CAPÍTULO SEIS
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Minhas mãos estão em seu cabelo, e minha boca febril devora a dele, saboreando a sensação de sua língua na minha. E ele faz o mesmo, devorando-me. É divino.
De repente, ele ergue o meu corpo e agarra a barra da minha camiseta, puxando-a sobre a minha cabeça e jogando-a no chão.
— Quero sentir você — diz avidamente contra a minha boca enquanto suas mãos movem-se atrás de mim para abrir meu sutiã. Num movimento rápido, o sutiã solta, e ele o joga para o lado.
Ele me empurra de volta na cama, pressionando-me contra o colchão, a boca e a mão correndo até meus seios. Meus dedos se enroscam em seu cabelo quando ele alcança um de meus mamilos com os lábios e o puxa com força. Grito bem alto à medida que a sensação percorre meu corpo, atingindo e enrijecendo todos os músculos ao redor da virilha.
— Isso, baby, quero ouvir você — murmura ele em minha pele superaquecida.
Nossa, quero ele dentro de mim, agora. Sua boca brinca com meu mamilo, puxando-o, fazendo-me contorcer e ansiar por ele. Sinto seu desejo misturado com... o quê? Veneração. É como se ele estivesse me adorando.
Ele me provoca com os dedos, meu mamilo crescendo e endurecendo sob seu toque habilidoso. Sua mão desce até minha calça jeans, e ele abre o botão com habilidade, puxando o zíper para baixo e deslizando a mão para dentro de minha calcinha, os dedos contra meu sexo.
Sua respiração fica ofegante quando ele enfia o dedo em mim. Empurro a pélvis para cima, para junto da palma da mão dele, e ele responde, esfregando-a em mim.
— Ah, baby — ofega ele pairando em cima de mim, os olhos vidrados nos meus. — Você está tão molhada — sua voz é cheia de admiração.
— Quero você — murmuro.
Sua boca se junta novamente à minha, e sinto seu desespero faminto, sua necessidade de mim.
Isso é novidade — nunca foi desse jeito, exceto talvez quando voltei da Geórgia — e suas palavras de hoje mais cedo me vêm à cabeça... Preciso saber que estamos bem. E esse é o único jeito que conheço para descobrir.
O pensamento me ilumina. Saber que tenho esse efeito sobre ele, que posso lhe oferecer tanto conforto ao fazer isso... Ele se senta, agarra a parte de baixo da minha calça jeans e a puxa, tirando depois minha calcinha.
Mantendo os olhos fixos nos meus, ele se levanta, saca um envelopinho de papel laminado do bolso e o joga para mim, em seguida, tira a calça jeans e a cueca num movimento rápido.
Rasgo o pacote com voracidade, e quando ele se deita ao meu lado de novo, coloco a camisinha nele. Ele pega minhas mãos e gira o corpo, deitando-se de costas.
— Você. Em cima — ordena, montando-me sobre si. — Quero olhar para você.
Ah.
Ele conduz meu corpo, e, hesitante, solto o peso em cima dele. Christian fecha os olhos e flexiona os quadris ao encontro dos meus, preenchendo-me, abrindo-me, sua boca formando um O perfeito ao soltar o ar.
Ah, isso é tão bom — eu possuindo-o, ele me possuindo.
Ele segura minhas mãos, e não sei se é para me dar apoio ou para evitar que eu o toque, mesmo que eu já tenha meu mapa.
— Você é uma delícia — murmura.
Eu me levanto de novo, inebriada com o poder que tenho sobre ele, observando Christian Grey lentamente desfazer-se embaixo de mim. Ele solta minhas mãos e agarra meus quadris, e coloco as mãos em seus braços. Ele investe com força dentro de mim, fazendo-me gritar.
— Isso, baby, sinta-me — diz, a voz tensa.
E é exatamente isso o que eu faço, jogando a cabeça para trás. Ele faz isso tão bem.
Eu me mexo — contrapondo o ritmo dele em perfeita simetria —, entorpecendo todos os meus pensamentos e minha razão. Sou só sensação, perdida nesse vazio de prazer. Para cima e para baixo... de novo e de novo... Ah, sim... Abro os olhos e o encaro, a respiração ofegante, e ele está me encarando também, os olhos reluzentes.
— Minha Ana — gesticula com os lábios.
— Sim — digo, rouca. — Sempre.
Ele geme alto, fechando de novo os olhos, jogando a cabeça para trás. Ver Christian atingindo o clímax é o suficiente, e gozo de forma barulhenta, exaustiva, desmoronando sobre ele.
— Ah, baby — geme ele, chegando ao orgasmo e deixando-se levar.
* * *
MINHA CABEÇA ESTÁ em seu peito, na área proibida, minha bochecha aninhada nos pelos enrolados. Estou ofegante, radiante, e resisto à vontade de beijá-lo.
Fico ali, deitada em cima dele, recuperando o fôlego. Ele alisa meu cabelo, e sua mão desliza ao longo de minhas costas, acariciando-me enquanto sua respiração se acalma.
— Você é tão linda.
Ergo a cabeça para olhar para ele, com a expressão cética. Ele franze a testa em resposta e se senta depressa, pegando-me de surpresa, o braço correndo ao redor de mim, para me manter no lugar. Ficamos cara a cara, e eu aperto seu bíceps.
— Você. É. Linda — diz ele novamente, num tom enfático.
— E você é incrivelmente gentil, às vezes. — Eu o beijo suavemente.
Ele me levanta e sai de dentro de mim. Eu estremeço. Inclinando-se para a frente, ele me beija com ternura.
— Você não tem ideia de como é atraente, tem?
Fico vermelha. O que ele quer com isso agora?
— Todos aqueles caras atrás de você... isso não lhe dava nenhuma pista?
— Caras? Que caras?
— Você quer a lista? — Christian faz uma careta. — O fotógrafo, ele é louco por você; aquele sujeito da loja de ferragens; o irmão mais velho da sua amiga com quem você divide o apartamento. Seu chefe — acrescenta ele amargamente.
— Ah, Christian, não é verdade.
— Pode acreditar. Eles querem você. Eles querem o que é meu. — Ele me puxa para si, e eu levo os braços até seus ombros, minhas mãos em seu cabelo, observando-o, deliciada. — Minha — repete, os olhos brilhando, possessivos.
