CAPÍTULO VINTE
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- Você aceita casar comigo? — sussurra ele, incrédulo.
Faço que sim com a cabeça, com nervosismo, vermelha e ansiosa, sem acreditar muito em sua reação: esse homem que eu pensei que tinha perdido. Como ele pode não entender o quanto o amo?
— Diga — ordena de mansinho, o olhar intenso e cálido.
— Sim, quero me casar com você.
Ele respira fundo e se move de repente, agarrando-me e girando-me de um jeito nada típico de Christian. Está rindo, jovem e despreocupado, irradiando alegria. Seguro seus braços para me apoiar, sentindo seus músculos rígidos sob meus dedos, e sua risada contagiante toma conta de mim: tonta, confusa, uma garota total e absolutamente encantada com seu homem. Ele me coloca no chão e me beija. Com força. Suas mãos estão em ambos os lados do meu rosto, sua língua é insistente, persuasiva... excitante.
— Ah, Ana — ofega contra meus lábios, e é uma alegria que me deixa atônita.
Ele me ama, disso não tenho dúvidas, e eu saboreio o gosto desse homem delicioso, esse homem que pensei que nunca mais veria. Sua felicidade é evidente — os olhos brilhando, seu sorriso jovem —, e seu alívio, quase palpável.
— Pensei que tivesse perdido você — sussurro, ainda deslumbrada e sem fôlego por causa do beijo.
— Baby, vai ser preciso mais do que um 135 com defeito para me separar de você.
— Um 135?
— Charlie Tango. É um Eurocopter EC135, o mais seguro da categoria.
Alguma emoção sombria, mas que não posso identificar, cruza seu rosto momentaneamente, distraindo-me. O que ele não está me contando? Antes que eu possa perguntar, ele enrijece e olha para mim, franzindo a testa, e por um segundo acho que vai me contar. Pisco para ele, mirando seus olhos cinzentos e especulativos.
— Espere aí. Você me deu isso antes da consulta com Flynn — diz, segurando o chaveiro. Parece quase horrorizado.
Ai, Jesus, aonde ele quer chegar com isso? Concordo com a cabeça, mantendo uma expressão séria.
Ele fica boquiaberto.
— Queria que você soubesse que o que quer que Flynn dissesse, não faria diferença para mim. — Dou de ombros, desculpando-me.
Christian pisca para mim, incrédulo.
— Então, ontem à noite, quando eu estava implorando por uma resposta, eu já tinha uma? — Ele está consternado.
Concordo de novo com a cabeça, tentando desesperadamente avaliar sua reação. Ele me olha, embasbacado, mas, em seguida, aperta os olhos e sorri com ironia.
— Todo aquele nervosismo — sussurra, ameaçadoramente. Sorrio para ele, dando de ombros mais uma vez. — Ah, não me venha com essa cara de inocente, Srta. Steele. Neste momento, minha vontade é...
Ele passa a mão pelo cabelo, então balança a cabeça e muda de rumo.
— Não acredito que você me deixou esperando. — Seu sussurro é dominado pela descrença.
E sua expressão muda sutilmente, os olhos brilhando perversos, a boca se abrindo num sorriso carnal.
Minha nossa. Uma empolgação me atravessa o corpo. O que ele está pensando?
— Acredito que um castigo se faz necessário, Srta. Steele — diz lentamente.
Castigo? Ah, merda! Sei que ele está brincando, mas, de qualquer forma, dou um passo cauteloso para trás.
Ele sorri.
— É esse o jogo? — sussurra. — Porque eu vou pegar você. — Seus olhos ardem com uma intensidade luminosa e divertida. — E você ainda está mordendo o lábio — acrescenta, ameaçadoramente.
Sinto todas as minhas entranhas se contraindo ao mesmo tempo. Meu Deus. Meu futuro marido quer brincar. Dou mais um passo para trás e me viro para correr, em vão. Christian me agarra com facilidade num só golpe, enquanto eu grito de prazer, surpresa e choque. Ele me ergue por cima do ombro e me carrega pelo corredor.
— Christian! — balbucio, sabendo que José está no segundo andar, embora eu duvide que possa nos ouvir.
Eu me apoio na parte inferior de suas costas, em seguida, num impulso corajoso, dou um tapa na bunda dele. Ele me dá um tapa de volta.
— Ai! — grito.
— Hora do banho — declara, triunfante.
