CAPÍTULO SETE

_________________________________________


Puta merda, eu realmente fiz isso? Deve ser o álcool. Tomei champanhe e quatro taças de quatro vinhos diferentes. Dou uma olhada em Christian, que está ocupado aplaudindo.

Droga, ele vai ficar com tanta raiva, e estamos nos dando tão bem. Meu inconsciente finalmente decide dar as caras, e parece o sujeito do quadro O grito, de Edvard Munch.

Christian se debruça em minha direção, um enorme sorriso falso plantado na cara. Ele me dá um beijo na bochecha e se aproxima do meu ouvido para sussurrar numa voz muito fria e controlada:

— Não sei se caio de joelhos em adoração por você ou se lhe dou umas boas palmadas.

Ah, eu sei o que eu quero neste exato instante. Ergo o olhar para ele, piscando através da máscara. Queria poder ler seus olhos.

— Opção dois, por favor. — Suspiro, tomada por um frenesi, à medida que os aplausos vão morrendo.

Ele entreabre os lábios e inspira fundo. Ah, essa boca maravilhosa... eu quero ela em mim, agora. Anseio por ele. Ele me lança um sorriso radiante e sincero que me tira o fôlego.

— Está sofrendo, é? Vamos ver o que podemos fazer a respeito — murmura, correndo os dedos ao longo do meu queixo.

Seu toque ressoa fundo dentro de mim, lá onde aquela dor surgiu e cresceu. Quero pular em cima dele aqui e agora, mas nós ficamos sentados e assistimos ao leilão do lote seguinte.

Mal consigo ficar parada. Christian passa o braço ao redor de mim, acariciando ritmicamente minhas costas com o polegar, provocando arrepios deliciosos por minha coluna. Sua mão livre segura a minha e a leva até os lábios, e então a pousa em seu colo.

Lenta e sorrateiramente, de forma que eu não perceba seu jogo até que seja tarde demais, ele conduz minha mão ao longo de sua coxa até sua ereção. Engasgo, e meus olhos correm a mesa em pânico; no entanto, todos estão atentos ao palco. Ainda bem que estou de máscara.

Aproveitando-me totalmente, acaricio-o de mansinho, deixando meus dedos explorarem. Christian mantém a mão sobre a minha, encobrindo meus ousados dedos, enquanto seu polegar brinca suavemente em minha nuca. Ele abre a boca num leve suspiro, e é a única reação a meu toque inexperiente que consigo notar. Mas significa muito. Ele me quer. Todos os músculos abaixo do meu umbigo se contraem. Está ficando insuportável.

Uma semana no lago Adriana, em Montana, é o último item do leilão. É claro que o Sr. e a Dra. Grey têm uma casa em Montana, e os lances sobem rapidamente, mas mal reparo no que está acontecendo. Eu o sinto crescer sob meus dedos, e isso me faz sentir tão poderosa.

— Vendido, por cento e dez mil dólares! — declara, vitorioso, o mestre de cerimônias.

Todos aplaudem, e, relutante, eu os acompanho, e Christian também, estragando nossa diversão.

Ele se vira para mim e sua boca se contrai.

— Pronta? — gesticula com os lábios por sobre o barulho das pessoas.

— Pronta — gesticulo de volta.

— Ana! — chama Mia. — Está na hora!

O quê? Não. De novo, não!

— Hora de quê?

— O leilão da primeira dança. Venha! — Ela se levanta e estende a mão.

Olho para Christian, que está, acho, fazendo uma cara feia para Mia, e não sei se choro ou se rio, mas é o riso que vence. Eu me deixo levar por uma onda catártica de gargalhadas infantis, enquanto somos mais uma vez detidos pelo furacão alto e cor-de-rosa que é Mia Grey. Christian olha para mim e, depois de um instante, vejo um rastro de sorriso em seus lábios.

— A primeira dança é minha, viu? E não vai ser na pista — murmura ele lascivamente em minha orelha.

Minhas risadas se acalmam à medida que a expectativa alimenta as chamas de meu desejo. Ah, sim! Minha deusa interior dá uma pirueta tripla em seus patins.

— Mal posso esperar. — Eu me inclino e deixo um beijo comportado e leve em seus lábios.

Olhando ao redor, percebo que os outros convidados da mesa estão espantados. É claro, nunca viram Christian com uma namorada antes.

Ele abre um amplo sorriso. E parece... feliz.

— Venha, Ana — insiste Mia.

Pego sua mão estendida e a sigo até o palco, onde outras dez jovens se reuniram, e percebo, um tanto inquieta, que Lily está entre elas.

— Senhores, o ponto alto da noite! — exclama o mestre de cerimônias por sobre o burburinho de vozes. — O momento pelo qual todos vocês estavam esperando! Essas doze lindas jovens concordaram em vender sua primeira dança pelo lance mais alto!

Ah, não. Fico vermelha da raiz do cabelo até o dedinho do pé. Eu não tinha entendido que era isso. Que humilhante!

— É por uma boa causa — sussurra Mia para mim, percebendo meu desconforto. — Além do mais, Christian vai ganhar. — Ela revira os olhos. — Não consigo imaginá-lo deixando alguém dar um lance mais alto que o dele. Ele não tirou os olhos de você a noite toda.

Isso, concentre-se na boa causa, e Christian vai ganhar, com certeza. Afinal de contas, não é como se a grana estivesse curta para ele.

Mas isso significa gastar mais dinheiro com você!, meu inconsciente rosna para mim. Mas eu não quero dançar com mais ninguém — eu não posso dançar com mais ninguém —, e ele não está gastando dinheiro comigo, está doando para caridade. Que nem os vinte e quatro mil dólares que ele já gastou? Meu inconsciente estreita os olhos.

Merda. Acho que me deixei levar por um lance impulsivo. Por que estou discutindo comigo mesma?

— Agora, senhores, por favor aproximem-se e deem uma boa olhada naquela que pode ser a sua primeira dança de hoje: doze jovens doces e graciosas.

Meu Deus! Estou me sentindo num açougue. Observo, horrorizada, enquanto pelo menos vinte homens andam na direção do palco, Christian entre eles, caminhando com elegância por entre as mesas e parando uma vez ou outra para cumprimentar alguém. Uma vez que todos se reuniram, o mestre de cerimônias começa.

— Senhoras e senhores, seguindo a tradição do baile de máscaras, vamos manter o mistério por trás dos disfarces e revelar apenas o primeiro nome. Para começar, temos a jovem Jada.

Jada está gargalhando feito uma colegial. Talvez eu não esteja assim tão deslocada. Ela está usando um vestido longo de tafetá azul-marinho e máscara combinando. Dois rapazes se aproximam em expectativa. Sorte dela.

— Jada fala japonês fluente, é habilitada para pilotar aviões de caças e é ginasta olímpica... hum — O mestre de cerimônias pisca para a multidão. — E então, senhores, qual é o lance?

Jada arqueja, surpreendida pela apresentação; é claro que ele está inventando tudo. Ela se volta para os dois candidatos e sorri, tímida.

— Mil dólares! — grita um deles.

Muito rapidamente o lance sobe para cinco mil dólares.

