CAPÍTULO DEZESSETE

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Huuum.

Christian está aconchegando o rosto em meu pescoço, enquanto acordo devagar.

— Bom dia, baby — sussurra, e dá uma mordida de leve em minha orelha.

Meus olhos se abrem, piscando, e eu os fecho depressa. A luz clara da manhã inunda o quarto, e sua mão está acariciando meu peito devagar, brincando suavemente comigo. Descendo a mão, ele pega na minha cintura e se deita atrás de mim, segurando-me bem junto de si.

Eu me espreguiço ao lado dele, deliciando-me com seu toque, e sinto sua ereção atrás de mim. Minha nossa. Um despertador Christian Grey.

— Você parece feliz em me ver — balbucio sonolenta, contorcendo-me sugestivamente contra seu corpo. Sinto seu sorriso se abrir junto ao meu queixo.

— Estou muito feliz em ver você — diz ele, deslizando a mão ao longo de minha barriga até o meu sexo, que ele explora com os dedos. — Com certeza há algumas vantagens em acordar a seu lado, Srta. Steele — brinca ele, e me puxa de lado, de modo que fico deitada de barriga para cima. — Dormiu bem? — pergunta, seus dedos prosseguindo em sua tortura sensual. E está sorrindo para mim, seu sorriso perfeito de modelo, com dentes impecáveis, fatal. É de tirar o fôlego.

Meu quadril começa a balançar ao ritmo da dança que seus dedos iniciaram. Ele me beija castamente nos lábios e, em seguida, move-se ao longo de meu pescoço, beliscando lentamente, beijando e chupando à medida que desce. Solto um gemido. Ele está sendo delicado, seu toque é leve e divino. Seus dedos intrépidos se movem para baixo, e, bem devagar, ele desliza um dedo para dentro de mim, sussurrando de mansinho, com admiração.

— Ah, Ana — murmura com reverência contra meu pescoço. — Você está sempre pronta.

Ele move o dedo no mesmo ritmo com que seus beijos e sua boca percorrem calmamente minha clavícula e seguem até o meu peito. Com os dentes e os lábios, primeiro ele tortura um dos mamilos, depois passa para o outro, com muita ternura, e eles se enrijecem e crescem em resposta.

Solto um gemido.

— Hum — rosna ele baixinho e levanta a cabeça para me lançar um olhar ardente e cinzento. — Quero você agora.

Ele se estica até a mesa de cabeceira. Então fica em cima de mim, apoiando o peso nos cotovelos, e esfrega o nariz no meu enquanto abre minhas pernas com as suas. Ajoelha-se e rasga a embalagem.

— Mal posso esperar até sábado — diz, os olhos brilhando de deleite obsceno.

— A festa? — ofego.

— Não. Não vou mais ter que usar essa porra.

— É um termo muito apropriado — dou uma risadinha.

Ele sorri para mim ao colocar o preservativo.

— Você está achando graça, Srta. Steele?

— Não. — Tento ficar séria e falho miseravelmente.

— Agora não é hora de rir. — Ele balança a cabeça numa reprimenda, e sua voz é grave e soturna, mas sua expressão, Deus do céu, é glacial e vulcânica ao mesmo tempo.

O ar fica preso em minha garganta.

— Achei que você gostasse de me ver rir — sussurro, rouca, mirando as profundezas sombrias de seus tempestuosos olhos.

— Agora não. Existe uma hora e um lugar certos para rir. E não é agora. Preciso fazer você parar, e acho que sei como — diz ele, ameaçadoramente, e seu corpo cobre o meu.

* * *

— O QUE VOCÊ GOSTARIA para o café da manhã, Ana?

— Vou só comer um pouco de granola. Obrigada, Sra. Jones.

Eu coro ao me sentar no banco ao lado de Christian. A última vez em que vi a muito correta e decorosa Sra. Jones, eu estava sendo carregada sem a menor cerimônia para o quarto no ombro dele.

— Você está linda — diz Christian, baixinho.

Estou usando minha saia-lápis cinza e a blusa de seda cinza de novo.

— Você também. — Sorrio timidamente para ele.

Ele está vestindo uma camisa azul-clara e calça jeans, e, como sempre, parece descontraído, novo em folha e perfeito.

— A gente precisa comprar mais algumas saias para você — diz, com naturalidade. — Aliás, adoraria levar você para fazer compras.

Hum... compras. Odeio fazer compras. Mas, com Christian, talvez não seja tão ruim. Decido que minha melhor defesa é mudar de assunto.

— Estou me perguntando o que vai acontecer no trabalho hoje.

— Eles vão ter que arrumar alguém para substituir aquele babaca. — Christian faz uma careta, franzindo as sobrancelhas como se tivesse acabado de pisar em alguma coisa muito desagradável.

— Espero que escolham uma mulher como minha nova chefe.

— Por quê?

— Bem, as chances de você se opor a nós viajarmos juntas são bem menores — provoco-o.

Seus lábios se contorcem, e ele começa a comer sua omelete.

— Qual é a graça? — pergunto.

— Você. Coma a granola toda, já que seu café da manhã vai ser só isso.

Autoritário como sempre. Contraio os lábios para ele, mas como tudo.

* * *

— BOM, A CHAVE ENTRA aqui. — Christian aponta a ignição logo abaixo da caixa de câmbio.

— Lugar estranho — murmuro.

No entanto, estou apaixonada por cada pequeno detalhe, praticamente pulando feito uma criança no confortável assento de couro. Christian finalmente vai me deixar dirigir meu carro.

Ele me encara friamente, embora seus olhos estejam vivos de humor.

— Você está muito empolgada com isso, não está? — murmura, divertido.

Concordo com a cabeça, sorrindo como uma boba.

— Sinta só esse cheiro de carro novo. Isso aqui é ainda melhor que o Modelo Especial Submissa... quero dizer, o A3 — acrescento rapidamente, corando.

Christian prende o riso.

— Modelo Especial Submissa, é? Você tem uma habilidade e tanto com as palavras, Srta. Steele. — E se recosta com um olhar falso de desaprovação, mas ele não me engana. Sei que está se divertindo. — Bem, vamos lá. — Ele aponta em direção à entrada da garagem.

Bato palmas, giro a chave, e o motor liga com um ronco. Colocando a marcha em modo “drive”, solto devagar o pé do freio, e o Saab se move lentamente para a frente. Taylor liga o Audi atrás de nós, e, uma vez que a porta da garagem se abre, segue-nos para fora do Escala.

— A gente pode ligar o rádio? — pergunto quando paramos no primeiro sinal.

— Quero que você se concentre — diz ele bruscamente.

— Christian, por favor, posso dirigir com música — reviro os olhos.

Ele faz cara feia por um instante e, em seguida, liga o rádio.

— Além de CD, este rádio toca MP3 e é compatível com o seu iPod — murmura.

Os acordes suaves de The Police invadem o carro, altos demais. Christian baixa o volume. Hum... “King of Pain”.

— Seu hino — brinco com ele, e me arrependo no mesmo instante ao ver seus lábios se contraírem numa linha rígida. Ah, não. — Tenho esse disco em algum lugar... — continuo às pressas, tentando distraí-lo. Hum... em algum lugar do apartamento no qual passei tão pouco tempo.

