CAPÍTULO DEZOITO

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Christian continua a dirigir, passando por casas de madeira bem-conservadas e de um andar só, com crianças jogando basquete nos quintais ou andando de bicicleta e correndo pelas ruas. Parece um bairro rico e elegante, com as casas abrigadas em meio às árvores. Talvez estejamos indo visitar alguém... Mas quem?

Poucos minutos depois, Christian faz uma curva fechada à esquerda, e estamos diante de dois portões brancos de metal ornamentado no meio de um muro de pedra de quase dois metros de altura. Christian aperta um botão junto à sua porta e o vidro elétrico da janela desce com um zumbido suave. Digita um número no teclado e os portões se abrem para nós.

Ele me lança um olhar rápido, e sua expressão mudou. Parece incerto, nervoso até.

— O que foi? — pergunto, e não consigo esconder a preocupação em minha voz.

— Uma ideia — diz ele calmamente, conduzindo o Saab através dos portões.

Nós seguimos ao longo de uma pista arborizada, larga o suficiente para dois carros. De um lado, a linha de árvores delimita um bosque muito denso, e, do outro, há um gramado enorme que, embora já tenha sido usado para algum tipo de cultivo, foi deixado livre de plantações. A grama e as flores silvestres tomaram conta do lugar, criando um ambiente idílico: um prado, onde a brisa noturna perpassa suavemente a relva e o sol do fim de tarde doura as flores do campo. É lindo, de uma tranquilidade absoluta, e, de repente, imagino-me deitada na grama, fitando um céu azul-claro típico de verão. A ideia é tentadora, mas, por alguma estranha razão, me faz sentir saudades de casa. Que esquisito.

A estrada faz uma curva e termina numa enorme entrada de garagem diante de uma impressionante casa em estilo mediterrâneo feita de arenito cor-de-rosa claro. É suntuosa. Todas as luzes estão acesas, cada uma das janelas iluminada no crepúsculo. Um BMW preto elegante está estacionado na frente da garagem para quatro carros, mas Christian encosta o Saab diante do pórtico principal.

Hum... Quem será que mora aqui? E por que viemos visitá-los?

Christian olha ansiosamente para mim ao desligar o motor.

— Você pode manter a cabeça aberta? — pede.

Franzo a testa.

— Christian, estou mantendo a cabeça aberta desde o dia em que conheci você.

Ele sorri ironicamente e concorda.

— Muito bem colocado, Srta. Steele. Vamos.

As portas de madeira escura se abrem, e uma mulher de cabelo castanho-escuro, sorriso sincero e um elegante terno lilás está nos esperando. Fico feliz de ter colocado meu vestido azul-marinho novo para impressionar o Dr. Flynn. Certo, não estou usando saltos poderosos como os dela, mas pelo menos não estou de calça jeans.

— Sr. Grey. — Ela sorri calorosamente, e lhe dá um aperto de mão.

— Srta. Kelly — diz ele educadamente.

Ela sorri para mim e me estende a mão, que eu aperto. Suas bochechas coradas, que parecem dizer “ele é lindo e maravilhoso, queria que fosse meu”, não passam despercebidas.

— Olga Kelly — diz, descontraída.

— Ana Steele — murmuro em resposta.

Quem é essa mulher? Ela dá um passo para o lado, acolhendo-nos para dentro da casa. Fico chocada quando entro: o lugar está vazio, absolutamente vazio. Estamos num grande saguão de entrada. As paredes são de um amarelo desbotado com marcas de desgaste onde quadros um dia devem ter sido pendurados. Tudo o que resta são os lustres antiquados de cristal. O piso de madeira está sem vida. Há portas fechadas de ambos os lados do saguão, mas Christian não me dá tempo para assimilar o que está acontecendo.

— Venha — diz ele.

Segurando minha mão, Christian me conduz pela arcada à nossa frente até um vestíbulo interno maior. Ele é dominado por uma larga escada em curva com uma balaustrada de ferro intrincada, mas nem ali ele para. Leva-me até a sala de estar principal, que está vazia exceto por um grande tapete dourado desbotado — o maior tapete que eu já vi. Ah, e quatro lustres de cristal.

À medida que atravessamos o cômodo até as portas duplas envidraçadas, que se abrem para um terraço de pedra, a intenção de Christian já ficou clara. Abaixo de nós há um gramado bem-cuidado e do tamanho de meio campo de futebol, e, além dele, a vista. Uau.

A paisagem é de tirar o fôlego, mais que isso, é assombrosa: o crepúsculo sobre o estuário. A distância está a ilha de Bainbridge, e, depois dela, nesta noite cristalina, o sol se põe lentamente para além do Parque Nacional Olympic, deixando no céu tons de vermelho-sangue e laranja encandescente. O vermelho empresta reflexos e tons de azul-marinho do céu, e se funde com o roxo mais escuro das escassas e finas nuvens e da terra para além do estuário. É a natureza em seu auge, uma sinfonia visual orquestrada no horizonte e refletida nas profundas águas mansas do estuário. Eu me perco diante da visão: admirando, tentando absorver tanta beleza.

Percebo que estou prendendo a respiração, espantada, e Christian ainda está segurando minha mão. À medida que desvio, relutante, os olhos da paisagem, vejo que ele está me fitando, ansioso.

— Você me trouxe aqui para admirar a vista? — sussurro.

Ele faz que sim com a cabeça, a expressão muito séria.

— É impressionante, Christian. Obrigada — murmuro, deixando meus olhos saborearem mais uma vez a paisagem.

Ele solta a minha mão.

— O que você acharia de ter essa vista para o resto da vida? — ofega.

O quê? Giro o rosto de volta para ele, olhos azuis espantados mirando olhos cinzentos pensativos. Acho que a minha boca está aberta, e eu o encaro embasbacada.

— Sempre quis morar no litoral. Navego o estuário para cima e para baixo, cobiçando essas casas. Este lugar não está à venda há muito tempo. Quero comprar, demolir a casa e construir uma casa nova para nós — sussurra, e seus olhos brilham, translúcidos de esperanças e sonhos.

Minha nossa. De alguma forma consigo me manter de pé. Estou quase perdendo o equilíbrio. Morar aqui! Nesse paraíso maravilhoso! Para o resto da vida...

— É apenas uma ideia — acrescenta, com cuidado.

Olho de volta para avaliar o interior da casa. Quanto será que vale? Uns cinco, dez milhões de dólares? Não tenho ideia. Caramba.

— Por que você quer demolir a casa? — pergunto, olhando para ele.

Sua expressão se desfaz. Ah, não.

— Eu queria fazer uma casa mais sustentável, usando as últimas técnicas ecológicas. Elliot pode construir.

Olho para a sala novamente. A Srta. Olga Kelly está no canto oposto, junto à entrada. É corretora de imóveis, claro. Noto como a sala é grande e tem o pé-direito alto, um pouco como a sala de estar do Escala. Há uma varanda acima, que deve ser o patamar do segundo andar. Há ainda uma lareira enorme e toda uma série de portas duplas envidraçadas que se abrem para o terraço. A construção tem um charme próprio do velho mundo.