— Dou-lhe uma... dou-lhe duas... vendida! — declara o mestre de cerimônias a plenos pulmões — ...para o rapaz de máscara! — E claro, como todos estão de máscara, a multidão ri, grita e aplaude. Jada dá um sorriso radiante para o seu comprador e rapidamente deixa o palco.

— Está vendo? É divertido! — sussurra Mia. — Só espero que Christian ganhe você... A gente não vai querer uma briga, não é? — acrescenta ela.

— Uma briga? — pergunto, horrorizada.

— Ah, é. Ele era muito esquentadinho quando era mais novo. — Ela estremece.

Christian arrumando briga? O refinado e sofisticado Christian, que adora música coral da época Tudor? Não consigo imaginar. O mestre de cerimônias me distrai com a apresentação seguinte: uma jovem de vestido vermelho e cabelo muito preto e longo.

— Senhores, eu lhes apresento a maravilhosa Mariah. O que vamos fazer com Mariah? Ela é uma toureira experiente, toca violoncelo tão bem que poderia integrar qualquer orquestra e é campeã de salto com vara... e então, senhores? Qual vai ser o lance para uma dança com a encantadora Mariah?

Mariah olha para o mestre de cerimônias.

— Três mil dólares! — grita bem alto um mascarado de cabelo e barba louros.

Mais um lance, e Mariah é vendida por quatro mil dólares.

Christian me observa feito um gavião. Sr. Briguento Trevelyan-Grey... quem diria?

— Quando?

Mia me olha, confusa.

— Em que época Christian era esquentadinho?

— No início da adolescência. Levou nossos pais à loucura, voltava para casa com o lábio cortado, o olho roxo. Foi expulso de dois colégios. Machucava feio os adversários.

Fico boquiaberta.

— Ele não contou para você? — Ela suspira. — Tinha uma péssima reputação entre os meus amigos. Foi mesmo persona non grata por alguns anos. Mas depois parou, quando completou uns quinze, dezesseis anos. — Ela dá de ombros.

Minha nossa. Mais uma peça do quebra-cabeça que se encaixa.

— Então, qual vai ser o lance para a exuberante Jill?

— Quatro mil dólares — grita uma voz grave à direita. Jill guincha de emoção.

Paro de prestar atenção ao leilão. Então Christian teve problemas na escola, brigas. Pergunto-me por quê. Olho para ele. Lily está nos observando com atenção.

— E agora, deixe-me apresentar a bela Ana.

Ai, merda, sou eu. Olho nervosa para Mia e ela me empurra para o centro do palco. Graças a Deus eu não caio, mas fico morrendo de vergonha diante do público. Quando vejo Christian, ele está sorrindo para mim. Filho da mãe.

— A bela Ana toca seis instrumentos musicais, fala mandarim fluentemente e é adepta da ioga... muito bem, senhores — e antes que ele possa terminar a frase, Christian o interrompe, encarando-o através da máscara:

— Dez mil dólares.

Ouço Lily arquejar de incredulidade atrás de mim. Puta merda.

— Quinze.

O quê? Todos nos viramos para um homem alto e impecavelmente vestido, de pé à esquerda do palco. Pisco para Christian. Merda, o que ele vai fazer agora? Mas ele está coçando o queixo e lançando um olhar irônico para o estranho. Está claro que o conhece. O estranho acena educadamente para ele.

— Bem, senhores! É uma noite de lances altos.

A empolgação do mestre de cerimônias emana de sua máscara de arlequim quando ele se vira com um sorriso para Christian. É um espetáculo e tanto, mas à minha custa. Estou com vontade de chorar.

— Vinte — acrescenta Christian calmamente.

O burburinho do público cerrou. A esta altura, todos estão de olho em mim, em Christian e no Sr. Misterioso ao lado do palco.

— Vinte e cinco — diz o estranho.

Isso poderia ser mais constrangedor.

Christian o encara impassível, mas achando graça. Todos os olhos estão nele. O que ele vai fazer? Meu coração está saindo pela boca. Estou enjoada.

— Cem mil dólares — diz ele, alto e bom som, para toda a tenda ouvir.

— Que merda é essa? — resmunga Lily atrás de mim, e um suspiro de assombro e diversão percorre o público.

O estranho ergue a mão em sinal de derrota, rindo, e Christian sorri afetadamente em resposta. Do canto do olho vejo Mia quicando de felicidade.

— Cem mil dólares pela formosa Ana! Dou-lhe uma... dou-lhe duas... — Ele encara o estranho, que balança a cabeça num pesar simulado e acena com um galanteio. — Vendida! — grita o mestre de cerimônias em triunfo.

Em meio a uma salva de aplausos e gritos, Christian estende a mão para me ajudar a sair do palco. Ele me olha com um sorriso divertido enquanto eu desço e beija as costas de minha mão antes de colocá-la em seu braço e me conduzir para fora da tenda.

— Quem era? — pergunto.

— Alguém que você pode conhecer mais tarde. — Ele olha para mim. — Agora, quero lhe mostrar uma coisa. Temos uns trinta minutos até que o leilão da primeira dança termine. Depois, teremos que estar de volta à pista para que eu possa desfrutar da dança pela qual paguei.

— Uma dança caríssima — murmuro em desaprovação.

— Tenho certeza de que vai valer cada centavo. — Ele sorri para mim perversamente. Ah, ele tem um sorriso maravilhoso, e a dor está de volta, tomando conta de meu corpo.

Estamos no gramado. Achei que íamos para o ancoradouro, mas, infelizmente, parece que estamos seguindo para a pista de dança onde a big band já começa a se preparar. São pelo menos vinte músicos, e alguns convidados estão perambulando, fumando discretamente. Mas, como a maior parte da ação ainda acontece na tenda, não atraímos muita atenção.

Christian me leva para os fundos da casa e abre uma porta que dá para uma sala de estar confortável que nunca vi antes. Ele atravessa a sala vazia a caminho de uma escada em espiral com um elegante corrimão de madeira. Tirando minha mão de seu braço, conduz-me até o segundo andar e depois por mais um lance de escadas, até o terceiro. Abre uma porta branca e entramos em um dos quartos da casa.

— Este era o meu quarto — diz, em voz baixa, de pé junto da porta, trancando-a atrás de si.

É um cômodo grande, inóspito e com pouca mobília. As paredes são brancas, assim como os móveis; uma cama de casal, uma escrivaninha com uma cadeira, prateleiras cheias de livros e troféus, ao que parece, de kickboxing. Nas paredes, pôsteres de filmes: Matrix, O clube da luta, O show de Truman e dois pôsteres enquadrados com fotos de lutadores. Um deles se chama Giuseppe DeNatale — nunca ouvi falar.

Mas o que me chama a atenção é um mural de cortiça sobre a escrivaninha, salpicado de fotos, flâmulas dos Mariners e canhotos de bilhetes. É um pedaço do jovem Christian. Meus olhos se voltam para o homem maravilhoso agora de pé no centro do quarto. Ele me fita com olhos sombrios, taciturnos e sensuais.

— Nunca trouxe uma garota aqui — murmura.

— Nunca? — pergunto num sussurro.

Ele balança a cabeça.