— Me ponha no chão! — Tento demonstrar desaprovação e falho terrivelmente. Minha luta é inútil, seu braço me segura firmemente pelas coxas, e, por alguma razão, não consigo parar de rir.
— Gosta desses sapatos? — pergunta, divertido, ao abrir a porta do banheiro.
— Prefiro quando eles encostam no chão — tento rosnar para ele, sem muita eficácia, já que não consigo afastar o riso da voz.
— Seu desejo é uma ordem, Srta. Steele.
Sem me colocar no chão, ele tira ambos os meus sapatos e os deixa cair no piso do banheiro com um barulho. Junto à penteadeira, esvazia os bolsos: o BlackBerry sem bateria, chaves, carteira, o chaveiro. Só posso imaginar como deve estar meu reflexo no espelho, visto desse ângulo. Quando ele termina, caminha direto para o enorme chuveiro.
— Christian! — grito ao perceber suas intenções.
Ele liga a ducha no máximo. Ui! Um jato glacial jorra sobre minhas costas, e eu grito e paro logo em seguida, pensando de novo em José acima de nós. Está frio e eu estou completamente vestida. A água gelada embebe meu vestido, minha calcinha e meu sutiã. Estou encharcada e, mais uma vez, não consigo parar de rir.
— Não! — grito. — Me ponha no chão!
Dou outra palmada nele, desta vez com mais força, e Christian me solta, fazendo-me deslizar por seu corpo molhado. Sua camisa branca está grudada ao seu peito e suas calças estão encharcadas. Também estou encharcada; vermelha, tonta e sem fôlego, e ele está sorrindo para mim, e está tão... tão incrivelmente gostoso.
Ele fica sério, os olhos brilhando, e segura meu rosto, puxando meus lábios para junto dos seus. Seu beijo é suave, afetuoso e me distrai totalmente. Não me importo mais de estar completamente vestida e toda molhada no chuveiro de Christian. Somos só nós dois debaixo da água que jorra sobre nós. Ele está de volta, está bem, e é meu.
Minhas mãos se movem involuntariamente até sua camisa, que se agarra a cada linha e músculo de seu peito, revelando seus pelos sob a umidade branca. Puxo a barra da camisa para fora da calça, e ele geme contra minha boca, mas seus lábios não deixam os meus. Quando começo a desabotoar os botões, ele pega o zíper do meu vestido e o desliza para baixo, lentamente. Seus lábios se tornam mais insistentes, mais provocantes, sua língua invadindo minha boca — e meu corpo explode de desejo. Arranco sua camisa com força, rasgando-a. Os botões voam para todos os lados, ricocheteando nos azulejos e desaparecendo no piso do boxe. Ao retirar o tecido molhado de seus ombros e ao longo de seus braços, eu o pressiono contra a parede, impedindo suas tentativas de me despir.
— Abotoaduras — murmura ele, erguendo os pulsos com a camisa pendurada e encharcada.
Com dedos trêmulos, solto primeiro uma das abotoaduras de ouro e depois a outra, deixando-as cair descuidadamente no chão, e então é a vez de sua camisa. Seus olhos buscam os meus sob a ducha, seu olhar ardente, carnal, quente como a água. Estico a mão na direção do cós de sua calça, mas ele balança a cabeça e me segura pelos ombros, girando meu corpo, de forma que fico de costas para ele. Ele termina de abrir o meu zíper, afasta meu cabelo molhado e corre a língua ao longo do meu pescoço até a linha do cabelo e depois de novo para baixo, beijando-me e chupando-me.
Solto um gemido, e, lentamente, ele escorrega meu vestido pelos ombros e para baixo de meus seios, beijando meu pescoço embaixo da orelha. Ele abre meu sutiã e o puxa para baixo, libertando meus seios. Suas mãos se apossam de cada um deles, enquanto ele murmura sua apreciação em meu ouvido.
— Tão linda — sussurra.
Meus braços estão presos pelo sutiã e pelo vestido, que continuam pendurados logo abaixo de meus seios; os braços ainda estão dentro das mangas, mas minhas mãos estão livres. Deito a cabeça, dando a Christian um acesso melhor ao meu pescoço, e empurro meus seios em suas mãos mágicas. Estico as mãos atrás de mim e o ouço inspirar profundamente quando meus dedos curiosos tocam sua ereção. Ele empurra a virilha contra minhas mãos acolhedoras. Droga, por que ele não me deixou tirar sua calça?