— Podemos dar uma olhada na casa?

Ele pisca para mim.

— Claro. — Dá de ombros, intrigado.

Quando entramos de novo na sala, o rosto da Srta. Kelly se ilumina feito uma árvore de Natal. Ela parece encantada por nos mostrar o lugar e derramar sobre nós sua conversa-fiada de corretora.

A casa é enorme: mais de um quilômetro quadrado de construção em seis hectares de terreno. Além da sala de estar principal, há uma cozinha com sala de jantar, digo, sala de banquete, e uma sala íntima contígua — uma sala familiar! —, uma sala de música, uma biblioteca, um escritório e, para minha surpresa, uma piscina coberta e sala de ginástica com sauna seca e a vapor. Lá embaixo, no porão, há um cinema — minha nossa — e um quarto de jogos. Hum... que tipo de jogos poderíamos jogar aqui?

A Srta. Kelly ressalta todas as vantagens, mas basicamente é uma casa bonita que foi, obviamente, o lar de uma família feliz. Está um tanto gasta agora, mas nada que um pouco de amor e carinho não possa resolver.

À medida que seguimos a Srta. Kelly pela magnífica escada principal até o segundo andar, mal posso conter minha excitação... esta casa tem tudo que eu poderia desejar num lar.

— Você não poderia transformar a casa que já existe num lugar mais ecológico e autossustentável?

Christian pisca para mim, perplexo.

— Eu teria que perguntar a Elliot. O especialista em tudo isso é ele.

A Srta. Kelly nos leva até a suíte principal, onde os janelões que vão do chão ao teto se abrem para uma varanda, e a vista ainda é espetacular. Eu poderia passar um dia inteiro sentada na cama, olhando lá para fora, observando os barcos à vela e a mudança do tempo.

Existem ainda cinco quartos no mesmo piso. Filhos! Afasto o pensamento às pressas. Já tenho muito que processar. A Srta. Kelly está ocupada sugerindo a Christian como o terreno poderia acomodar um centro equestre e um pasto para cavalos. Cavalos! Imagens aterrorizantes das poucas aulas de equitação que fiz cruzam minha mente, mas Christian não parece estar escutando.

— O pasto ficaria onde hoje fica o prado? — pergunto.

— Isso — diz a Srta. Kelly, animada.

Para mim, o prado é um lugar para se deitar na grama e fazer piqueniques, não um lugar para se abrigar demônios de quatro patas.

De volta ao cômodo principal, a Srta. Kelly desaparece discretamente, e Christian me leva uma vez mais até o terraço. O sol já se pôs, e as luzes das cidades na península Olympic piscam do outro lado do estuário.

Christian me puxa em seus braços e ergue meu queixo com a ponta do indicador, observando-me com atenção.

— Muito para assimilar? — pergunta, sua expressão ilegível.

Faço que sim com a cabeça.

— Eu queria ver se você gostava, antes de comprar.

— Da vista?

Ele faz que sim.

— Amei a vista, e gostei da casa atual também.

— Gostou?

Sorrio timidamente.

— Christian, você me ganhou só com o prado.

Ele entreabre os lábios e inspira fundo. Em seguida, seu rosto se abre num sorriso, e suas mãos subitamente agarram meus cabelos, sua boca na minha.

* * *

NO CARRO, ENQUANTO dirigimos de volta para Seattle, o estado de espírito de Christian se eleva consideravelmente.

— E então, você vai comprar? — pergunto.

— Vou.

— E vai colocar o Escala à venda?

Ele franze a testa.

— Por que eu faria isso?

— Para pagar... — minha voz desaparece. É claro. Fico vermelha.

Ele sorri para mim.

— Acredite, tenho dinheiro o bastante.

— Você gosta de ser rico?

— Gosto. Você conhece alguém que não goste? — diz, sombriamente.

Certo, mude logo de assunto.

— Anastasia, você vai ter que aprender a ser rica também, se disser sim — fala de mansinho.

— A riqueza não é algo que eu tenha almejado para a minha vida, Christian. — Franzo a testa.

— Eu sei. Amo isso em você. Mas bom, você também nunca teve fome — diz ele simplesmente. Suas palavras são circunspectas.

— Para onde estamos indo? — pergunto animada, mudando de assunto.

— Comemorar. — Christian relaxa.

Ah!

— Comemorar o quê, a casa?

— Já esqueceu? Seu cargo de editora.

— Ah, é — sorrio. Como posso ter esquecido? — Onde?

— No meu clube.

— No seu clube?

— É. Um deles.

* * *

O MILE HIGH Club fica no septuagésimo sexto andar da Columbia Tower, mais alto até que o apartamento de Christian. É supermoderno e tem a vista mais estonteante da cidade de Seattle.

— Espumante, senhorita? — Christian me entrega uma taça de champanhe gelada enquanto me sento num banquinho do bar.

— Ora, obrigada, senhor — ressalto a última palavra cheia de segundas intenções, piscando deliberadamente os cílios para ele.

Ele me encara e seu olhar escurece.

— Flertando comigo, Srta. Steele?

— Sim, Sr. Grey. O que você vai fazer a respeito?

— Tenho certeza de que posso pensar em alguma coisa — diz ele, em voz baixa. — Venha, nossa mesa está pronta.

Quando estamos nos aproximando da mesa, Christian para, segurando-me pelo cotovelo.

— Vá ao banheiro e tire a calcinha — sussurra.

Ah? Um delicioso arrepio percorre minha espinha.

— Agora — ordena, com tranquilidade.

Uau, como assim?

Ele não está sorrindo, está mortalmente sério. Cada músculo abaixo de minha cintura se contrai. Eu lhe entrego minha taça de champanhe, viro-me bruscamente e caminho até o banheiro.

Merda. O que ele vai fazer?

Os banheiros são de última geração, tudo em madeira escura, granito preto e iluminação halogênica instalada em pontos estratégicos. Na privacidade da cabine, sorrio ao tirar a calcinha. Mais uma vez fico feliz de ter escolhido o vestido azul-marinho. Achei que fosse um traje adequado para encontrar o bom Dr. Flynn — não imaginava que a noite fosse tomar um rumo inesperado.

Já estou agitada. Como ele pode me afetar tanto? Incomoda-me um pouco a facilidade com que me entrego ao seu feitiço. Sei agora que não vamos passar a noite discutindo nossos problemas e os últimos acontecimentos... mas como posso resistir a ele?

Verifico minha aparência no espelho, meus olhos estão radiantes de empolgação. Ah, que se danem os problemas.

Respiro fundo e volto para o salão. Bem, não é como se eu nunca tivesse saído sem calcinha antes. Minha deusa interior está envolta num boá de plumas rosa e diamantes, pavoneando-se em seus sapatos “venha me comer”.

Christian se levanta, educado, quando volto para a mesa, a expressão ilegível. Está perfeito como sempre, tranquilo, calmo e concentrado. Claro que sei o que está escondendo por trás disso.