Engulo em seco, e a dor que vinha me incomodando nas últimas horas agora está berrando, implacável e ardente. Vê-lo aqui, de pé, no carpete azul-marinho, usando essa máscara... é para lá de erótico. Eu o quero. Agora. De qualquer jeito. Tenho que me segurar para não me jogar em cima dele e rasgar suas roupas. Ele caminha em minha direção, fazendo um lento passo de valsa.

— Não temos muito tempo, Anastasia, e do jeito que estou me sentindo neste instante, não precisamos de muito tempo. Vire de costas. Deixe-me tirar esse vestido.

Eu me viro e encaro a porta, agradecida pelo fato de que esteja trancada. Inclinando-se sobre mim, ele sussurra baixinho em meu ouvido:

— Fique de máscara.

Solto um gemido, e meu corpo se enrijece em resposta. Ele nem me tocou ainda.

Ele segura a parte de cima do meu vestido, os dedos deslizando pela minha pele, e o toque reverbera por todo meu corpo. Com um movimento rápido, abre o zíper. Segurando o vestido, ele me ajuda a sair dele, depois se vira e, com cuidado, dobra-o sobre uma cadeira. Tira o paletó e o ajeita sobre meu vestido. E então me olha por um momento, sorvendo-me. Estou com o espartilho e a calcinha combinando, e me deleito com seu olhar sensual.

— Sabe, Anastasia — diz ele gentilmente e caminha em minha direção, soltando a gravata, que fica pendendo ao redor de seu pescoço, e abrindo o botão mais alto da camisa. — Fiquei com tanta raiva quando você comprou o meu item no leilão. As mais variadas ideias invadiram a minha mente. Eu tive de lembrar a mim mesmo que punição é uma carta fora do baralho. Mas aí você veio e se ofereceu. — Ele me encara através da máscara. — Por que fez isso? — sussurra.

— Eu me ofereci? Não sei. Frustração... excesso de álcool... uma boa causa — gaguejo, submissa, encolhendo os ombros. Talvez para atrair a atenção dele?

Eu precisava dele naquele instante. Preciso mais ainda agora. A dor aumentou, e sei que ele pode amenizá-la, acalmar esse grito, esse monstro salivante que tenho dentro de mim, com o monstro dentro dele. Ele aperta a boca numa linha fina e, bem devagar, umedece o lábio superior. Quero essa língua em mim.

— Eu jurei a mim mesmo que não bateria em você de novo, nem que você me implorasse.

— Por favor — imploro.

— Mas então eu me dei conta de que você estava provavelmente muito desconfortável naquele momento, e que não está acostumada com isso. — Ele abre um sorriso cúmplice, cretino, arrogante, mas não ligo, porque ele está absolutamente certo.

— Isso. — Expiro.

— Então, talvez haja certa... liberdade. Se eu for fazer isso, você tem que me prometer uma coisa.

— Qualquer coisa.

— Você vai usar a palavra de segurança se precisar dela, e eu só vou fazer amor com você, tudo bem?

— Tudo. — Estou ofegante. Quero as mãos dele em mim.

Ele inspira, e então pega minha mão e caminha até a cama. Jogando o edredom de lado, ele se senta, pega um travesseiro e o coloca junto ao corpo. Olha para mim, de pé diante dele, e, de repente, puxa meu braço com força, de forma que caio no colo dele. Ele tira o corpo para que eu fique deitada na cama, meu peito sobre o travesseiro, a cabeça de lado. Debruçando-se, ele tira meu cabelo dos ombros e corre os dedos pelas plumas de minha máscara.

— Coloque as mãos para trás — murmura.

Ah! Ele tira a gravata-borboleta e a usa para amarrar rapidamente meus pulsos nas costas, junto da curva da coluna.

— Você quer mesmo isso, Anastasia?

Fecho os olhos. Essa é a primeira vez desde que o conheci que realmente quero. Preciso disso.

— Quero — respondo.

— Por quê? — pergunta ele baixinho, acariciando minha bunda com a palma da mão.

Gemo só de sentir o contato de sua mão em minha pele. Não sei por quê... Você me disse para não pensar demais. Depois de um dia como o de hoje... discutir a respeito de dinheiro, Leila, Mrs. Robinson, meu arquivo, o mapa feito de batom, esta festa extravagante, as máscaras, o álcool, as bolas prateadas, o leilão... Eu quero.

— Preciso de um motivo?

— Não, baby — diz ele. — Só estou tentando entender você.

Sua mão esquerda envolve minha cintura, mantendo-me firme no lugar, enquanto a palma de sua mão direita pousa com força logo acima das minhas coxas. A dor da palmada se conecta diretamente com a dor dentro de mim.

Minha nossa... Solto um gemido alto. Ele me bate de novo, exatamente no mesmo lugar. Outro gemido.

— Dois — murmura. — Vamos até o doze.

Meu Deus! Desta vez a sensação é diferente: é tão carnal, tão... urgente. Ele acaricia minha bunda com seus longos dedos, e estou impotente, amarrada e pressionada contra o colchão, à mercê dele, e por vontade própria. Ele me bate de novo, um pouquinho mais para o lado, e de novo, do outro lado, e então para e tira minha calcinha bem devagar. Com gentileza, acaricia minha bunda com a palma da mão, antes de continuar a me bater, cada tapa ardente desbastando o meu desejo — ou alimentando-o, não sei. Eu me entrego ao ritmo das palmadas, absorvendo cada uma delas, saboreando-as.

— Doze — murmura ele em sua voz grave e rígida. E acaricia minha bunda de novo, correndo os dedos até meu sexo e, lentamente, enfia dois dedos dentro de mim, movendo-os em círculos, de novo e de novo e de novo, torturando-me.

Solto um gemido alto, meu corpo se apoderando de mim, e eu gozo, contorcendo-me em torno de seus dedos. É tão intenso, inesperado e rápido.

— Muito bem, baby — murmura, condescendente. Ele solta meus pulsos, mantendo os dedos dentro de mim enquanto permaneço deitada por cima dele, exausta, ofegante. — Ainda não terminei com você, Anastasia — diz e se vira, sem tirar os dedos de mim. Pousa meus joelhos no chão, de forma que fico debruçada na cama, se ajoelha atrás de mim e abre o zíper. Tira os dedos de dentro de mim, e eu ouço o já conhecido barulho de papel laminado sendo rasgado. — Abra as pernas — rosna, e eu obedeço. Ele acaricia minha bunda e desliza para dentro de mim. — Isso não vai demorar — murmura e, segurando meus quadris, sai e entra de novo com força.

— Ah! — grito, mas a sensação de plenitude é divina.

Ele está atingindo em cheio o ponto da minha dor, de novo e de novo, erradicando-a a cada investida suave e cortante. A sensação é inebriante, exatamente o que preciso. Eu me mexo na direção dele, os dois investindo um contra o outro.

— Ana, não — geme ele, tentando me manter parada. Mas eu quero mais, e me esfrego nele, mantendo o ritmo. — Ana. Merda! — sussurra ele e goza, e seu murmúrio torturado desencadeia um segundo orgasmo, um gozo de cura que se prolonga, saindo de mim à força e me deixando exausta e sem fôlego.

