennan aguardou até que ele prestasse o juramento e se sentasse.

- O senhor trabalha para o FBI em Washington, D. C.?

- Sim, senhor.

- E o que faz para o FBI, agente especial Jordan?

- Sou o encarregado do setor de impressões digitais.

- Há quanto tempo trabalha nesse sector?

- Quinze anos.

- Quinze anos. Em todo esse tempo o senhor alguma vez deparou com um conjunto de impressões digitais repetidas em pessoas diferentes?

- Não, senhor.

- Quantos conjuntos de impressões digitais constam atualmente nos arquivos do FBI?

- Na última contagem, pouco mais de duzentos e cinquenta milhões, mas nós recebemos mais de trinta e quatro mil novos cartões de impressões digitais por dia.

- E nenhum desses conjuntos é igual a qualquer dos demais?

- Não, senhor.

- Como é que se identifica uma impressão digital?

- Nós usamos sete padrões diferentes para fazer a identificação. As impressões digitais são exclusivas. São formadas antes do nascimento e acompanham a pessoa durante toda a sua vida. Salvo mutilações acidentais ou intencionais, não há dois padrões absolutamente iguais.

- Agente especial Jordan, o seu setor recebeu as impressões digitais encontradas junto às três vítimas que a ré está sendo acusada de ter matado?

- Sim, senhor. Foi isso mesmo.

- E também recebeu as impressões digitais da acusada Ashley Paterson?

- Correto.

- O senhor examinou pessoalmente essas impressões?

- Examinei, sim.

- E a que conclusão o senhor chegou?

- Que as impressões deixadas nas cenas dos crimes e aquelas tiradas de Ashley Paterson eram idênticas.

Um vozerio irrompeu dentro do tribunal.

- Ordem! Ordem!

Brennan aguardou até que o tribunal voltasse ao silêncio.

- Eram idênticas? Há alguma dúvida em sua mente, agente Jordan? Poderia ter havido algum engano?

- Não, senhor. Todas as impressões estavam claras e facilmente identificáveis.

- Só para esclarecer isto... Estamos falando das impressões digitais deixadas nas cenas dos assassinatos de Dennis Tibble, Richard Melton e do delegado Samuel Blake?

- Sim, senhor.

- E as impressões digitais da ré, Ashley Paterson, foram encontradas em todas as cenas dos crimes?

- Correto.

- E qual seria, na sua opinião, a margem de erro?

- Nenhuma.

- Obrigado, agente Jordan! - Brennan se virou para David Singer - A testemunha é sua.

David ficou sentado um instante, em seguida se levantou e caminhou até o banco das testemunhas.

- Agente Jordan, ao examinar impressões digitais, o senhor às vezes percebe que algumas foram deliberadamente borradas ou por qualquer artifício desfiguradas, de modo a que o assassino pudesse ocultar o crime?

- Percebo, sim. Mas normalmente nós conseguimos corrigi-las usando técnicas de laser de alta intensidade.

- O senhor teve de fazer isso no caso de Ashley Paterson?

- Não.

- Por quê?

- Ora, conforme eu disse... As impressões digitais estavam bastante claras.

David lançou um breve olhar para o júri.

- Então, o que o senhor está dizendo é que a ré não tentou disfarçar suas impressões digitais?

- Correto.

- Obrigado! Não tenho mais perguntas a fazer. - Ele se virou para o júri. - Ashley Paterson não tentou ocultar suas impressões porque era inocente e...

A juíza Willias interveio:

- Já basta, Sr. Singer. O senhor poderá fazer o seu arrazoado do caso mais tarde.

David retomou o seu lugar.

Brennan se virou para o agente especial Jordan.

- O senhor está dispensado.

O agente do FBI desceu do banco das testemunhas.

- Eu gostaria de chamar, como minha próxima testemunha, Staneley Clarke - disse Brennan. Um rapaz de cabelos compridos foi conduzido ao tribunal. Ele se aproximou do banco das testemunhas. O salão ficou em silêncio, enquanto o jovem prestava juramento e tomava o seu assento.