— Sente-se aqui do meu lado — diz ele, e eu obedeço. — Já fiz o seu pedido. Espero que não se importe.

Ele devolve minha taça de champanhe pela metade, observando-me com atenção, e, sob seu escrutínio, meu sangue se aquece de novo. Christian repousa as mãos nas coxas. Fico tensa e entreabro as pernas ligeiramente.

O garçom chega com um prato de ostras sobre gelo picado. Ostras. A memória de nós dois numa sala de jantar privativa do Heathman preenche a minha mente. Estávamos discutindo o contrato. Deus do céu. Percorremos um longo caminho desde então.

— Acho que você gostou de ostras na última vez em que experimentou — sua voz é grave, sedutora.

— Na única vez em que experimentei. — Estou ofegante, a voz expondo-me completamente.

Seus lábios se contorcem num sorriso.

— Ah, Srta. Steele, quando você vai aprender? — diz.

Ele pega uma ostra do prato e ergue a outra mão que estava em sua coxa. Eu me encolho de expectativa, mas ele se estica para pegar uma fatia de limão.

— Aprender o quê? — pergunto.

Caramba, minha pulsação está acelerada. Seus longos e habilidosos dedos espremem delicadamente o limão sobre a concha.

— Coma — diz ele, trazendo a ostra para junto de meus lábios. Abro a boca, e ele gentilmente apoia a concha em meu lábio inferior. — Deite a cabeça um pouquinho para trás — murmura.

Obedeço, e a ostra desliza pela minha garganta. Ele não me toca, só a concha encosta em mim.

Christian come uma ostra e em seguida me dá mais uma na boca. Nós continuamos nessa rotina torturante até que todas as doze se foram. Em nenhum momento sua pele tocou a minha. Isso está me deixando louca.

— Ainda gosta de ostras? — pergunta, depois que engulo a última.

Faço que sim com a cabeça, vermelha, desejando seu toque.

— Que bom.

Contorço-me na cadeira. Por que isso é tão erótico?

Ele descansa a mão casualmente sobre a própria coxa mais uma vez, e eu me derreto. Agora. Por favor. Toque-me. Minha deusa interior está de joelhos, só de calcinha, implorando. Ele corre a mão para cima e para baixo ao longo da coxa e ergue o braço, apenas para novamente descansar a mão onde estava antes.

O garçom serve mais champanhe em nossas taças e tira os pratos. Momentos depois, está de volta com o primeiro prato: robalo — não acredito — servido com aspargos, batata sauté e um molho hollandaise.

— Um dos seus preferidos, Sr. Grey?

— Sem dúvida, Srta. Steele. Embora ache que tenha sido bacalhau fresco o que a gente comeu no Heathman.

Sua mão se move para cima e para baixo na coxa. Minha respiração se acelera, mas ainda assim ele não me toca. É tão frustrante. Tento me concentrar na conversa.

— Pelo que me lembro, estávamos numa sala de jantar privativa, discutindo contratos.

— Bons tempos — diz, sorrindo de lado. — Desta vez espero conseguir comer você. — Ele ergue a mão para pegar a faca.

Ah!

Christian dá uma garfada em seu peixe. Está fazendo isso de propósito.

— Não conte com isso — resmungo com um muxoxo, e ele me olha, divertido. — Por falar em contratos — acrescento —, o termo de confidencialidade...

— Rasgue — diz simplesmente.

Uau.

— O quê? Sério?

— Sério.

— Tem certeza de que não vou sair correndo para fazer revelações bombásticas ao Seattle Times? — provoco.

Ele ri, e é um som maravilhoso. Está com uma aparência tão jovem.

— Não. Confio em você. Vou lhe conceder o benefício da dúvida.

Ah. Sorrio timidamente para ele.

— Igualmente — ofego.

Seus olhos se iluminam.

— Fico muito feliz que você esteja de vestido — sussurra.

E pronto: o desejo corre por meu já superaquecido sangue.

— Por que não me tocou até agora, então? — ataco.

— Sentindo falta do meu toque? — pergunta, sorrindo.

Está se divertindo... o filho da mãe.

— Sim. — Estou fervendo.

— Coma — ordena ele.

— Você não vai me tocar, não é?

— Não. — Ele balança a cabeça.

O quê? Suspiro bem alto.

— Pense só em como você vai estar quando chegarmos em casa — sussurra. — Mal posso esperar para levar você embora.

— Pois vai ser sua culpa se eu entrar em combustão aqui no septuagésimo sexto andar — resmungo entre os dentes.

— Ah, Anastasia. A gente daria um jeito de apagar o fogo — diz ele, sorrindo de forma provocante para mim.

Irritada, como meu peixe, e minha deusa interior estreita os olhos numa contemplação quieta e maldosa. Também podemos jogar esse jogo. Aprendi o básico durante a nossa refeição no Heathman. Dou mais uma garfada. Está uma delícia. Fecho os olhos, saboreando o gosto. Ao abri-los, começo a seduzir Christian Grey, erguendo muito lentamente o vestido, expondo mais as coxas.

Christian para por um instante, a garfada suspensa no ar.

Toque em mim.

Após um segundo, ele volta a comer. Dou outra garfada, ignorando-o. Então, baixo a faca e corro a mão pela parte interna de minha coxa, batendo de leve na pele com as pontas dos dedos. O gesto distrai até a mim, principalmente porque estou louca para que ele me toque. Christian para mais uma vez.

— Sei o que você está fazendo. — Sua voz é baixa e rouca.

— Sei que você sabe, Sr. Grey — respondo suavemente. — Por isso é interessante.

Pego um talo de aspargo, olhando de lado para Christian, por entre os cílios, e o mergulho no molho, girando lentamente a pontinha.

— Você não vai virar o jogo, Srta. Steele.

Sorrindo, ele se aproxima e pega o aspargo da minha mão — para minha surpresa e irritação, sem me tocar. Não, isso não está certo, não está saindo de acordo com o meu plano. Droga!

— Abra a boca — ordena.

Estou perdendo nessa batalha de vontades. Olho para ele de novo, e seus olhos cinzentos estão brilhando. Separo os lábios de leve, correndo a língua ao longo do lábio inferior. Christian sorri, e seus olhos parecem ainda mais escuros.

— Mais — suspira, abrindo os próprios lábios, de forma que posso ver sua língua.

Estou gemendo por dentro, e mordo o lábio inferior antes de obedecê-lo. Ouço-o inspirar profundamente: ele não é tão imune assim.

Ótimo, finalmente está fazendo efeito.

Mantendo os olhos fixos nos dele, recebo o aspargo na boca e o chupo com carinho... bem delicadamente... na ponta. O molho é de dar água na boca. Mordo, gemendo baixinho em apreciação.

Christian fecha os olhos. Isso! Quando ele os abre novamente, suas pupilas estão dilatadas. O efeito em mim é imediato. Solto um gemido e estico o braço para tocar sua coxa. Para minha surpresa, ele usa a outra mão para me agarrar pelo pulso.