— Sim, sua — tranquilizo-o, sorrindo.
Ele relaxa, e me sinto perfeitamente à vontade, nua em seu colo, em plena luz do dia, num sábado à tarde. Quem poderia imaginar? As marcas de batom permanecem em seu belo corpo. Reparo, no entanto, que há algumas manchas no edredom, e me pergunto brevemente o que a Sra. Jones vai fazer com elas.
— A linha ainda está intacta — murmuro e, corajosamente, sigo o trajeto em seu ombro com o indicador. Ele se enrijece, piscando de repente. — Quero explorar.
Ele me olha, cético.
— O apartamento?
— Não. Eu estava pensando no mapa do tesouro que desenhamos em você. — Meus dedos coçam de vontade de tocá-lo.
Ele ergue as sobrancelhas, surpreso e indeciso, piscando para mim. Esfrego o nariz no dele.
— E o que isso envolveria exatamente, Srta. Steele?
Retiro a mão de seu ombro e corro meus dedos por seu rosto.
— Só quero tocar você em todos os lugares em que estou autorizada.
Christian pega meu indicador com os dentes, mordendo de leve.
— Ai — protesto, e ele sorri, um rosnado baixo vindo da garganta.
— Tudo bem — diz, soltando meu dedo, mas sua voz está repleta de apreensão. — Espere. — Ele se inclina para trás, levantando-me novamente, e retira a camisinha, deixando-a, sem a menor cerimônia, no chão ao lado da cama. — Odeio essas coisas. Estou pensando em chamar a Dra. Greene para dar uma injeção em você.
— E você acha que é só chamar, que a obstetra e ginecologista mais famosa de Seattle vai vir correndo?
— Posso ser muito persuasivo — murmura ele, colocando meu cabelo atrás da orelha. — Franco fez um ótimo trabalho. Gostei dessas camadas.
O quê?
— Pare de mudar de assunto.
Ele me puxa de volta, de modo que fico sentada sobre ele, recostada em seus joelhos erguidos, um pé de cada lado de seus quadris. Ele se reclina para trás, sobre os braços.
— Pode tocar à vontade — diz, sério. Parece nervoso, mas está tentando esconder.
Mantendo meus olhos fixos nos dele, ergo a mão e corro o dedo logo abaixo da linha de batom, ao longo de seus músculos abdominais finamente esculpidos. Ele recua e eu paro.
— Não tenho que fazer isso — sussurro.
— Não, tudo bem. Só preciso de uma... readaptação. Faz tempo que ninguém me toca — murmura ele.
— Mrs. Robinson? — As palavras saem espontâneas de minha boca, e, surpreendentemente, consigo afastar toda a amargura e o rancor de minha voz.
— Não quero falar dela. Só vai estragar seu bom humor — responde ele, balançando a cabeça, o desconforto aparente.
— Eu aguento.
— Não, você não aguenta, Ana. Você fica possessa toda vez que eu a menciono. Meu passado é meu passado. É um fato. Não posso mudá-lo. Tenho sorte que você não tenha um, porque eu ficaria louco se tivesse.
Faço uma cara feia, mas não quero brigar.
— Ficaria louco? Mais do que já é? — Sorrio, na esperança de aliviar o clima entre nós.
— Louco por você — sussurra ele e contrai os lábios.
Meu coração se incha de alegria.
— Quer que eu chame o Dr. Flynn?
— Acho que não vai ser necessário — diz ele secamente.
Chego meu corpo para trás, de modo que ele estica as pernas; coloco meus dedos novamente em sua barriga e os deixo percorrer sua pele. Ele fica parado mais uma vez.
— Gosto de tocar em você.
Meus dedos descem até o umbigo e continuam, seguindo pelo caminho da felicidade. Ele abre os lábios e sua respiração se altera, os olhos escurecem e sua ereção se mexe debaixo de mim. Caramba. Segunda rodada.
— De novo? — murmuro.
— Ah, sim, Srta. Steele, de novo. — Ele sorri.
* * *
QUE JEITO DELICIOSO de passar uma tarde de sábado. Sob o chuveiro, tomo banho distraída, com cuidado para não molhar o cabelo preso, contemplando as últimas horas. Christian e baunilha parecem estar se dando muito bem, obrigada.
Ele revelou muito hoje. É desconcertante tentar assimilar todas as informações e refletir sobre o que descobri: os detalhes do salário dele... Uau, ele é podre de rico, e para alguém tão jovem, é simplesmente extraordinário... e as pastas que ele tem sobre minha vida e sobre a vida de todas as suas submissas morenas. Será que todas elas estão naquele arquivo?
Meu inconsciente pressiona os lábios e balança a cabeça... Nem pense em ir até lá. Faço uma careta. Nem uma olhadinha?
E então tem essa Leila — possivelmente com uma arma, solta por aí — e seu péssimo gosto musical ainda no iPod dele. Pior ainda, a pedófila Mrs. Robinson, não consigo entender essa mulher, e nem quero. Não quero que ela e aquele cabelo brilhoso sejam um espectro em nosso relacionamento. Ele tem razão, eu morro de raiva quando penso nela, então talvez seja melhor não pensar.
Saio do chuveiro, seco-me e, de repente, sou tomada por um ódio inesperado.
Mas quem não morreria de raiva? Que pessoa normal e em sã consciência faria aquilo com um garoto de quinze anos? Quanto será que ela contribuiu para a piração dele? Não consigo entendê-la. E, pior ainda, ele diz que ela o ajudou. Mas como?
Penso nas cicatrizes, a manifestação física e gritante de uma infância terrível e um lembrete revoltante das cicatrizes mentais que ele deve carregar. Meu doce e triste Cinquenta Tons. Ele disse tantas coisas românticas hoje. Ele é louco por mim.
Olhando para o meu reflexo, lembro-me de suas palavras, meu coração enchendo-se mais uma vez, e meu rosto se transforma com um sorriso ridículo. Talvez a gente consiga fazer isso dar certo. Mas por quanto tempo até que ele queira me dar uma surra porque desrespeitei alguma linha arbitrária?