Christian se debruça para a frente e me beija no ombro, e então sai de dentro de mim. Passando os braços ao meu redor, descansa a cabeça em minhas costas, e ficamos ali, ambos ajoelhados junto à cama, por quanto tempo? Segundos? Minutos, talvez, até que nossas respirações se acalmam. A dor em minha barriga desapareceu, e tudo o que eu sinto é uma serenidade consoladora e satisfatória.

Christian se mexe e beija minhas costas.

— Acho que você me deve uma dança, Srta. Steele — murmura.

— Hum — respondo, saboreando a ausência de dor e me deleitando de júbilo.

Ele se senta sobre os calcanhares e me puxa da cama para junto de si.

— Não temos muito tempo. Vamos. — Ele beija meu cabelo e me força a ficar de pé.

Resmungo, mas me sento na cama e pego a calcinha do chão, vestindo-a. Preguiçosamente, caminho até a cadeira para pegar o vestido e reparo que não tirei os sapatos durante nosso encontro secreto. Christian já se arrumou e ajeitou a cama, e está dando o nó na gravata.

Enquanto coloco o vestido, dou uma olhada nas fotografias do quadro de cortiça. Mesmo como um adolescente soturno, Christian já era lindo: com Elliot e Mia na rampa de esqui; sozinho em Paris, o Arco do Triunfo indicando a localização da foto; em Londres; Nova York; no Grand Canyon; diante do Opera House de Sydney; até na muralha da China. O Sr. Grey já era viajado quando jovem.

Há também entradas para diversos shows: U2, Metallica, The Verve, Sheryl Crow, Filarmônica de Nova York tocando Romeu e Julieta, de Prokofiev — que mistura eclética! E no canto, uma foto três por quatro de uma jovem. Em preto e branco. Ela me parece familiar, mas por mais que eu tente, não consigo identificar quem é. Graças a Deus, não é Mrs. Robinson.

— Quem é essa? — pergunto.

— Ninguém importante — murmura ele, vestindo o paletó e ajeitando a gravata. — Posso fechar o seu zíper?

— Então por que ela está no seu quadro de fotos?

— Um descuido de minha parte. Como está a minha gravata? — Ele ergue o queixo, feito um menino, e eu sorrio e a ajeito para ele.

— Agora está perfeita.

— Como você — sussurra ele, e me segura, beijando-me com fervor. — Está se sentindo melhor?

— Muito, obrigada, Sr. Grey.

— O prazer é todo meu, Srta. Steele.

* * *

OS CONVIDADOS ESTÃO se reunindo na pista de dança. Christian sorri para mim — chegamos bem a tempo — e me conduz até a pista quadriculada.

— E agora, senhoras e senhores, é hora da primeira dança. Sr. e Dra. Grey, estão prontos? — Carrick faz que sim com a cabeça, o braço ao redor de Grace. — Senhoras e senhores do leilão da primeira dança, todos prontos? — Todos acenamos com a cabeça. Mia está com alguém que não reconheço. O que será que aconteceu com Sean? — Então, vamos começar. É com você, Sam!

Um jovem rapaz caminha até o palco em meio a aplausos calorosos, vira-se para a banda atrás de si e estala os dedos. Os acordes familiares de “I’ve Got You Under My Skin” preenchem a noite.

Christian sorri para mim, pega-me em seus braços e começa a me conduzir. Ah, ele dança tão bem, é fácil seguir. Nós sorrimos um para o outro, feito dois bobos, enquanto ele me gira pela pista.

— Adoro essa música — murmura ele, olhando-me nos olhos. — Parece muito apropriada. — Ele não está mais rindo, ficou sério.

— Você também está sob a minha pele — respondo. — Ou estava, lá no seu quarto.

Ele pressiona os lábios, mas não consegue disfarçar que está se divertindo.

— Srta. Steele — adverte-me de brincadeira —, eu não tinha ideia de que você podia ser tão vulgar.

— Nem eu, Sr. Grey. Acho que são minhas experiências recentes. Foram muito educativas.

— Para nós dois. — Christian está sério de novo, e poderíamos ser só os dois e a banda ali. Estamos em nossa própria bolha.

Quando a música termina, aplaudimos. O cantor, Sam, se curva em agradecimento e apresenta a banda.

— A senhorita me concederia a próxima dança?

Reconheço o homem que fez as ofertas em mim durante o leilão. Relutante, Christian me solta, mas parece achar graça também.

— Fique à vontade. Anastasia, este é John Flynn. John, Anastasia.

Merda!

Christian sorri e se encaminha para fora da pista.

— Como vai, Anastasia? — pergunta Dr. Flynn suavemente, e eu reparo que ele é inglês.

— Oi — gaguejo.

A banda começa outra música, e Dr. Flynn me segura em seus braços. Ele parece muito mais jovem do que eu imaginava, embora eu não consiga ver seu rosto. Está usando uma máscara parecida com a de Christian. É alto, mas não tanto quanto Christian, nem se move com a mesma elegância.

O que posso perguntar a ele? Por que Christian é tão maluco? Por que ele ofereceu um lance para dançar comigo? É a única coisa que quero saber, mas, de alguma forma, parece grosseiro.

— Fico feliz de finalmente poder conhecê-la, Anastasia. Está se divertindo? — pergunta ele.

— Estava — suspiro.

— Ah. Espero que eu não seja o responsável por essa mudança de sentimento. — Ele me lança um sorriso cálido e ligeiro que me deixa mais à vontade.

— Você é o psicólogo, Dr. Flynn. Você é quem deve me dizer.

Ele sorri.

— Esse é o problema, não é? O fato de eu ser psicólogo?

Dou um risinho.

— Tenho medo do que posso lhe revelar, então me sinto um pouco encabulada e intimidada. E, na verdade, tudo o que quero fazer é perguntar a respeito de Christian.

— Primeiro, estamos numa festa. — Ele sorri. — Portanto, não estou trabalhando. — Sussurra em tom conspiratório. — E segundo, eu realmente não posso falar de Christian com você. Além do mais, ficaríamos aqui até o Natal — brinca ele.

Arquejo, chocada.

— É uma piada de psicólogo, Anastasia.

Fico vermelha, envergonhada, e então me sinto ligeiramente ressentida. Ele está fazendo uma piada a respeito de Christian.

— Você acaba de confirmar o que eu venho dizendo para ele... que você é um charlatão muito caro — repreendo-o.

— Talvez você tenha um pouco de razão nesse ponto — Dr. Flynn solta uma gargalhada.

— Você é inglês?

— Sim. De Londres, originalmente.

— Como veio parar aqui?

— Uma circunstância fortuita.

— Você não revela muito, não é?

— Não tenho muito a revelar. Sou uma pessoa maçante, na verdade.

— Isso é bem autodepreciativo.

— É um traço inglês. Faz parte de nossa identidade nacional.

— Ah.

— E eu poderia acusá-la da mesma coisa, Anastasia.

— Está dizendo que também sou uma pessoa maçante, Dr. Flynn?

— Não, Anastasia. — Ele ri com desdém. — Que você não revela muita coisa.

— Não tenho muito a revelar. — Sorrio.

— Honestamente, duvido. — Ele franze a testa de modo inesperado.