— Ah, não, nada disso, Srta. Steele — murmura baixinho.

Levando minha mão até sua boca, ele gentilmente roça as costas de meus dedos com os lábios, e eu me contorço. Finalmente! Mais, por favor.

— Nada de tocar em mim. — Ele me censura calmamente, e coloca minha mão de volta em meu joelho. É tão frustrante este contato breve e insatisfatório.

— Você não joga limpo — reclamo.

— Eu sei.

Ele pega sua taça de champanhe e propõe um brinde, eu repito suas ações.

— Parabéns pela promoção, Srta. Steele.

Nós brindamos e eu fico vermelha.

— É, um tanto inesperada — murmuro.

Ele franze a testa como se um pensamento desagradável tivesse atravessado sua mente.

— Coma — ordena. — Não vou levar você para casa até que termine o seu prato, e então vamos poder comemorar de verdade.

Sua expressão é tão sensual, tão crua, tão imponente. E eu me derreto.

— Não estou com fome. Não de comida.

Ele balança a cabeça, claramente se divertindo, mas, ao mesmo tempo, estreita os olhos para mim.

— Coma, ou eu vou ter que lhe dar umas palmadas aqui mesmo, para a diversão dos outros clientes.

Suas palavras me fazem contorcer. Ele não ousaria! Ele e sua mão sempre coçando. Fecho a boca numa linha rígida e o encaro. Pegando um aspargo pelo talo, ele o mergulha no molho.

— Coma isto — murmura, a voz baixa e sedutora.

Obedeço de bom grado.

— Você realmente não come o suficiente. Emagreceu desde que a conheci — seu tom é gentil.

Não quero pensar em meu peso, a verdade é que gosto de ser magra assim. Engulo o aspargo.

— Só quero ir para casa e fazer amor — balbucio, desconsolada.

Christian sorri.

— Eu também, e é o que a gente vai fazer. Vamos, coma.

Relutante, volto a atenção para o meu prato e começo a comer. Poxa, tirei a calcinha e tudo. Sinto-me feito uma criança a quem se negou um doce. Ele é tão provocante.... e delicioso, sensual, impertinente, e é todinho meu.

Ele me faz perguntas a respeito de Ethan. Ao que parece, Christian tem algum negócio com o pai de Kate e Ethan. Hum... que mundo pequeno. Fico aliviada por ele não mencionar o Dr. Flynn ou a casa, pois estou tendo dificuldade para me concentrar na conversa. Quero ir embora.

A expectativa carnal vai se desenrolando entre nós. Ele é tão bom nisso. Em me fazer esperar. Preparar a cena. Entre uma garfada e outra, ele pousa a mão sobre a coxa, tão perto da minha... mas mesmo assim não me toca, só para me provocar ainda mais.

Filho da mãe! Enfim termino a comida e descanso os talheres sobre o prato.

— Boa menina — murmura ele, e essas duas palavrinhas carregam tantas promessas.

Faço cara feia para ele.

— E agora? — pergunto, o desejo me comprimindo a barriga. Ah, quero esse homem.

— Agora? A gente vai embora. Imagino que você tenha certas expectativas, Srta. Steele. Que eu pretendo satisfazer com o melhor de minha capacidade.

Uau!

— O melhor... de sua ca... pa... cidade? — gaguejo.

Puta merda. Ele sorri e fica de pé.

— A gente não precisa pagar? — pergunto, sem fôlego.

Ele deita a cabeça de lado.

— Sou sócio daqui. Vão me mandar a conta. Venha, Anastasia, passe na minha frente.

Ele dá um passo para o lado, e me levanto para ir embora, consciente de que não estou usando calcinha.

Ele olha para mim de um jeito sombrio, despindo-me com os olhos, e é uma glória estar diante de sua avaliação carnal. Me faz sentir tão sensual: esse homem lindo me quer. Será que isso sempre vai me deixar tão excitada? Parando deliberadamente na frente dele, aliso o vestido sobre meu quadril.

Christian sussurra em meu ouvido:

— Mal posso esperar para levar você para casa. — Ainda assim, ele não me toca.

Na saída, ele murmura algo sobre o carro para o maître, mas não estou ouvindo, minha deusa interior está incandescente com tanta expectativa. Deus meu, ela seria capaz de deixar Seattle em chamas.

Enquanto esperamos pelo elevador, dois casais de meia-idade se juntam a nós. Quando as portas se abrem, Christian me leva pelo cotovelo até o fundo. Olho ao redor, e estamos rodeados de espelhos escuros por todos os lados. As pessoas entram no elevador, e um homem usando um terno marrom que não lhe cai nada bem cumprimenta Christian:

— Grey — acena com educação.

Christian responde com um aceno de cabeça, em silêncio.

Os dois casais ficam diante de nós, de frente para as portas do elevador. Obviamente são amigos: as mulheres conversam em voz alta, animadas e alegres após a refeição. Acho que estão todos um pouco embriagados.

Assim que as portas se fecham, Christian se abaixa rapidamente ao meu lado para amarrar o cadarço. Estranho, o cadarço dele não estava desamarrado. Discretamente ele coloca a mão em meu tornozelo, dando-me um susto, e, à medida que se levanta, sua mão sobe ligeira pela minha perna, deslizando deliciosamente por minha pele — uau — até o alto. Tenho que reprimir um suspiro de surpresa quando sua mão alcança minha bunda. Christian se move atrás de mim.

Deus do céu. Arregalo os olhos para as pessoas à nossa frente, fitando as costas de suas cabeças. Eles não têm ideia do que estamos fazendo. Passando o braço livre em volta de minha cintura, Christian me puxa para junto de si, mantendo-me firme no lugar ao explorar meu corpo com seus dedos. Minha nossa... aqui dentro? O elevador desce com suavidade, parando no quinquagésimo terceiro andar para receber mais pessoas, mas não estou prestando atenção. Estou concentrada em cada pequeno movimento que seus dedos fazem. Desenhando círculos... e então avançando, investigando, e o elevador continua sua descida.

Quando seus dedos alcançam seu objetivo, tenho que sufocar um gemido.

— Sempre tão pronta, Srta. Steele — sussurra ele ao enfiar um dedo dentro de mim.

Eu me contorço e ofego. Como ele pode fazer isso com todas essas pessoas aqui?

— Fique quieta e parada — adverte, murmurando em meu ouvido.

Estou vermelha, quente, ávida, presa num elevador com sete pessoas, seis das quais alheias ao que está acontecendo no canto. Seu dedo desliza para dentro e para fora de mim, de novo e de novo. Minha respiração... Caramba, é constrangedor. Quero lhe dizer para parar... e continuar... e parar. Eu solto o corpo contra o dele, e ele aperta o braço em torno de mim, sua ereção contra meu quadril.