Como será que Ethan está? Eu deveria ligar para ele hoje. Não vou ter muito que fazer no trabalho.

A ansiedade se concentra em meu estômago. O que vai acontecer quando eu chegar ao escritório? Será que as pessoas vão saber o que houve com Jack? Será que vão saber do envolvimento de Christian? Será que ainda tenho um emprego? Deus do céu, e se eu não tiver mais emprego, o que vou fazer?

Você vai se casar com o multimilionário, Ana! Meu inconsciente me lança um olhar esperto. Eu o ignoro. Que ganancioso!

— Ei, Dona Espertinha. Volte aqui. — Christian me traz de volta para o presente assim que paro diante do sinal seguinte. — Você está muito distraída. Trate de se concentrar, Ana — repreende-me. — É quando a gente se distrai que os acidentes acontecem.

Ai, pelo amor de Deus. E de repente sou arremessada de volta à época em que Ray estava me ensinando a dirigir. Não preciso de outro pai. Um marido talvez, um marido pervertido. Hum.

— Estava só pensando no trabalho.

— Baby, vai dar tudo certo. Confie em mim. — Christian sorri.

— Por favor, não interfira. Quero fazer isso sozinha. Christian, por favor. É importante para mim — digo o mais suavemente que posso.

Não quero discutir. Sua boca se fecha de novo numa linha teimosa, e acho que ele vai me repreender mais uma vez.

Ah, não.

— Não vamos discutir, Christian. Nós tivemos uma manhã tão maravilhosa. E a noite de ontem foi... — fico sem palavras, a noite de ontem foi... — ...divina.

Ele não responde. Olho para ele, e seus olhos estão fechados.

— Foi. Divina — diz, baixinho. — Eu estava falando sério.

— Sobre o quê?

— Não quero deixar você ir embora.

— Não quero ir embora.

Ele sorri, e é um sorriso novo e tímido que dissolve tudo que tem pela frente. Nossa, é um sorriso poderoso.

— Que bom — diz, apenas, e relaxa visivelmente.

Entro com o carro no estacionamento a meia quadra de distância da editora.

— Eu acompanho você até o trabalho. Taylor vai me levar lá da porta — oferece Christian.

Salto do carro desajeitada, os movimentos restringidos por minha saia-lápis, enquanto Christian desce com elegância, à vontade em seu corpo ou pelo menos dando a impressão de estar à vontade em seu corpo. Hum... alguém que não suporta ser tocado não pode se sentir tão à vontade. Franzo a testa diante desse pensamento errante.

— Não se esqueça de que temos hora marcada com Flynn às sete da noite — diz ele, estendendo a mão para mim.

Aperto o botão para trancar o carro e pego sua mão.

— Não vou me esquecer. Vou preparar uma lista de perguntas para ele.

— Perguntas? Sobre mim?

Faço que sim com a cabeça.

— Posso responder a quaisquer perguntas que você tiver a meu respeito. — Christian me encara, afrontando-me.

Sorrio para ele.

— Sim, mas quero a opinião do charlatão imparcial e caro.

Ele franze o cenho e, de repente, puxa-me num abraço, segurando minhas duas mãos com firmeza às minhas costas.

— Será que isso é uma boa ideia? — diz, a voz baixa e rouca.

Eu me inclino para trás e vejo a ansiedade aparente em seus olhos. É de partir o coração.

— Se você não quiser, eu não faço perguntas. — Fico olhando para ele, piscando, querendo afastar a preocupação de seu rosto com uma carícia. Puxo uma das mãos, e ele a solta. Toco seu rosto com carinho. A pele recém-barbeada está macia. — Qual é a sua preocupação? — pergunto, a voz suave e tranquilizadora.

— Que você vá embora.

— Christian, quantas vezes eu tenho que dizer? Não vou a lugar algum. Você já me contou o pior. Não vou deixar você.

— Então, por que você ainda não me deu uma resposta?

— Uma resposta? — murmuro, cinicamente.

— Você sabe do que estou falando, Ana.

Suspiro.

— Quero ter certeza de que sou suficiente para você, Christian. É só isso.

— E você não vai aceitar a minha palavra quanto a isso? — diz ele, exasperado, soltando-me.

— Christian, tudo tem acontecido muito rápido. E você mesmo já admitiu ser fodido em cinquenta tons. Não posso dar a você o que você precisa — resmungo. — Não é o que eu sou. Só que isso me faz sentir inadequada, principalmente depois de ver você com Leila. Quem me garante que um dia você não vai encontrar uma garota que gosta das coisas que você gosta? E quem me garante que você não vai... você sabe... se apaixonar por ela? Alguém muito mais adequado às suas necessidades. — O pensamento de Christian com outra pessoa me deixa enjoada. Fito meus dedos entrelaçados.

— Já conheci muitas mulheres que gostam de fazer o que eu faço. Nenhuma delas me atraiu do jeito que você me atrai. Jamais estabeleci uma relação emocional com nenhuma delas. É só você, Ana, desde sempre.

— Porque você nunca deu uma chance a elas. Você passou tempo demais trancafiado na sua fortaleza, Christian. Olhe, vamos discutir isso mais tarde. Tenho que ir trabalhar. Talvez o Dr. Flynn possa nos dar alguma luz.

Isso tudo é pesado demais para uma discussão num estacionamento às oito e cinquenta da manhã, e, por uma vez, Christian parece concordar. Ele faz que sim com a cabeça, mas seus olhos estão cautelosos.

— Venha — ordena, estendendo a mão.

* * *

QUANDO CHEGO À minha mesa, encontro um bilhete me pedindo para ir direto para a sala de Elizabeth. Meu coração pula até a boca. Pronto, vai ser agora. Vou ser demitida.

— Anastasia. — Elizabeth sorri gentilmente, indicando-me a cadeira diante de sua mesa.

Sento-me e a encaro com expectativa, torcendo para que ela não possa ouvir meu coração pulsando. Ela alisa o cabelo preto e grosso e me fita com seus compenetrados olhos azul-claros.

— Tenho uma notícia um pouco triste.

Triste! Ah, não.

— Chamei você aqui para avisar que Jack deixou a empresa de forma bastante inesperada.

Fico vermelha. Para mim, isso não tem nada de triste. Será que devo dizer que eu já sabia?

— A saída um tanto apressada dele deixou uma vaga na empresa, e nós gostaríamos que você a ocupasse por enquanto, até acharmos um substituto.

O quê? Sinto o sangue fugir da minha cabeça. Eu?

— Mas eu só estou aqui há uma semana, praticamente.

— Sim, Anastasia, eu entendo, mas Jack sempre foi um defensor das suas habilidades. Ele esperava muito de você.

Prendo a respiração. Sei muito bem o que ele esperava de mim, e era me virar de bruços, isso sim.

— Aqui está a descrição do cargo. Dê uma olhada com calma, e a gente pode discutir isso hoje mais tarde.

— Mas...

— Por favor, eu sei que isso é muito repentino, mas você já fez contato com os principais autores de Jack. Os resumos que você preparou não passaram despercebidos pelos outros editores. Você é muito perspicaz, Anastasia. Todos nós achamos que você é capaz de fazer isso.

