CAPÍTULO ONZE

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Com elegância, Christian acerta a bola branca de forma que ela atravessa a mesa e toca a preta, fazendo-a rolar bem devagarinho, bater numa quina e, finalmente, mergulhar na caçapa do alto à direita.

Droga.

Ele se levanta, e sua boca se abre num sorriso triunfante de “você é minha, Srta. Steele”. Deixando o taco de lado, ele caminha despreocupado em minha direção, com o cabelo despenteado, a calça jeans e a camiseta branca. Nem parece um CEO, lembra muito mais um bad boy do subúrbio da cidade. Puta merda, ele é sexy demais.

— Você não vai dar uma de má perdedora agora, vai? — murmura ele, mal contendo o sorriso.

— Depende de quão forte você me bater — sussurro, apoiando-me no taco.

Ele pega o taco da minha mão e o coloca de lado, em seguida engancha o dedo no meu decote e me puxa para junto dele.

— Bem, vamos contar os seus delitos, Srta. Steele. — Ele estende os longos dedos. — Primeiro, provocar ciúmes em mim com meus próprios funcionários. Segundo, brigar comigo porque quer ir trabalhar. Terceiro, empinar esse traseiro delicioso para mim durante os últimos vinte minutos.

Seus olhos brilham com animação num tom suave de cinza, e, baixando o rosto, ele esfrega o nariz no meu.

— Quero que você tire a sua calça jeans e esta beleza de camisa. Agora. — Ele me dá um beijo suave nos lábios e caminha até a porta, trancando-a.

Ao se virar e me fitar, seus olhos estão ardendo. Fico paralisada feito um zumbi, o coração batendo forte, o sangue pulsando, incapaz de mover um único músculo. Em minha mente, tudo o que consigo pensar é: isso é para ele. E a frase se repete em minha cabeça como um mantra.

— A roupa, Anastasia. Você ainda está vestida. Tire a roupa ou eu que vou tirá-la para você.

— Você tira — finalmente encontro minha voz, e ela soa baixa e fogosa.

Christian sorri.

— Ah, Srta. Steele. É um trabalho sujo, mas acho que dou conta do recado.

— Você normalmente dá conta da maioria dos recados, Sr. Grey. — Ergo uma sobrancelha para ele, e ele sorri.

— Ora, Srta. Steele, o que você quer dizer com isso?

Caminhando em minha direção, ele para junto a uma mesa pequena embutida numa das estantes, onde pega uma régua de acrílico de trinta centímetros. Segura suas duas extremidades e a flexiona, mantendo os olhos fixos nos meus.

Merda, ele escolheu sua arma. Minha boca fica seca.

De repente, sinto-me quente, alvoroçada e úmida em todos os lugares certos. Só mesmo Christian para me excitar apenas com um olhar e uma régua. Ele a coloca no bolso de trás da calça jeans e caminha na minha direção, os olhos sombrios cheios de promessas. Sem dizer uma palavra, ajoelha-se na minha frente e começa a desamarrar o cadarço dos meus tênis, de maneira rápida e eficiente, arrancando meus All Stars e as meias. Eu me apoio na mesa de bilhar para não cair. Olhando para baixo enquanto ele solta o cadarço, fico maravilhada com a profundidade dos sentimentos que tenho por este homem. Eu o amo.

Ele me segura pelo quadril, desliza os dedos pelo cós da minha calça e abre o botão e o zíper. Em seguida, olha para cima através de seus longos cílios, abrindo seu sorriso mais lascivo ao baixar lentamente minha calça. Desvencilho-me dela, contente por estar usando uma calcinha bonita de renda branca, e ele me agarra pela parte de trás das pernas e corre o nariz até o topo de minhas coxas. Quase derreto.

— Quero ser bem duro com você, Ana. Você vai ter que me dizer para parar se for demais — ofega ele.

Meu Deus. Ele me beija... lá. Gemo baixinho.

— Palavra de segurança? — murmuro.

— Não, nada de palavra de segurança, só me diga para parar, e eu paro. Entendeu? — Ele me beija de novo, enfiando o rosto em mim. Ah, isso é bom. Christian fica de pé, o olhar intenso. — Responda — ordena, com voz aveludada.

— Sim, sim, entendi. — Sua insistência me deixa intrigada.

— Você ficou dando dicas e me enviando sinais confusos durante todo o dia, Anastasia — diz ele. — Você disse que estava preocupada que eu tivesse perdido a mão. Não sei o que quis dizer com isso, e não sei o quão sério você estava falando, mas nós vamos descobrir. Ainda não quero voltar para o quarto de jogos, então nós podemos tentar isso agora, mas você tem que me prometer que, se não gostar, vai me avisar. — Uma intensidade ardente nascida de sua ansiedade substitui sua arrogância anterior.

Uau, por favor, não fique ansioso, Christian.

— Eu aviso. Nada de palavra de segurança — confirmo, para assegurá-lo.

— Nós somos amantes, Anastasia. Amantes não precisam de palavras de segurança. — Ele franze a testa. — Precisam?

— Acho que não — murmuro. Como vou saber? — Prometo.

Ele procura em meu rosto qualquer indício de que eu vá perder a coragem para pôr em prática minhas convicções, e eu estou nervosa, mas também animada. Fico muito mais feliz de fazer isso sabendo que ele me ama. É bem simples para mim, e neste instante, não quero pensar demais no assunto.

Um sorriso lento se estende por todo o seu rosto, e ele começa a desabotoar minha camisa, seus dedos habilidosos desempenhando o trabalho com facilidade, embora ele não a tire completamente. Ele se inclina e pega o taco.

Ah, não, o que ele vai fazer com isso? Um arrepio de medo atravessa meu corpo.

— Você joga bem, Srta. Steele. Tenho que admitir que estou surpreso. Por que não mata a preta para mim?

Esquecendo meu medo, faço beicinho, perguntando-me por que diabo ele deveria ficar surpreso. A sensualidade desse filho da mãe arrogante... Minha deusa interior está se aquecendo ao fundo, fazendo sua série de exercícios de solo, um sorriso enorme estampado no rosto.

Posiciono a bola branca. Christian dá a volta na mesa e fica bem atrás de mim quando me inclino para dar a tacada. Ele coloca a mão em minha coxa direita e corre os dedos para cima e para baixo ao longo de minha perna, chega até minha bunda e então volta para a perna, acariciando-me de leve.

— Vou errar, se você continuar fazendo isso — sussurro, fechando os olhos e saboreando a sensação de suas mãos em mim.

— Não me importo se você vai acertar ou errar, baby. Só queria ver você assim, semivestida, debruçada na minha mesa de bilhar. Você tem ideia de como está gostosa neste instante?

Fico vermelha, e minha deusa interior coloca uma rosa na boca e começa a dançar tango. Respirando fundo, tento ignorá-lo e alinhar minha tacada. É impossível. Ele continua a acariciar minha bunda, mais e mais.

— Acima, à esquerda — murmuro, e então acerto a bola branca. Ele me dá um tapa com força, e atinge em cheio meu traseiro.

É tão inesperado que solto um grito. A bola branca bate na preta, que faz uma tabela bem longe da caçapa. Christian acaricia minha bunda outra vez.

— Acho que você vai ter que tentar de novo — sussurra ele. — Concentre-se, Anastasia.

Estou ofegante agora, empolgada com o jogo. Ele caminha até o outro lado da mesa, posiciona a bola preta de novo e rola a branca na minha direção. Parece tão carnal, os olhos escuros, o sorriso lascivo. Como eu seria capaz de resistir? Pego a bola e a coloco no lugar, pronta para jogar novamente.

— Hã-hã — adverte ele. — Espere.