Paramos de novo no quadragésimo quarto andar. Ai... por quanto tempo essa tortura vai continuar? Para dentro... para fora... para dentro... para fora... Sutilmente, eu me movo contra seu dedo persistente. Depois de todo esse tempo sem me tocar, ele escolhe logo agora! Aqui! Isso me faz sentir tão... devassa.

— Calma — ofega ele, aparentemente impassível diante das duas outras pessoas que entram.

O elevador está ficando lotado. Christian nos move tão para o fundo que ficamos espremidos nas paredes do canto. Ele me segura firme e continua sua tortura, mergulhando o rosto em meu cabelo. Tenho certeza de que pareceríamos um jovem casal apaixonado, abraçando-se num canto, caso alguém se desse o trabalho de virar para trás para ver o que estamos fazendo... E ele enfia um segundo dedo dentro de mim.

Droga! Solto um gemido, ainda bem que o grupo à nossa frente continua conversando, totalmente alheio.

Ah, Christian, o que você faz comigo... Eu apoio a cabeça contra seu peito, fechando os olhos e me rendendo aos seus incansáveis dedos.

— Não goze — sussurra. — Quero isso mais tarde.

Ele apoia a palma da mão em minha barriga, pressionando de leve para baixo enquanto continua a sua doce tortura. A sensação é fenomenal.

Finalmente o elevador chega ao primeiro andar. Com um apito agudo, as portas se abrem, e quase que instantaneamente os passageiros começam a sair. Christian desliza lentamente os dedos para fora de mim e beija a parte de trás de minha cabeça. Viro o rosto para encará-lo, e ele sorri, e então acena mais uma vez para o Sr. Terno Marrom Desajeitado, que responde com outro aceno ao deixar o elevador com sua esposa. Mal reparo neles, concentrando-me em me manter de pé e controlar minha respiração ofegante. Nossa, sinto-me privada de alguma coisa. Christian me solta, e eu tenho que me apoiar sozinha em meus próprios pés, sem a ajuda dele.

Virando-me, eu o encaro. Ele parece sereno e calmo, em sua postura descontraída de sempre. Hum... Isso não é nada justo.

— Pronta? — pergunta, seus olhos ardendo com um brilho perverso enquanto enfia o indicador e depois o dedo médio na boca e os chupa. — Que beleza, Srta. Steele — sussurra.

Quase tenho uma convulsão ali mesmo.

— Não acredito que você fez isso — murmuro, praticamente desfalecendo.

— Você ficaria surpresa com o que sou capaz de fazer, Srta. Steele — diz ele.

Estendendo a mão, ele prende uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, um leve sorriso traindo seu divertimento.

— Quero levar você para casa, mas talvez a gente só consiga chegar até o carro. — Ele sorri para mim, pegando minha mão e me conduzindo para fora do elevador.

O quê! Sexo no carro? A gente não pode simplesmente fazer aqui, no chão frio de mármore do saguão do prédio... por favor?

— Venha.

— Isso, eu quero.

— Srta. Steele! — Repreende-me com uma expressão de espanto fingido.

— Nunca fiz sexo num carro — murmuro.

Christian para e leva os mesmos dedos até a ponta do meu queixo, inclinando minha cabeça para trás e me encarando.

— Fico muito contente de ouvir isso. Posso dizer que eu ficaria muito surpreso, para não dizer irritado, se você já tivesse feito.

Enrubesço-me, piscando para ele. Claro, ele é a única pessoa com quem já fiz sexo. Franzo a testa.

— Não foi o que eu quis dizer.

— E o que você quis dizer? — Seu tom é inesperadamente áspero.

— Christian, era só uma expressão.

— A famosa expressão “nunca fiz sexo num carro”. Realmente, é tão corriqueira.

Qual é o problema dele?

— Christian, eu não estava pensando. Pelo amor de Deus, você acabou de... hum... fazer aquilo comigo num elevador cheio de gente. Minha cabeça não está funcionando direito.

Ele levanta as sobrancelhas.

— O que foi que eu fiz? — Desafia-me.

Faço cara feia para ele. Ele quer que eu diga.

— Você me deixou excitada, para cacete. Agora trate de me levar pra casa e de trepar comigo.

Ele fica boquiaberto e ri, surpreso. Nesse instante parece simplesmente um jovem despreocupado. Ah, ouvir essa risada. Adoro a risada dele, porque é tão rara.

— Você é tão romântica, Srta. Steele. — Ele pega a minha mão, nós saímos do prédio e caminhamos até o manobrista ao lado do meu Saab.

* * *

— ENTÃO VOCÊ QUER fazer sexo no carro — murmura Christian ao ligar o motor.

— Para falar a verdade, eu teria ficado feliz com o piso do saguão.

— Acredite, Ana, eu também. Mas não gosto de ser preso a esta hora da noite, e não queria comer você num banheiro. Bem, não hoje.

O quê!

— Então havia uma possibilidade?

— Ah, sim.

— Vamos voltar.

Ele se vira para olhar para mim e ri. Seu riso é contagiante; logo estamos os dois rindo — um riso maravilhoso, catártico e de jogar a cabeça para trás. Depois ele estica o braço e coloca a mão em meu joelho, acariciando-me de leve com dedos habilidosos. Paro de rir.

— Paciência, Anastasia — murmura e começa a dirigir em meio ao trânsito de Seattle.

* * *

CHRISTIAN ESTACIONA O Saab na garagem do Escala e desliga o motor. De repente, no confinamento do carro, a atmosfera entre nós muda. Com um desejo galopante, olho para ele, tentando conter meu coração acelerado. Ele está virado para mim, encostado na porta do carro, o cotovelo apoiado no volante.

Com o polegar e o indicador, ele puxa o lábio inferior. Tem uma boca tão provocante. Quero essa boca em mim. Ele está me observando atentamente, os olhos cinza-escuro. Minha garganta fica seca. Ele abre um sorriso lento e sensual.

— A gente vai transar no carro numa hora e num lugar de minha escolha. Agora, quero foder com você em todas as superfícies livres do meu apartamento.

É como se ele estivesse falando diretamente com a região abaixo da minha cintura... minha deusa interior executa quatro arabescos e um passo de balé.

— Certo.

Nossa, eu soo tão ofegante, desesperada.

Ele se inclina um milímetro para a frente. Fecho meus olhos, à espera de um beijo, pensando: finalmente. Mas nada acontece. Depois de intermináveis segundos, abro os olhos e o vejo me fitando. Não consigo imaginar o que está pensando, mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me distrai novamente.

— Se eu beijar você agora, não vamos chegar ao apartamento. Venha.

Droga! Como um homem pode ser tão frustrante? Ele salta do carro.

* * *

MAIS UMA VEZ, esperamos pelo elevador, e meu corpo vibra de expectativa. Christian segura minha mão, correndo o polegar ritmicamente ao longo de meus dedos, cada carícia suave ecoando dentro de mim. Ah, quero essas mãos em meu corpo. Ele já me torturou o suficiente.

— O que aconteceu então com a gratificação instantânea? — murmuro, enquanto esperamos.

— Não é apropriada para todas as situações, Anastasia.