— Certo — que loucura.

— Olhe, pense bem. Enquanto isso, você pode ficar na sala de Jack.

Ela se levanta, obviamente me dispensando, e estende a mão. Eu a aperto, absolutamente aturdida.

— Fico feliz que ele tenha ido embora — sussurra, e um olhar assombrado atravessa seu rosto.

Puta merda. O que ele fez com ela?

De volta à minha mesa, pego meu BlackBerry e ligo para Christian. Ele atende no segundo toque.

— Anastasia. Tudo bem? — pergunta, preocupado.

— Eles acabaram de me dar o cargo de Jack. Bem, temporariamente — falo bem rápido.

— Está brincando? — sussurra ele, chocado.

— Você tem alguma coisa a ver com isso? — minha voz soa mais ríspida do que eu gostaria.

— Não, não. Não mesmo. Quero dizer, com todo o respeito, Anastasia, mas você só está aí há uma semana, ou algo assim. Não me leve a mal.

— Eu sei. — Franzo a testa. — Aparentemente, Jack me avaliou muito bem.

— Ah, foi, é? — O tom de Christian é gélido, e ele suspira. — Bem, baby, se eles acham que você dá conta, tenho certeza de que você dá conta. Parabéns. Talvez a gente devesse comemorar depois da consulta com Flynn.

— Hum. Tem certeza de que você não tem nada a ver com isso?

Ele fica em silêncio por um instante, e então diz numa voz ameaçadora e grave:

— Você está duvidando de mim? Isso me irrita tanto.

Engulo em seco. Nossa, ele tem o pavio curto.

— Desculpe — suspiro, sentindo-me repreendida.

— Se você precisar de alguma coisa, me avise. Estou aqui. E, Anastasia?

— O quê?

— Use o BlackBerry — acrescenta ele, laconicamente.

— Está bem, Christian.

Mas, em vez de desligar, ele solta um suspiro profundo.

— Estou falando sério. Se você precisar, estou aqui. — Suas palavras soam muito mais suaves, conciliadoras. Ele é tão inconstante... suas mudanças de humor são como um metrônomo em andamento presto.

— Tudo bem — murmuro. — É melhor eu desligar. Tenho que mudar de sala.

— Para o que quer que você precise. Estou falando sério — murmura ele.

— Eu sei. Obrigada, Christian. Amo você.

Sinto seu sorriso do outro lado da linha. Eu o reconquistei com essas palavras.

— Também amo você, baby.

Ai, será que algum dia vou me cansar de ouvi-lo dizer essas palavras?

— Falo com você mais tarde.

— Até mais, baby.

Desligo o telefone e olho para a sala de Jack. Minha sala. Deus do céu. Anastasia Steele, Editora. Quem diria? Eu devia pedir um aumento.

O que Jack acharia se ficasse sabendo? Tremo só de pensar, e me pergunto vagamente como ele está passando a manhã; na certa, bem longe de Nova York, diferentemente do que imaginava. Caminho até minha sala nova, sento-me à mesa e começo a ler a descrição do cargo.

Ao meio-dia e meia, Elizabeth me liga.

— Ana, precisamos que você participe de uma reunião à uma hora na sala de reuniões. Jerry Roach e Kay Bestie vão estar lá, você sabe, o presidente da empresa e o vice-presidente? Todos os editores vão participar.

Merda!

— Preciso preparar alguma coisa?

— Não, é só uma reunião informal que a gente faz uma vez por mês. Vai ter almoço.

— Estarei lá — desligo.

Puta merda!

Dou uma olhada na lista de autores de Jack. Certo, isso está tranquilo. Tenho os cinco manuscritos que ele estava defendendo, e mais dois, que realmente deveriam ser considerados para publicação. Respiro fundo. Nem acredito que já está na hora do almoço. O dia voou, e eu estou amando isso. Foi tanta coisa para assimilar esta manhã. Meu calendário apita, anunciando um compromisso.

Ah, não... Mia! Em toda a minha empolgação, esqueci do nosso almoço. Pego o BlackBerry e tento freneticamente encontrar o número dela.

Meu telefone toca.

— É ele, na recepção — diz Claire, com a voz abafada.

— Quem? — Por um segundo, acho que pode ser Christian.

— O deus louro.

— Ethan?

Hum, o que ele quer? Imediatamente, sinto-me culpada por não ter ligado para ele.

Ethan sorri para mim assim que apareço na recepção. Está usando uma camisa xadrez azul, uma camiseta branca por baixo e calça jeans.

— Uau! Você está uma gata, Steele — diz ele, balançando a cabeça em aprovação e me dando um abraço rápido.

— Está tudo bem? — pergunto.

Ele franze a testa.

— Tudo ótimo, Ana. Só queria ver você. Faz um tempo que não tenho notícias suas e queria ver como o Sr. Magnata anda tratando-a.

Fico vermelha e não consigo conter um sorriso.

— Ah, então tá! — exclama Ethan, erguendo as mãos para o alto. — Pelo seu sorrisinho, dá para ver que está tudo bem. Não quero detalhes. Resolvi passar aqui só para ver se existe alguma chance de você almoçar comigo. Vou me inscrever na Universidade de Seattle no curso de psicologia, em setembro. No mestrado.

— Ah, Ethan. Aconteceu tanta coisa. Tenho uma tonelada de novidades para contar, mas agora não posso. Tenho uma reunião — e subitamente tenho uma ideia. — Será que você não faria um favor muito, muito, muito grande pra mim? — uno as mãos em súplica.

— Claro — diz ele, perplexo com o meu pedido.

— Eu tinha marcado de almoçar com a irmã de Christian e Elliot hoje, mas não estou conseguindo falar com ela, e apareceu essa reunião da qual eu preciso participar. Será que você pode levá-la para almoçar? Por favor?

— Ah, Ana! Não estou aqui para ficar de babá de criança mimada.

— Por favor, Ethan. — Lanço-lhe meu olhar mais pidão e pisco meus longos cílios para ele.

Ele revira os olhos, e sei que deu certo.

— Você vai cozinhar para mim? — resmunga ele.

— Claro, qualquer coisa, quando você quiser.

— E então, cadê ela?

— Deve chegar a qualquer momento. — E, como se eu tivesse dado uma deixa, ouço a voz de Mia.

— Ana! — chama ela da entrada.

Nós dois nos viramos, e lá está ela: toda curvilínea e alta, com o cabelinho preto num corte chanel elegante, usando um vestido verde curto e sapatos de salto alto da mesma cor, com uma tirinha em torno dos tornozelos finos. Está deslumbrante.

— É essa a criança mimada? — sussurra ele, boquiaberto.

— Ela mesma. A que precisa de babá — sussurro de volta. — Oi, Mia — dou-lhe um abraço rápido enquanto ela fita Ethan descaradamente. — Mia, este é Ethan, irmão de Kate.

Ele a cumprimenta com a cabeça, as sobrancelhas erguidas de surpresa. Mia pisca várias vezes e lhe oferece a mão.

— É um prazer conhecê-la — murmura Ethan com elegância, e Mia pisca de novo, em silêncio, como raramente acontece com ela. E cora.