Ah, como ele adora prolongar a agonia. Ele volta para trás de mim. Fecho os olhos quando ele acaricia minha coxa esquerda dessa vez, e então volta a apalpar minha bunda.

— Agora. — Ele expira.

Não consigo conter o gemido à medida que o desejo dá voltas dentro de mim. E eu tento, tento de verdade, pensar em que ponto tenho que acertar a bola branca na preta. Movo o corpo ligeiramente para a direita, e ele me acompanha. Mais uma vez, debruço-me sobre a mesa. Usando meus últimos resquícios de força interior — que diminuíram consideravelmente, já que agora sei o que vai acontecer quando eu acertar a bola branca —, miro a bola e faço a tacada. Christian me bate mais uma vez, com força.

Ai! Erro de novo.

— Ah, não! — gemo.

— Mais uma, baby. E se errar essa, você vai ver só.

O quê? Ver o quê?

Mais uma vez ele posiciona a bola preta e volta, dolorosamente devagar, até estar de pé atrás de mim, acariciando de novo minha bunda.

— Você consegue — insiste ele.

Não... não com você me distraindo desse jeito. Empurro a mão dele com a minha bunda, e ele me dá um tapinha de leve.

— Ansiosa, Srta. Steele? — murmura.

Sim. Quero você.

— Bem, vamos tirar isso. — Ele desliza suavemente minha calcinha ao longo de minhas coxas e a tira. Não vejo o que ele faz com ela, mas me faz sentir completamente exposta ao dar um beijo de leve em cada nádega. — Dê a sua tacada, baby.

Quero chorar; não vou conseguir. Sei que vou errar. Alinho a branca, dou a tacada e, em minha impaciência, nem toco a bola preta. Espero o golpe, mas ele não vem. Em vez disso, ele se debruça sobre mim, espremendo-me de encontro à mesa, e tira o taco de minha mão, rolando-o na beirada da mesa. Eu o sinto, encostado em minha bunda, duro.

— Você errou — diz suavemente em meu ouvido. Meu rosto fica pressionado contra o feltro. — Espalme as mãos na mesa.

Obedeço.

— Muito bem. Vou bater em você agora e quem sabe na próxima vez você não erre mais. — Ele se move para a minha esquerda, de forma que fica de pé ao meu lado, a ereção forçando meu quadril.

Solto um gemido e meu coração salta até a boca. Estou ofegante e uma onda de excitação corre, densa e quente, por minhas veias. Ele acaricia minha bunda com ternura e envolve meu pescoço com a outra mão, seus dedos apertando meu cabelo em torno de minha nuca, o cotovelo em minhas costas, mantendo-me firme. Estou completamente indefesa.

— Abra as pernas — murmura ele e, por um momento, hesito. Ele me bate com força... com a régua! O barulho é mais forte que a pancada, e me pega de surpresa. Solto um gemido, e ele me bate de novo. — As pernas — ordena.

Abro as pernas, ofegante. E a régua me ataca de novo. Ai... isso dói, mas o som que faz contra a pele parece pior do que a dor.

Fecho os olhos e absorvo a dor. Não é tão ruim assim, e a respiração de Christian se torna mais rápida. Ele me bate de novo e de novo, e eu gemo. Não sei quantos golpes sou capaz de suportar. Mas ouvi-lo, saber o quanto está excitado, alimenta o meu desejo e a minha vontade de continuar. Estou adentrando o lado negro, um lugar em minha mente que não conheço bem, mas que já visitei antes, no quarto de jogos... com Tallis. A régua me acerta de novo, e eu grito alto; Christian geme em resposta. E me bate de novo e de novo... e uma vez mais... mais forte agora... e eu estremeço.

— Pare. — A palavra salta de minha boca antes que eu perceba.

Christian larga a régua imediatamente e me solta.

— Já chega? — sussurra.

— Chega.

— Quero comer você agora — diz ele, a voz tensa.

— Sim — murmuro, cheia de desejo.

Ele abre o zíper da calça enquanto permaneço deitada, ofegante, em cima da mesa, sabendo que ele vai ser bruto.

Mais uma vez eu me surpreendo por ter aguentado firme e, sim, por ter gostado do que ele fez comigo até agora. É tão sombrio, mas tão a cara dele.

Ele enfia dois dedos em mim e os mexe num movimento circular. A sensação é deliciosa. Fechando os olhos, entrego-me ao estímulo. Ouço o barulho revelador de um envelopinho sendo rasgado, e então ele está de pé atrás de mim, entre minhas pernas, afastando-as mais ainda.

Lentamente, ele entra em mim, preenchendo-me. Ouço seu gemido de puro prazer, e isso agita minha alma. Ele agarra meu quadril com força, sai de dentro de mim e volta, desta vez entrando com mais força, fazendo-me gritar. Ele para por um momento.

— De novo? — pergunta, em voz baixa.

— De novo... Estou bem. Pode se soltar... e me leve com você — murmuro sem fôlego.

Ele geme baixinho, sai de mim mais uma vez, e então entra com força, e repete isso de novo e de novo, bem devagar, deliberadamente, num ritmo punitivo, brutal e divino.

Ah, meu Deus... Minhas entranhas começam a se acelerar. Ele também sente e aumenta a cadência, empurrando-me, mais forte, mais rápido... e eu me entrego, explodindo em torno dele... um orgasmo esgotante, de paralisar a alma, que me deixa exausta.

Estou ligeiramente consciente de que Christian também está atingindo o clímax, gritando meu nome, seus dedos pressionando meu quadril; em seguida, ele para e desaba em cima de mim. Nós escorregamos até o chão, e ele me envolve em seus braços.

— Obrigado, baby — diz ele, ofegante, cobrindo meu rosto de beijos suaves. Abro os olhos e o encaro, ele aperta os braços ao meu redor. — Sua bochecha está vermelha por causa do feltro — murmura, acariciando minha face. — Como foi? — Seus olhos estão arregalados e cautelosos.

— Bom demais — murmuro. — Gosto quando você é bruto, Christian, e também gosto quando é gentil. Gosto que seja com você.

Ele fecha os olhos e me abraça ainda mais apertado.

Caramba, estou cansada.

— Você nunca falha, Ana. Você é linda, inteligente, estimulante, divertida, sensual, e todos os dias eu agradeço à Divina Providência ter sido você a me entrevistar, e não Katherine Kavanagh. — Ele beija meu cabelo. Sorrio e bocejo em seu peito. — Estou cansando você — continua ele. — Venha. Banho, depois cama.

* * *

ESTAMOS OS DOIS na banheira de Christian, um de frente para o outro, mergulhados na espuma até o queixo, o doce aroma de jasmim nos envolvendo. Christian está massageando meus pés, um de cada vez. É tão bom que deveria ser proibido.

— Posso perguntar uma coisa? — murmuro.

— Claro. Qualquer coisa, Ana, você sabe disso.

Respiro fundo e me sento, hesitando apenas ligeiramente.

— Amanhã, quando eu for trabalhar, Sawyer pode simplesmente me deixar na porta da frente do prédio e depois me pegar no final do dia? Por favor, Christian. Por favor — imploro.

Suas mãos interrompem a massagem e ele franze a testa.

— Achei que a gente tinha concordado — resmunga ele.

— Por favor — imploro.

— E o almoço?

— Eu preparo alguma coisa para levar daqui, assim eu não tenho que sair, por favor.

Ele beija o peito do meu pé.

— Acho muito difícil dizer não para você — murmura, como se achasse que isso fosse um defeito seu. — Você não vai sair?

— Não.

— Certo.

— Obrigada. — Sorrio para ele, e fico de joelhos, derramando água para todo canto e beijando-o.