Ele puxa meus mamilos e, à medida que eles endurecem e incham-se sob seu toque experiente, todos os pensamentos a respeito da calça dele somem e o prazer desponta cortante e libidinoso em minha barriga. Jogo a cabeça para trás contra ele e gemo.
— Isso. — Ele ofega, e me vira de novo, aprisionando minha boca na sua.
Ele tira meu sutiã, o vestido e a calcinha, e eles se juntam à sua camisa numa pilha encharcada no piso do boxe.
Pego a loção de banho ao nosso lado. Christian enrijece ao perceber o que estou prestes a fazer. Olhando-o diretamente nos olhos, espremo um pouco do sabonete líquido de cheiro adocicado na palma da mão e mantenho-a parada na frente de seu peito, à espera de uma resposta à minha pergunta implícita. Seus olhos se arregalam, e então ele me dá um aceno quase imperceptível de cabeça.
Com cuidado, coloco a mão sobre o seu esterno e começo a esfregar o sabão em sua pele. Seu peito sobe à medida que ele inspira profundamente, mas, exceto por isso, ele permanece imóvel. Depois de um tempo, suas mãos apertam meus quadris, mas ele não me afasta. Ele me observa com cautela, o olhar intenso, mais do que apavorado; seus lábios, no entanto, se abrem e sua respiração se acelera.
— Tudo bem, eu fazer isso? — sussurro.
— Sim. — Sua resposta é curta, quase um suspiro.
Lembro-me dos muitos banhos que tomamos juntos, mas o primeiro, no Olympic Hotel, é uma lembrança amarga e doce. Bem, agora posso tocá-lo. Lavo seu peito fazendo círculos suaves, limpando meu homem, movendo-me até suas axilas, sobre suas costelas, para baixo até sua barriga musculosa, sobre o seu caminho da felicidade, na direção do cós da calça.
— Minha vez — sussurra ele e pega o xampu, afastando-nos do alcance da ducha e espremendo um pouco de xampu sobre a minha cabeça.
Acho que é minha deixa para parar de dar banho nele, então enfio os polegares no cós de sua calça. Ele esfrega o xampu em meu cabelo, seus dedos longos e fortes massageando meu couro cabeludo. Gemendo de prazer, fecho os olhos e me entrego à sensação maravilhosa. Depois de todo o estresse da noite, isso é tudo de o que eu precisava.
Ele ri, e abro um dos olhos para vê-lo sorrindo para mim.
— É bom, é?
— Huuum...
Ele sorri.
— Também gosto — diz e se inclina para beijar minha testa, seus dedos continuando a massagem firme e doce. — Vire-se — diz, com autoridade.
Eu me viro, e seus dedos prosseguem massageando lentamente minha cabeça, limpando-me, relaxando-me, amando-me. Ah, isso é maravilhoso. Ele pega mais xampu e lava com carinho o cabelo comprido ao longo de minhas costas. Ao terminar, puxa-me de volta para debaixo do chuveiro.
— Deite a cabeça para trás — ordena, calmamente.
Obedeço de bom grado, e ele enxágua a espuma com cuidado. Quando acaba, eu o encaro mais uma vez e vou direto para sua calça.
— Quero lavar você inteiro — sussurro.
Ele sorri seu sorriso torto e ergue as mãos num gesto que diz: “Sou todo seu, baby.” Sorrio; é como se fosse Natal. Abro o zíper sem dificuldade, e logo a calça e a cueca se juntam ao resto de nossas roupas. Fico de pé e pego a loção de banho e a esponja.
— Você parece feliz em me ver — murmuro, secamente.
— Sempre fico feliz em ver você, Srta. Steele. — Ele sorri para mim.
Coloco sabão na esponja. Em seguida, refaço minha viagem ao longo de seu peito. Ele está mais relaxado, talvez porque eu não o esteja tocando de fato. Desço com a esponja, atravessando sua barriga, por baixo do umbigo até seus pelos pubianos, e então até sua ereção.
Ergo o olhar para ele, e ele me fita com olhos entreabertos e cheios de desejo. Hum... Gosto desse olhar. Largo a esponja e uso minhas mãos, agarrando-o com firmeza. Ele fecha os olhos, deita a cabeça para trás e geme, mexendo os quadris na direção de minhas mãos.