Fico vermelha, mas a música termina e Christian está de volta ao meu lado. Dr. Flynn me solta.

— Foi um prazer conhecê-la, Anastasia. — Ele me lança um sorriso caloroso e eu me sinto como se tivesse passado numa espécie de teste secreto.

— John. — Christian acena para ele.

— Christian. — Dr. Flynn acena de volta, vira-se e desaparece na multidão.

Christian me puxa para junto de si, para a próxima dança.

— Ele é muito mais jovem do que eu esperava — murmuro. — E terrivelmente indiscreto.

— Indiscreto? — Christian inclina a cabeça.

— Ah, sim, ele me contou tudo — brinco com ele.

Christian fica tenso.

— Bom, nesse caso, vou pegar sua bolsa. Imagino que você não queira mais nada comigo — diz de mansinho.

Eu paro.

— Ele não me contou nada! — Minha voz sai cheia de pânico.

Christian pisca antes de o alívio tomar seu rosto. Ele me puxa para seus braços de novo.

— Então, vamos aproveitar esta dança. — Ele me olha, confortando-me e me fazendo rodopiar.

Por que ele acha que eu iria querer deixá-lo? Não faz sentido.

Dançamos as duas músicas seguintes, e eu me dou conta de que preciso ir ao banheiro.

— Não vou demorar.

A caminho do banheiro, percebo que deixei minha bolsa na mesa do jantar, e volto até a tenda. Quando entro, vejo que as luzes ainda estão acesas, embora o salão esteja deserto, exceto por um casal lá no fundo, que deveria procurar um quarto! Pego minha bolsa.

— Anastasia?

Uma voz suave me assusta. E eu me viro e vejo uma mulher num vestido longo preto, de veludo bem justo. Sua máscara é peculiar. Cobre o rosto até o nariz, e também o cabelo. É linda, com um filete de ouro elaborado.

— Que bom que está sozinha — acrescenta ela delicadamente. — Passei a noite toda querendo falar com você.

— Desculpe, não sei quem você é.

Ela tira a máscara e solta o cabelo.

Merda! É Mrs. Robinson.

— Desculpe, assustei você?

Fico boquiaberta. Puta que pariuque diabo essa mulher quer?

Não sei como a convenção social diz que devemos nos comportar com molestadores de crianças. Ela está sorrindo gentilmente e me convidando a me sentar a uma mesa. E porque não tenho nenhuma referência a respeito do que fazer, obedeço só por educação, agradecida pelo fato de ainda estar de máscara.

— Vou ser breve, Anastasia. Sei o que você pensa de mim... Christian me contou.

Eu a fito, impassível, não revelando nada, mas fico feliz que ela saiba. Isso me poupa o trabalho de ter que falar, e ela pode ir direto ao assunto. Parte de mim está mais do que intrigada em saber o que ela poderia ter para me dizer.

Ela faz uma pausa e volta o olhar para além de mim, por cima de meu ombro.

— Taylor está nos observando.

Viro a cabeça e o vejo vigiando a tenda da entrada. Sawyer está com ele e os dois olham para todos os lados, menos para nós.

— Não temos muito tempo — diz ela, depressa. — Já deve estar claro para você que Christian a ama. Eu nunca o vi desse jeito, nunca — enfatiza a última palavra.

O quê? Ele me ama? Não. Por que ela está me falando isso? Para me reconfortar? Não consigo entender.

— Ele não vai dizer a você, porque provavelmente nem se dá conta disso, apesar de tudo o que eu disse para ele, mas ele é assim. Não é muito conectado com nenhum sentimento ou emoção positiva que possa ter. Ele se concentra demais no negativo. Em todo caso, você já deve ter percebido isso sozinha. Ele acha que não merece.

Estou em parafuso. Christian me ama? Ele não disse isso, e essa mulher disse a ele como ele se sente? Que bizarro.

Centenas de imagens varrem a minha cabeça: o iPad, o planador, viajar para me ver, todas as suas atitudes, a possessividade dele, cem mil dólares por uma dança. Isso é amor?

E, francamente, ouvir isso dessa mulher não é nada bem-vindo. Eu preferiria ouvir isso dele.

Meu coração se aperta. Ele acha que não merece? Por quê?

— Eu nunca o vi tão feliz, e está claro que você também tem sentimentos por ele. — Um sorriso rápido passa por seus lábios. — Isso é ótimo, e eu desejo toda a felicidade do mundo aos dois. Mas eu queria avisar que se você o machucar de novo, mocinha, eu vou encontrá-la onde quer que esteja, e não vai ser nada agradável quando isso acontecer.

Ela me encara, os gélidos olhos azuis cravados em meu crânio, tentando penetrar debaixo de minha máscara. A ameaça é tão surpreendente, tão inesperada, que deixo escapar uma risada involuntária e de descrença. De todas as coisas que ela podia me dizer, essa é a mais inesperada.

— Você está achando graça, Anastasia? — balbucia ela, descrente. — Você não o viu no sábado passado.

Minha expressão se desfaz e fica sombria. A ideia de Christian infeliz não é nem um pouco agradável, e sábado passado foi o dia em que eu o deixei. Ele deve ter corrido para ela. O pensamento me enjoa. Por que eu estou sentada aqui, ouvindo essa baboseira, logo dessa mulher? Eu me levanto devagar, fitando-a com intensidade.

— Eu estou rindo da sua audácia, Sra. Lincoln. Christian e eu não temos nada a ver com você. E se eu o deixar, e você vier me procurar, eu estarei esperando, não tenha dúvidas. E talvez você prove o gosto do próprio veneno, em nome da criança de quinze anos de idade de quem você abusou e cuja cabeça você provavelmente perturbou ainda mais do que já era perturbada.

Ela fica boquiaberta.

— Agora, se me dá licença, tenho coisa melhor a fazer do que desperdiçar meu tempo com você. — Eu me viro, a raiva e a adrenalina possuindo meu corpo, e caminho na direção de Taylor, para a saída da tenda, no mesmo instante em que Christian chega, aparentando confusão e preocupação.

— Aí está você — murmura ele, e então fecha a cara ao ver Elena.

Passo por ele sem responder, dando-lhe a oportunidade de escolha: ela ou eu. Ele toma a decisão correta.

— Ana — chama Christian. Eu paro e me viro para ele, que me alcança. — Qual o problema? — Ele me olha, a preocupação entalhada em suas feições.

— Por que você não pergunta para a sua ex? — respondo, acidamente.

Ele contorce a boca e arregala os olhos.

— Estou perguntando a você — diz, a voz suave, mas com uma insinuação bem mais ameaçadora.

Nós nos encaramos.

Tá legal, eu sei que vamos terminar brigando se eu não contar a ele.

— Ela está ameaçando vir atrás de mim se eu magoar você de novo. Provavelmente com um chicote — digo, irritada.

O alívio toma conta de seu rosto, suavizando a expressão de sua boca com um toque de humor.

— Tenho certeza que você é capaz de apreciar a ironia nisso — diz, e vejo que está se esforçando muito para conter o riso.

— Não tem graça, Christian!

— Não. Você está certa. Vou falar com ela. — Ele assume uma expressão séria, embora ainda esteja tentando conter o riso.