— Não há de quê, Srta. Steele. Como vai a sua bunda?

— Dolorida. Mas nada de mais. A água alivia.

— Estou feliz que você tenha me pedido para parar — diz ele, olhando para mim.

— Minha bunda também.

Ele sorri.

* * *

EU ME ESPREGUIÇO na cama, esgotada. Ainda são dez e meia, mas é como se fossem três da manhã. Este deve ter sido um dos fins de semana mais cansativos da minha vida.

— A Sra. Acton não mandou nenhuma roupa de dormir? — pergunta Christian, a voz cheia de desaprovação ao olhar para mim.

— Não tenho ideia. Gosto de usar suas camisetas — murmuro, sonolenta.

Sua expressão se suaviza, e ele se inclina e beija minha testa.

— Preciso trabalhar. Mas não quero deixá-la sozinha. Posso usar o seu laptop para logar no escritório? Vou atrapalhar você se trabalhar daqui?

— O laptop não é meu — sussurro, adormecendo.

* * *

O ALARME TOCA, acordando-me com as notícias do trânsito. Christian ainda está dormindo ao meu lado. Esfregando os olhos, focalizo o relógio: seis e meia, cedo demais.

Está chovendo lá fora pela primeira vez em séculos, e a luz é suave e doce. Estou tão aquecida e confortável aqui neste enorme e moderno arranha-céu, com Christian ao meu lado. Eu me espreguiço e viro o corpo para o homem delicioso junto a mim. Ele abre os olhos, piscando, sonolento.

— Bom dia. — Sorrio e acaricio seu rosto, inclinando-me para beijá-lo.

— Bom dia, baby. Normalmente acordo antes de o alarme tocar — murmura ele, impressionado.

— Está programado para muito cedo.

— É verdade, Srta. Steele. — Christian sorri. — Tenho que me levantar. — Ele me beija, e então está de pé.

Eu me jogo de volta nos travesseiros. Uau, acordar em um dia de semana ao lado de Christian Grey. Como foi que isso aconteceu? Fecho os olhos e cochilo.

— Vamos, dorminhoca, acorde. — Christian se inclina sobre mim. Está barbeado e limpo... Hum, ele cheira tão bem. De camisa branca e terno preto, sem gravata; o CEO está de volta. — O que foi? — pergunta ele.

— Eu queria que você voltasse para a cama.

Ele entreabre os lábios, surpreso com a provocação, e sorri quase sem graça.

— Você é insaciável, Srta. Steele. Por mais que a ideia seja tentadora, tenho uma reunião às oito e meia, então preciso sair daqui a pouco.

Ah, dormi por mais uma hora ou algo assim. Merda. Pulo da cama, e Christian ri.

* * *

TOMO BANHO E me visto depressa, colocando as roupas que separei ontem: uma saia-lápis cinza, camisa de seda cinza-clara e sapatos de salto pretos, tudo do meu guarda-roupa novo. Escovo e prendo o cabelo, então caminho até a sala de estar, sem saber muito bem o que esperar. Como vou até o trabalho?

Christian está tomando café no balcão. A Sra. Jones está na cozinha fazendo panquecas e bacon.

— Você está linda — murmura ele.

Passando o braço em volta de mim, ele me beija embaixo da orelha. Com o canto do olho, vejo a Sra. Jones sorrir. Fico vermelha.

— Bom dia, Srta. Steele — diz ela, servindo-me um prato de panquecas e bacon.

— Ah, obrigada. Bom dia — murmuro. Eu bem que poderia me acostumar com isso.

— O Sr. Grey me disse que a senhora vai levar algo para almoçar no trabalho. O que gostaria de comer?

Olho de relance para Christian, que está fazendo muita força para não sorrir. Estreito os olhos para ele.

— Um sanduíche... uma salada. Pode ser qualquer coisa. — Sorrio para a Sra. Jones.

— Vou preparar um embrulho para a senhora.

— Por favor, Sra. Jones, pode me chamar de Ana.

— Ana. — Ela sorri e se vira para fazer chá.

Nossa... que legal.

Viro-me e inclino a cabeça para Christian, desafiando-o: vá em frente, acuse-me de flertar com a Sra. Jones.

— Tenho que ir, Ana. Taylor vai voltar e deixar você no trabalho com Sawyer.

— Só até a porta.

— É. Só até a porta. — Christian revira os olhos. — Mas tenha cuidado.

Dou uma olhada ao redor e vejo Taylor de pé junto à entrada. Christian se levanta e me dá um beijo, segurando meu queixo.

— Até mais, baby.

— Tenha um bom dia no escritório, querido — exclamo. Ele se vira, abre seu belo sorriso para mim e vai embora.

A Sra. Jones me passa uma xícara de chá, e, de repente, eu me sinto desconfortável sozinha ali com ela.

— Há quanto tempo você trabalha para Christian? — pergunto, sentindo-me na obrigação de puxar uma conversa.

— Há uns quatro anos, mais ou menos — responde ela com gentileza, enquanto prepara meu almoço.

— Sabe, eu mesma posso fazer isso — balbucio, envergonhada que ela esteja fazendo aquilo por mim.

— Tome seu café da manhã, Ana. Este é o meu trabalho. E gosto dele. É bom cuidar de alguém que não seja o Sr. Taylor e o Sr. Grey. — Ela sorri com doçura.

Minhas bochechas ficam rosadas de prazer, e eu quero bombardear essa mulher de perguntas. Ela deve saber muito sobre Christian, mas, embora seja acolhedora e simpática, é também muito profissional. Sei que só vou deixar nós duas envergonhadas se começar a interrogá-la, então termino meu café da manhã num silêncio razoavelmente confortável, interrompido apenas por suas perguntas a respeito de minhas preferências gerais com relação a comida.

Vinte e cinco minutos depois Sawyer aparece na entrada da sala de estar. Já escovei os dentes e estou pronta para sair. Segurando a sacola de papel pardo com meu almoço — acho que nem a minha mãe já fez isso por mim —, pego o elevador com Sawyer, até o primeiro andar. Ele é muito calado, não revela nada. Taylor está nos esperando no Audi, e eu me sento no banco de trás do carro assim que Sawyer abre a porta para mim.

— Bom dia, Taylor — cumprimento-o com vivacidade.

— Srta. Steele. — Ele sorri.

— Taylor, sinto muito por meus comentários inapropriados ontem à noite. Espero não ter criado problemas para você.

Pelo retrovisor, vejo Taylor franzir a testa espantando enquanto conduz o carro pelo trânsito de Seattle.

— Srta. Steele, raramente tenho problemas — responde ele com ar tranquilizador.

Ah, que bom. Talvez Christian não tenha dado uma bronca nele. Foi só comigo então, penso um tanto amarga.

— Fico feliz em ouvir isso, Taylor — sorrio.

* * *

JACK ME OLHA, avaliando minha aparência enquanto caminho até minha mesa.

— Bom dia, Ana. Teve um bom fim de semana?

— Sim, obrigada. E você?

— Foi bom. Sente-se... tenho trabalho para você.

Concordo com a cabeça e me sento diante do computador. Parece que passaram-se anos desde a última vez em que vim trabalhar. Ligo o computador e abro o e-mail e é claro que há uma mensagem de Christian.

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De: Christian Grey

Assunto: Chefe

Data: 13 de junho de 2011 08:24

Para: Anastasia Steele


Bom dia, Srta. Steele,


Só queria agradecer pelo fim de semana maravilhoso, apesar de todo o drama.


Espero que você nunca mais vá embora, nunca.


E só para lembrar: a notícia da SIP permanece embargada por quatro semanas.


Apague este e-mail assim que o ler.