Ah, sim! É tão excitante. Minha deusa interior ressurgiu após passar a noite chorando e se embalando num canto, e está de batom vermelho.
Seus olhos ardentes de repente fixam os meus. Ele se lembrou de alguma coisa.
— Hoje é sábado — exclama, os olhos brilhantes de excitação, e agarra a minha cintura, puxando-me para ele e beijando-me com força.
Uau, mudança de ritmo!
Suas mãos descem pelo meu corpo molhado e escorregadio até meu sexo, seus dedos explorando, provocando-me, e sua boca, implacável, deixando-me sem fôlego. Sua outra mão está em meu cabelo molhado, mantendo-me firme no lugar enquanto eu recebo toda a força de sua paixão desencadeada. Seus dedos se movem dentro de mim.
— Ahhh — gemo em sua boca.
— Isso — sibila Christian e me levanta, as mãos embaixo da minha bunda. — Passe as pernas em volta de mim.
Minhas pernas obedecem, e eu me agarro feito um caramujo ao seu pescoço. Ele me apoia contra a parede do chuveiro e faz uma pausa, olhando para mim.
— Olhos abertos — murmura. — Quero ver você.
Pisco para ele, meu coração martelando, o sangue pulsando quente e forte pelo meu corpo, um desejo real e crescente me atravessando. E ele entra em mim, ah, tão devagar, preenchendo-me, reivindicando-me, pele contra pele. Faço força para baixo contra ele e solto um gemido alto. Totalmente dentro de mim, ele faz uma pausa de novo, o rosto sério, intenso.
— Você é minha, Anastasia — sussurra.
— Para sempre.
Ele sorri vitorioso e se move, fazendo-me suspirar.
— E agora todo mundo pode saber, porque você disse sim.
Sua voz é reverente, e ele se inclina para baixo, pegando minha boca com a sua, e começa a se mexer... devagar e com carinho. Fecho os olhos e inclino a cabeça para trás enquanto meu corpo se arqueia, minha vontade se submetendo a ele, escrava de seu ritmo inebriante e lento.
Seus dentes arranham meu maxilar, queixo e pescoço à medida que ele vai acelerando o ritmo, empurrando-me para a frente, para cima — para longe do plano terrestre, do chuveiro abundante, do medo frio da noite. Sou só eu e meu homem nos movendo em uníssono, movendo-nos como se fôssemos um — completamente absorvidos um no outro —, nossos suspiros e gemidos misturados. Eu me deleito na sensação sofisticada de ser possuída por ele enquanto meu corpo se entrega e se desmancha ao seu redor.
Eu poderia tê-lo perdido... e eu o amo... Eu o amo tanto, e, de repente, sou dominada pela enormidade do meu amor e pela profundidade de meu compromisso com ele. Vou passar o resto da vida amando-o. Com esse pensamento assombroso, eu me detono ao redor dele — um orgasmo catártico e curador —, gritando seu nome à medida que as lágrimas escorrem por meu rosto.
Ele atinge o clímax e se derrama dentro de mim. Com o rosto enterrado em meu pescoço, desliza até o chão, segurando-me apertado, beijando meu rosto, beijando minhas lágrimas enquanto a água quente cai sobre nós, nos limpando.
* * *
— MEUS DEDOS ESTÃO enrugados — murmuro, apoiada contra seu peito, com aquela sensação de saciedade pós-coito.
Ele os leva até os lábios e os beija, um de cada vez.
— A gente realmente devia sair desse chuveiro.
— Estou bem aqui. — Estou sentada entre suas pernas e ele está me segurando apertado. Não quero me mover.
Christian concorda com um murmúrio. Mas, de repente, estou cansada até os ossos, cansada do mundo. Tanta coisa aconteceu na última semana — drama o suficiente para uma vida inteira —, e agora eu vou me casar. Um riso de descrença me escapa dos lábios.
— Algo divertido, Srta. Steele? — pergunta ele com carinho.
— Foi uma semana agitada.
Ele sorri.
— Ah, isso foi.
— Graças a Deus você está de volta inteiro, Sr. Grey — sussurro, séria diante do pensamento do que poderia ter acontecido. Seu corpo fica tenso e imediatamente me arrependo de ter lhe lembrado.
— Eu estava com medo — confessa, para minha surpresa.
— Hoje mais cedo?
Ele faz que sim com a cabeça, a expressão séria. Puta merda.