— Desde quando?

— Desde hoje à noite.

— Por que você está me torturando desse jeito?

— Olho por olho, Srta. Steele.

— E como estou torturando você?

— Acho que você sabe.

Ergo o olhar para ele, e sua expressão é difícil de avaliar. Ele quer que eu dê minha resposta... é isso.

— Também gosto de adiar a gratificação — sussurro, sorrindo timidamente.

De repente, ele puxa a minha mão, e estou em seus braços. Ele me segura pela nuca, puxando de leve meu cabelo, deitando minha cabeça para trás.

— O que eu preciso fazer para que você diga “sim”? — pergunta, fervorosamente, surpreendendo-me de novo.

Eu pisco para ele; sua expressão é linda, séria e desesperada.

— Só me dê um pouco de tempo... por favor — murmuro.

Ele geme e enfim me beija com força, por um longo tempo. E então estamos dentro do elevador, e somos apenas mãos e bocas e línguas e lábios e dedos e cabelo. Um desejo poderoso dispara pelo meu sangue, turvando toda a minha razão. Ele me empurra contra a parede, apertando-me com o quadril, uma mão em meu cabelo, a outra em meu queixo, mantendo-me firme no lugar.

— Eu pertenço a você — ele sussurra. — Meu destino está em suas mãos, Ana.

Suas palavras são inebriantes, e, em meu estado superexcitado, quero arrancar suas roupas. Tiro seu paletó, e tropeçamos para fora do elevador assim que ele chega ao apartamento.

Christian me aperta contra a parede ao lado do elevador, seu paletó caído no chão, e sua mão subindo ao longo da minha perna, sem nunca tirar os lábios dos meus. Ele levanta o meu vestido.

— Primeira superfície — ofega e, de repente, levanta-me. — Passe as pernas em volta de mim.

Obedeço, e ele se vira e me coloca sobre a mesa do saguão, de forma que fica de pé entre minhas pernas. Percebo que o vaso de flores habitual não está ali. Hein? Ele enfia a mão no bolso da calça e me passa um pacotinho, abrindo o zíper.

— Você sabe o quanto me excita?

— O quê? — ofego. — Não... eu...

— Bem, você me excita — balbucia —, o tempo todo.

Ele pega o pacotinho das minhas mãos. Ah, é tudo tão rápido, mas, depois de tanta tentação, quero-o agora. Ele me encara ao colocar a camisinha, em seguida, põe as mãos em minhas coxas e abre minhas pernas. Preparando-se, ele faz uma pausa.

— Fique de olhos abertos. Quero ver você — sussurra e, segurando minhas mãos nas suas, entra em mim.

Eu tento, de verdade, mas a sensação é tão estonteante. É tudo o que eu estava esperando desde que ele começou com essa provocação. Ah, a plenitude, a sensação... Solto um gemido e arqueio as costas na mesa.

— Abra os olhos — rosna ele, apertando minhas mãos e entrando com força dentro mim, fazendo-me gritar.

Piscando, abro os olhos, e ele está me fitando de olhos arregalados. Ele sai bem devagar e então afunda em mim mais uma vez, a boca entreaberta, formando um Ah... mas não diz nada. Ver sua excitação, sua reação ao meu corpo, me incendeia por dentro, o sangue arde nas minhas veias. Seus olhos cinzentos queimam os meus. Ele acelera o ritmo, e eu me entrego, deleitando-me naquilo, vendo-o olhando para mim — sua paixão, seu amor —, enquanto desmoronamos, juntos.

Eu grito, numa explosão, e Christian me acompanha.

— Sim, Ana! — grita.

E cai em cima de mim, soltando minhas mãos e descansando a cabeça em meu peito. Minhas pernas ainda estão ao redor dele, e sob o olhar paciente e maternal das pinturas de Nossa Senhora, embalo sua cabeça contra o meu corpo, lutando para recuperar o fôlego. Ele ergue o olhar para mim:

— Ainda não terminei com você — murmura, inclinando-se para me beijar.

* * *

ESTOU NUA, DEITADA na cama de Christian, esparramada sobre o seu peito, a respiração ofegante. Deus do céu — como ele pode ter tanta energia? Christian corre os dedos para cima e para baixo ao longo de minhas costas.

— Satisfeita, Srta. Steele?

Solto um gemido de aprovação. Não tenho mais forças para falar. Ergo meus olhos embaçados para ele, deleitando-me em seu olhar cálido e apaixonado. Muito deliberadamente, inclino a cabeça para baixo, para que fique claro que vou beijar seu peito.

Ele enrijece por um instante, e eu deixo um beijo suave em seus pelos, inspirando seu cheiro único, misturado a suor e sexo. É inebriante. Ele rola para o lado, de forma que fico deitada junto a seu corpo, e olha para mim.

— Sexo é assim para todo mundo? Fico surpresa que as pessoas saiam de casa — murmuro, sentindo-me tímida, de repente.

Ele sorri.

— Não posso falar por todo mundo, mas é muito especial com você, Anastasia. — Ele se inclina e me beija.

— Isso é porque você é muito especial, Sr. Grey — concordo, sorrindo e acariciando seu rosto.

Ele pisca para mim, perdido.

— Está tarde. Hora de dormir — diz.

Ele me beija e depois se deita, puxando-me para junto de si, e ficamos de conchinha na cama.

— Você não gosta de elogios.

— Durma, Anastasia.

Hum... Mas ele é muito especial. Caramba... por que ele não percebe isso?

— Amei a casa — murmuro.

Ele fica em silêncio por um minuto, mas sinto seu sorriso.

— Amo você. Agora durma.

Ele enfia o rosto em meu cabelo, e eu caio no sono, sentindo-me segura em seus braços, sonhando com o pôr do sol e portas de varanda e escadas largas... e um pequeno menino de cabelos cor de cobre correndo por um prado, rindo e gargalhando enquanto eu corro atrás dele.

z

— Tenho que ir, baby. — Christian me acorda com um beijo logo abaixo da minha orelha.

Abro os olhos, já é de manhã. Viro-me para encará-lo, mas ele está de pé, de banho tomado e arrumado, maravilhoso, inclinando-se sobre mim.

— Que horas são?

Ah, não... Não quero chegar atrasada.

— Não precisa entrar em pânico. Tenho uma reunião no café da manhã. — Ele encosta o nariz no meu.

— Que cheiro bom — sussurro, espreguiçando-me sob ele, os membros rígidos e cansados depois de todas as nossas proezas de ontem. Passo os braços ao redor de seu pescoço. — Não vá.

Ele deita a cabeça de lado e levanta a sobrancelha.

— Srta. Steele, a senhorita está tentando afastar um homem de um dia de trabalho honesto?

Faço que sim com a cabeça, sonolenta, e ele sorri seu novo sorriso tímido.

— Por mais tentadora que você seja, tenho que ir. — Ele me beija e fica de pé.

Está usando um terno azul-marinho, camisa branca e uma gravata azul-marinho, e cada centímetro de seu corpo transmite um ar de CEO... um CEO muito sensual.