Seu,


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc., e chefe do chefe do seu chefe


Espera que eu nunca mais vá embora? Será que ele quer que eu me mude de vez para a casa dele? Deus do céu... Mal o conheço. Deleto a mensagem.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Chefão

Data: 13 de junho de 2011 09:03

Para: Christian Grey


Caro Sr. Grey,


Você está me pedindo para morar com você? E, claro, sei que a maior prova de sua impressionante capacidade de perseguição permanece embargada pelas próximas quatro semanas. Devo fazer um cheque em nome da Superando Juntos e mandar para o seu pai? Por favor, não apague este e-mail. Por favor, responda a ele.


Amo você


Bj,


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP


— Ana! — Jack me faz pular da cadeira.

— Sim? — Fico vermelha, e Jack franze a testa para mim.

— Tudo certo?

— Claro. — Reviro minhas coisas e pego meu bloquinho antes de correr até a sala dele.

— Ótimo. Como você provavelmente se lembra, vou participar daquele Simpósio de Ficção em Nova York na quinta-feira. Já tenho as entradas e as reservas, mas gostaria que você fosse comigo.

— Para Nova York?

— Sim. A gente vai ter que ir na quarta-feira e passar a noite lá. Acho que você vai aprender muito com a experiência. — Seus olhos escurecem ao dizer isso, mas seu sorriso é educado. — Você pode fazer os arranjos necessários para a viagem? E reservar mais um quarto no hotel em que vou ficar? Acho que Sabrina, minha assistente anterior, deixou os detalhes em algum lugar.

— Certo. — Lanço um sorriso lívido para Jack.

Merda. Volto para minha mesa. Christian não vai gostar muito disso... O problema é que quero ir. Parece uma oportunidade de verdade, e tenho certeza de que consigo manter Jack afastado, se é que ele tem mesmo alguma intenção nesse sentido. De volta à minha mesa, vejo que há uma resposta de Christian.

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De: Christian Grey

Assunto: Chefão, eu?

Data: 13 de junho de 2011 09:07

Para: Anastasia Steele


Sim. Por favor.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings Inc.


Ele realmente quer que eu me mude para a casa dele. Ah, Christian... é cedo demais. Apoio a cabeça nas mãos, tentando recuperar o juízo. Isso é tudo de que eu precisava depois de um fim de semana extraordinário. Nem tive um momento de tranquilidade para refletir e entender tudo o que experimentei e descobri nestes dois últimos dias.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Flynnismo

Data: 13 de junho de 2011 09:20

Para: Christian Grey


Christian,


O que aconteceu com aprender a caminhar antes de correr?


Podemos falar sobre isso hoje à noite, por favor?


Fui convidada a participar de uma conferência em Nova York, na quinta-feira.


Isso significa passar a noite de quarta lá.


Achei que você devia saber.


Bj,


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: O QUÊ?

Data: 13 de junho de 2011 09:21

Para: Anastasia Steele


Sim. Vamos conversar esta noite.


Você vai sozinha?


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings Inc.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Nada de maiúsculas gritantes numa segunda de manhã!

Data: 13 de junho de 2011 09:30

Para: Christian Grey


Podemos falar sobre isso hoje à noite?


Bj,


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: Você ainda não me ouviu gritar

Data: 13 de junho de 2011 09:35

Para: Anastasia Steele


Fale agora.


Se for com essa criatura desprezível com quem você trabalha, então a resposta é não, nem por cima do meu cadáver.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings Inc.


Meu coração afunda. Merda... é como se ele fosse meu pai.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Não, VOCÊ ainda não me ouviu gritar

Data: 13 de junho de 2011 09:46

Para: Christian Grey


Sim. É com Jack.


Eu quero ir. É uma grande oportunidade para mim.


E nunca fui a Nova York.


Pare de se preocupar e de ficar arrancando os cabelos à toa.


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: Não, VOCÊ ainda não viu nada

Data: 13 de junho de 2011 09:50

Para: Anastasia Steele


Anastasia,


Não é com a merda dos meus cabelos que estou preocupado.


A resposta é NÃO.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings Inc.


— Não! — grito para o monitor, fazendo com que o escritório inteiro interrompa o que está fazendo para olhar para mim.

Jack coloca a cabeça para fora de sua sala.

— Tudo bem, Ana?

— Sim. Desculpe — murmuro. — Eu... só esqueci de salvar um documento.

Estou rubra de vergonha. Ele sorri para mim, mas com uma expressão intrigada. Respiro fundo várias vezes e rapidamente digito uma resposta. Estou com tanta raiva.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Cinquenta Tons

Data: 13 de junho de 2011 09:55

Para: Christian Grey


Christian,


Você precisa segurar a sua onda.


Eu NÃO vou dormir com Jack, nem que a vaca tussa.


AMO você. Isso é o que acontece quando as pessoas se amam.


Elas CONFIAM umas nas outras.


Não acho que você vá DORMIR COM, BATER, COMER ou AÇOITAR qualquer outra pessoa. Tenho FÉ e CONFIANÇA em você.


Por favor, tenha a COMPOSTURA de agir da mesma forma comigo.


Ana


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP


Eu me sento, à espera de sua resposta. Nada chega. Ligo para a companhia aérea e marco minha passagem, com o cuidado de escolher o mesmo voo que Jack. Ouço o bip indicando a chegada de mais um e-mail.

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De: Elena Lincoln

Assunto: Encontro para um almoço

Data: 13 de junho de 2011 10:15

Para: Anastasia Steele


Cara Anastasia,


Eu realmente gostaria de almoçar com você. Acho que começamos com o pé esquerdo, e eu gostaria de consertar isso. Você está livre em algum momento esta semana?


Elena Lincoln


Puta merda, Mrs. Robinson, não! Como ela descobriu meu e-mail? Levo as mãos à cabeça. Dá para este dia ficar pior?

O telefone toca e ergo a cabeça cansada para atendê-lo, olhando para o relógio. São apenas dez e vinte, e eu já desejo não ter deixado a cama de Christian.

— Escritório de Jack Hyde. Ana Steele falando.

Uma voz dolorosamente familiar grita do outro lado:

— Você poderia apagar o último e-mail que me mandou e tentar ser um pouco mais cautelosa com as palavras que usa em seu e-mail de trabalho? Eu já falei, o sistema é monitorado. Vou tentar reduzir os danos do lado de cá. — E desliga.

Puta merda... Fico ali sentada, encarando o telefone. Christian desligou na minha cara. Esse homem está pisoteando a minha nova carreira e ainda desliga na minha cara? Fito o fone e, se não fosse um objeto inanimado, sei que ele murcharia apavorado sob meu olhar fulminante.

Abro meus e-mails e apago o que mandei para ele. Não é tão ruim assim. Eu só falei em bater e, bem, açoitar. Se ele tem tanta vergonha disso, não deveria fazer o que faz. Pego meu BlackBerry e ligo para o celular dele.

— O quê? — atende ele.

— Vou para Nova York quer você queira, quer não — respondo.

— Não vá contando...

Desligo, interrompendo-o no meio da frase. A adrenalina domina meu corpo. Pronto... Falei. Estou com muita raiva.

Respiro fundo, tentando me recompor. Fechando os olhos, imagino que estou em um lugar feliz. Hum... uma cabine de barco com Christian. Afasto a imagem, já que estou com muita raiva de Christian agora para deixá-lo se aproximar de meu lugar feliz.

Abrindo os olhos, alcanço calmamente meu bloco de anotações, repassando com cuidado a lista de coisas a fazer. Respiro fundo, recobrando o equilíbrio.

— Ana! — grita Jack, assustando-me. — Não marque a passagem!