— Então você fez pouco caso do que aconteceu para tranquilizar sua família?
— Foi. Eu estava baixo demais para aterrissar bem. Mas, de alguma forma, consegui.
Droga. Meus olhos se voltam para os dele, e ele parece circunspecto, a água jorrando em cima de nós.
— Quão perto foi de dar errado?
Ele me encara.
— Perto. — E faz uma pausa. — Por alguns segundos terríveis, achei que nunca mais ia ver você.
Eu o abraço com força.
— Não posso imaginar minha vida sem você, Christian. Eu amo tanto você que isso me assusta.
— Eu também — ofega. — Minha vida seria vazia sem você. Amo tanto você. — Ele aperta os braços em volta de mim e enfia o rosto em meu cabelo. — Nunca vou deixar você ir embora.
— Não quero ir embora, nunca. — Beijo seu pescoço, e ele se abaixa e me beija com carinho.
Depois de um momento, ele se mexe.
— Vamos, vamos secar você e colocar você na cama. Estou exausto e você parece que levou uma surra.
Eu me inclino para trás e arqueio uma sobrancelha diante de sua escolha de palavras. Ele deita a cabeça de lado e sorri para mim.
— Você tem algo a dizer, Srta. Steele?
Nego com a cabeça e me coloco de pé, cambaleante.
* * *
ESTOU SENTADA NA cama. Christian insistiu em secar meu cabelo — o que faz muito bem. Como ele aprendeu isso é um pensamento desagradável, então o afasto depressa. Já passam das duas da manhã, e eu estou pronta para dormir. Christian me olha e reexamina o chaveiro antes de subir na cama. Ele balança a cabeça mais uma vez, incrédulo.
— É tão maneiro. O melhor presente de aniversário que já ganhei. — Ele me encara, o olhar suave e cálido. — Melhor até que o pôster assinado do Giuseppe DeNatale.
— Eu teria respondido-lhe antes, mas como seu aniversário estava chegando... O que dar ao homem que já tem tudo? Pensei em dar... eu mesma.
Ele coloca o chaveiro na mesa de cabeceira e se aninha ao meu lado, puxando-me em seus braços, contra seu peito, e ficamos de conchinha.
— É perfeito. Igual a você.
Sorrio, embora ele não consiga ver minha expressão.
— Estou longe de ser perfeita, Christian.
— Você está rindo de mim, Srta. Steele?
Como ele sabe?
— Talvez. — Rio. — Posso lhe perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele dá uma fungada no meu pescoço.
— Você não telefonou no caminho para Portland. Foi mesmo por causa de José? Você estava preocupado porque eu estava aqui sozinha com ele?
Christian não responde. Eu me viro para encará-lo, e seus olhos estão arregalados diante de minha reprovação.
— Você tem noção de como isso é ridículo? O tanto de estresse que você fez eu e a sua família passar? Nós todos amamos muito você.
Ele pisca algumas vezes e depois abre seu sorriso tímido para mim.
— Não tinha ideia de que estaria todo mundo tão preocupado.
— Quando é que essa sua cabeça grande vai entender que as pessoas amam você? — Contraio os lábios.
— Cabeça grande? — Ele arregala os olhos, surpreso.
Faço que sim com a cabeça.
— É. Cabeça grande.
— Não acho que a minha cabeça seja proporcionalmente maior do que o restante do meu corpo.
— Estou falando sério! Pare de tentar me fazer rir. Ainda estou meio brava com você, embora isso tenha sido um tanto amenizado pelo fato de que você está em casa são e salvo, quando eu pensei... — minha voz desaparece assim que me lembro daquelas horas de ansiedade. — Bem, você sabe o que eu pensei.
Seu olhar suaviza, e ele acaricia meu rosto.
— Desculpe.
— E a sua mãe, coitada. Foi muito comovente, ver você com ela — sussurro.
Ele sorri timidamente.
— Nunca a vi daquele jeito. — Ele pisca ao se lembrar. — É, foi realmente impressionante. Ela é sempre tão contida. Foi um choque e tanto.
— Está vendo? Todo mundo ama você. — Sorrio. — Talvez agora você comece a acreditar. — Eu o beijo suavemente. — Feliz aniversário, Christian. Que bom que você está aqui para dividir seu dia comigo. E você nem viu o que eu preparei pra você amanhã... hum... hoje — sorrio.