Meu sorriso se desfaz. Isso é o que eu não sei. É a nuvem que paira sobre nós. Umas trepadas sacanas, sim, eu posso fazer isso, e o que mais?
Meu inconsciente me encara impassível, dessa vez sem nenhuma crítica ou palavra de sabedoria para me oferecer. Volto para o quarto para me vestir.
Christian está se arrumando no primeiro andar, fazendo sei lá o quê, então tenho o quarto todo para mim. Além dos vestidos no closet, as gavetas estão cheias de lingerie nova. Escolho um espartilho preto com uma etiqueta que diz quinhentos e quarenta dólares. Ele tem um bordado de prata feito uma filigrana e a menor das calcinhas combinando. Pego também meias sete oitavos, cor da pele, uma seda tão fina, tão elegante. Uau, elas são... provocantes... e bem sensuais.
Estou me esticando para pegar o vestido quando Christian entra sem aviso. Ei, você podia bater na porta! Ele fica paralisado, olhando-me, os olhos cinzentos brilhando famintos. Sinto como se todo o meu corpo tivesse enrubescido. Ele está usando uma calça preta de terno e uma camisa branca, o colarinho aberto. E ainda posso ver a linha de batom. Continua me encarando.
— Precisa de alguma coisa, Sr. Grey? Imagino que você tenha algum propósito nessa visita além de ficar me encarando feito um bobo de boca aberta.
— Obrigado, Srta. Steele, mas estou me divertindo muito aqui, feito um bobo de boca aberta — murmura ele sombrio, entrando no quarto e se embevecendo com a minha visão. — Lembre-me de mandar um bilhete de agradecimento a Caroline Acton.
Franzo a testa. Quem é essa?
— A personal shopper da Neiman — acrescenta ele em resposta, embora eu não tenha formulado a pergunta em voz alta.
— Ah.
— Estou bastante distraído.
— Estou vendo. O que você quer, Christian? — Lanço-lhe um olhar de quem não está para brincadeiras.
Ele revida com seu sorriso torto e tira do bolso as bolas prateadas, pegando-me completamente desprevenida. Puta merda! Ele quer me bater? Agora? Por quê?
— Não é o que você está pensando — diz depressa.
— Esclareça — sussurro.
— Achei que você podia usar isto hoje à noite.
E as implicações dessa frase permanecem entre nós enquanto a informação é assimilada.
— Durante a festa? — Fico chocada.
Ele confirma lentamente com a cabeça, seus olhos escurecendo.
Meu Deus.
— Você vai me bater depois?
— Não.
Por um momento, sinto uma pontadinha fugaz de decepção. Ele ri.
— Quer que eu bata?
Engulo em seco. Simplesmente não sei.
— Bem, pode ter certeza de que não vou bater em você daquele jeito, nem que você implore.
Hum! Isso é novidade.
— Quer brincar disso? — continua ele, segurando as bolas. — Você pode tirá-las a qualquer momento, se for demais.
Olho para ele. Parece tão perversamente tentador... o cabelo despenteado pós-foda, os olhos escuros dançando com pensamentos eróticos, os belos lábios curvados num sorriso sensual e brincalhão.
— Está bem — concordo suavemente. É isso aí! Minha deusa interior recuperou a voz e está gritando aos quatro ventos.
— Boa menina. — Christian sorri. — Venha aqui, e eu vou colocá-las em você depois que calçar os sapatos.
Os sapatos? Viro-me e olho os saltos agulha de camurça cor de gelo que combinam com o vestido que escolhi para usar.
Faça o que ele está pedindo!
Ele estende a mão para me apoiar enquanto calço os sapatos Christian Louboutin, uma bagatela de três mil duzentos e noventa e cinco dólares. Eu devo estar, pelo menos, uns doze centímetros mais alta.
Ele me conduz até a beirada da cama e não se senta: caminha até a única cadeira do quarto e a pega, posicionando-a diante de mim.
— Quando eu acenar com a cabeça, você se abaixa e se segura na cadeira. Entendeu? — Sua voz soa áspera.
— Entendi.
— Ótimo. Agora abra a boca — ordena, a voz ainda baixa.
Eu obedeço, imaginando que ele vai enfiar as bolas na minha boca, para lubrificá-las. Mas não, ele enfia o indicador.
Ah...
— Chupe — diz ele.
Aperto sua mão, segurando-o firme e acatando suas ordens. Está vendo? Posso ser obediente, quando quero.
Ele tem gosto de sabonete... hum. Chupo com força, e sou recompensada ao ver seus olhos se arregalando e sua boca se abrindo ao inspirar. Desse jeito, não vou precisar de lubrificante nenhum. Ele coloca as bolas na boca enquanto chupo seu dedo, girando a língua ao redor dele. Quando ele tenta retirá-lo, cravo os dentes.
Ele sorri e balança a cabeça, advertindo-me, e eu o deixo tirar o dedo. Ele acena, e eu me abaixo, segurando nas laterais da cadeira. Christian puxa a minha calcinha para o lado e, bem devagar, desliza o dedo para dentro de mim, fazendo movimentos circulares, de forma que eu o sinto por todos os lados. Não consigo reprimir o gemido que me escapa dos lábios.
Ele retira o dedo momentaneamente e, com cuidado, insere as bolas, uma de cada vez, empurrando-as para dentro de mim. Uma vez que estão lá dentro, ele desliza minha calcinha de volta para o lugar e beija minha bunda. Correndo as mãos por minhas pernas, do tornozelo até a coxa, gentilmente me beija no alto de cada uma de minhas coxas.
— Você tem belas pernas, Srta. Steele — murmura.
De pé, ele me agarra pelo quadril e me puxa para ele. Sinto sua ereção.
— Talvez quando a gente voltar eu coma você desse jeito, Anastasia. Pode ficar de pé agora.
O peso das bolas subindo e descendo dentro de mim me deixa tonta, mais do que excitada. Atrás de mim, Christian se abaixa para beijar meu ombro.
— Comprei isto para você usar na festa de gala do sábado passado. — Ele passa os braços ao meu redor e estende a mão. Nela, repousa uma pequena caixa vermelha com o nome Cartier na tampa. — Mas você me deixou, então perdi a oportunidade.
Ah!