— Tarde demais. Já marquei — respondo, enquanto ele caminha de sua sala em minha direção. Parece furioso.

— Olhe, aconteceu alguma coisa. Por alguma razão, de repente, todas as viagens e despesas de hotel para os funcionários têm que ser aprovadas pela direção. A ordem veio de cima. Vou falar com o Roach. Aparentemente, acabaram de aprovar uma proibição de todos os gastos. Não estou entendendo. — Jack aperta a ponte do nariz e fecha os olhos.

Todo o sangue me foge do rosto e meu estômago dá um nó. Christian!

— Atenda as minhas chamadas. Vou ver o que Roach tem a dizer — ele pisca para mim e segue para falar com seu chefe. Mas não o chefe do seu chefe.

Droga. Christian Grey... Meu sangue começa a ferver de novo.

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De: Anastasia Steele

Assunto: O que você fez?

Data: 13 de junho de 2011 10:43

Para: Christian Grey


Por favor, me diga que você não vai interferir em meu trabalho.


Realmente quero ir a esta conferência.


Eu não deveria ter que lhe pedir isso.


Já apaguei o e-mail agressivo.


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: O que você fez?

Data: 13 de junho de 2011 10:46

Para: Anastasia Steele


Estou apenas protegendo o que é meu.


O e-mail que você tão imprudentemente me enviou já foi deletado do servidor da SIP, da mesma forma que os meus e-mails para você.


Aliás, confio em você implicitamente. É nele que não confio.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Verifico se ainda tenho os e-mails dele, e eles desapareceram. A influência desse homem não conhece limites. Como ele faz isso? Quem ele conhece que pode furtivamente mergulhar nas profundezas dos servidores da SIP para deletar e-mails? Estou tão por fora aqui.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Cresça

Data: 13 de junho de 2011 10:43

Para: Christian Grey


Christian,


Não preciso de proteção contra meu próprio chefe.


Ele pode até dar em cima de mim, mas vou dizer não.


Você não pode interferir. Isso é errado e controlador em muitos níveis.


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: A resposta é NÃO

Data: 13 de junho de 2011 10:50

Para: Anastasia Steele


Ana,


Sei o quanto você é “eficaz” em lutar contra atenção indesejada. Lembro-me de que foi assim que tive o prazer de passar minha primeira noite com você.


Pelo menos o fotógrafo tem sentimentos por você. Já esse cretino, não. Ele é um mulherengo e vai tentar seduzi-la. Pergunte a ele o que aconteceu com a última assistente dele e com a outra antes dela.


Não quero brigar por isso.


Se você quer conhecer Nova York, eu a levo lá. Podemos ir neste fim de semana. Tenho um apartamento na cidade.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


Ah, Christian! Não é essa a questão. Isso é tão frustrante. E é óbvio que ele tem um apartamento em Nova York. Onde mais ele tem propriedades? Claro que tinha de voltar ao assunto José. Será que algum dia ele vai esquecer isso? Eu estava bêbada, pelo amor de Deus. Jamais ficaria bêbada com Jack.

Balanço a cabeça para o monitor, mas acho que não posso continuar a discutir com ele por e-mail. Terei de esperar até a noite.

Verifico a hora. Jack ainda não voltou da reunião com Jerry, e eu preciso lidar com Elena. Leio seu e-mail de novo e decido que a melhor maneira de lidar com isso é enviá-lo para Christian. Deixar que ele se concentre nela e não em mim.

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De: Anastasia Steele

Assunto: EN: Encontro para um almoço ou Bagagem irritante

Data: 13 de junho de 2011 11:15

Para: Christian Grey


Christian,


Enquanto você esteve ocupado interferindo na minha carreira e se livrando de minhas mensagens, recebi o seguinte e-mail da Sra. Lincoln. Eu realmente não gostaria de encontrá-la, e mesmo que quisesse, não estou autorizada a deixar o edifício. Como ela descobriu meu endereço, não sei. O que você sugere que eu faça? Aí vai o e-mail dela:

Cara Anastasia,

Eu realmente gostaria de almoçar com você. Acho que começamos com o pé esquerdo, e eu gostaria de consertar isso. Você está livre em algum momento esta semana?

Elena Lincoln


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP

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De: Christian Grey

Assunto: Bagagem Irritante

Data: 13 de junho de 2011 11:23

Para: Anastasia Steele


Não fique brava comigo. Só estou pensando em você.


Se alguma coisa acontecesse com você, eu nunca iria me perdoar.


Vou lidar com a Sra. Lincoln.


Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

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De: Anastasia Steele

Assunto: Mais tarde

Data: 13 de junho de 2011 11:32

Para: Christian Grey


Será que podemos conversar sobre isso hoje à noite? Estou tentando trabalhar, e sua interferência contínua está me distraindo.


Anastasia Steele


Assistente de Jack Hyde, Editor, SIP


Jack retorna após o meio-dia e me diz que não posso participar da viagem para Nova York, embora ele ainda esteja indo, e que não há nada que ele possa fazer para mudar a política da diretoria. Ele volta para sua sala, batendo a porta, visivelmente furioso. Por que está tão bravo?

No fundo, sei que suas intenções são menos do que honrosas, mas tenho certeza de que sou capaz de lidar com ele, e me pergunto o que Christian sabe a respeito das assistentes anteriores de Jack. Afasto os pensamentos e continuo com meu trabalho, mas decido que vou tentar fazer Christian mudar de ideia, embora as perspectivas sejam desoladoras.

À uma hora da tarde, Jack põe a cabeça para fora da sala:

— Ana, por favor, você poderia trazer algo para eu almoçar?

— Claro. O que você gostaria?

— Pastrami no pão de centeio, sem mostarda. Eu pago quando você voltar.

— Alguma coisa para beber?

— Uma Coca, por favor. Obrigado, Ana. — Ele volta para sua sala enquanto eu pego minha bolsa.

Merda. Prometi a Christian que não iria sair. Suspiro. Ele nunca vai saber, e vou ser rápida.

Na recepção, Claire me oferece um guarda-chuva, já que ainda está caindo um pé-d’água. Ao sair pela porta da frente, aperto o casaco em volta do corpo e dou uma olhada de relance em ambas as direções por debaixo do imenso guarda-chuva. Parece estar tudo bem. Nenhum sinal da Garota-Fantasma.

Caminho apressada e discretamente, espero, na direção da lanchonete. No entanto, quanto mais me aproximo, mais tenho um sentimento assustador de que estou sendo seguida, e não sei se é a minha paranoia exagerada ou se é realidade. Merda. Espero que não seja Leila com uma arma.

É só a sua imaginação, diz meu inconsciente. Quem iria querer atirar em você?

Em quinze minutos, estou de volta, sã e salva, mas aliviada. Acho que a paranoia extrema de Christian e sua vigilância superprotetora estão começando a me afetar.

Enquanto entrego o almoço de Jack, ele me olha por trás do telefone.

— Obrigado, Ana. Já que você não vem comigo, vou precisar que trabalhe até mais tarde. Precisamos desses resumos prontos. Espero que você não tenha planos. — Ele sorri para mim calorosamente, e eu fico vermelha.

— Não, tudo bem — digo com um sorriso e o coração apertado. Isto vai dar problema. Christian vai pirar, tenho certeza.

Ao voltar para minha mesa, decido não lhe dizer imediatamente, caso contrário, ele pode ter tempo para interferir de alguma forma. Eu me sento e como o sanduíche de salada de frango que a Sra. Jones preparou para mim. Está uma delícia. Ela faz um sanduíche muito bom.