— Tem mais? — diz ele, espantado, e seu rosto irrompe num sorriso de tirar o fôlego.
— Ah, sim, Sr. Grey, mas você vai ter que esperar.
* * *
ACORDO DE REPENTE de um sonho ou pesadelo, meu coração pulando. Viro, em pânico, e, para meu alívio, Christian está num sono profundo ao meu lado. Como eu me mexi, ele se agita na cama e estende o braço sobre mim, descansando a cabeça em meu ombro, suspirando baixinho.
O quarto está banhado pela luz da manhã. São oito horas. Christian nunca dorme até tão tarde. Eu me recosto e deixo meu coração se acalmar. Por que a ansiedade? Ainda é por causa da noite passada?
Viro-me e olho para ele. Ele está aqui. Está bem. Respiro fundo, acalmando-me, e fito seu belo rosto. Um rosto que agora me é tão familiar, todas as suas reentrâncias e sombras eternamente gravadas em minha mente.
Ele parece muito mais jovem quando está dormindo, e eu sorrio porque hoje ele está um ano inteiro mais velho. Abraço a mim mesma, pensando em meu presente. Hum... o que ele vai fazer? Talvez eu devesse começar trazendo café da manhã na cama para ele. Além do mais, José ainda pode estar aqui.
Encontro José na bancada da cozinha, comendo uma tigela de cereal. Não posso deixar de corar ao vê-lo. Ele sabe que passei a noite com Christian. Por que de repente me sinto tão tímida? Não é como se eu estivesse nua ou algo assim. Estou com meu roupão de seda que vai até o pé.
— Bom dia, José. — Sorrio, espantando a timidez.
— Ei, Ana! — Seu rosto se ilumina, ele parece genuinamente feliz em me ver. Não há nenhum indício de implicância ou desdém em sua expressão.
— Dormiu bem? — pergunto.
— Muito. A vista daqui de cima é demais.
— É, sim. Muito especial — como o dono do apartamento. — Quer um café da manhã de homem? — provoco.
— Adoraria.
— É aniversário do Christian hoje, vou preparar um café na cama pra ele.
— Ele está acordado?
— Não, acho que está exausto de ontem — afasto depressa o olhar dele e caminho até a geladeira, para que ele não me veja corar. Caramba, é só o José. Quando tiro os ovos e o bacon da geladeira, José está sorrindo para mim.
— Você gosta mesmo dele, não é?
Aperto os lábios.
— Eu o amo, José.
Ele arregala os olhos por um momento; em seguida, sorri.
— E por que não amaria? — pergunta, gesticulando ao redor para a sala de estar.
Faço cara feia para ele.
— Puxa, obrigada!
— Ei, Ana, estou só brincando.
Hum... será que sempre vou receber esse tipo de crítica? De que estou me casando com Christian por causa do dinheiro?
— Sério, estou brincando. Você nunca foi esse tipo de garota.
— Que tal uma omelete? — pergunto, mudando de assunto. Não quero discutir.
— Claro.
— Para mim também — diz Christian, entrando na sala de estar.
Puta merda, ele está só com a calça do pijama, que pende de seu quadril daquele jeito absolutamente sensual.
— José. — Ele acena com a cabeça.
— Christian. — José devolve seu aceno solene.
Christian se vira para mim e sorri enquanto eu o encaro. Ele fez de propósito. Semicerro os olhos, tentando desesperadamente recuperar o equilíbrio, e a expressão de Christian se altera sutilmente. Ele sabe que eu sei o que ele está tramando, e ele não se importa.
— Eu ia levar seu café na cama.
Ele caminha imponente em minha direção, envolve-me com um braço, ergue meu queixo e planta um beijo molhado e barulhento em meus lábios. Nada típico de Christian!
— Bom dia, Anastasia — diz.
Minha vontade é fazer cara feia para ele e mandá-lo se comportar, mas é aniversário dele. Fico vermelha. Por que ele tem que ser tão territorial?
— Bom dia, Christian. Feliz aniversário. — Abro um sorriso, e ele sorri de volta, irônico, para mim.
— Estou ansioso pelo outro presente — diz, e pronto.
Fico da cor do Quarto Vermelho da Dor e olho nervosa para José, que está com uma cara de quem comeu algo ruim. Afasto-me e começo a preparar a omelete.
— Então, quais são seus planos para hoje, José? — pergunta Christian com ar casual ao se sentar num dos bancos.