- Sr. Clarke, qual é a sua atividade profissional? - perguntou Brennan.

- Eu trabalho no Laboratório Nacional de Biotecnologia, com o ácido desoxirnbonucléico.

- Mais conhecido por nós, leigos, como DNA?

- Correto.

- Há quanto tempo trabalha no Laboratório Nacional de Biotecnologia?

- Sete anos.

- E que cargo ocupa?

- Sou supervisor.

- Então, nestes sete anos, eu presumo que o senhor tenha bastante experiência nos testes de DNA?

- Sem dúvida. É o que faço todos os dias.

Brennan olhou de relance para o júri.

- Acho que todos estamos familiarizados com a importância do DNA. - Ele apontou para os espectadores. - O senhor diria que pelo menos meia dúzia das pessoas aqui presentes têm DNA idêntico?

- De forma alguma! Se pegássemos um perfil das espirais do DNA e o designássemos a uma frequência baseada em bancos de dados coletados, somente um em cada quinhentos bilhões de caucasianos sem qualquer grau de parentesco teria o mesmo perfil de DNA.

Brennan mostrou-se impressionado.

- É um em quinhentos bilhões! Sr. Clarke, de que forma obtém DNA de uma cena de crime?

- Várias. Encontramos DNA na saliva, no sémen, nas secreções vaginais, no sangue, nos fios de cabelo, nos dentes, na medula óssea...

- E de qualquer um desses itens o senhor pode relacionar o DNA a uma pessoa específica?

- Correto.

- O senhor comparou pessoalmente as amostras de DNA nos assassinatos de Dennis Tibble, Richard Melton e Samuel David Blake?

- Comparei.

- E foi ao senhor que mais tarde deram os fios de cabelo da ré, Ashley Paterson?

- Sim.

- Ao comparar as amostras de DNA das várias cenas dos crimes com aquelas obtidas a partir dos fios de cabelo da ré, a que conclusão o senhor chegou?

- Eram idênticas.

Desta vez, a reação dos espectadores foi ainda mais barulhenta.

A juíza Williams bateu com o martelo sobre a mesa.

- Ordem! Silêncio, senão mandarei esvaziar o recinto!

Brennan aguardou até que o ambiente ficasse em silêncio.

- Sr. Clarke, de acordo com sua declaração o DNA obtido em cada uma das três cenas dos crimes e o DNA da acusada eram idênticos, certo?

- Sim, senhor.

Brennan olhou de relance para a mesa onde Ashley estava sentada e voltou-se para a testemunha.

- E quanto à contaminação? Todos conhecemos o famoso julgamento de um crime em que as amostras de DNA estavam supostamente contaminadas. As amostras neste caso poderiam ter sido inadequadamente manuseadas, de forma que não fossem mais válidas ou...?

- Não, senhor. As amostras de DNA nestes casos de assassinato foram cuidadosamente manuseadas e lacradas.

- Então, não resta dúvida quanto a isto. A ré assassinou os três...?

David se levantou.

- Objeção, meritíssima. O promotor está conduzindo a testemunha e...

- Mantida.

David voltou a sentar-se.

- Obrigado, Sr. Clarke! - Brennan se virou para David. - Nada mais.

- A testemunha é sua, Sr. Singer - disse a juíza Williams.

- Não tenho perguntas.

Os jurados estavam de olhos pregados em David.

Brennan mostrou-se surpreso.

- Não tem perguntas? - Ele se dirigiu à testemunha. - O senhor pode ir.

Brennan olhou para os jurados e falou:

- Fico impressionado de ver que a defesa não esteja questionando as evidências, pois elas provam, acima de qualquer suspeita, que a ré assassinou e castrou três homens inocentes e...

David se levantou.

- Meritíssima...

- Objeção acatada. O senhor está ultrapassando os limites Sr. Brennan!