Na certa, se eu morasse com Christian, ela prepararia meu almoço todos os dias da semana. A ideia é inquietante. Nunca sonhei com a riqueza obscena nem com todos os luxos que vêm com ela; só com o amor. Encontrar alguém que me amasse e não tentasse controlar cada movimento meu. O telefone toca.

— Escritório de Jack Hyde...

— Você me garantiu que não sairia — Christian me interrompe, a voz fria e dura.

Meu coração afunda pela milionésima vez. Merda. Como ele sabe?

— Jack me pediu para comprar o almoço dele. Eu não tinha como dizer não. Você colocou alguém para me vigiar? — Meu couro cabeludo pinica com a ideia. Não é de surpreender que eu tenha me sentido tão paranoica: havia alguém me observando. O pensamento me deixa com raiva.

— É por isso que eu não queria que você voltasse a trabalhar — revida ele.

— Christian, por favor. Você está... — sendo tão Cinquenta Tons — ...me sufocando.

— Sufocando? — sussurra ele, surpreso.

— É. Você tem que parar com isso. Falo com você hoje à noite. Infelizmente, tenho que trabalhar até mais tarde porque não posso ir a Nova York.

— Anastasia, não quero sufocar você — diz ele em voz baixa, horrorizado.

— Bem, é o que está fazendo. Tenho que trabalhar. Falo com você depois — desligo, sentindo-me exausta e um tanto deprimida.

Depois de um fim de semana maravilhoso, a realidade está batendo à porta. Nunca senti tanta vontade de fugir. Fugir para um retiro tranquilo em que eu possa pensar nesse homem, sobre como ele é e sobre como lidar com ele. Em um nível, sei que ele está machucado, entendo isso claramente agora. O que é tão desolador quanto desgastante. Pelos pequenos pedaços de informação preciosa que ele tem me dado sobre sua vida, eu entendo o porquê. Uma criança rejeitada, um ambiente medonho e abusivo, uma mãe que não podia protegê-lo, a quem ele não podia proteger e que morreu na frente dele.

Tremo. Meu pobre Cinquenta Tons. Sou dele, mas não para ser mantida numa gaiola. Como é que eu vou fazê-lo enxergar isso?

Com o coração pesado, arrasto para meu colo um dos manuscritos que Jack quer que eu avalie e começo a ler. Não consigo pensar numa solução fácil para o problema de Christian com o controle. Vou ter que falar com ele mais tarde, cara a cara.

Meia hora depois, Jack me manda por e-mail um documento que preciso arrumar e preparar para impressão em tempo para a conferência. Isso vai me ocupar não apenas pelo resto da tarde, mas uma boa parte da noite também. Começo a trabalhar.

Quando olho para cima, já são mais de sete da noite e o escritório está deserto, embora a luz na sala de Jack ainda esteja acesa. Não reparei nas outras pessoas saindo, mas já estou quase terminando. Mando o documento de volta para Jack por e-mail, para a sua aprovação, e verifico a caixa de entrada. Nenhuma mensagem de Christian, então dou uma olhada rápida no BlackBerry, e levo um susto quando ele começa a vibrar: Christian.

— Oi — atendo.

— Oi, que horas você vai terminar?

— Lá pelas sete e meia, acho.

— Encontro você lá embaixo.

— Tudo bem.

Ele parece quieto, nervoso até. Por quê? Com medo da minha reação?

— Ainda estou brava com você, mas é só isso — sussurro. — Temos muito o que conversar.

— Eu sei. Vejo você às sete e meia.

Jack sai de sua sala.

— Tenho que desligar. Vejo você mais tarde — desligo.

Olho para Jack à medida que caminha despreocupado em minha direção.

— Só preciso de uns poucos ajustes. Mandei um e-mail com as orientações para você.

Ele se inclina sobre mim enquanto busco o arquivo, bem perto... perto demais. Seu braço toca o meu. Por acaso? Recuo, mas ele finge não perceber. Seu outro braço repousa sobre o encosto de minha cadeira, tocando minhas costas. Empino o corpo para não encostar nele.

— Páginas dezesseis e vinte e três, e acho que é só — murmura ele, a boca a centímetros do meu ouvido.

Minha pele se eriça com sua proximidade, mas decido ignorar a sensação. Abro o documento e, trêmula, começo a efetuar as mudanças. Ele ainda está debruçado sobre mim, e todos os meus sentidos estão atentos. É perturbador e estranho, e, por dentro, estou gritando: Chega para lá!

— Depois disso já pode imprimir. Pode ser amanhã. Obrigado por ficar até mais tarde e resolver isso, Ana. — Sua voz é suave e gentil, como se ele estivesse falando com um animal ferido. Meu estômago dá voltas. — Acho que o mínimo que eu poderia fazer é recompensá-la com um drinque. Você merece. — Ele coloca uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha e acaricia suavemente o lóbulo.

Tremo, rangendo os dentes, e afasto a cabeça. Merda! Christian tinha razão. Não me toque.

— Na verdade, hoje eu não posso. — Nem dia nenhum, Jack.

— Nem um drinque? — insiste ele.

— Não, não posso. Mas obrigada.

Jack se senta na beirada da minha mesa e franze a testa. Em minha cabeça, um alarme alto dispara. Estou sozinha no escritório. Não posso sair. Olho nervosa para o relógio. Ainda faltam cinco minutos até que Christian chegue.

— Ana, acho que formamos um belo time. Que pena que não consegui arrumar esta viagem para Nova York. Não será o mesmo sem você.

Tenho certeza que não. Sorrio de leve para ele, porque não consigo pensar no que dizer. E, pela primeira vez durante todo o dia, sinto uma pontinha de alívio por não estar indo com ele.

— E então, como foi o fim de semana? — pergunta ele suavemente.

— Bem, obrigada. — Aonde ele quer chegar?

— Saiu com o namorado?

— Saí.

— O que ele faz?

Manda em você...

— É empresário.

— Interessante. De que tipo de negócio?

— Ah, todo tipo de coisa.

Jack deita a cabeça de lado e se inclina em minha direção, invadindo meu espaço pessoal de novo.

— Você está sendo muito reservada, Ana.

— Bem, ele trabalha com telecomunicações, manufatura e agricultura. — Jack ergue as sobrancelhas.

— Quantas coisas. E ele trabalha para quem?

— Ele trabalha para ele mesmo. Se estiver tudo certo com o documento, eu gostaria de ir, tudo bem?

Ele se inclina para trás. Meu espaço pessoal está seguro novamente.

— Claro. Desculpe, não queria prendê-la aqui — diz, dissimuladamente.

— A que horas o prédio fecha?

— A segurança fica aqui até as onze da noite.

— Bom. — Sorrio, e meu inconsciente relaxa em sua poltrona, aliviado de saber que não estamos sozinhos no prédio. Desligo o computador, pego minha bolsa e me levanto, pronta para sair.

— Você gosta dele, então? Do seu namorado?

— Amo o meu namorado — respondo, olhando Jack diretamente nos olhos.

— Entendi. — Jack franze a testa e se levanta da minha mesa. — Qual é o sobrenome dele?

Fico vermelha.

— Grey. Christian Grey — murmuro.

Jack fica boquiaberto.

— O solteiro mais rico de Seattle? Esse Christian Grey?

— É. Ele mesmo. — Isso, esse Christian Grey, seu futuro patrão, que vai acabar com a sua raça se você invadir meu espaço pessoal de novo.

— Bem que eu achei que o conhecia de algum lugar — diz Jack de forma sombria, e sua testa se franze novamente. — Bem, ele é um homem de sorte.

Pisco para ele. O que posso responder a isso?

— Tenha uma boa noite, Ana. — Jack sorri, mas o sorriso não transparece em seus olhos, e ele caminha com firmeza de volta para sua sala, sem olhar para trás.