Meu Deus. Acho que nunca a vi corar.

— Não vou poder almoçar hoje — digo, sem muita convicção. — Ethan concordou em ir com você, se você topar? Será que a gente pode marcar outro dia?

— Claro — diz ela de mansinho. Mia quieta, isso é novidade.

— Certo, então agora é comigo. Até mais, Ana — diz Ethan, oferecendo o braço para Mia.

Ela o aceita com um sorriso tímido.

— Tchau, Ana. — E se vira para mim, gesticulando com a boca: — Ai. Meu. Deus! — E lança uma piscadela exagerada.

Ela gostou dele! Aceno para os dois enquanto eles saem do prédio e fico me perguntando como Christian vai reagir se a irmã começar a namorar. O pensamento me deixa desconfortável. Ela tem a mesma idade que eu, então ele não pode se opor, ou pode?

É de Christian que estamos falando. Meu inconsciente me lança mais um de seus olhares críticos, a boca tensa, usando um cardigã e com a bolsa encaixada na curva do braço. Afasto a imagem da cabeça. Mia já é adulta, e Christian é capaz de agir racionalmente, não é? Tento não pensar no assunto e volto para a sala de Jack... quero dizer... para a minha sala, para me preparar para a reunião.

São três e meia quando retorno. A reunião correu bem. Consegui até uma aprovação para os dois manuscritos que estava defendendo. É uma sensação inebriante.

Sobre a minha mesa encontro uma enorme cesta de vime repleta de rosas brancas e cor-de-rosa bem clarinho. Uau, só o perfume já é divino. Sorrio ao pegar o cartão. Sei de quem são.

Parabéns, Srta. Steele


E tudo por conta própria!


Sem nenhuma ajuda de seu CEO supersimpático,


camarada e megalomaníaco


Com amor,


Christian

Pego meu BlackBerry para mandar um e-mail para ele.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Megalomaníacos...

Data: 16 de junho de 2011 15:43

Para: Christian Grey


...são o meu tipo favorito de maníacos. Obrigada pelas lindas flores. Elas chegaram numa enorme cesta de vime que me faz pensar em piqueniques e cobertores.


Bjs.

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De: Christian Grey

Assunto: Ar puro

Data: 16 de junho de 2011 15:55

Para: Anastasia Steele


Maníacos, é? O Dr. Flynn deve ter algo a dizer sobre isso.


Você quer fazer um piquenique?


A gente poderia se divertir muito ao ar livre, Anastasia...


Como está indo o seu dia, baby?


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Minha nossa. Fico vermelha só de ler sua resposta.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Agitado

Data: 16 de junho de 2011 16:00

Para: Christian Grey


O dia passou voando. Não tive um momento sequer para pensar em nada além do trabalho. Acho que consigo dar conta disso! Conto mais quando chegar em casa.


Um dia ao ar livre parece... interessante.


Amo você.


Um bj.


PS: Não se preocupe com o Dr. Flynn.


Meu telefone toca. É Claire, da recepção, desesperada para saber quem enviou as rosas e o que aconteceu com Jack. Como passei o dia no escritório, não pude acompanhar as fofocas. Digo apressada que as flores são do meu namorado e que não sei quase nada sobre a saída de Jack. Meu BlackBerry vibra, indicando que acabo de receber mais um e-mail de Christian.

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De: Christian Grey

Assunto: Vou tentar...

Data: 16 de junho de 2011 16:09

Para: Anastasia Steele


...não me preocupar.


Até mais, baby.


Bj,


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Às cinco e meia, limpo minha mesa. Nem posso acreditar em como o dia passou depressa. Tenho que voltar para o Escala e me preparar para a consulta com o Dr. Flynn. Nem sequer tive tempo de pensar nas perguntas. Talvez hoje a gente possa ter só um primeiro encontro, e Christian me deixe vê-lo de novo depois. Afasto a ideia da cabeça ao deixar o escritório às pressas, acenando rapidamente para Claire.

Também tenho que pensar no aniversário de Christian. Já sei o que vou dar a ele de presente. E queria entregar hoje à noite, antes da consulta com Flynn, mas como vou fazer isso? Ao lado do estacionamento existe uma pequena loja de bugigangas para turistas. Tenho uma inspiração repentina, e entro na loja.

* * *

MEIA HORA DEPOIS, quando chego à sala de estar, Christian está em seu BlackBerry, de pé, olhando para fora pelo janelão de vidro. Ele se vira e sorri para mim, finalizando o telefonema.

— Ótimo, Ros. Diga a Barney que vamos continuar a partir daí... Até mais.

Ele caminha na minha direção, e fico parada, tímida, junto à porta. Trocou de roupa, está usando jeans e camiseta branca, parecendo um menino rebelde e arteiro. Uau.

— Boa noite, Srta. Steele — murmura ele e se inclina para me beijar. — Parabéns pela promoção. — Passa os braços ao meu redor. Que cheiro maravilhoso.

— Você tomou banho.

— Acabei de ter uma sessão de luta com Claude.

— Ah.

— Derrubei-o duas vezes. — Christian sorri radiante, feito um menino, satisfeito consigo mesmo. Seu sorriso é contagiante.

— Isso não acontece com frequência?

— Não. E é muito prazeroso quando acontece. Está com fome?

Faço que não com a cabeça.

— O que foi? — Ele franze a testa para mim.

— Estou nervosa. Com o Dr. Flynn.

— Eu também. Como foi o seu dia? — Ele me solta, e eu faço um breve resumo. Ele escuta com atenção.

— Ah, tem mais uma coisa que eu tenho que contar — acrescento. — Eu ia almoçar com Mia hoje.

Ele ergue as sobrancelhas, surpreso.

— Você não chegou a mencionar isso.

— Eu sei, esqueci. Como eu não pude sair com ela por causa da reunião, Ethan a levou para almoçar.

Sua expressão fica sombria.

— Sei. Pare de morder o lábio.

— Vou trocar de roupa — digo, mudando de assunto e me virando antes que ele possa reagir.

* * *

O CONSULTÓRIO DO Dr. Flynn fica a uma curta distância de carro do apartamento de Christian. Muito útil, penso, para sessões de emergência.

— Costumo correr lá de casa até aqui — diz Christian ao estacionar meu Saab. — Este carro é o máximo. — Ele sorri para mim.

— Também acho. — Sorrio de volta. — Christian... eu... — Olho ansiosamente para ele.

— O que foi, Ana?

— Aqui. — Tiro a caixinha de presente preta de minha bolsa. — É pelo seu aniversário. Queria dar para você agora, mas só se você me prometer que não vai abrir antes de sábado, tudo bem?

Ele pisca para mim, surpreso, e engole em seco.

— Tudo bem — murmura, com cautela.

Respirando fundo, entrego-a a ele, ignorando sua expressão confusa. Ele sacode a caixa, produzindo um barulho bem satisfatório. E franze a testa. Sei que está desesperado para saber o que tem dentro. Em seguida, sorri, seus olhos brilhando com uma emoção jovem e despreocupada. Deus do céu... sua aparência neste instante corresponde à idade que tem... e ele está tão lindo.

— Você não pode abrir antes de sábado — aviso.