- Queira me desculpar, meritíssima! Não tenho mais perguntas a fazer.

Ashley estava olhando para David, assustada.

- Não se preocupe - sussurrou ele. - Logo vai chegar a nossa vez.


A tarde consistiu em mais testemunhas para a promotoria, e os depoimentos foram devastadores.

- O sindico do prédio o chamou ao apartamento de Dennis Tibble, policia Lightman?

- Chamou.

- O senhor poderia nos relatar o que encontrou lá?

- uma coisa horrível! Havia sangue por todo lado.

- Em que condições estava a vítima?

- O homem tinha sido morto a facadas e castrado.

Brennan olhou para o júri de relance, uma expressão de horror estampada em seu rosto.

- Morto a facadas e castrado. O senhor encontrou alguma evidência na cena do crime?

- Ah, encontrei, sim. A vítima tinha praticado sexo antes de morrer. Encontramos secreções vaginais e impressões digitais.

- Por que o senhor não prendeu ninguém de imediato?

- As impressões digitais que encontramos não coincidiam com qualquer uma das outras que tínhamos em nossos arquivos. Ficamos aguardando amostras que combinassem com as que tínhamos.

- Mas quando finalmente obtiveram as impressões digitais e o DNA de Ashley Paterson, tudo se encaixou?

- Exato. Tudo se encaixou.


O Dr. Steven Paterson foi ao julgamento todos os dias. Ficou sentado na secção reservada ao público espectador, logo atrás da mesa da ré. Sempre que entrava ou saía do recinto, era cercado por repórteres.

- Dr. Paterson, o que está achando do andamento do processo?

- Está indo muito bem.

- O que acha que vai acontecer?

- Minha filha será considerada inocente.


Num certo fim de tarde, quando voltaram para o hotel, David e Sandra encontraram um recado deixado para eles.

- Favor telefonar para o Sr. Kwong no seu banco.

David e Sandra se entreolharam.

- Será que já chegou a hora de pagarmos a próxima prestação? - perguntou Sandra.

- É isso mesmo. O tempo voa quando a gente está se divertindo - disse ele, secamente. E ficou pensativo por um momento. - O julgamento vai acabar em breve, querida. Ainda temos o suficiente em nossa conta corrente para o pagamento deste mês.

Sandra olhou para ele, preocupada.

- David, se não pudermos quitar todas as prestações... perderemos tudo que já pagamos?

- Perderemos, sim. Mas não se preocupe. Sempre acontecem coisas boas para as pessoas boas.

E ele pensou em Helen Woodman.


Brian Hill estava sentado no banco das testemunhas, logo depois de ter prestado o seu juramento. Mickey Brennan deu-lhe um sorriso simpático.

- Poderia nos dizer o que faz, Sr. Hill?

- Certamente. Sou o guarda do museu De Young, em São Francisco.

- Deve ser um emprego interessante!

- É, sim, quando se gosta de arte. Eu sou um pintor frustrado.

- Há quanto tempo trabalha lá?

- Quatro anos.

- Muitos dos visitantes do museu costumam ser as mesmas pessoas? Ou seja, tem gente que volta diversas vezes?

- Ah, sim. Tem gente que volta sempre.

- Então, eu suponho que, decorrido um certo período de tempo, essas pessoas passem a ser conhecidas suas, ou pelo menos tornem-se rostos conhecidos?

- É verdade.

- E eu fui informado de que muitos artistas têm permissão para ficar copiando alguns dos quadros do museu.

- Exacto. Nós recebemos a visita de muitos artistas.

- Chegou a conhecer algum deles, Sr. Hill?

- Cheguei. A gente se torna meio amigo depois de um certo tempo.

- O senhor conheceu um homem chamado Richard Melton?

Brian Hill soltou um suspiro.

- Conheci. Ele era muito talentoso.

- Tão talentoso, na verdade, que o senhor chegou a pedir que ele lhe ensinasse a pintar?

- Correcto.

David se levantou.