Deixo escapar um longo suspiro de alívio. Bem, esse problema parece estar resolvido. A mágica de Christian funcionou mais uma vez. Só o seu nome já é um talismã, capaz de fazer este homem bater em retirada com o rabo entre as pernas. Permito-me um pequeno sorriso vitorioso. Está vendo, Christian? Só o seu nome já me protege, você não precisava ter tido todo aquele trabalho de proibir gastos extras com funcionários. Arrumo minha mesa e verifico a hora. Christian deve estar lá embaixo.

O Audi está parado junto à calçada, e Taylor salta para abrir a porta traseira. Nunca fiquei tão feliz em vê-lo, e corro para dentro do carro, para fugir da chuva.

Christian está no banco de trás, olhando para mim, os olhos arregalados e cautelosos. Ele se prepara para a minha raiva, o maxilar tenso.

— Oi — murmuro.

— Oi — responde ele com cautela. Ele estende o braço e agarra minha mão, apertando-a com força, e meu coração derrete um pouco. Estou tão confusa. Nem cheguei a pensar no que preciso dizer a ele. — Ainda está brava? — pergunta.

— Não sei — murmuro. Ele levanta minha mão e a roça de leve contra os lábios.

— Foi um dia de merda — diz.

— É, foi. — Mas, pela primeira vez desde que ele saiu para o trabalho hoje de manhã, começo a relaxar. Estar em sua companhia é um bálsamo; toda aquela merda com Jack, os e-mails irritados para lá e para cá e o incômodo que é Elena no plano de fundo. Agora sou só eu e meu maníaco por controle no banco de trás do carro.

— Está melhor agora que você está aqui — murmura ele.

Ficamos em silêncio enquanto Taylor dirige em meio ao tráfego noturno, os dois taciturnos e contemplativos. No entanto, percebo que aos poucos Christian também relaxa ao meu lado, acariciando com delicadeza meus dedos com seu polegar, num ritmo suave.

Taylor para o carro na porta do prédio, e nós corremos, fugindo da chuva. Christian aperta minha mão enquanto esperamos pelo elevador, os olhos varrendo a entrada do edifício.

— Pelo visto você ainda não encontrou Leila.

— Não. Welch ainda está procurando por ela — resmunga desanimado.

O elevador chega e entramos. Christian me encara, os olhos cinzentos indecifráveis. Ah, ele está lindo: o cabelo desgrenhado, a camisa branca, o terno escuro. E, de repente, lá está ela, do nada, aquela sensação. Ah, meu Deus, o desejo, a luxúria, a eletricidade. Se fosse visível, seria uma intensa aura azul ao redor de nós dois, entre nós dois; é tão forte. Seus lábios se entreabrem e ele me olha.

— Você está sentindo? — ofega.

— Estou.

— Ah, Ana. — Ele geme e me agarra, passando os braços em volta de mim, a mão na minha nuca inclinando minha cabeça para trás. Seus lábios encontram os meus. Meus dedos estão em seu cabelo e acariciam seu rosto quando ele me empurra contra a parede do elevador. — Odeio discutir com você. — Ele respira contra minha boca, e tem algo de desesperado e apaixonado em seu beijo que se reflete no meu.

O desejo explode em meu corpo, toda a tensão do dia procurando uma saída, lutando contra ele, pedindo mais. Somos só língua e respiração e mãos e toque e uma sensação boa, muito boa. Sua mão está em meu quadril, e de repente ele está puxando minha saia para cima, seus dedos acariciando minhas coxas.

— Deus do céu, você está de liga. — Ele geme satisfeito enquanto seu polegar acaricia a pele no alto da meia-calça. — Quero ver isso — ofega ele e levanta minha saia, expondo a parte de cima de minhas coxas.

Dando um passo para trás, ele aperta o botão de “parar”, e o elevador estaciona suavemente entre o vigésimo segundo e o vigésimo terceiro andares. Seus olhos estão escuros, os lábios, entreabertos, e ele está tão ofegante quanto eu. Nós olhamos um para o outro sem nos tocar. Fico feliz que haja uma parede às minhas costas, servindo de apoio enquanto eu me deleito sob o olhar sensual e carnal desse homem maravilhoso.

— Solte o cabelo — ordena ele, a voz rouca. Levanto o braço e desfaço o rabo de cavalo, soltando o cabelo, que cai em ondas fartas, envolvendo meus ombros e seios. — Abra os dois botões de cima da camisa — sussurra, os olhos selvagens agora.

Ele me faz sentir tão devassa. Abro cada botão com uma lentidão dolorosa, revelando o contorno de meus seios de forma tentadora. Ele respira fundo.

— Você tem alguma ideia de como está sensual neste exato momento?

Mordo o lábio de propósito e nego com a cabeça. Ele fecha os olhos por um instante e, ao abri-los novamente, eles estão em chamas. Christian avança e apoia as mãos contra as paredes do elevador, uma de cada lado do meu rosto. Está o mais perto que pode, sem me tocar.

Ergo o rosto até encontrar o olhar dele, que se inclina para baixo e encosta o nariz no meu, o único contato entre nós. Estou tão excitada, sozinha com ele no confinamento deste elevador. Quero este homem... agora.

— Acho que você sabe, Srta. Steele. Acho que você adora me deixar louco.

— Eu deixo você louco? — sussurro.

— Em todos os aspectos, Anastasia. Você é uma sereia, uma deusa.

E ele se aproxima, agarrando minha perna acima do meu joelho e puxando-a em torno de sua cintura, de modo que estou em pé sobre uma perna, equilibrando-me nele. Sinto-o contra mim, duro e me querendo, contra as minhas coxas, enquanto corre os lábios por meu colo. Solto um gemido e envolvo os braços em torno de seu pescoço.

— Vou comer você aqui mesmo, Anastasia.

Ele ofega e eu arquejo as costas em resposta, pressionando-me contra seu corpo, ansiosa pelo atrito. Ele geme fundo em sua garganta e me ergue ainda mais, abrindo a calça.

— Segure em mim, meu bem — murmura, e magicamente ergue um pacotinho de alumínio, mantendo-o diante de minha boca. Pego-o com os dentes e ele puxa, e, juntos, rasgamos o pacote. — Boa menina.

Ele dá um passo curto para trás e coloca a camisinha.

— Deus, mal posso esperar pelos próximos seis dias — rosna ele, olhando-me através de olhos semicerrados. — Espero que você não ligue muito para esta calcinha — diz, puxando-a com dedos habilidosos, e ela se rasga em suas mãos.

Meu sangue está correndo nas veias. Estou ofegante de desejo.

Suas palavras são inebriantes, toda a angústia do dia é esquecida. Somos apenas ele e eu, fazendo o que fazemos melhor. Sem tirar os olhos dos meus, ele lentamente desliza para dentro de mim. Meu corpo se arqueia, e eu inclino a cabeça para trás, fechando os olhos, saboreando a sensação dele dentro de mim. Ele sai e entra de novo, tão devagar, tão gentil. Solto um gemido.

— Você é minha, Anastasia — murmura ele contra o meu pescoço.

— Sim. Sua. Quando você vai aceitar isso? — ofego.

Ele geme e começa a se mover de verdade. E eu me entrego ao seu ritmo implacável, saboreando cada investida, sua respiração irregular, sua necessidade de mim, espelhando a minha necessidade dele.

Isso tudo me faz sentir poderosa, forte, desejada e amada: amada por esse homem cativante, complicado, a quem retribuo o amor com todo o meu coração. Ele aumenta suas investidas, a respiração ofegante, perdendo-se em mim ao mesmo tempo que eu me perco nele.

