Nota final
Mais chocante do que algumas das revelações feitas
neste romance é o facto de nada do que ele contém ser
realmente novo. Nada. Tudo o que aqui está resulta do
labor crítico dos historiadores. A aplicação do método
de análise histórica aos textos bíblicos recua, de
resto, ao século XVIII e ao longo do tempo foi
produzindo resultados surpreendentes neste campo.
O Jesus histórico que emergiu destes estudos revelou-se
bem diferente da construção divinizada que nos é
apresentada na catequese, nas missas e nos textos
religiosos.
Em momento algum foi minha intenção desrespeitar ou
ofender qualquer crente desta grande religião que é o
cristianismo, a maior do planeta. Mas é esta religião
que funda a nossa moral. Podemos nem nos aperceber, mas
o cristianismo encontra-se por detrás da nossa noção do
bem e do mal, do correcto e do incorrecto, do caminho
justo e do caminho corrupto. Mesmo que não tenhamos
noção disso, estamos impregnados de cristianismo e da
sua ética.
Parece-me, por isso, importante que conheçamos melhor
esta religião. Quem era realmente o seu fundador? O que
defendia? Tratava-se de um mero homem ou de um deus? Se
por acaso voltasse à Terra, seria louvado como o
Messias ou denunciado como um herege? Que afinidade
teria Jesus com a religião que hoje se pratica em seu
nome?
As respostas foram-nos sendo dadas ao longo dos anos
por múltiplos estudos de análise histórica do Novo
Testamento. Foi neles que me baseei para escrever este
romance. O trabalho pioneiro pertenceu a Hermann
Reimarus, autor de Von dem Zwecke Jesu und seiner
Jünger, livro publicado em 1778 e que inaugurou um
período prolífico liderado pela historiografia alemã.
Entre as obras mais importantes, que consultei na sua
tradução inglesa, contam-se os clássicos The Quest of
the Historical Jesus, de Albert Schweitzer; The
Formation of the Christian Bible, de Hans von Campe-
nhausen;
e
Orthodoxy
and
Heresy
in
Earliest
Christianity, de Walter Bauer.
Entre os historiadores contemporâneos, os mais
importantes são E. P. Sanders, que escreveu The
Historical Figure of Jesus e Jesus and Judaism, e
sobretudo Bart Ehrman, autor de vários trabalhos, como
Misquoting Jesus — The Story Behind Who Changed the
Bible and How; Jesus, Interrupted — Revealing the
Hidden Contradictions in the Bible; Lost Christianities
— The Battles for Scripture and the Faiths We Never
Knew; Lost Scriptures — Books That Did Not Make It into
the New Testament, e Jesus — Apocaliptic Prophet of the
New Millennium.
Outras obras de referência em que se sustenta este
romance são The Canon of the New Testament — Its
Origin,
Development,
and
Significance,
de
Bruce
Metzger; The Text of the New Testament — Its
Transmission, Corruption,and Restorations, de Bruce
Metzger e Bart Ehrman; The Evolution of God, de Robert
Wright; Who Wrote the New Testament — The Making of the
Christian Myth, de Burton Mack; Jesus Was Not a
Trinitarian — A Call to Return to the Creed of Jesus,
de Anthony Buzzard; The Misunderstood Jew — The Church
and the Scandal of the Jewish Jesus, de Amy-Jill
Levine; e The Historical Jesus in Context, uma vasta
colecção de textos editada por Amy-Jill Levine, Dale
Allison e John Dominic Crossan.
Entre as obras apologéticas,
destaque para The
Historical Reliability of the Gospels, de Craig
Blomberg; Reinventing Jesus — How Contemporary Skeptics
Miss the Real Jesus and Mislead Popular Culture, de Ed
Komoszewski, James Sawyer e Daniel Wallace; Fabricating
Jesus — How Modern Scholars Distort the Gospels, de
Craig Evans; e Misquoting Truth — A Guide to the
Fallacies of Bart Ehrman’s Misquoting Jesus, de Timothy
Paul Jones.