— Esta é a minha segunda chance — murmura ele, a voz embargada por alguma emoção desconhecida. Está nervoso.
Com cuidado, abro a caixa. Dentro brilha um par de brincos pendentes. Cada um com quatro diamantes, um na base, então um pequeno espaço e depois três diamantes pendurados e perfeitamente espaçados, um depois do outro. São lindos, simples e clássicos. O tipo de coisa que eu escolheria, se algum dia tivesse a oportunidade de fazer compras na Cartier.
— São lindos — sussurro, e porque representam uma segunda chance, eu os adoro. — Obrigada.
Ele relaxa junto ao meu corpo à medida que a tensão se dissipa, e beija meu ombro de novo.
— Você vai usar o vestido de cetim prateado? — pergunta.
— Vou. Tudo bem?
— Claro. Vou deixar você terminar de se arrumar. — E sai pela porta sem olhar para trás.
* * *
ENTREI EM UMA espécie de universo paralelo. A jovem que está me olhando do espelho merece um tapete vermelho. O vestido longo tomara que caia, de cetim prateado, é simplesmente deslumbrante. Talvez eu mesma escreva para Caroline Acton. É justo e realça as poucas curvas que tenho.
Meu cabelo cai em ondas suaves ao redor do rosto, escorrendo dos ombros até os seios. Num dos lados, passo-o por trás da orelha, revelando o brinco da segunda chance. Optei por manter uma maquiagem mínima, um visual mais natural. Delineador, rímel, um pouco de blush rosa e batom rosa pálido.
Na verdade, nem preciso de blush. Já estou levemente corada pelo movimento constante das bolas de prata. Sim, elas vão garantir um pouco de cor em meu rosto esta noite. Balançando a cabeça ao pensar na audácia das ideias eróticas de Christian, eu me abaixo para pegar meu lenço de cetim e minha carteira prateada e saio em busca de meu Cinquenta Tons.
Ele está conversando com Taylor e outros três homens no corredor, de costas para mim. Suas expressões de surpresa e admiração alertam Christian para minha presença. Ele se vira enquanto espero por ele, meio sem jeito.
Minha boca fica seca. Ele está lindo... Smoking preto, gravata-borboleta preta e uma expressão de assombro. Ele caminha na minha direção e beija meu cabelo.
— Anastasia. Você está de tirar o fôlego.
Fico vermelha com o elogio na frente de Taylor e dos outros homens.
— Uma taça de champanhe antes de irmos?
— Por favor — murmuro, muito rapidamente.
Christian acena para Taylor, que se dirige ao saguão com os três seguranças. Na sala de estar, pega uma garrafa de champanhe da geladeira.
— Equipe de segurança? — pergunto.
— Guarda-costas. Estão sob orientação de Taylor. Ele também é treinado nisso. — Christian me entrega uma taça de champanhe.
— Ele é muito versátil.
— Sim, é. — Christian sorri. — Você está linda, Anastasia. Saúde. — Ele ergue a taça e encosto a minha na dele. O champanhe tem um tom rosa pálido. E um sabor deliciosamente fresco e leve.
— Como você está se sentindo? — pergunta, os olhos em chamas.
— Ótima, obrigada. — Sorrio docemente, sem revelar nada, sabendo muito bem que ele está se referindo às bolas de prata.
Ele dá um sorrisinho.
— Tome, você vai precisar disto. — Ele me entrega uma bolsa grande de veludo que estava sobre a bancada da cozinha. — Abra — diz, entre goles de champanhe. Intrigada, enfio a mão na abertura e puxo uma intrincada máscara prateada com penas azul-cobalto e uma pluma no topo. — É um baile de máscaras — diz com naturalidade.
— Entendi.
A máscara é linda. Tem uma fita prateada costurada na ponta e uma filigrana de prata primorosa ao redor dos olhos.
— Vai realçar seus lindos olhos, Anastasia.
Sorrio para ele, timidamente.
— Você também vai usar uma?
— Claro. São muito libertadoras, de certa forma — acrescenta, levantando uma sobrancelha.
Hum. Isso vai ser divertido.
— Venha. Quero lhe mostrar uma coisa. — Estendendo a mão, Christian me conduz por um corredor e uma porta junto às escadas. Abre a porta, revelando um cômodo grande, mais ou menos do mesmo tamanho que o quarto de jogos, que deve estar bem acima de nós. Este é forrado de livros. Uau, uma biblioteca, cada uma das paredes repletas de livros do chão ao teto. No centro, uma mesa de sinuca iluminada por um longo abajur Tiffany triangular, em forma de prisma.
— Você tem uma biblioteca! — exclamo, admirada, tomada pela emoção.
— Sim, a sala da sinuca, como Elliot chama. O apartamento é bem grande. Quando você falou hoje de “explorar”, eu me dei conta de que nunca fiz um tour com você. Agora não temos tempo, mas pensei em lhe mostrar esta sala e, quem sabe, desafiá-la para uma partida de sinuca num futuro próximo.
Sorrio para ele.
— Combinado. — Isso me enche de alegria. José e eu fortalecemos nossa amizade em torno de uma mesa de sinuca. Jogamos juntos há três anos. Sou craque no taco. José é um bom professor.
— O que foi? — pergunta Christian, divertindo-se.
Ai, eu realmente preciso parar de expressar todas as emoções que sinto no instante em que as sinto, repreendo-me.
— Nada — respondo depressa.
Christian estreita os olhos.
— Bem, talvez o Dr. Flynn possa descobrir seus segredos. Você vai encontrá-lo esta noite.
— O charlatão caro? — Puta merda.
— Ele mesmo. Está morrendo de vontade de conhecê-la.
* * *
CHRISTIAN SEGURA MINHA mão e acaricia suavemente meus dedos com o polegar quando nos sentamos na parte de trás do Audi, seguindo para o norte. Eu me contorço com a sensação em minha virilha. Resisto à vontade de gemer, já que Taylor está bem à frente, sem o iPod, ao lado de um dos seguranças que acho que se chama Sawyer.
Estou começando a sentir uma dor leve e agradável no fundo da barriga, causada pelas bolas. Distraída, pergunto-me quanto tempo vou ser capaz de aguentar sem um instante de, hum... alívio? Cruzo as pernas. E então, algo que estava no fundo de minha mente vem à tona.