— Ah, meu bem — geme Christian, os dentes roçando meu queixo. E eu gozo loucamente em volta dele. Sinto seu corpo enrijecer, e ele me aperta com força, gozando logo em seguida, sussurrando meu nome.

* * *

AGORA QUE CHRISTIAN está esgotado, calmo e me beijando com delicadeza, sua respiração se tranquiliza. Ele me mantém de pé contra a parede do elevador, nossas testas pressionadas uma contra a outra; meu corpo parece uma gelatina, fraco, mas saciado com o clímax.

— Ah, Ana — murmura ele. — Preciso tanto de você. — E beija minha testa.

— E eu de você, Christian.

Soltando-me, ele endireita minha saia e fecha os dois botões de minha camisa, depois digita a senha no painel do elevador, ligando-o novamente. A máquina sobe com um solavanco, e preciso me apoiar nos braços de Christian.

— Taylor deve estar se perguntando onde estamos. — Ele me lança um sorriso travesso.

Droga. Passo os dedos por entre o cabelo numa tentativa vã de disfarçar o aspecto pós-foda, então desisto e prendo-o num rabo de cavalo.

— Vai ter que ser isso mesmo.

Christian sorri, fecha o zíper e coloca o preservativo no bolso da calça.

E assim ele volta a ser a personificação de um empresário americano; como seu cabelo rebelde está sempre com um aspecto pós-foda, a diferença é mínima. Exceto que agora ele está sorrindo, relaxado, os olhos cheios de charme juvenil. Será que todos os homens são assim tão facilmente aplacáveis?

Taylor está nos esperando quando as portas se abrem.

— Ocorreu um problema com o elevador — murmura Christian ao sairmos, e não sou capaz de olhar nenhum dos dois nos olhos. Corro pelas portas duplas para o quarto de Christian em busca de uma calcinha nova.

* * *

AO VOLTAR, ENCONTRO Christian sem o blazer, sentado no balcão do café da manhã, conversando com a Sra. Jones. Ela sorri gentilmente para mim, servindo-nos dois pratos quentes. Hum, o cheiro é delicioso: coq au vin, se não me engano. Estou faminta.

— Bom apetite, Sr. Grey, Ana — diz ela, deixando-nos a sós.

Christian pega uma garrafa de vinho branco na geladeira, e, enquanto jantamos, ele me conta sobre o quão próximo está de aperfeiçoar um aparelho de telefone celular movido a energia solar. Está empolgado com o projeto, e então percebo que o dia dele não foi inteiramente ruim.

Pergunto-lhe sobre suas outras propriedades. Ele sorri, e descubro que só tem o apartamento de Nova York, a casa de Aspen e o apartamento no Escala. Nada mais. Quando terminamos, tiro nossos pratos e os levo até a pia.

— Deixe isso. Gail vai lavar — diz ele. Eu me viro e o encaro, ele está me observando atentamente. Será que vou me acostumar a ter alguém arrumando tudo por mim? — Bem, agora que você está mais dócil, Srta. Steele, vamos conversar sobre hoje?

— Acho que é você quem está mais dócil. E acho que estou fazendo um belo trabalho em domesticar você.

— Me domesticar? — bufa ele, divertido. Quando faço que sim com a cabeça, ele franze a testa como se estivesse refletindo a respeito de minhas palavras. — É. Talvez seja isso que você esteja fazendo, Anastasia.

— Você estava certo sobre Jack — murmuro, séria agora, e me debruço contra a bancada da cozinha, avaliando sua reação. A expressão no rosto de Christian se desfaz, e seu olhar se endurece.

— Ele tentou alguma coisa? — sussurra, a voz fria e mortal.

Nego com a cabeça, para tranquilizá-lo.

— Não, nem vai tentar, Christian. Eu disse a ele hoje que sou sua namorada, e ele se retraiu na hora.

— Tem certeza? Eu poderia demitir esse filho da puta. — Christian faz cara feia.

Eu suspiro, encorajada pela taça de vinho.

— Você tem que me deixar lutar minhas próprias batalhas. Não pode ficar constantemente tentando adivinhar tudo o que vai me acontecer e me proteger o tempo todo. É sufocante, Christian. Nunca vou evoluir com essa interferência incessante. Preciso de um pouco de liberdade. Eu jamais sonharia em interferir nos seus assuntos.

Ele pisca para mim.

— Só quero que você fique segura, Anastasia. Se alguma coisa acontecesse com você, eu... — Ele para.

— Eu sei, e entendo porque você sente tanta necessidade de me proteger. E parte de mim adora isso. Sei que se precisar de você, você vai estar lá, da mesma forma como eu vou estar lá por você. Mas, se quisermos alguma esperança de um futuro juntos, você tem que confiar em mim e no meu julgamento. Sim, eu vou me enganar de vez em quando, vou cometer alguns erros, mas tenho que aprender.

Ele me encara, a expressão ansiosa, incitando-me a dar a volta na bancada e caminhar em sua direção, de modo que fico de pé entre suas pernas, e ele permanece sentado no banco. Segurando suas mãos, passo seus braços ao redor de minha cintura e apoio as mãos neles.

— Você não pode interferir no meu trabalho. É errado. Não preciso de você invadindo o meu dia feito um cavaleiro numa armadura branca que vem para salvar o dia. Sei que você quer controlar tudo, e entendo o porquê, mas você não pode. É uma meta impossível... você tem que aprender a se desligar. — Ergo as mãos e acaricio seu rosto, ele me encara de olhos arregalados. — Se você puder fazer isso... se puder me dar isso... eu venho morar com você — acrescento com gentileza.

Ele respira fundo, surpreso.

— Você faria isso? — sussurra.

— Faria.

— Mas você mal me conhece. — Ele franze a testa e, de repente, soa angustiado e em pânico, nem um pouco Christian.

— Eu o conheço o suficiente, Christian. Nada que você me diga sobre si mesmo vai me assustar. — Corro os nós dos dedos gentilmente por sua bochecha. Sua expressão se transforma, vai de ansiosa a duvidosa. — Mas, se você pudesse me dar só um pouquinho de espaço... — imploro.

— Estou tentando, Anastasia. Eu não podia ficar de braços cruzados e deixar você ir para Nova York com aquele... cretino. Ele tem uma reputação terrível. Nenhuma das assistentes dele durou mais de três meses, e elas nunca são transferidas para outro setor da empresa. Não quero que você passe por isso, baby — suspira. — Não quero que nada aconteça com você. Que você se machuque... o pensamento me apavora. Não posso prometer que não vou interferir, não se achar que você pode se machucar. — Ele faz uma pausa e respira fundo. — Eu amo você, Anastasia. Vou fazer tudo que posso para protegê-la. Não consigo imaginar minha vida sem você.

Puta merda. Minha deusa interior, meu inconsciente e eu própria encaramos Christian em choque.

Três palavrinhas. Meu mundo para, dá uma volta e começa a girar em torno de um novo eixo; saboreio o momento, fitando seus lindos olhos sinceros e cinzentos.

— Eu também amo você, Christian. — Inclino-me para beijá-lo, dando um beijo profundo.

Aproximando-se de forma imperceptível, Taylor pigarreia. Christian afasta o rosto, encarando-me fixamente. Ele se levanta, o braço ao redor de minha cintura.

— Sim? — dirige-se a Taylor.

— A Sra. Lincoln está subindo, senhor.

— O quê?

Taylor encolhe os ombros, desculpando-se. Christian suspira pesadamente e balança a cabeça.

— Bem, isso vai ser interessante — resmunga e me lança um sorriso torto de resignação.

Merda! Por que essa mulher maldita não consegue deixar a gente em paz?

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