— Você não vai fazer nada disso. — Cruzo os braços, a raiva crescendo novamente.

Ele pisca para mim, surpreso com meu ataque.

— Olhe, eu sei que você está amarrado a ela financeiramente, não leve a mal o trocadilho, mas... — Eu paro. O que estou pedindo? Que ele a deixe? Pare de vê-la? Posso fazer isso? — Preciso ir ao banheiro. — Olho para ele, minha boca fechada numa linha rígida.

Ele suspira e inclina a cabeça. Dá para ser mais gato do que isso? Será a máscara ou só ele?

— Por favor, não fique brava. Eu não sabia que ela estava aqui. Ela disse que não viria. — Seu tom é pacificador, como se ele estivesse falando com uma criança. Ele estica o braço e corre o polegar ao longo de meu lábio inferior trêmulo. — Não deixe Elena estragar a nossa noite, por favor, Anastasia. Ela é notícia velha.

“Velha” sendo a palavra principal da sua frase, penso duramente, e ele levanta meu queixo e gentilmente toca os lábios nos meus. Suspiro, concordando e piscando para ele. Ele se ajeita e me segura pelo cotovelo.

— Eu vou acompanhar você até o banheiro para que não seja interrompida de novo.

Ele me conduz pelo gramado em direção aos banheiros de luxo que foram instalados temporariamente no jardim. Mia disse que foram encomendados para a festa, mas eu não tinha ideia de que vinham em versões tão chiques.

— Eu espero por você aqui fora, baby — murmura ele.

Quando saio, meu humor está um pouco melhor. Decidi não deixar Mrs. Robinson arruinar minha noite, pois é provavelmente tudo o que ela quer. Christian está ao telefone a certa distância, evitando um grupo de pessoas que ri e conversa perto da entrada dos banheiros. À medida que me aproximo, posso ouvi-lo. Está muito ríspido.

— Por que você mudou de ideia? Achei que tínhamos um acordo. Bem, deixe ela em paz... Esse é o primeiro relacionamento normal que eu tenho, e não quero que estrague tudo por causa de alguma preocupação inoportuna que você tem por mim. Deixe. Ela. Em. Paz. Estou falando sério, Elena. — Ele faz uma pausa por um instante, ouvindo. — Não, claro que não. — Fecha a cara seriamente ao dizer isso. Erguendo o olhar, ele me vê. — Tenho que ir. Boa noite. — E desliga.

Inclino a cabeça e ergo uma sobrancelha para ele. Por que está telefonando para ela?

— Como vai a sua notícia velha?

— Mal-humorada — responde ele, sarcástico. — Você quer dançar mais? Ou quer ir embora? — E confere o relógio. — Os fogos de artifício vão começar em cinco minutos.

— Adoro fogos de artifício.

— Então a gente fica para ver. — Ele passa o braço ao meu redor e me puxa para junto de si. — Não deixe que ela se intrometa na nossa vida, por favor.

— Ela se preocupa com você — balbucio.

— Sim, e eu com ela... como amigo.

— Acho que é mais do que amizade para ela.

— Anastasia. — Christian franze a testa. — Elena e eu... é complicado. Nós temos uma história em comum. Mas é só uma história. Eu já falei um milhão de vezes, ela é uma amiga. É só isso. Por favor, esqueça esse assunto. — Ele beija meu cabelo e, para não estragar a noite, deixo para lá. Só estou tentando entender.

Caminhamos de mãos dadas até a pista de dança. A banda ainda está tocando.

— Anastasia.

Viro-me e vejo Carrick atrás de nós.

— Será que você me concederia a honra da próxima dança? — Ele estende a mão para mim.

Christian dá de ombros e sorri, soltando minha mão, e eu deixo Carrick me conduzir até a pista. Sam começa a cantar “Come Fly with Me”, Carrick passa o braço ao redor de minha cintura e, gentilmente, me faz rodopiar em meio à multidão.

— Eu queria agradecer pela sua generosa contribuição à nossa caridade, Anastasia.

Pelo tom de sua voz, suspeito que seja só um jeito educado de me perguntar se posso bancar tal contribuição.

— Sr. Grey...

— Pode me chamar de Carrick, por favor, Ana.

— Fico muito feliz de poder contribuir. Recebi um dinheiro inesperado há pouco tempo. Não preciso dele. E é uma causa tão importante.

Ele sorri para mim, e eu aproveito a oportunidade para fazer umas perguntas inocentes. Carpe diem, meu inconsciente sussurra para mim.

— Christian me contou um pouco sobre o passado dele, então acho que é apropriado apoiar seu trabalho — acrescento, na esperança de que isso possa incentivar Carrick a me dar uma pequena luz sobre o mistério que é seu filho.

— Contou, foi? — Carrick parece surpreso. — Isso não é comum. Você sem dúvida teve um efeito muito positivo sobre ele, Anastasia. Acho que nunca o vi tão, tão... animado.

Fico vermelha.

— Desculpe, não queria envergonhá-la.

— Bem, em minha limitada experiência, já vi que ele não é um homem comum.

— Não, não é — concorda Carrick em voz baixa.

— O início da infância dele me pareceu terrivelmente traumático, pelo que ele me contou.

Carrick franze a testa, e me pergunto se fui longe demais.

— Minha esposa era a médica de plantão quando a polícia chegou com ele. Ele era pele e osso, e estava muito desidratado. Não falava. — Carrick franze a testa novamente, perdido na memória terrível, apesar da música animada que nos rodeia. — Na verdade, ele não falou por quase dois anos. Foi tocando piano que ele finalmente se soltou. Ah, e com a chegada de Mia, é claro. — Ele sorri para mim, com carinho.

— Ele toca lindamente. E realizou tantas coisas, vocês devem se orgulhar muito dele. — Soo distraída. Caramba. Não falou por dois anos.

— Imensamente. Ele é muito determinado, muito talentoso, um jovem muito inteligente. Mas cá entre nós, Anastasia, é vê-lo como está esta noite, despreocupado, agindo conforme sua idade, que nos faz verdadeiramente felizes. Eu estava comentando sobre isso com Grace hoje. E creio que devemos agradecer a você por isso.

Acho que coro até o dedinho do pé. O que devo responder?

— Ele sempre foi tão solitário. Pensei que nunca o veria com alguém. O que quer que você esteja fazendo, por favor, continue. Nós queremos vê-lo feliz. — Carrick para de repente, como se ele tivesse ido longe demais. — Sinto muito, não era minha intenção deixá-la desconfortável.

Nego com a cabeça.

— Também quero vê-lo feliz — murmuro, sem saber o que mais dizer.

— Bem, estou muito satisfeito que você tenha vindo esta noite. Foi um verdadeiro prazer ver vocês dois juntos.

Assim que os acordes finais de “Come Fly with Me” silenciam, Carrick me solta e me cumprimenta com uma reverência. Respondo com uma mesura, refletindo sua cortesia.

— Já chega de dançar com homens velhos. — Christian está ao meu lado novamente. Carrick ri.

— Sem essa de “velho”, filho. Já tive meus momentos, todo mundo sabe. — Carrick pisca para mim de brincadeira e caminha pela multidão.