— Onde você conseguiu o batom? — pergunto a Christian em voz baixa.
Ele sorri para mim e aponta para a frente.
— Taylor — gesticula com a boca.
Dou uma gargalhada.
— Ui. — E paro imediatamente... as bolas.
Mordo o lábio. Christian sorri para mim, os olhos brilhando maliciosamente. Ele sabe exatamente o que está fazendo, animal sexual que é.
— Relaxe — sussurra. — Se for demais... — sua voz diminui, e ele suavemente beija cada um de meus dedos, em seguida, suga com gentileza a ponta do mindinho.
Agora sei que está fazendo isso de propósito. Fecho os olhos enquanto um desejo sombrio toma conta do meu corpo. Eu me rendo brevemente à sensação, os músculos retesando-se dentro de mim.
Quando abro os olhos de novo, Christian está me fitando de perto, um príncipe sombrio. Deve ser o smoking e a gravata-borboleta, mas ele parece mais velho, sofisticado, um libertino devastadoramente lindo e com intenções licenciosas. Ele me tira o fôlego. Eu sou seu brinquedinho sexual, e, para falar a verdade, ele é o meu. O pensamento traz um sorriso ao meu rosto, e o sorriso de resposta que surge no dele é deslumbrante.
— Então, o que podemos esperar deste evento?
— Ah, o de sempre — diz Christian com desdém.
— Não para mim — lembro-o.
Christian sorri e mais uma vez beija com carinho minha mão.
— Um monte de gente esbanjando dinheiro. Leilão, rifa, jantar, dança... minha mãe sabe como dar uma festa. — Ele sorri, e pela primeira vez durante todo o dia, eu me permito ficar um pouco animada com a festa.
Há uma fila de veículos caros diante da mansão dos Grey. Lanternas de papel compridas e de um rosa pálido iluminam a entrada, e, à medida que nos aproximamos, de dentro do Audi, reparo que elas estão por toda parte. Na luz do fim do dia, parecem mágicas, como se estivéssemos adentrando um reino encantado. Olho para Christian. Muito adequado para o meu príncipe, e minha empolgação infantil floresce, suplantando todos os outros sentimentos.
— Hora de colocar a máscara. — Christian sorri, vestindo sua máscara preta simples, e o meu príncipe se torna mais sombrio, mais sensual.
Tudo o que posso ver de seu rosto é a linda boca e a mandíbula forte. Meu coração acelera com a simples visão dele. Coloco minha máscara e sorrio, ignorando o desejo profundo dentro de mim.
Taylor encosta o carro, e um manobrista abre a porta de Christian. Sawyer corre para abrir a minha.
— Pronta? — pergunta Christian.
— Tanto quanto é possível.
— Você está linda, Anastasia. — Ele beija minha mão e sai do carro.
Um tapete verde-escuro atravessa o gramado e segue ao longo da lateral da casa, conduzindo-nos ao impressionante jardim nos fundos. Christian passa o braço protetoramente em volta do meu corpo, descansando a mão em minha cintura, e seguimos o tapete verde junto a figurões da elite de Seattle vestindo suas melhores roupas e usando todos os tipos de máscaras, as lanternas iluminando o caminho. Dois fotógrafos guiam os convidados para posar diante de uma treliça coberta de heras.
— Sr. Grey! — chama um deles.
Christian acena para ele e me puxa para junto de si, enquanto posamos rapidamente para uma foto. Como eles sabem que é ele? O cabelo rebelde cor de cobre, só pode ser.
— Dois fotógrafos? — pergunto a Christian.
— Um é do Seattle Times, o outro é para produzir um souvenir. Nós vamos poder comprar uma cópia no final da festa.
Hum, minha foto vai aparecer nos jornais de novo. Por um instante, Leila invade meus pensamentos. Foi assim que ela me encontrou, após eu posar com Christian. A ideia é perturbadora, embora o fato de que estou irreconhecível debaixo dessa máscara seja reconfortante.
Ao final do tapete, garçons em ternos brancos carregam bandejas com taças transbordantes de champanhe, e fico feliz quando Christian me passa uma delas, distraindo-me com eficiência dos pensamentos sombrios.
Nós nos aproximamos de uma grande pérgula branca adornada com versões menores das lanternas de papel. Sob ela, brilha uma pista de dança quadriculada em preto e branco e delimitada por uma cerca baixa com entradas em três dos lados. Em cada uma das entradas ostentam-se duas elaboradas esculturas de cisnes feitas de gelo. O quarto lado da pérgula é ocupado por um palco no qual um quarteto de cordas toca suavemente uma música melancólica e etérea que não reconheço. O palco parece preparado para receber uma big band, mas, como não há sinal dos músicos, imagino que seja para mais tarde. Segurando minha mão, Christian me conduz entre os cisnes até a pista de dança onde os outros convidados estão reunidos, conversando e bebendo champanhe.
Na direção da baía há uma enorme tenda aberta no lado mais próximo de nós, e posso ver as mesas e cadeiras organizadas formalmente. São tantas!
— Quantas pessoas foram convidadas? — pergunto a Christian, assustada pelo tamanho da tenda.
— Acho que umas trezentas. Você vai ter que perguntar à minha mãe. — Ele sorri para mim.
— Christian!
Uma jovem aparece saindo da multidão e joga os braços ao redor de seu pescoço; e imediatamente sei que se trata de Mia. Ela está usando um vestido longo elegante de chiffon rosa-claro e uma elaborada máscara veneziana deslumbrante, combinando com o vestido. Está linda. Por um momento, sinto-me muito grata pelo vestido que Christian me deu.
— Ana! Ai, querida, você está linda! — Ela me dá um abraço rápido. — Você tem que conhecer minhas amigas. Nenhuma delas consegue acreditar que Christian finalmente tem uma namorada.
Dirijo um rápido olhar de pânico para Christian, que encolhe os ombros como quem diz eu-sei-que-ela-é-impossível-tive-que-conviver-com-ela-durante-anos, e deixo Mia me conduzir até um grupo de quatro jovens, todas vestidas com roupas caras e impecavelmente arrumadas.