- Meritíssima, isto é fascinante, mas eu não percebo em que tenha a ver com o julgamento. Se o Sr. Brennan...

- É relevante, meritíssima. Eu estou deixando claro que o Sr. Hill podia identificar a vítima pela fisionomia e pelo nome, bem como nos dizer na companhia de quem a vítima costumava andar.

- Objeção rejeitada. Pode prosseguir.

- E ele chegou a lhe dar aulas de pintura?

- Chegou, sim. Sempre que tinha tempo!

- Quando Richard Melton estava no museu, o senhor alguma vez o viu na companhia de mulheres jovens?

- No começo, não. Mas depois de um tempo, ele conheceu uma moça por quem se interessou, e eu cheguei a vê-los juntos algumas vezes.

- Qual era o nome dela?

- Alette Peters.

Brennan mostrou-se intrigado.

- Alette Peters? Tem certeza de que o nome está correcto?

- Tenho. Foi assim que ele a apresentou.

- Por acaso, o senhor não a está vendo dentro deste recinto agora, Sr. Hill?

- Estou. - Ele apontou para Ashley - aquela moça sentada ali.

- Mas aquela não é Alette Peters. a ré, Ashley Paterson. - disse Brennan.

David se levantou.

- Meritíssima, já dissemos que Alette Peters é parte deste julgamento. Ela é um dos alteres que controla Ashley Paterson e...

- Está se adiantando, Sr. Singer. Sr. Brennan, queira prosseguir.

- Agora, Sr. Hill, tem certeza de que a ré, que aqui está sob o nome de Ashley Paterson, era conhecida de Richard Melton como Alette Peters?

- Tenho.

- E não há dúvida de que esta aqui é a mesma mulher?

Brian Hill hesitou.

- Bem... é. a mesma mulher.

- E o senhor a viu com Richard Melton no dia em que ele foi assassinado?

- Vi, sim.

- Obrigado! - Brennan se virou para David. - A testemunha é sua.

David se levantou e andou devagar até o banco das testemunhas.

- Sr. Hill, eu suponho que seja uma grande responsabilidade trabalhar como guarda de um lugar onde tantas centenas de milhões de dólares em obras de arte estão expostas.

- Sem dúvida, senhor , sim.

- E para ser um bom guarda, o senhor precisa estar alerta o tempo todo.

- Correcto.

- Precisa estar ciente do que acontece o tempo todo.

- Pode apostar.

- O senhor se diria um observador treinado, Sr. Hill?

- Decerto.

- Faço esta pergunta porque percebi que quando o Sr. Brennan lhe perguntou se restava alguma dúvida se Ashley Paterson era a mulher que estava com Richard Melton, o senhor hesitou um pouco. Restava alguma dúvida?

Houve uma pausa momentânea.

- Bem, é que ela realmente parece ser a mesma mulher, mas, ao mesmo tempo, parece diferente.

- De que maneira, Sr. Hill?

- Alette Peters tinha um jeito mais italiano de ser, falava com sotaque italiano... e parecia mais jovem do que a ré.

- O senhor está perfeitamente correcto, Sr. Hill. A pessoa que viu em São Francisco era um alter de Ashley Paterson. Ela nasceu em Roma, era oito anos mais jovem...

Brennan se levantou, furioso.

- Objeção.

David se virou para a juíza Williams.

- Meritíssima, eu estava...

- Queiram os advogados se aproximar da mesa deste juízo, por favor - David e Brennan caminharam para perto da juíza Williams. - Eu não quero ter de lhe dizer isto outra vez, Sr. Singer. A defesa terá a sua chance, depois que a promotoria encerrar a sua parte. Até então, o senhor está impedido de fazer o arrazoado do seu caso.


Bemice Jenkins estava no banco das testemunhas.

- Poderia nos informar a sua profissão, Senhorita Jenkins?

- Eu sou garçonete.

- E onde trabalha?

- No café do museu De Young.

- Qual era o seu relacionamento com Richard Melton?