— Acho que meu pai gosta de você — murmura Christian, observando-o se misturar com as pessoas.

— E por que não haveria de gostar? — Lanço um olhar debochado através dos cílios.

— É um bom argumento, bem colocado, Srta. Steele. — Ele me puxa num abraço, e a banda começa a tocar “It Had to Be You”. — Dance comigo — sussurra, sedutoramente.

— Com prazer, Sr. Grey — sorrio em resposta, e ele me leva por toda a pista uma vez mais.

* * *

À MEIA-NOITE, CAMINHAMOS em direção à praia, entre a tenda e o ancoradouro, onde os demais convidados estão reunidos para assistir aos fogos de artifício. De volta ao comando, o mestre de cerimônias permitiu a remoção das máscaras, para facilitar a visão. Christian está com o braço ao meu redor, mas estou ciente de que Taylor e Sawyer estão por perto, provavelmente porque estamos no meio da multidão. Eles olham para todos os lados, exceto para o cais, onde dois técnicos vestidos de preto fazem os últimos preparativos. Ver Taylor me faz lembrar de Leila. Talvez ela esteja aqui. Merda. O pensamento me dá calafrios, e eu me aninho mais em Christian. Ele me olha e me puxa mais para perto.

— Tudo bem? Está com frio?

— Estou bem. — Olho rapidamente ao redor e vejo os outros dois seguranças, cujos nomes não consigo lembrar, perto de nós. Coloco-me diante de Christian e ele passa os braços sobre meus ombros.

De repente, uma música clássica empolgante toma conta do cais e dois foguetes se projetam no ar, explodindo com um estrondo ensurdecedor sobre a baía e iluminando tudo em um dossel deslumbrante de laranja e branco cintilante, que se transforma em uma chuva brilhosa sobre a água calma. Fico boquiaberta à medida que mais foguetes se lançam ao ar e explodem em um caleidoscópio de cor.

Não me lembro de ter visto um espetáculo de fogos tão impressionante, exceto talvez na televisão, e nunca é assim tão bonito na tevê. É tudo sincronizado com a música. Salva após salva, estrondo após estrondo, luz e mais luz, as pessoas respondem com suspiros e oohs e aahs. É algo de outro mundo.

Na balsa, na baía, diversas faixas de luz prateada iluminam o céu, até uns seis metros de altura, mudando de cor para azul, vermelho, laranja e de volta para o prata... e ainda mais foguetes explodem à medida que a música atinge o seu auge.

Meu rosto está começando a doer por causa do sorriso ridículo de admiração que tenho engessado na cara. Olho para Christian, e ele está do mesmo jeito, maravilhado feito uma criança diante do espetáculo. Para encerrar, uma saraivada de seis foguetes que, disparados no escuro, explodem simultaneamente, iluminando-nos com um tom dourado maravilhoso, enquanto a multidão irrompe em aplausos frenéticos e entusiasmados.

— Senhoras e senhores — exclama o mestre de cerimônias à medida que os aplausos e assobios diminuem. — Tenho apenas um aviso para acrescentar ao final desta noite maravilhosa: a generosidade de vocês arrecadou um total de um milhão, oitocentos e cinquenta e três mil dólares!

Aplausos espontâneos irrompem de novo, e, da balsa, uma mensagem se acende em fagulhas prateadas, formando as palavras “A Superando Juntos Agradece a Todos”, que brilham sobre a água.

— Nossa, Christian... isso foi maravilhoso. — Sorrio para ele e ele se inclina para me beijar.

— Hora de ir — murmura, um largo sorriso em seu belo rosto, e suas palavras prometem muito.

De repente, sinto-me cansada.

Ele ergue o olhar de novo. Taylor está próximo, a multidão se dispersa em torno de nós. Eles não se falam, mas algo se passa entre os dois.

— Fique aqui comigo um momento. Taylor quer que a gente espere até que as pessoas tenham se dispersado.

Ah.

— Acho que esses fogos de artifício provavelmente o envelheceram uns cem anos — acrescenta.

— Ele não gosta de fogos de artifício?

Christian me olha com carinho e balança a cabeça, mas não desenvolve o assunto.

— Então, Aspen — diz ele, e sei que ele está tentando me distrair. E funciona.

— Ih... Não paguei minha oferta — engasgo.

— Você pode mandar um cheque. Eu tenho o endereço.

— Você ficou com muita raiva.

— Sim, fiquei.

Sorrio.

— A culpa é sua e dos seus brinquedinhos.

— Você se entregou completamente, Srta. Steele. Um resultado dos mais satisfatórios, se me lembro bem. — Ele sorri, provocante. — Aliás, onde estão?

— As bolas? Na minha carteira.

— Eu gostaria de tê-las de volta. Elas são um dispositivo potente demais para serem deixadas em suas mãos inocentes.

— Preocupado de que eu me entregue de novo, talvez para outra pessoa?

Seus olhos brilham perigosamente.

— Espero que isso não aconteça, Ana — diz ele, a frieza transparecendo em sua voz. — Quero todo o seu prazer.

Uau.

— Você não confia em mim?

— Implicitamente. Agora, posso ter as bolas de volta?

— Vou pensar no seu caso.

Ele estreita os olhos para mim.

A música recomeça na pista de dança, mas agora é um DJ tocando uma música pulsante, o baixo se sobressaindo numa batida repetitiva.

— Quer dançar?

— Estou muito cansada, Christian. Gostaria de ir embora, se estiver tudo bem para você.

Christian olha de relance para Taylor, que acena com a cabeça, e partimos em direção à casa, seguindo dois convidados meio bêbados. Fico feliz que ele esteja segurando minha mão — meus pés estão doendo, os sapatos são muito altos e apertados.

Mia se aproxima toda animada.

— Vocês não estão indo embora, estão? A música de verdade acabou de começar. Vamos, Ana. — Ela agarra a minha mão.

— Mia — adverte Christian —, Anastasia está cansada. Nós estamos indo para casa. Além disso, temos um dia cheio amanhã.

Temos?

Mia faz beicinho, mas, surpreendentemente, não pressiona Christian.

— Você tem que voltar na semana que vem. Quem sabe nós duas não fazemos compras juntas?

— Claro, Mia. — Sorrio, embora no fundo da minha mente eu não tenha ideia de como, já que preciso trabalhar para viver.

Ela me dá um beijo rápido e abraça Christian com força, surpreendendo a nós dois. E mais inesperado ainda: ela coloca as mãos diretamente nas lapelas de seu paletó, e tudo o que ele faz é olhar para ela, indulgente.

— Gosto de ver você feliz assim — diz ela com ternura, e lhe dá um beijo na bochecha. — Tchau. Divirtam-se. — Ela se afasta e se junta aos amigos que a esperam, entre eles, Lily, que parece ainda mais azeda sem a máscara.

Pergunto-me vagamente onde será que Sean está.

— Vamos dar boa-noite aos meus pais antes de sair. Venha. — Christian me leva através de um grupo de convidados até Grace e Carrick, que se despedem de nós calorosamente.

— Ah, Anastasia, volte outro dia, por favor. Foi ótimo recebê-la aqui — diz Grace com gentileza.