Mia nos apresenta rapidamente. Três delas são simpáticas e gentis, mas uma, acho que se chama Lily, olha para mim de forma amarga por debaixo de sua máscara vermelha.
— Claro que todo mundo pensava que Christian era gay — diz ela, cheia de sarcasmo e escondendo o rancor num sorriso largo e falso.
— Lily, comporte-se — resmunga Mia para ela. — É evidente que ele tem um ótimo gosto para mulheres. Só estava esperando a pessoa certa aparecer, e não era você!
Lily fica da mesma cor que a máscara, assim como eu. Tem algo mais desconfortável que isso?
— Meninas, vocês se importam se eu roubar meu par de volta? — Passando o braço em volta de minha cintura, Christian me puxa para junto de si.
Todas as quatro sorriem, enrubescem e se alvoroçam; é o sorriso deslumbrante de Christian fazendo o que sempre faz. Mia revira os olhos para mim, e tenho que rir.
— Prazer em conhecê-las — digo enquanto ele me arrasta para longe. — Obrigada — gesticulo com os lábios para Christian quando estamos a certa distância.
— Vi que Lily estava com Mia. Que criatura desagradável.
— Ela gosta de você — murmuro secamente.
Ele estremece.
— Bem, o sentimento não é recíproco. Venha, deixe-me apresentá-la a algumas pessoas.
Passo a meia hora seguinte em um turbilhão de apresentações. Conheço dois atores de Hollywood, mais dois CEOs e vários médicos importantes. De jeito nenhum vou ser capaz de lembrar todos os nomes.
Christian me mantém junto de si, e fico feliz por isso. Francamente, a riqueza, o glamour, as proporções e a luxuosidade do evento me intimidam. Nunca fui a nada parecido na vida.
Os garçons de branco movem-se sem esforço por entre a multidão crescente de convidados com garrafas de champanhe, enchendo minha taça com uma regularidade preocupante. Não posso beber demais. Não posso beber demais, repito para mim mesma, mas estou começando a me sentir meio zonza, e não sei se é o champanhe, a atmosfera carregada de mistério e excitação criada pelas máscaras, ou as bolas prateadas secretas. A dor silenciosa abaixo da minha cintura está se tornando impossível de ignorar.
— Então você trabalha na SIP? — pergunta um senhor careca que usa uma meia-máscara de urso... ou será um cachorro? — Ouvi rumores de uma aquisição hostil.
Fico vermelha. Sim, houve uma aquisição hostil, por parte de um homem que tem mais dinheiro do que noção e é um perseguidor por excelência.
— Sou só uma assistente, Sr. Eccles. Não saberia desse tipo de coisa.
Christian fica quieto e sorri tranquilamente para Eccles.
— Senhoras e senhores! — O mestre de cerimônias, vestindo uma impressionante máscara de arlequim preta e branca, nos interrompe. — Queiram tomar seus assentos. O jantar será servido.
Christian segura minha mão, e seguimos a multidão que vai conversando até a tenda.
O interior é deslumbrante. Três lustres enormes e baixos irradiam luzes coloridas sobre o forro de seda marfim do teto e das paredes. Deve haver, pelo menos, trinta mesas, e elas me lembram da sala de jantar privada do Hotel Heathman... taças de cristal, toalhas impecáveis de linho branco sobre as mesas e, no centro, um arranjo primoroso de peônias cor-de-rosa em torno de um candelabro de prata. Ao lado, uma cesta de guloseimas embrulhada em papel de seda.
Christian verifica a organização dos lugares e me leva até uma mesa no centro. Mia e Grace Trevelyan-Grey já estão sentadas, absortas numa conversa com um rapaz que não conheço. Grace está usando um vestido verde brilhante com uma máscara veneziana combinando. Está radiante, nem um pouco tensa, e me cumprimenta efusivamente.
— Ana, que bom ver você de novo! Está tão linda.
— Mãe — Christian a cumprimenta com austeridade, e eles trocam dois beijos.
— Ah, Christian, tão formal! — ela o repreende, provocando-o.
Os pais de Grace, o Sr. e a Sra. Trevelyan, juntam-se a nós na mesa. Parecem exuberantes e jovens, embora seja difícil dizer por causa das máscaras cor de bronze idênticas que estão usando. Estão muito felizes em ver Christian.
— Vovó, vovô, gostaria de apresentar Anastasia Steele.
A Sra. Trevelyan praticamente se joga em cima de mim.
— Ah, finalmente ele encontrou alguém, que maravilha, e você é tão bonita! Espero que dê em casamento — exclama, apertando minha mão.
Puta merda. Ainda bem que estou de máscara.
— Mãe, não deixe Ana sem graça — Grace me socorre.
— Não ligue para essa velha indiscreta, minha querida. — O Sr. Trevelyan aperta minha mão. — Ela acha que, só porque tem mais idade, tem o direito divino de dizer qualquer disparate que passa por essa cabeça branca.
— Ana, este é Sean. — Mia apresenta timidamente seu jovem par. Ele me lança um sorriso caloroso, e seus olhos castanhos brilham com diversão quando apertamos as mãos.
— Prazer em conhecê-lo, Sean.
Christian aperta a mão de Sean, encarando-o astuciosamente. Não me diga que a pobre Mia também sofre com a arrogância de seu irmão. Sorrio para ela com simpatia.
Lance e Janine, amigos de Grace, são o último casal a se sentar à mesa, mas ainda não há nenhum sinal do Sr. Carrick Grey.
De repente, ouço o silvo de um microfone, e a voz do Sr. Grey no sistema de som toma conta do ambiente, fazendo com que o burburinho desapareça. Carrick está de pé em um pequeno palco numa das extremidades da tenda, usando uma impressionante máscara dourada de Punchinello.
— Bem-vindos, senhoras e senhores, ao nosso baile anual de caridade. Espero que vocês aproveitem o que preparamos para esta noite e que abram bem esses bolsos para ajudar o fantástico trabalho que a nossa equipe tem feito com a Superando Juntos. Como vocês sabem, trata-se de uma causa muito importante tanto para minha esposa como para mim.
Olho nervosa para Christian, que, acho, está encarando o palco impassível. Ele retribui o olhar e sorri.