— Até mais, baby — murmura ele e vai embora.

Olhando para o relógio, noto que já são sete horas. Não devo ter ouvido o alarme tocar. Bem, hora de levantar.

* * *

NO CHUVEIRO, TENHO uma inspiração. Pensei em outro presente de aniversário para Christian. É tão difícil comprar algo para um homem que já tem tudo. Já lhe entreguei meu presente principal, e ainda tenho o outro que comprei na loja de turismo, mas este na verdade vai ser para mim.

Desligo o chuveiro e dou um abraço em mim mesma, de tanta empolgação. Só preciso fazer uns preparativos.

No closet, coloco um vestido justo vermelho-escuro com um decote quadrado bem avantajado. Pronto, isso deve servir para ir pro trabalho.

Agora, o presente de Christian. Vasculho as gavetas, à procura de suas gravatas. Na gaveta de baixo, encontro a calça jeans desbotada e rasgada, a que ele usa no quarto de jogos — ah, ele fica uma delícia nessa calça. Passo a mão de leve sobre ela. Nossa, é tão macia.

Embaixo dela, encontro uma caixa de papelão grande e preta que desperta o meu interesse imediatamente. O que tem aqui dentro? Olho para ela, sentindo-me invadindo seu território de novo. Ergo a caixa e sacudo. É pesada, como se estivesse cheia de papéis ou manuscritos. Não posso resistir, abro a tampa e fecho-a novamente num susto. Puta merda — fotos do Quarto Vermelho da Dor. O choque me faz cair para trás sentada, enquanto tento limpar a imagem de meu cérebro.

Por que fui abrir a caixa? Por que ele guardou isso?

Tremo. Meu inconsciente faz uma cara feia para mim: isto é anterior a você. Esqueça.

Ele tem razão. Quando me levanto, percebo que as gravatas estão penduradas no final do cabideiro. Pego minha favorita e saio depressa.

Aquelas fotos são A. A. — Antes de Ana. Meu inconsciente faz que sim com a cabeça, concordando, mas sigo para a sala de estar para tomar café da manhã com o coração pesado. A Sra. Jones sorri calorosamente para mim e, em seguida, franze a testa.

— Está tudo bem, Ana? — pergunta gentilmente.

— Sim — murmuro, distraída. — Você tem a chave para o... hum... o quarto de jogos?

Ela faz uma pausa momentânea, surpresa.

— Tenho, claro. — Ela retira um pequeno molho de chaves do cinto. — O que você gostaria de comer no café da manhã, querida? — pergunta ao me entregar as chaves.

— Só um pouco de granola. Não vou demorar.

Eu me sinto mais ambivalente a respeito do presente, agora, mas só porque vi aquelas fotografias. Nada mudou!, meu inconsciente grita para mim de novo, encarando-me por sobre os óculos de meia-lua. Aquela foto que você viu por cima era bem sensual, minha deusa interior resolve se intrometer, e, mentalmente, faço cara feia para ela. É, era mesmo... sensual demais para mim.

O que mais ele escondeu por aí? Depressa, vasculho a cômoda de museu, pego o que preciso e tranco a porta atrás de mim. Não gostaria que José descobrisse este lugar!

Entrego as chaves para a Sra. Jones e me sento para devorar meu café da manhã, estranhando a ausência de Christian. As imagens fotográficas dançam, indesejáveis, em minha mente. Imagino quem era. Leila, talvez?

* * *

NO CARRO, DIRIGINDO até o trabalho, pergunto-me se devo ou não dizer a Christian que encontrei as fotografias. Não, grita meu inconsciente, fazendo a careta de Edvard Munch. Decido que provavelmente ele está certo.

* * *

ASSIM QUE ME sento em minha mesa, meu BlackBerry vibra.

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De: Christian Grey

Assunto: Superfícies

Data: 17 de junho de 2011 08:59

Para: Anastasia Steele


Calculo que ainda faltem umas trinta superfícies pela casa. Estou ansioso por cada uma delas. E depois, ainda temos os pisos, as paredes... e não vamos nos esquecer da varanda.


Depois disso, o meu escritório...


Saudade.


Bj,


Christian Grey


Um CEO priápico, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Seu e-mail me faz sorrir, e todas as minhas ressalvas anteriores se evaporam. É a mim que ele quer agora, e as memórias da noite passada me invadem a mente... o elevador, o saguão, a cama. É, priápico mesmo. Pergunto-me vagamente qual seria o equivalente feminino.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Romance?

Data: 17 de junho de 2011 09:03

Para: Christian Grey


Sr. Grey,


Você só pensa naquilo.


Senti sua falta no café da manhã.


Mas a Sra. Jones foi muito obsequiosa.


Bj.

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De: Christian Grey

Assunto: Intrigado

Data: 17 de junho de 2011 09:07

Para: Anastasia Steele


E a Sra. Jones foi obsequiosa a respeito de quê?


O que está aprontando, Srta. Steele?


Christian Grey


Um CEO curioso, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Como ele sabe?

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De: Anastasia Steele

Assunto: Confidencial

Data: 17 de junho de 2011 09:10

Para: Christian Grey


Aguarde e confie — é surpresa.


Preciso trabalhar... deixe-me em paz.


Amo você.


Bj.

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De: Christian Grey

Assunto: Frustrado

Data: 17 de junho de 2011 09:12

Para: Anastasia Steele


Odeio quando você esconde as coisas de mim.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Fico olhando para a pequena tela do BlackBerry. A veemência implícita em seu e-mail me pega de surpresa. Por que ele se sente assim? Não é como se eu estivesse escondendo fotos eróticas dos meus ex-namorados.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Para a sua satisfação

Data: 17 de junho de 2011 09:14

Para: Christian Grey


É para o seu aniversário.


Mais uma surpresa.


Não seja tão petulante.


Bj.


Ele não responde de imediato, e eu sou chamada para participar de uma reunião, então não posso me demorar com o assunto.

* * *

QUANDO VERIFICO MEU BlackBerry de novo, percebo, com horror, que já são quatro da tarde. Para onde foi o meu dia? Nenhuma mensagem de Christian ainda. Decido mandar outro e-mail.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Olá

Data: 17 de junho de 2011 16:03

Para: Christian Grey


Você parou de falar comigo?


Não se esqueça de que vou sair para tomar uma bebida com José e de que ele vai passar a noite com a gente.


Por favor, mude de ideia e venha se encontrar conosco.


Bj.


Ele não responde, e eu sinto um arrepio de desconforto. Espero que esteja bem. Ligo para o seu celular, e a chamada cai na caixa postal. A mensagem diz simplesmente “Grey, deixe seu recado”, em seu tom mais contido.

— Oi... hum... sou eu. Ana. Você está bem? Me ligue — gaguejo.

Nunca tive que deixar um recado para ele antes. Fico vermelha ao desligar. Claro que ele vai saber que é você, sua idiota! Meu inconsciente revira os olhos para mim. Sinto-me tentada a ligar para sua assistente, Andrea, mas concluo que isso seria ir longe demais. Relutante, continuo meu trabalho.