— Entendi — diz ele. — Mas por que você está me dando isso agora? — Ele coloca a caixa no bolso interno do paletó azul listrado, junto do coração.

Muito apropriado, penso, e sorrio para ele.

— Porque eu posso, Sr. Grey.

Sua boca se contorce num sorriso irônico.

— Ora, Srta. Steele, roubando minhas falas...

Somos conduzidos ao luxuoso consultório do Dr. Flynn por uma recepcionista rápida e eficiente. Ela cumprimenta Christian calorosamente, um pouco calorosamente demais para o meu gosto — ela tem idade suficiente para ser mãe dele —, e ele sabe o nome dela.

A sala não tem uma decoração ostensiva: verde-claro com dois sofás verde-escuros de frente para duas poltronas de couro, e tem um ar de clube de cavalheiros. Dr. Flynn está sentado a uma mesa ao fundo.

Assim que entramos, ele se levanta e caminha para se juntar a nós na área de estar. Está usando uma calça preta e uma camisa azul-clara com o último botão aberto... sem gravata. Seus olhos azuis e brilhantes parecem não deixar passar absolutamente nada.

— Christian. — Ele sorri com gentileza.

— John. — Christian aperta sua mão. — Você se lembra de Anastasia?

— Como eu poderia esquecer? Bem-vinda, Anastasia.

— Ana, por favor — murmuro quando ele aperta minha mão com firmeza. Adoro seu sotaque britânico.

— Ana — diz ele, gentilmente, conduzindo-nos até os sofás.

Christian aponta um deles para mim. Eu me sento, tentando parecer relaxada, e descanso a mão sobre o braço do sofá, enquanto ele se esparrama no outro, de forma que formamos um ângulo reto, com uma pequena mesa e um abajur simples entre nós. Reparo, com interesse, numa caixinha de lenços junto ao abajur.

Não era bem isso que eu esperava. Tinha imaginado uma sala branca e inóspita, com um divã de couro preto.

Parecendo tranquilo e no controle da situação, Dr. Flynn se senta numa das poltronas e pega um bloco de anotações de couro. Christian cruza as pernas, descansando o tornozelo sobre o joelho, e estica um dos braços ao longo do encosto do sofá. Em seguida, estende o outro braço, alcançando minha mão e dando-lhe um aperto tranquilizador.

— Christian pediu que você acompanhasse uma de nossas sessões — começa Dr. Flynn calmamente. — Só para você saber, nós tratamos estas sessões com absoluta confidencialidade...

Ergo uma sobrancelha para Flynn, interrompendo-o no meio da frase.

— Hum... eu assinei um termo de confidencialidade — balbucio, envergonhada de que ele tenha parado de falar.

Tanto Flynn quanto Christian me encaram, e Christian solta a minha mão.

— Um termo de confidencialidade? — Dr. Flynn franze a testa e olha de relance para Christian, intrigado.

Christian dá de ombros.

— Você começa todos os seus relacionamentos com um contrato? — Dr. Flynn pergunta para ele.

— Só os contratuais.

Dr. Flynn torce os lábios.

— E você já teve algum outro tipo de relacionamento? — pergunta ele, parecendo achar graça.

— Não — responde Christian depois de um tempo, também parecendo achar graça.

— Foi o que eu pensei. — Dr. Flynn volta sua atenção para mim. — Bem, acho que não precisamos nos preocupar com confidencialidade, mas posso sugerir que vocês dois discutam isso em algum momento? No meu entendimento, vocês não estão mais num relacionamento contratual.

— Outro tipo de contrato, espero — diz Christian baixinho, olhando para mim.

Fico vermelha, e Dr. Flynn aperta os olhos.

— Ana, me perdoe, mas é provável que eu saiba muito mais sobre você do que você imagina. Christian tem sido bastante expansivo.

Olho de relance para Christian, nervosa. O que foi que ele disse?

— Um termo de confidencialidade? — continua ele. — Isso deve ter chocado você.

Pisco para ele.

— Hum, acho que o choque disso já se tornou insignificante, dadas as revelações mais recentes de Christian — respondo, a voz suave e hesitante. Soo tão nervosa.

— Imagino que sim. — Dr. Flynn sorri gentilmente para mim. — Então, Christian, o que gostaria de discutir?

Christian dá de ombros feito um adolescente mal-humorado.

— Foi Anastasia quem quis ver você. Talvez você devesse perguntar a ela.

Mais uma vez, o rosto do Dr. Flynn registra sua surpresa, e ele me fita, com sagacidade.

Puta merda. Isso é humilhante. Encaro minhas mãos.

— Você ficaria mais à vontade se Christian nos deixasse por um momento?

Meus olhos disparam para Christian, e ele me encara, em expectativa.

— Ficaria — sussurro.

Christian franze a testa e abre a boca; no entanto, muda de ideia e se levanta num movimento rápido e elegante.

— Estarei na sala de espera — diz, a boca fechada numa linha mal-humorada.

Ah, não.

— Obrigado, Christian — responde o Dr. Flynn, impassível.

Christian me lança um olhar longo e inquisitivo, então caminha para fora da sala, mas não bate a porta com força. Ufa. Imediatamente, eu relaxo.

— Ele intimida você?

— Intimida. Mas não tanto quanto antes. — Sinto-me desleal, mas é a verdade.

— Isso não me surpreende, Ana. Como posso ajudá-la?

Fito meus dedos entrelaçados. O que posso perguntar?

— Dr. Flynn, eu nunca estive num relacionamento antes, e Christian é... bem, ele é o Christian. E muita coisa aconteceu na última semana. Não tive a chance de pensar direito.

— No que você precisa pensar?

Ergo o olhar para ele, e ele está com a cabeça deitada de lado, observando-me, acho que com compaixão.

— Bem... Christian me diz que está feliz em abandonar... hum... — tropeço nas palavras e paro. Isso é muito mais difícil de discutir do que eu imaginava.

Dr. Flynn solta um suspiro.

— Ana, no curto tempo em que você o conhece, você obteve mais progressos com meu paciente do que eu mesmo ao longo dos últimos dois anos. Você teve um efeito profundo sobre ele. E deve saber disso.

— Ele também teve um efeito profundo em mim. Só não sei se sou suficiente para ele. Para satisfazer suas necessidades — sussurro.

— É disso que você precisa? Uma confirmação?

Faço que sim com a cabeça.

— As necessidades mudam — diz ele, simplesmente. — Christian se encontrou numa situação em que seus métodos para lidar com as coisas não são mais eficazes. Resumindo, você o forçou a encarar alguns de seus demônios e a repensar as coisas.

Pisco para ele. Foi exatamente o que Christian me disse.

— Sim, seus demônios — murmuro.

— Nós não perdemos muito tempo com eles; eles ficaram no passado. Christian os conhece muito bem, assim como eu, e agora estou certo de que você também. Estou mais preocupado com o futuro dele e em ajudar Christian a alcançar um ponto em que deseja estar.

Franzo a testa, e ele ergue uma sobrancelha.