— Agora vou passar a palavra para o nosso mestre de cerimônias. Por favor, sentem-se e aproveitem a noite — finaliza Carrick.
Após aplausos educados, o burburinho na tenda recomeça. Estou sentada entre Christian e seu avô, admirando o pequeno cartão branco com a caligrafia fina em tinta prateada que ostenta meu nome, enquanto um garçom acende o candelabro com uma vela longa. Carrick se junta a nós, surpreendendo-me com dois beijinhos.
— Bom ver você de novo, Ana — murmura. Ele está realmente muito bonito com sua extraordinária máscara dourada.
— Senhoras e senhores, por favor, escolham um representante em cada mesa — diz o mestre de cerimônias.
— Uh... eu, eu! — diz Mia imediatamente, quicando com entusiasmo em seu assento.
— No centro da mesa, vocês vão encontrar um envelope — continua o mestre. — Cada um de vocês deve arrumar, implorar, pedir emprestado ou roubar uma nota do valor mais alto possível, escrever o nome nela e colocá-la dentro do envelope. Os representantes da mesa, por favor, devem guardar esses envelopes com cuidado. Vamos precisar deles mais tarde.
Merda. Não trouxe dinheiro comigo. Que idiota... é um evento de caridade!
Christian pega a carteira e tira duas notas de cem dólares.
— Aqui — diz ele.
O quê?
— Devolvo depois — sussurro.
Ele contorce a boca, e sei que não está feliz, mas não argumenta. Assino o meu nome usando sua caneta-tinteiro — preta com motivos florais brancos na tampa —, e Mia passa o envelope pela mesa.
Na minha frente vejo outro cartão, também escrito com tinta prateada: o menu da noite.
BAILE DE MÁSCARAS EM APOIO À SUPERANDO JUNTOS
MENU
TARTARE DE SALMÃO COM CRÈME FRAÎCHE E
PEPINO SERVIDO EM TORRADA DE BRIOCHE
ALBAN ESTATE ROUSSANNE 2006
PEITO DE PATO SELVAGEM ASSADO,
PURÊ DE GIRASSOL-BATATEIRO,
CEREJAS ASSADAS COM TOMILHO E FOIE GRAS
CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE VIEILLES VIGNES 2006
DOMAINE DE LA JANASSE
BOLO CHIFFON DE NOZES E COBERTURA DE AÇÚCAR CRISTALIZADO,
FIGOS EM CALDA, ZABAGLIONE, SORVETE DE BORDO
VIN DE CONSTANCE 2004 KLEIN CONSTANTIA
SELEÇÃO DE PÃES E QUEIJOS LOCAIS
ALBAN ESTATE GRENACHE 2006
CAFÉ E PETITS FOURS
Bem, está explicado o número de taças de cristal de tamanhos variados que preenchem o espaço à minha frente. Nosso garçom está de volta, oferecendo vinho e água. Atrás de mim, as aberturas da tenda pelas quais entramos estão sendo fechadas, e à nossa frente dois garçons erguem o toldo, revelando o pôr do sol sobre a baía Meydenbauer.
A vista é de tirar o fôlego: as luzes cintilantes de Seattle a distância e a calmaria alaranjada e sombria da baía refletindo o céu azul. Uau. É um cenário sereno e pacífico.
Dez garçons, cada um segurando um prato, surgem entre nossos assentos. Numa largada silenciosa, servem as entradas em completa sincronia, em seguida desaparecem novamente. O salmão parece delicioso, e percebo que estou faminta.
— Com fome? — murmura Christian de forma que só eu possa ouvir. Sei que ele não está se referindo à comida, e os músculos dentro de mim respondem.
— Muita — sussurro, ousadamente mirando seus olhos; ele entreabre os lábios e inspira.
Rá! Está vendo? Também sei brincar.
Imediatamente, o avô de Christian começa a conversar comigo. É um senhor incrível, orgulhoso da filha e dos três netos.
É estranho pensar em Christian quando criança. A memória de suas queimaduras me vem espontaneamente à cabeça, mas eu a afasto depressa. Não quero pensar nisso agora, embora, ironicamente, elas sejam a razão por trás desta festa.
Queria que Kate estivesse aqui com Elliot. Ela iria se enturmar tão bem — o impressionante número de garfos e facas diante dela não a assustaria —, iria comandar a mesa. Eu a imagino disputando com Mia quem deveria ser a representante. A ideia me faz sorrir.
A conversa na mesa tem seus altos e baixos. Mia é divertida, como sempre, e praticamente ofusca o pobre Sean, que fica quieto a maior parte do tempo, como eu. A avó de Christian é a que mais fala. Também tem um senso de humor ácido, geralmente às custas do marido. Sinto um pouco de pena do Sr. Trevelyan.
Christian e Lance falam animadamente sobre um aparelho que a empresa de Christian está desenvolvendo, inspirado no conceito de E. F. Schumacher de que o Pequeno É Bonito. É difícil acompanhar. Christian parece decidido a capacitar comunidades carentes em todo o mundo usando tecnologia a corda: aparelhos que não precisam de eletricidade ou de baterias e requerem manutenção mínima.
Vê-lo tão à vontade é surpreendente. Ele é apaixonado e dedicado a melhorar a vida dos menos afortunados. Por meio de sua empresa de telecomunicações, está decidido a ser o primeiro no mercado a lançar um celular a corda.
Uau. Eu não tinha ideia. Quer dizer, eu sabia de sua paixão por alimentar o mundo, mas isso...
Lance parece incapaz de compreender o plano de Christian de distribuir a tecnologia sem patenteá-la. Pergunto-me vagamente como Christian conseguiu tanto dinheiro, sendo tão disposto a dar tudo de bandeja.
Durante o jantar, um fluxo constante de homens em smokings elegantes e máscaras escuras passa por nossa mesa, interessados em conhecer Christian, cumprimentá-lo e trocar amenidades. Ele me apresenta a alguns, mas não a todos. Fico intrigada, querendo saber como e por que ele faz a distinção.
Durante uma dessas conversas, Mia se debruça sobre a mesa e sorri para mim.
— Ana, você pode ajudar no leilão?
— Claro — respondo, muito animada.