Como fontes para as citações bíblicas recorri à Bíblia
Sagrada, edição lançada pela Verbo em 1986 para
comemorar a visita do papa João Paulo II a Portugal
nesse ano, e baseada nas melhores traduções dos mais
antigos manuscritos em grego ao dispor do Vaticano.
Toda a informação relativa ao processo de clonagem,
incluindo clonagem humana, é igualmente verdadeira e
encontra-se disponível em toda a literatura científica
relacionada com o assunto.
O sepulcro de Talpiot existe e tem a história e as
características explicadas no romance. O ossário
marcado com o nome de Iehoshua bar Yehosef, ou Jesus,
filho de José, está guardado no armazém de Bet Shemesh,
pertencente à Autoridade das Antiguidades de Israel,
juntamente com os restantes ossários de Talpiot, como
os de Marya, Mariamnueta Mara, Yebuda bar Yehoshua,
Matya e Yose. Está igualmente estabelecido em processo
judicial que o ossário de Ya’akov bar Yehosef akbui di
Yesbua não é forjado, embora não haja certeza de que
pertença efectivamente ao lote de Talpiot.
O único elemento ficcional no que à parte genética diz
respeito é a descoberta de dois núcleos com ADN no
ossário de Jesus. Na verdade foi detectado ADN
mitocondrial
nesse
ossário
com
características
partilhadas pelas populações do Médio Oriente, mas esse
material genético não pode ser usado para clonagem.
Porém, e embora sejam difíceis de encontrar, a verdade
é que nem sequer foram procurados de forma sustentada
núcleos com ADN e a maior parte do ossário permanece
por explorar do ponto de vista da análise genética.
A informação relativa ao sepulcro de Talpiot e aos os-
sários nele identificados encontra-se em The Jesus
Family Tomb — The Evidence Behind the Discovery No One
Wanted to Find, de Simcha Jacobovici e Charles
Pellegrino. Poderá também ser encontrada informação
relevante sobre esta descoberta em The Jesus Tomb — Is
It Fact or Fiction? Scholars Chime In, de Don Sausa.
Outras fontes foram as notícias saídas na imprensa com
o veredicto do julgamento da autenticidade do ossário
de Tiago, filho de José, irmão de Jesus, segundo as
quais o juiz determinou que não ficou provada qualquer
fraude.
Agradecimentos são devidos ao professor Carney Mathe-
son, pelas elucidações que me prestou a propósito dos
testes de ADN que efectuou às amostras dos ossários de
Talpiot no laboratório de Paleo-ADN da Universidade
Lakehead, no Canadá; e a Miguel Seabra, professor
catedrático de Biologia Celular e Molecular da
Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa e revisor científico do
romance. Agradecimentos igualmente a Eliezer Shai di
Martino, rabino de Lisboa, e a Teresa Toldy, mestre em
Teologia pela Universidade Católica Portuguesa e
doutorada em Teologia na Alemanha pela Philosophisch-
theologische Hochschule Sankt-Georgen, ambos revisores
editoriais do romance. Todos me ajudaram a garantir o
rigor
da
informação,
histórica,
científica
e/ou
teológica que consta deste romance, embora naturalmente
nenhum seja responsável pelas teses defendidas pelos
personagens.
Obrigado ainda a Fernando Ventura e a Diogo Madredeus,
que me auxiliaram a navegar pelos labirintos do
Vaticano; a Irit Doron, minha dedicada guia pela
Galileia, Qumran e Jerusalém; e também a Ehud Gol,
embaixador de Israel em Lisboa, e a Suzan Klagesbrun,
do ministério israelita do Turismo, pelas portas que me
ajudaram a abrir em Israel. Um agradecimento igualmente
a todas as minhas editoras pelo mundo fora, pelo seu
empenho e dedicação. Por fim, uma palavra especial de
reconhecimento aos muitos leitores que me seguem a cada
aventura.
O último agradecimento vai para a Florbela, sempre a
primeira leitora.