— O termo técnico é TBVS. — Ele sorri. — Desculpe, isso quer dizer Terapia Breve Voltada para a Solução. Basicamente, é uma terapia orientada para um objetivo. Nós nos concentramos no que Christian quer alcançar e em como levá-lo até lá. É uma abordagem dialética. Não tem sentido ficar remoendo o passado. Tudo isso já foi analisado à exaustão por todos os médicos, psicólogos e psiquiatras de Christian. Nós já sabemos por que ele é do jeito que é, mas o que importa é o futuro. O que Christian prevê para si mesmo, aonde ele quer chegar. Foi preciso que você o deixasse para que ele passasse a levar esse tipo de terapia a sério. Ele sabe que o objetivo dele é estabelecer uma relação amorosa com você. É simples assim, e é nisso que estamos trabalhando neste momento. É claro que existem obstáculos... a hafefobia dele, por exemplo.

O quê?, arquejo.

— Desculpe. Estou me referindo ao medo dele de ser tocado — diz Dr. Flynn, balançando a cabeça como se estivesse repreendendo a si mesmo. — Imagino que você esteja ciente.

Coro e faço que sim com a cabeça. Ah, isso!

— Christian tem uma aversão mórbida por si mesmo. Sei que isso não é nenhuma novidade para você. E, claro, há também a parassonia... hum... perdão, os terrores noturnos, para os leigos.

Pisco, tentando absorver todas essas palavras tão longas. Sei de tudo isso. Mas Flynn ainda não tocou na minha principal preocupação.

— Mas ele é um sádico. Certamente, como tal, ele precisa de coisas que eu não sou capaz de oferecer.

O Dr. Flynn chega a revirar os olhos diante de minha observação e comprime a boca numa linha rígida.

— Isso não é mais reconhecido como um termo psiquiátrico. Não sei quantas vezes já falei isso para ele. Desde os anos noventa que não é nem mais classificado como uma parafilia.

Mais um termo que não entendo. Pisco para ele. Ele me sorri gentilmente.

— Isso é uma mania minha. — Ele balança a cabeça. — Christian sempre pensa o pior, em qualquer situação. Faz parte da aversão que sente por si mesmo. Claro que o sadismo sexual existe, mas não é uma doença, é uma opção de vida. Se for praticado em um relacionamento consensual, seguro e saudável, entre dois adultos, então ele nem chega a ser uma questão. O meu entendimento é que Christian tem conduzido todos os seus relacionamentos BDSM desse jeito. Você é a primeira amante dele que não consentiu, então ele não quer mais.

Amante!

— Mas na certa não é tão simples assim.

— Por que não? — O Dr. Flynn dá de ombros, bem-humorado.

— Bem... as razões por que ele faz isso.

— Ana, esse é o ponto. Em termos de terapia de solução, é simples assim. Christian quer ficar com você. Para conseguir isso, ele precisa renunciar aos aspectos mais extremos desse tipo de relacionamento. Afinal, o que você está pedindo é razoável... não é?

Fico vermelha. É... é razoável, não é?

— Acho que é. Mas tenho medo de que ele não ache.

— Christian compreende isso, e tem agido de acordo. Ele não é louco. — Dr. Flynn suspira. — Em poucas palavras, ele não é um sádico, Ana. É um jovem raivoso, assustado e brilhante, que teve que lidar com uma merda de mão no baralho quando nasceu. A gente pode ficar se lamentando por causa disso, e analisar o “quem”, o “como” e o “porquê” até a morte. Ou Christian pode seguir em frente e decidir como quer viver a vida. Ele encontrou algo que funcionou para ele por alguns anos, mais ou menos, mas desde que conheceu você, isso não funciona mais. E, como consequência, ele está mudando o seu modus operandi. Você e eu temos que respeitar a escolha dele e apoiá-lo.

Eu o encaro, boquiaberta.

— E essa é a minha confirmação?

— É o melhor que posso fazer, Ana. Não existem garantias nesta vida. — Ele sorri. — E essa é a minha opinião profissional.

Sorrio, também, mas um sorriso sem convicção. Piadas de psicólogos... Deus do céu.

— Mas ele se vê como um alcoólatra em recuperação.

— Christian sempre vai pensar o pior de si mesmo. Como eu disse, faz parte da autoaversão que ele tem. Está em sua composição, não importa o quê. Naturalmente, ele está ansioso com essa mudança de vida. Está se expondo potencialmente a todo um universo de dor emocional, do qual, aliás, teve uma prévia quando você o deixou. É claro que está apreensivo — Dr. Flynn faz uma pausa. — Não quero salientar o quão importante foi o seu papel nessa conversão damasquina. Seu caminho para Damasco. Mas foi. Christian não estaria onde está se não tivesse conhecido você. Pessoalmente, não acho que um alcoólatra seja uma boa analogia, mas se por enquanto ela funciona para ele, então acho que devemos lhe dar o benefício da dúvida.

Dar a Christian o benefício da dúvida. Franzo a testa diante desse pensamento.

— Emocionalmente, Christian é um adolescente, Ana. Ele pulou totalmente essa fase da vida. Canalizou todas as suas energias para o sucesso no mundo dos negócios, o que alcançou para além de todas as expectativas. E agora o seu mundo emocional tem que correr atrás do tempo perdido.

— E como eu posso ajudar?

Dr. Flynn ri.

— É só continuar com o que você já está fazendo. — Ele sorri para mim. — Christian está completamente apaixonado. É muito agradável de se ver.

Eu coro, e minha deusa interior está abraçando a si mesma de tanta alegria, mas algo me incomoda.

— Posso perguntar mais uma coisa?

— Claro.

Respiro fundo.

— Parte de mim acha que se ele não fosse tão perturbado ele não iria... ele não iria me querer.

Dr. Flynn levanta as sobrancelhas para mim, espantado.

— Isso é algo muito negativo de se dizer sobre si mesma, Ana. E, francamente, me diz mais a seu respeito do que a respeito de Christian. Não é tão grave quanto a aversão que ele tem de si mesmo, mas me surpreende.

— Bem, olhe para ele... e olhe para mim.

Dr. Flynn franze o cenho.

— Já olhei. E o que eu vi foi um rapaz atraente e uma jovem atraente. Ana, por que você não se vê como uma pessoa atraente?

Ah, não... Não quero transformar isso em algo sobre mim. Encaro os meus dedos. Ouço uma batida forte na porta que me faz pular. E Christian está de volta na sala, olhando para nós dois. Fico vermelha e volto o olhar depressa para Flynn, que está sorrindo benignamente para Christian.

— Bem-vindo de volta, Christian — diz ele.

— Acho que o tempo acabou, John.

— Quase, Christian. Junte-se a nós.

Dessa vez, Christian se senta ao meu lado e coloca a mão possessivamente em meu joelho. Seu gesto não passa despercebido pelo Dr. Flynn.

— Você tem mais alguma questão, Ana? — pergunta, e sua preocupação é evidente.

Merda... Não devia ter feito a última pergunta. Nego com a cabeça.

— Christian?

— Hoje não, John.

Flynn concorda com a cabeça.

— Talvez fosse bom se vocês dois voltassem aqui. Tenho certeza de que Ana vai ter mais perguntas.

Christian concorda, relutante.

Fico vermelha. Merda... ele quer se aprofundar. Christian aperta minha mão e me fita com atenção.