No momento em que a sobremesa é servida, já anoiteceu, e eu me sinto realmente desconfortável. Preciso me livrar dessas bolas. Antes que eu possa pedir licença, o mestre de cerimônias aparece em nossa mesa, e com ele, se não estou enganada, vem a Srta. Europeia das Maria-Chiquinhas.
Qual é o nome dela? Hansel, Gretel... Gretchen.
Ela está de máscara, é claro, mas sei quem é porque não tira os olhos de Christian. Ela fica vermelha, e, em meu egoísmo, sinto-me mais do que feliz em ver que ele não parece nem notar sua presença.
O mestre de cerimônias pede o nosso envelope e, com um floreio muito praticado e espalhafatoso, pede a Grace que sorteie o vencedor. É Sean, e ele ganha a cesta embrulhada em papel de seda.
Aplaudo educadamente, mas estou achando impossível me concentrar em qualquer coisa.
— Com licença — murmuro para Christian.
Ele me olha atentamente.
— Você precisa ir ao toalete?
Concordo com a cabeça.
— Eu lhe mostro onde fica — diz ele, sombrio.
Quando me levanto, todos os homens da mesa se levantam comigo. Nossa, quanta educação.
— Não, Christian! Você não vai levar Ana... Deixe que eu vou.
Mia fica de pé antes que Christian possa protestar. Ele cerra a mandíbula, sei que está contrariado. Francamente, eu também estou. Tenho... necessidades. Dou de ombros, desculpando-me com ele, e ele se senta depressa, resignado.
Ao voltarmos, sinto-me um pouco melhor, embora o alívio de remover as bolas não tenha sido tão imediato quanto eu esperava. Agora elas estão guardadas na segurança de minha carteira.
Como eu pude achar que poderia aguentar a noite inteira? Ainda estou ardendo de desejo... talvez possa convencer Christian a me levar até o ancoradouro mais tarde. A ideia me faz corar, e lanço um olhar para ele enquanto me sento. Ele me encara, a sombra de um sorriso cruzando seus lábios.
Ufa... não está mais com raiva pela oportunidade perdida, embora eu talvez esteja. Sinto-me frustrada, irritada mesmo. Christian aperta minha mão, e nós ouvimos atentamente o discurso de Carrick, que voltou ao palco para falar da Superando Juntos. Christian me passa mais um cartão, com a lista dos prêmios em leilão. Dou uma olhada rápida.
ITENS E GENTIS DOADORES DO LEILÃO
PARA A SUPERANDO JUNTOS
BASTÃO DE BEISEBOL ASSINADO PELOS JOGADORES DO SEATTLE MARINERS
— DRA. EMILY MAINWARING
BOLSA, CARTEIRA E CHAVEIRO GUCCI — ANDREA WASHINGTON
CUPOM DE UM DIA GRÁTIS PARA DUAS PESSOAS NO ESCLAVA, BRAVERN CENTER
— ELENA LINCOLN
PAISAGISMO E DECORAçãO DE JARDIM — GIA MATTEO
CAIXA COM SELEÇÃO DE PERFUMES E PRODUTOS DE BELEZA COCO DE MER
— ELIZABETH AUSTIN
ESPELHO VENEZIANO — SR. E SRA. J. BAILEY
DUAS CAIXAS DE VINHO ALBAN ESTATES À ESCOLHA — ALBAN ESTATES
DOIS INGRESSOS VIP PARA XTY IN CONCERT — SRA. L. YESYOV
CORRIDA AUTOMOBILÍSTICA EM DAYTONA — EMC BRITT INC.
PRIMEIRA EDIÇÃO DE ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN
— DR. A. F. M. LACE-FIELD
DIRIGIR UM ASTON MARTIN DB7 POR UM DIA — SR. & SRA. L.W. NORA
INTO THE BLUE, ÓLEO SOBRE TELA DE J. TROUTON — KELLY TROUTON
AULA DE PILOTAGEM EM PLANADOR
— SOCIEDADE DE PLANADORES DE SEATTLE
FIM DE SEMANA A DOIS NO HOTEL HEATHMAN, PORTLAND — HOTEL HEATHMAN
FIM DE SEMANA EM ASPEN, COLORADO (PARA SEIS) — SR. C. GREY
UMA SEMANA A BORDO DO IATE SUSIECUE (SEIS LEITOS),
ATRACADO EM SANTA LÚCIA — DR. E SRA. LARIN
UMA SEMANA NO LAGO ADRIANA, MONTANA (PARA OITO) — SR. & DRA. GREY
Puta merda. Olho assustada para Christian.
— Você tem uma propriedade em Aspen? — sussurro. O leilão já começou, então tenho que manter a voz baixa.
Ele faz que sim com a cabeça, surpreso e irritado, acho, com meu espanto. Com o dedo nos lábios, pede-me silêncio.
— Você tem mais algum imóvel? — pergunto.
Ele faz que sim de novo e inclina a cabeça, numa advertência.
O salão inteiro explode em gritos e aplausos, um dos prêmios foi vendido por doze mil dólares.
— Eu lhe conto depois — diz Christian em voz baixa. — Queria ter ido lá com você — acrescenta, aborrecido.
Bem, mas não foi. Fico amuada e percebo que ainda estou irritadiça, sem dúvida é o efeito frustrante das bolas. Meu humor piorou depois que vi o nome da Mrs. Robinson na lista de generosos doadores.
Olho ao redor, procurando por ela, mas não consigo identificar o cabelo revelador. Certamente Christian teria me avisado se ela tivesse sido convidada para a festa. Fico me remoendo, aplaudindo quando necessário, enquanto cada lote é vendido por quantias chocantes.
O leilão passa para o fim de semana na casa de Christian, em Aspen, e já chegou a vinte mil dólares.
— Dou-lhe uma, dou-lhe duas — grita o mestre de cerimônias.
E então, não sei o que dá em mim, mas de repente ouço minha própria voz soar claramente por sobre a multidão.
— Vinte e quatro mil dólares!
Cada uma das máscaras na mesa se vira para mim, com espanto, e a maior reação de todas vem do meu lado. Ouço sua inspiração profunda e sinto sua ira me dominar como uma onda.
— Vinte e quatro mil dólares, para a bela senhorita de vestido prata, dou-lhe uma, dou-lhe duas... Vendido!