— Vou encontrar meu pai e o pai de Ana, Ray.
Christian franze o cenho.
— Eles se conhecem?
— Estiveram juntos no exército. Eles perderam o contato até Ana e eu nos conhecermos na faculdade. A história é bem legal. São melhores amigos agora. Vamos viajar juntos, para pescar.
— Pescar? — Christian parece genuinamente interessado.
— É, o estuário é ótimo para a pesca. As trutas são gigantes aqui.
— Verdade. Meu irmão, Elliot, e eu uma vez pegamos uma de quinze quilos.
Eles estão conversando sobre pesca? Qual é a graça de pescar? Nunca entendi.
— Quinze quilos? Nada mau. Mas o recorde é do pai de Ana: dezenove quilos.
— Não brinca! Ele nunca falou nada.
— Feliz aniversário, aliás.
— Obrigado. E aí, onde você gosta de pescar?
Paro de prestar atenção. Não preciso saber disso. Mas, ao mesmo tempo, fico aliviada. Está vendo, Christian? José não é tão mau assim.
* * *
QUANDO JOSÉ SE prepara para ir embora, os dois estão muito mais relaxados um com o outro. Christian rapidamente coloca uma calça jeans e uma camiseta e, descalço, me acompanha com José até o saguão.
— Obrigado por me receber — diz José a Christian enquanto eles apertam as mãos.
— Disponha. — Christian sorri.
José me dá um abraço rápido.
— Se cuida, Ana.
— Claro. Muito bom ver você. Da próxima vez a gente faz um programa decente à noite.
— Vou cobrar, viu? — Ele acena de dentro do elevador e então desaparece.
— Está vendo, ele não é tão mau assim.
— Ele ainda quer comer você, Ana. Mas eu não o culpo.
— Christian, não é verdade!
— Você não tem ideia, não é? — Ele sorri para mim. — Ele quer você. Pra cacete.
Franzo a testa.
— Christian, ele é só um amigo, um bom amigo. — De repente, me dou conta de que soo como Christian quando ele está falando da Mrs. Robinson. O pensamento é desconcertante.
Christian ergue as mãos num gesto apaziguador.
— Não quero brigar — diz, em voz baixa.
Ah! A gente não está brigando... está?
— Eu também não.
— Você não disse a ele que a gente vai se casar.
— Não. Achei que devia avisar minha mãe e Ray primeiro.
Merda. É a primeira vez que penso nisso desde que disse sim. Caramba, o que será que meus pais vão dizer?
Christian concorda.
— É, você tem razão. E eu... hum... deveria pedir a sua mão ao seu pai.
— Ah, Christian — rio —, não estamos no século XVIII.
Puta merda. O que Ray vai dizer? Pensar nessa conversa me enche de pavor.
— É a tradição. — Christian dá de ombros.
— Vamos falar disso mais tarde. Quero lhe dar o seu outro presente.
Meu objetivo é distraí-lo. Pensar no meu presente está abrindo um buraco em minha consciência. Preciso entregar a ele e ver como reage.
Ele abre seu sorriso tímido, e meu coração dá um pulo. Nunca na minha existência vou me cansar de olhar para esse sorriso.
— Você está mordendo o lábio de novo — diz e puxa o meu queixo.
A emoção percorre meu corpo assim que seus dedos me tocam. Sem uma palavra, e enquanto ainda tenho um mínimo de coragem, pego sua mão e o conduzo de volta para o quarto. Solto sua mão, deixando-o de pé junto da cama, e pego as duas caixinhas restantes de debaixo do meu lado da cama.
— Dois? — pergunta, surpreso.
Respiro fundo.
— Comprei isso antes de... hum... do incidente de ontem. Agora não tenho muita certeza. — Entrego uma das caixas depressa, antes que possa mudar de ideia.
Ele olha para mim, perplexo, sentindo minha insegurança.
— Tem certeza de que quer que eu abra?
Faço que sim com a cabeça, ansiosa.
Christian rasga a embalagem e fita a caixa, surpreso.
— Charlie Tango — sussurro.
Ele sorri. A caixa contém um pequeno helicóptero de madeira com uma grande hélice movida a energia solar. Ele abre a caixa.
— Movido a energia solar — murmura. — Uau.