— Certo? — pergunta, com gentileza.

Sorrio para ele, fazendo que sim com a cabeça. É, o benefício da dúvida vai ter que ser suficiente por enquanto, cortesia do bom médico inglês.

Christian aperta minha mão e se volta para Flynn.

— Como ela está? — pergunta, com cuidado.

Eu?

— Ela vai chegar lá — responde ele, com ar tranquilizador.

— Ótimo. Mantenha-me informado do seu progresso.

— Pode deixar.

Puta merda. Estão falando de Leila.

— Então, vamos comemorar a sua promoção? — pergunta Christian, incisivo.

Concordo timidamente com a cabeça, e ele se levanta. Nós nos despedimos rapidamente do Dr. Flynn, e Christian me conduz para fora da sala com uma pressa indecorosa.

* * *

QUANDO CHEGAMOS à rua, ele se vira para mim e pergunta, ansioso:

— Como foi?

— Foi bom.

Ele me encara, desconfiado. Deito a cabeça de lado.

— Por favor, não me olhe assim, Sr. Grey. Seguindo ordens médicas, eu vou lhe oferecer o benefício da dúvida.

— O que isso quer dizer?

— Você vai ver.

Ele contorce os lábios e estreita os olhos.

— Entre no carro — ordena, abrindo a porta do carona do Saab.

Uau, isso é que mudança de foco. Meu BlackBerry vibra. Eu o tiro da bolsa.

Merda, é o José!

— Alô!

— Ana, oi...

Olho para Christian, que está me observando, desconfiado.

— É o José — gesticulo com a boca para ele.

Ele me olha impassível, mas seus olhos enrijecem. Será que ele acha que eu não percebo? Volto minha atenção para José.

— Desculpe não ter ligado para você. É sobre amanhã? — pergunto a ele, mas com os olhos fixos em Christian.

— É. Escute, falei com alguém lá na casa do Grey, então já sei onde entregar as fotos, e eu devo passar lá entre cinco e seis horas... depois disso, estou livre.

Ah.

— Bem, na verdade estou ficando na casa de Christian esses dias, e se você quiser, ele diz que não tem problema você dormir lá.

Christian contrai os lábios. Hum, belo anfitrião.

José fica em silêncio por um instante, assimilando a notícia. Eu tremo nas bases. Ainda não tive a oportunidade de conversar com ele sobre Christian.

— Tudo bem — diz ele, afinal. — Esse negócio com o Grey está sério?

Eu me afasto do carro e caminho de um lado para o outro na calçada.

— Está.

— Quão sério?

Reviro os olhos e faça uma pausa. Por que Christian tem que ficar escutando?

— Sério.

— Ele está aí do seu lado? É por isso que você está respondendo tudo com uma palavra só?

— Sim.

— Está bem. E você tem permissão para sair amanhã?

— Claro que tenho — espero. E, automaticamente, cruzo os dedos.

— Então, onde a gente se encontra?

— Você pode me buscar no trabalho — sugiro.

— Beleza.

— Mando o endereço por mensagem.

— A que horas?

— Lá pelas seis da tarde?

— Certo. A gente se vê então, Ana. Mal posso esperar, estou com saudade de você.

Sorrio.

— Beleza. A gente se vê. — Desligo o telefone e me viro.

Christian está encostado no carro, observando-me atentamente, a expressão impossível de se ler.

— Como vai o seu amigo? — pergunta, friamente.

— Vai bem. Ele vai me buscar no trabalho amanhã, e acho que a gente vai sair para beber alguma coisa. Quer vir conosco?

Christian hesita, seus olhos cinzentos e frios.

— Você não acha que ele vai tentar alguma coisa?

— Não! — Meu tom é exasperado, mas me abstenho de revirar os olhos.

— Tudo bem. — Christian ergue as mãos, derrotado. — Você sai com o seu amigo, e eu vejo você no final do dia.

Eu estava esperando uma briga, e esse consentimento fácil me pega de surpresa.

— Viu? Posso ser razoável. — Ele sorri.

Meus lábios se contraem. Vamos ver.

— Posso dirigir?

Christian pisca para mim, surpreso com meu pedido.

— Preferia que você não dirigisse.

— Por quê, exatamente?

— Porque não gosto que dirijam para mim.

— Você não teve problemas com isso hoje de manhã, e você não parece se incomodar que Taylor dirija para você.

— Confio implicitamente na direção de Taylor.

— Mas não na minha? — Coloco as mãos nos quadris. — Fala sério, essa sua mania de controle não tem limites. Eu dirijo desde os quinze anos.

Ele encolhe os ombros em resposta, como se isso não fizesse a menor diferença. Ele é tão irritante! O benefício da dúvida? Bem, que se dane o benefício da dúvida.

— O carro não é meu? — pergunto.

Ele franze a testa para mim.

— É claro que é seu.

— Então, por favor, me dê as chaves. Eu só dirigi duas vezes, de casa para o trabalho e do trabalho para casa. E agora você que vai ficar com toda a diversão. — Estou com a corda toda.

Christian contrai os lábios, reprimindo um sorriso.

— Mas você nem sabe aonde a gente vai.

— Tenho certeza de que você pode me ensinar o caminho, Sr. Grey. Você tem se saído um professor e tanto.

Ele me olha espantado, em seguida sorri seu novo sorriso tímido que me desarma completamente e me deixa sem fôlego.

— Professor e tanto, é? — murmura.

Eu coro.

— É, na maior parte do tempo.

— Bem, nesse caso. — Ele me entrega as chaves e dá a volta até a porta do motorista, abrindo-a para mim.

* * *

— VIRE À ESQUERDA — ordena Christian, e seguimos para o norte, na direção da Interestadual 5. — Cuidado, Ana! — Ele se agarra ao painel.

Ah, pelo amor de Deus. Reviro os olhos, mas não me viro para olhar pra ele. Van Morrison canta ao fundo pelos alto-falantes do carro.

— Devagar!

— Estou diminuindo!

Christian suspira.

— O que o Flynn disse? — Posso ouvir a ansiedade infiltrando-se em sua voz.

— Já falei. Ele disse que eu deveria lhe conceder o benefício da dúvida. — Droga, talvez eu devesse ter deixado Christian dirigir. Aí eu poderia observá-lo. Aliás... Dou seta para indicar que vou encostar o carro.

— O que você está fazendo? — pergunta ele, assustado.

— Deixando você dirigir.

— Por quê?

— Para poder olhar para você.

Ele ri.

— Não, não, você queria dirigir. Então, agora você dirige, e eu olho para você.

Faço cara feia para ele.

— Mantenha os olhos na estrada! — grita ele.

Meu sangue ferve. Já chega! Encosto junto à calçada pouco antes de um sinal de trânsito, pulo para fora do carro batendo a porta com força e fico de pé na calçada, de braços cruzados. Encarando-o. Ele sai do carro.

— O que você está fazendo? — pergunta com raiva, olhando para mim.

— Não. O que você está fazendo?

— Você não pode parar aqui.

— Sei disso.

— Então por que parou aqui?

— Porque cansei de você latindo ordens no meu ouvido. Ou você dirige ou cala a boca sobre como eu dirijo!