* * *

MEU TELEFONE TOCA inesperadamente, e meu coração pula. Christian! Mas não, é Kate, minha melhor amiga, finalmente!

— Ana — grita ela do outro lado da linha.

— Kate! Você voltou? Que saudade.

— Eu também. Tenho tanta coisa para contar. Estamos no aeroporto... eu e o meu homem. — Ela ri de um jeito nada típico de Kate.

— Legal. Também tenho um monte de coisa para contar.

— Vejo você no apartamento?

— Vou dar uma saída com José. Venha com a gente.

— José está na cidade? Claro! Me mande o endereço por mensagem.

— Tá — respondo.

— Você está bem, Ana?

— Estou, tudo ótimo.

— Ainda com o Christian?

— Ainda.

— Ótimo. Até mais, baby!

Ah, não, ela também. A influência de Elliot não tem limites.

— É, até mais, baby — sorrio e ela desliga.

Uau. Kate está de volta. Como vou contar a ela tudo o que aconteceu? Eu deveria fazer uma lista para não esquecer de nada.

* * *

UMA HORA DEPOIS meu telefone do escritório toca — Christian? Não, é Claire.

— Você deveria ver o cara que está aqui embaixo perguntando por você. Onde você conhece todos esses caras maravilhosos, Ana?

José deve ter chegado. Olho para o relógio: cinco para as seis, e uma pequena empolgação pulsa em mim. Faz séculos que não o vejo.

— Ana, uau! Você está linda. Tão adulta. — Ele sorri para mim.

Só porque estou usando um vestido chique... caramba!

Ele me abraça com força.

— E mais alta também — diz, espantado.

— São só os sapatos, José. Você também não está nada mal.

Ele está vestindo calça jeans, uma camiseta preta e uma camisa de flanela xadrez branca e preta.

— Vou pegar as minhas coisas, e a gente já vai.

— Legal. Vou esperar aqui.

* * *

PEGO DUAS GARRAFAS de Rolling Rocks no bar lotado e caminho até a mesa em que José está sentado.

— Você achou a casa de Christian direitinho?

— Achei. Não cheguei a entrar. Só coloquei as fotos no elevador de serviço. Um cara chamado Taylor levou lá para cima. Parece um lugar e tanto.

— E é. Espere só até ver por dentro.

— Mal posso esperar. Salud, Ana. Seattle fez bem a você.

Fico vermelha, e brindamos com nossas garrafas. É Christian que me faz bem.

Salud. Conte-me como foi a exposição.

Ele sorri e começa a falar. Vendeu quase todas as fotos, exceto três, e o dinheiro deu para pagar os empréstimos da universidade e ainda sobrou algum.

— E fui contratado para fazer algumas paisagens para o Comitê de Turismo de Portland. Muito legal, não é? — conclui, orgulhoso.

— José, que maravilha. Mas isso não vai atrapalhar os seus estudos, não é? — franzo a testa para ele.

— Que nada. Agora que vocês foram embora, e mais três dos caras com quem eu costumava sair também se mudaram, tenho mais tempo.

— Nenhuma gatinha para manter você ocupado? Na última vez em que o vi, você estava rodeado por meia dúzia de mulheres concentradas em cada palavra que você dizia — levanto uma sobrancelha para ele.

— Não, Ana. Nenhuma delas é mulher o bastante para mim. — Ele é todo bravata.

— Ah, claro. José Rodriguez, destruidor de corações. — Dou uma risadinha.

— Ei, eu tenho meus momentos, Steele. — Ele parece vagamente magoado, e eu me sinto culpada.

— Claro que tem — asseguro.

— Então, como vai o Grey? — pergunta ele, seu tom de voz mudando, tornando-se mais frio.

— Está bem. Estamos bem — murmuro.

— E o negócio está sério?

— Está. Sério.

— Ele não é velho demais para você?

— Ah, José. Você sabe o que minha mãe diz: já nasci velha.

José sorri ironicamente.

— Como vai a sua mãe? — e assim, estamos fora da zona de perigo.

— Ana!

Viro-me e vejo Kate com Ethan. Ela está linda: o cabelo louro-avermelhado descolorido pelo sol, um bronzeado dourado, um sorriso radiante e o corpo bem definido por sob a camiseta branca e a calça jeans branca e justa. Todos os olhos estão em Kate. Eu me levanto e lhe dou um abraço. Nossa, como senti saudade dela!

Ela me afasta e me mantém a distância de um braço, examinando-me de perto. Fico vermelha diante desse olhar intenso.

— Você emagreceu. Muito. E está diferente. Adulta. O que aconteceu? — diz, toda maternal. — Gostei desse vestido. Ficou bem em você.

— Muita coisa aconteceu desde que você viajou. Eu conto depois, quando estivermos sozinhas — ainda não estou pronta para a Inquisição Katherine Kavanagh.

Ela me olha desconfiada.

— Você está bem? — pergunta gentilmente.

— Estou — sorrio, mas estaria mais feliz se soubesse onde Christian está.

— Legal.

— Oi, Ethan. — Sorrio para ele, e ele me dá um abraço rápido.

— Oi, Ana — sussurra ele em meu ouvido.

José franze a testa para ele.

— Como foi o almoço com Mia? — pergunto a Ethan.

— Interessante — diz ele, misteriosamente.

Ah?

— Ethan, você conhece José?

— Já nos vimos uma vez — resmunga José, avaliando Ethan enquanto eles apertam as mãos.

— Sim, na casa de Kate, em Vancouver — responde Ethan, sorrindo gentilmente para José. — Certo, quem aceita uma bebida?

* * *

CAMINHO ATÉ O banheiro e mando uma mensagem de texto para Christian, avisando onde estamos; talvez ele se junte a nós. Meu celular não indica nenhuma chamada não atendida nem e-mail novos. Não é a cara dele.

— O que foi, Ana? — pergunta José assim que volto para a mesa.

— Não consigo falar com Christian. Espero que ele esteja bem.

— Vai estar tudo bem. Mais uma cerveja?

— Claro.

Kate se inclina sobre a mesa.

— Ethan me contou que uma ex-namorada maluca invadiu o apartamento com uma arma?

— É... foi. — Dou de ombros num pedido de desculpas.

Ai, a gente tem que ter essa conversa agora?

— Ana, que diabo está acontecendo? — Kate olha abruptamente para o telefone. — Oi, baby — diz ela, atendendo uma ligação. Baby! Ela franze a testa e me olha. — Claro — diz e se vira para mim: — É Elliot... ele quer falar com você.

— Ana. — A voz de Elliot é contida e baixa, e sinto meu couro cabeludo pinicar ameaçadoramente.

— O que houve?

— É o Christian. Ele não voltou de Portland.

— O quê? Como assim?

— O helicóptero dele desapareceu.

Charlie Tango? — sussurro, e todo o ar se esvai de meu corpo. — Não!

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