E quando me dou conta ele está sentado na cama, montando o helicóptero. Ele termina num instante e ergue-o na palma da mão. Um helicóptero azul de madeira. Ele olha para mim e abre seu sorriso maravilhoso e sensual, e então vai até a janela para que ele receba a luz do sol, e o rotor começa a girar.
— Olhe só para isso — suspira, examinando de perto. — As coisas que já se pode fazer com essa tecnologia.
Ele o eleva até o nível dos olhos, observando a hélice girar. Está fascinado, e é fascinante de assistir, perdido em pensamentos, olhando o pequeno helicóptero. Em que está pensando?
— Gostou?
— Ana, adorei. Obrigado. — Ele me agarra e me beija depressa. Em seguida, se volta para assistir o rotor girar. — Vou colocar junto do planador, no meu escritório — diz, distraído, ainda observando a hélice.
Ele tira a mão do sol, e as hélices desaceleram até parar.
Não posso conter um sorriso de orelha a orelha, e minha vontade é de me abraçar. Ele adorou. Claro, ele adora tecnologias alternativas. Na pressa de comprar o presente, tinha me esquecido disso. Ele o coloca sobre a cômoda e se vira de frente para mim.
— Vai me fazer companhia enquanto a gente conserta Charlie Tango.
— É consertável?
— Não sei. Espero que sim. Se não, vou sentir saudade dela.
Dela? Fico chocada comigo mesma pela pequena pontada de ciúme que sinto de um objeto inanimado. Meu inconsciente bufa com um riso de escárnio. Eu o ignoro.
— E o que há na outra caixa? — pergunta ele, os olhos arregalados com uma empolgação infantil.
Puta merda.
— Não tenho muita certeza se este é para você ou para mim.
— Ah, é? — pergunta, e eu sei que despertei seu interesse.
Nervosa, entrego a segunda caixa para ele. Ele a sacode de leve e nós dois ouvimos um barulho pesado. Ele olha para mim.
— Por que está tão nervosa? — pergunta, confuso.
Dou de ombros, ficando envergonhada, animada e vermelha ao mesmo tempo. Ele levanta uma sobrancelha.
— Você está me deixando intrigado, Srta. Steele — sussurra, e sua voz me atinge em cheio, o desejo e a expectativa se concentrando em minha barriga. — Preciso dizer que estou apreciando a sua reação. O que você andou aprontando? — Ele aperta os olhos, especulativamente.
Fico de boca fechada, prendendo a respiração.
Ele remove a tampa da caixa e tira um pequeno cartão. O restante está embalado em papel. Ele abre o cartão, e seus olhos disparam para os meus, arregalados, não sei se chocados ou surpresos.
— Fazer maldades com você? — murmura.
Faço que sim e engulo em seco. Ele deita a cabeça de lado, com cautela, avaliando minha reação, e franze a testa. Então, volta sua atenção para a caixa. Rasga o papel de seda azul-claro e retira uma venda para os olhos, alguns grampos de mamilos, um plugue anal, o iPod dele, a gravata prateada e, por último, mas não menos importante, a chave do quarto de jogos.
Ele me olha, uma expressão sombria e ilegível no rosto. Ai, merda. Será que eu mandei mal?
— Você quer brincar? — pergunta ele, de mansinho.
— Quero — ofego.
— No meu aniversário?
— É. — Será que a minha voz pode soar mais tímida do que isso?
Uma miríade de emoções cruza seu rosto, nenhuma das quais posso identificar, mas enfim ele parece ansioso. Hum... Não é bem a reação que eu estava esperando.
— Você tem certeza? — pergunta.
— Nada de chicotes e essas coisas.
— Sei disso.
— Bom, então, tenho certeza.
Ele balança a cabeça e examina o conteúdo da caixa.
— Maníaca sexual e insaciável. Bem, acho que a gente pode fazer alguma coisa com este kit — murmura quase que para si mesmo, e então coloca os itens de volta na caixa.
Ao erguer o olhar para mim de novo, sua expressão mudou completamente. Caramba, seus olhos ardem, e sua boca se abre lentamente num sorriso erótico. Ele me estende a mão.
— Agora — diz, e não é um pedido.
Sinto minha barriga se contrair, forte e intensa, bem fundo dentro de mim. Coloco a mão na sua.
— Venha — ordena, e o sigo para fora do quarto, o coração na boca.
O desejo corre pelo meu sangue, quente e escorregadio, enquanto minhas entranhas se apertam, famintas. Finalmente!