Fico um pouco sem jeito com a reação dela e de Carrick. Felizmente, os pais de Grace já foram dormir, então, pelo menos, sou poupada do entusiasmo deles.

Descontraídos e cansados, Christian e eu caminhamos de mãos dadas até a frente da casa, onde os incontáveis carros estão em fila à espera dos convidados. Olho para meu Cinquenta Tons. Ele parece feliz. É um verdadeiro prazer vê-lo desse jeito, embora eu suspeite de que seja incomum após um dia tão extraordinário.

— Você está bem aquecida? — pergunta ele.

— Sim, obrigada. — Enrolo o lenço de cetim ao meu redor.

— Eu me diverti muito esta noite, Anastasia. Obrigado.

— Eu também, em alguns momentos mais do que em outros — sorrio.

Ele sorri de volta e concorda com a cabeça, e então franze a testa.

— Não morda o lábio — adverte de uma maneira que faz meu sangue gelar.

— O que você quis dizer com ter um dia cheio amanhã? — pergunto para distrair a mim mesma.

— A Dra. Greene vai vir para dar um jeito em você. Além disso, tenho uma surpresa.

— A Dra. Greene! — exclamo, num sobressalto.

— É.

— Por quê?

— Porque eu odeio camisinha — responde ele baixinho. Avaliando minha reação, seus olhos brilham na luz suave das lanternas de papel.

— O corpo é meu — resmungo, irritada por ele não ter me consultado.

— É meu também — sussurra ele.

Eu o encaro, e vários convidados passam por nós, ignorando-nos. Ele parece muito sério. Sim, meu corpo é dele... ele sabe disso melhor do que eu.

Levanto os braços em sua direção, e ele se encolhe ligeiramente, mas permanece no mesmo lugar. Segurando a gravata-borboleta pela ponta, desato o nó, revelando o botão de cima de sua camisa. Gentilmente, o desabotoo.

— Você fica sexy assim — sussurro.

Na verdade, ele é sexy o tempo todo, mas assim fica ainda mais sexy.

Ele sorri.

— Preciso levar você para casa. Venha.

Junto do carro, Sawyer passa um envelope para Christian. Ele franze a testa e me olha enquanto Taylor abre a porta para mim, parecendo aliviado por algum motivo. Christian entra no carro e me entrega o envelope fechado. Taylor e Sawyer se sentam à nossa frente.

— É para você. Um dos funcionários entregou a Sawyer. Com certeza é de mais um dos seus admiradores. — Christian torce a boca. Fica claro que é uma ideia desagradável para ele.

Olho o envelope. De quem é? Abro e leio rapidamente sob a luz fraca. Puta merda, é dela! Por que ela não me deixa em paz?


Talvez eu não tenha feito um julgamento correto a seu respeito. E você certamente formou uma ideia errada de mim. Ligue para mim se tiver alguma dúvida que gostaria de esclarecer, poderíamos combinar um almoço. Christian não quer que eu fale com você, mas eu ficaria mais do que feliz em ajudar. Não me leve a mal, eu aprovo a relação de vocês, acredite em mim. Mas... se você machucá-lo... Ele já se machucou o suficiente. Ligue para mim: (206) 279-6261

Mrs. Robinson

Porra, ela assinou Mrs. Robinson! Ele contou a ela. O filho da mãe.

— Você contou a ela?

— Contei o quê a quem?

— Que a chamo de Mrs. Robinson — respondo irritada.

— É da Elena? — Christian fica chocado. — Isso é ridículo — resmunga ele, correndo a mão pelo cabelo, e dá para ver que está irritado. — Amanhã eu falo com ela. Ou segunda-feira — murmura amargamente.

E embora eu tenha vergonha de admitir, uma pequena parte de mim está satisfeita. Meu inconsciente concorda sabiamente. Elena está deixando Christian furioso, e isso só pode ser bom, com certeza. Decido ficar quieta por enquanto, mas enfio o bilhete na bolsa, e, num gesto que é uma garantia de aliviar seu humor, devolvo-lhe as bolas.

— Até a próxima — murmuro.

Ele me olha, e é difícil ver seu rosto no escuro, mas acho que está sorrindo. Ele pega a minha mão e a aperta.

Olho pela janela, para a escuridão, refletindo sobre o longo dia de hoje. Descobri tantas coisas sobre ele, recolhendo aqui e ali detalhes que estavam faltando: os salões de beleza, o mapa de seu corpo, sua infância. No entanto, ainda há muito a descobrir. E Mrs. R? Sim, ela tem carinho por ele, um carinho profundo, ao que parece. Percebo isso, e ele também tem carinho por ela, mas não da mesma maneira. Não sei mais o que pensar. Toda essa informação faz minha cabeça doer.

* * *

CHRISTIAN ME ACORDA assim que estacionamos diante do Escala.

— Vou precisar carregar você? — pergunta gentilmente.

Sonolenta, nego com a cabeça. De jeito nenhum.

Dentro do elevador, apoio-me nele, encostando a cabeça em seu ombro. Sawyer está diante de nós, mexendo-se de maneira desconfortável.

— Foi um longo dia, hein, Anastasia?

Concordo com a cabeça.

— Cansada?

Concordo com a cabeça.

— Você não está muito falante.

Concordo com a cabeça, e ele sorri.

— Venha. Vou botar você na cama. — Ele pega minha mão ao sairmos do elevador, mas paramos no saguão assim que Sawyer ergue a mão. Em uma fração de segundo, estou bem acordada de novo. Sawyer fala em sua manga. Não sabia que estava usando um rádio.

— Certo, T — diz ele e se vira para nós. — Sr. Grey, os pneus do Audi da Srta. Steele foram cortados e jogaram tinta nele.

Puta merda. Meu carro! Quem faria isso? E no instante em que a pergunta se materializa na minha mente, já sei a resposta. Leila. Olho para Christian, e ele está pálido.

— Taylor receia que alguém possa ter entrado no apartamento e que ainda esteja lá. Ele quer ter certeza.

— Entendo — sussurra Christian. — Qual é o plano de Taylor?

— Ele está subindo pelo elevador de serviço com Ryan e Reynolds. Vão fazer uma busca e depois liberar a entrada. Aguardarei aqui com o senhor.

— Obrigado, Sawyer — Christian aperta o braço em torno de mim. — Este dia só melhora. — Ele suspira amargamente e enfia o rosto em meu cabelo. — Olhe, não posso ficar aqui esperando. Sawyer, tome conta da Srta. Steele. Não deixe que ela entre até que você tenha recebido um ok. Imagino que Taylor esteja exagerando. Não tem como ela ter entrado no apartamento.

O quê?

— Não, Christian... você tem que ficar aqui comigo — imploro.

Ele me solta.

— Obedeça, Anastasia. Espere aqui.

Não!

— Sawyer? — pede Christian.

Sawyer abre a porta do saguão, liberando a entrada de Christian no apartamento. Em seguida, fecha a porta atrás de si e se põe de pé na frente dela, olhando-me impassível.

Puta merda. Christian! Os mais variados desfechos horripilantes passam por minha cabeça, mas tudo o que posso fazer é ficar aqui e esperar.

Загрузка...