— Anastasia, volte para o carro antes que a gente tome uma multa.

— Não.

Ele pisca para mim, completamente desnorteado. Em seguida, corre as mãos pelo cabelo, e sua raiva se transforma em perplexidade. Ele parece tão cômico de repente, e não consigo evitar de sorrir para ele. Ele franze a testa.

— O que foi? — atira mais uma vez.

— Você.

— Ah, Anastasia! Você é a mulher mais frustrante do mundo. — Ele ergue as mãos para o céu. — Tudo bem, eu dirijo.

Agarro a bainha do casaco dele e o puxo para junto de mim.

— Não, Sr. Grey... você é o homem mais frustrante do mundo.

Ele me encara, os olhos sombrios e intensos, em seguida passa os braços ao redor de minha cintura e me abraça, segurando-me apertado.

— Então talvez a gente tenha sido feito um para o outro — diz em voz baixa e inspira profundamente, seu nariz em meu cabelo.

Passo os braços ao redor dele e fecho os olhos. Pela primeira vez desde hoje de manhã, sinto-me relaxar.

— Ah... Ana, Ana, Ana — ofega ele, seus lábios pressionados contra meu cabelo.

Aperto meus braços ao seu redor, e ficamos ali, imóveis, aproveitando um momento de tranquilidade inesperada, no meio da rua. Ele me solta e abre a porta do carona. Entro no carro e me sento em silêncio, observando-o dar a volta até a porta do motorista.

Christian liga o carro de novo e entra no tráfego, cantarolando distraído junto com Van Morrison.

Uau. Nunca o ouvi cantar antes, nem no chuveiro. Nunca. Franzo a testa. Ele tem uma bela voz... é claro. Hum... será que ele já me ouviu cantar?

Ele não teria pedido você em casamento se tivesse! De casaco xadrez, meu inconsciente me encara, os braços cruzados. A música acaba, e Christian sorri.

— Você sabe, se a gente tivesse levado uma multa, o carro está em seu nome...

— Bom, ainda bem que acabei de ser promovida. Eu ia poder pagar — digo, presunçosa, fitando o seu lindo perfil.

Ele contrai os lábios. Outra música de Van Morrison começa a tocar assim que ele pega a rampa de acesso à Interestadual 5, no sentido norte.

— Aonde estamos indo?

— É surpresa. O que mais o Flynn disse?

Suspiro.

— Ele falou sobre BBBTVS.

— TBVS, Terapia Breve Voltada para a Solução. A opção mais moderna em terapia — resmunga.

— Você já tentou outras?

Christian ri com desdém.

— Baby, já fui submetido a todo tipo de terapia. Cognitivismo, Freud, funcionalismo, Gestalt, behaviorismo... Pode chutar o que você quiser que eu já fiz — explica, e seu tom evidencia sua amargura. O rancor em sua voz é angustiante.

— Você acha que essa abordagem mais moderna vai ajudar?

— O que Flynn disse?

— Ele me disse para não perder tempo pensando sobre o seu passado. Para me concentrar no futuro, no lugar em que você quer estar.

Christian concorda com a cabeça, mas encolhe os ombros ao mesmo tempo, com uma expressão cautelosa.

— O que mais? — persiste.

— Ele falou sobre o seu medo de ser tocado, embora tenha chamado de outra coisa. E sobre os seus pesadelos e a aversão que você tem de si mesmo. — Olho para ele e, na luz do fim da tarde, está pensativo, roendo a unha do polegar enquanto dirige.

Ele me olha de relance.

— Olhos na estrada, Sr. Grey — advirto, uma das sobrancelhas erguida.

Ele parece divertido e exasperado ao mesmo tempo.

— Vocês ficaram conversando durante séculos, Anastasia. O que mais ele disse?

Engulo em seco.

— Ele não acha que você seja um sádico — sussurro.

— Sério? — pergunta Christian em voz baixa e franze a testa. A atmosfera no carro despenca.

— Ele diz que esse termo não é reconhecido pela psiquiatria. Desde os anos noventa — murmuro, tentando depressa resgatar o clima entre nós.

O rosto de Christian se fecha, e ele exala lentamente.

— Flynn e eu temos opiniões diferentes sobre isso — diz, calmamente.

— Ele disse que você sempre pensa o pior de si mesmo. Eu sei que é verdade — murmuro. — Ele também mencionou sadismo sexual, mas disse que é um estilo de vida, uma escolha, não uma condição psiquiátrica. Talvez seja isso que você queira dizer.

Seus olhos me fitam de novo, e sua boca se fecha numa expressão emburrada.

— Então basta uma conversa com um médico e você virou especialista — diz, acidamente, voltando os olhos para a estrada.

Ai, Deus... Suspiro.

— Olhe, se você não quer ouvir o que ele falou, não me pergunte — resmungo baixinho.

Não quero discutir. De qualquer forma, ele tem razão, o que é que eu sei dessa merda toda dele? E será que eu quero mesmo saber? Posso listar os pontos-chave: a mania de controle, a possessividade, o ciúme, a superproteção. E entendo perfeitamente de onde vem tudo isso. Posso até entender por que ele não gosta de ser tocado, vi as cicatrizes físicas. Só imagino as cicatrizes mentais. E já tive uma amostra de seus pesadelos. E o Dr. Flynn disse que...

— Quero saber o que foi discutido. — Christian interrompe meus pensamentos ao pegar a saída 172 da Interestadual 5, seguindo para oeste, em direção ao sol poente.

— Ele me chamou de sua amante.

— Ah, foi, é? — Seu tom é conciliador. — Bem, ele é mais que meticuloso em seus termos. Acho que é uma descrição precisa. Você não concorda?

— Você pensava em suas submissas como amantes?

Christian franze a testa de novo, mas, dessa vez, está pensando. Ele faz uma curva com o Saab, seguindo novamente na direção norte. Aonde estamos indo?

— Não. Elas eram parceiras sexuais — murmura, a voz cautelosa de novo. — Você é minha única amante. E quero que seja mais.

Hum... a palavra mágica de novo, repleta de possibilidades. Ela me faz sorrir, e, lá no fundo, eu me abraço, tentando conter a alegria.

— Eu sei — sussurro, esforçando-me para esconder a emoção. — Só preciso de um tempo, Christian. Para minha cabeça se acostumar com tudo o que aconteceu nos últimos dias.

Ele me olha de um jeito estranho, perplexo, a cabeça deitada de lado.

Depois de alguns instantes, o sinal de trânsito em que estamos parados fica verde. Ele faz que sim com a cabeça e aumenta o som. Nossa discussão acabou.

Van Morrison ainda está cantando — mais otimista agora — sobre uma ótima noite para dançar à luz da lua. Olho pela janela para os pinheiros lá fora, polvilhados de dourado pela luz do sol que se põe, suas longas sombras se estendendo ao longo da estrada. Christian entrou numa rua residencial, e estamos indo para o oeste, na direção do estuário.

— Aonde estamos indo? — pergunto de novo assim que fazemos uma curva. Vejo uma placa que diz Nona Avenida NE. Estou perdidinha.

— Surpresa — diz ele, e sorri misteriosamente.

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