- Éramos bons amigos.

- A senhorita poderia dar mais detalhes disso?

- Nós chegamos a ter um breve romance, mas a coisa esfriou logo. Isso acontece.

- Certamente que sim. E depois?

- Depois, nós ficamos como irmãos. Quero dizer, eu... eu lhe falava dos meus problemas, e ele me falava dos dele.

- Ele alguma vez comentou sobre a ré com a senhorita?

- Bem, comentar, ele comentou. Mas ela se apresentava por um nome diferente.

- E que nome era esse?

- Alette Peters.

- Mas ele sabia que o nome dela era Ashley Paterson?

- Não. Ele achava que o nome dela era Alette Peters.

- A senhorita quer dizer que ela o enganava?

David se levantou de um pulo.

- Objeção.

- Mantida. Pare de conduzir a testemunha, Sr. Brennan.

- Desculpe-me, meritíssima! - Brennan voltou-se para o banco das testemunhas. - Ele lhe falou sobre essa Alette Peters, mas a senhorita chegou a ver os dois juntos?

- Cheguei, sim. Ele a levou ao restaurante um dia e nos apresentou.

- E a senhorita está falando da ré, Ashley Paterson?

- Estou. Só que ela se chamava Alette Peters.


Gary King estava no banco das testemunhas.

- O senhor compartilhava o apartamento com Richard Melton? - perguntou Brennan.

- Correcto.

- E eram amigos? O senhor saía socialmente na companhia dele?

- Claro. Costumávamos sair com nossas acompanhantes.

- O Sr. Melton estava interessado em alguma jovem em particular?

- Estava.

- O senhor sabe o nome dela?

- Ela se chamava Alette Peters.

- O senhor a está vendo dentro deste recinto?

- Estou. Ela está sentada ali.

- Para constar nos autos, o senhor está apontando para a ré, Ashley Paterson?

- Correcto.

- Quando chegou em casa na noite do assassinato, o senhor encontrou o corpo de Richard Melton dentro do apartamento?

- Encontrei, sim.

- Em que condições estava o corpo?

- Ensanguentado.

- O corpo fora castrado?

Ele estremeceu.

- Fora. Que coisa horrível!

Brennan olhou para o júri a fim de ver a reacção. Foi exactamente a que estava esperando.

- O que fez em seguida, Sr. King?

- Chamei a polícia.

- Obrigado! - Brennan se virou para David. - A testemunha é sua.

David se levantou e se aproximou de Gary King.

- Fale-nos de Richard Melton. Que tipo de homem ele era?

- Era uma pessoa óptima.

- Ele gostava de discutir? Gostava de se envolver em brigas?

- Richard? Não. Pelo contrário. Era muito tranquilo, na dele.

- Mas gostava de estar próximo a mulheres duronas, do tipo atlético?

Gary estava olhando para ele de uma forma estranha.

- De forma alguma. Richard gostava de mulheres do mesmo temperamento dele.

- Ele e Alette brigavam muito? Ela gritava muito com ele?

Gary ficou intrigado.

- O senhor está absolutamente errado. Eles jamais gritaram um com o outro. Era óptimo quando estavam juntos.

- O senhor chegou a ver algo que pudesse levá-lo a crer que Alette Peters faria alguma perversidade...?

- Objeção. Ele está conduzindo a testemunha.

- Mantida.

- Não tenho mais perguntas a fazer - falou David.

Quando se sentou, David disse para Ashley:

- Não se preocupe. Eles estão consubstanciando os nossos argumentos.

Ele soou mais confiante do que de facto se sentia.


David e Sandra estavam jantando no San Fresco, o restaurante do Wyndham Hotel, quando o maitre veio falar com ele.

- Telefonema urgente para o senhor.

- Obrigado! - David disse para Sandra: - Volto já.

Ele acompanhou o maitre até o aparelho.

- Aqui é David Singer.

- David! Jesse. Vá para o seu quarto e ligue de volta para mim. O telhado está desabando!

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