XIII
Os bocejos pareciam contagiosos, sucedendo-se uns atrás dos outros, em sequência, os homens abriam a boca sucessivamente, aspirando o ar frio e húmido daquela madrugada de 9 de Março e expelindo-o num longo e vapo-roso suspiro. Afonso invejou o sono desses homens, só podia bocejar assim quem não tinha medo, quem não era consumido pela ânsia, quem não iria participar na operação. A artilharia trovejava havia quase uma hora, regando as posições inimigas, o horizonte acendera-se em fogo e, em pleno caos, pasme-se, havia homens a bocejar. O capitão olhou em redor e achou curiosa a diferença de postura dos soldados. As praças e os maqueiros da segunda companhia de Infantaria 21, serranos da Covilhã, encostavam-se modorrentamente aos parapeitos de Copse Trench, os olhos ensonados, era evidente que não iriam saltar para a terra de ninguém, cabia-lhes outra missão, os soldados iam guardar a primeira linha e cobrir os flancos da força de ataque e os maqueiros ficariam a assegurar a retirada dos feridos.
Mas já os outros, os que integravam a força de assalto, os que iam enfrentar a morte, esses agitavam-se bem despertos, nervosos e expectantes, os olhos dançando temerosamente em todas as direcções, as gargantas secas, a adrenalina a contaminar-lhes o sangue, a força a faltar-lhes nas pernas, um tremor invisível a consumir-lhes o ânimo perante o vulcão de fogo que se estendia à sua frente e para o qual se iriam lançar. Afonso sentia-se desgastado pelo medo, cansado da espera, desejava que tudo começasse depressa, não suportava mais a angústia de saber que iria combater. Se esse momento era inevitável, pensou, então que viesse já.
Olhou para Matias e admirou-se com o ar tranquilo que o cabo exibia, dir-se-ia estar convencido de que ia apenas dar um passeio até às linhas alemãs. Já o Lingrinhas agitava-se nervosamente, o corpo franzino a balouçar na penumbra como um pêndulo, irrequieto, os olhos saltitando por entre os clarões da artilharia, receosos, assustando-se com as sucessivas detonações que faziam trepidar o ar, parecia um pardal a tremer diante dos predadores.
Baltazar tinha as pálpebras cerradas, rezava decerto, os lábios agitando-se num leve murmúrio dirigido aos céus, o pensamento nos filhos que deixara em Pitões das Júnias. O
capitão virou o pulso e consultou pela enésima vez o seu Pate Philippe de pulso, os ponteiros incandescentes indicavam agora as quatro e cinquenta e cinco.
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“Faltam cinco minutos”, disse Afonso. “Vamos ao conhaque. “ Os homens desenroscaram os cantis, satisfeitos por ocuparem a mente, por a distraírem da cacofonia de explosões e da enervante espera, alguns engoliram o rum em golos sucessivos, sôfregos, deixando gotas escaparem-se-lhes pelo canto das bocas e deslizarem até ao queixo, outros saborearam o álcool com forçada lentidão, muito compenetrados, como se aquela fosse a última bebida das suas vidas, o derradeiro prazer antes do extertor final. A cada trago faziam uma pausa para expirarem o calor que lhes crescia pelo ventre a cima; o medo ainda por saciar, engoliam mais um golo ardente.
“Aaaah!“, exclamou Baltazar Velho. “Valente murrilha!“
Sentiram-se gradualmente mais calmos, tranquilos e descontraídos, o álcool subiu-lhes rapidamente à cabeça e dominou o medo, deixou-os serenos, invadidos por um sentimento de irrealidade, como se estivessem num sonho, o tempo abrandou, as batidas cardíacas desaceleraram e alguns esboçaram mesmo um sorriso.
“Esta bodega é porreira”, comentou Afonso, piscando o olho a Matias.
“Vamo-nos a eles, meu capitão, vamo-nos a eles! “, devolveu o enorme cabo, esfregando as mãos de impaciência, era a espera que mais o afligia. “Temos de lhes dar a paga de anteontem. “
Matias Grande referia-se a um raide efectuado dois dias antes pelos alemães sobre Neuve Chapelle e Ferme du Bois, rechaçado por Infantaria 15, de Tomar, e Infantaria 22, de Portalegre. Apesar de a operação ter redundado num fracasso para o inimigo, aos oficiais portugueses não passou despercebido o facto de se ter tratado do segundo raide alemão no espaço de apenas uma semana e do primeiro a envolver um assalto simultâneo a dois sectores portu-gueses.
“Estás parv'ou quê?“, cortou Vicente, olhando para Matias. “Ist'inda vai dar azar. Ai vai, vai. “
“Ó Manápulas, pára lá com os agoiros.“
Afonso voltou a consultar o relógio. Faltavam dois minutos. Um sargento de Infantaria 21 aproximou-se dos homens do 8.
“Meu capitão, é melhor tomarem posição.“
O oficial assentiu com a cabeça, fez sinal ao sargento Rosa e o pequeno grupo do 8
escalou o parapeito. Tacteando o terreno, os homens aninharam-se junto ao arame. O
sargento do 21 juntou-se a eles e indicou um ponto invisível na escuridão.
“Não se esqueçam, vão por ali”, disse. “O arame já está todo cortado e a via aberta.“
“Por ali?“, perguntou Afonso, preocupado em não se enganar. “Sim, por ali. Boa sorte.“
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O sargento voltou à trincheira, contente por não fazer parte da força de ataque.
Afonso ficou colado ao chão lamacento, os olhos fixos no relógio de aviador que Tim lhe tinha oferecido pelo Natal. Sorriu ao lembrar-se de que aqueles mesmos relógios de pulso foram durante anos considerados meras peças de joalharia, adornos semelhantes a pulseiras só adequadas a senhoras. Se os irmãos o vissem ali naquela figura, pensou, chamar-lhe-iam rabicho. Mas a verdade é que a guerra tinha mostrado que esta era a forma mais prática de transportar um relógio, e ali estava ele, com um rude Patek Philippe suíço, tornado mais feio pela grelha de metal que protegia a montra dos estilhaços. Suspirou e assinalou o tempo.
“Um minuto.“
O ponteiro dos segundos iniciou a última volta, progredindo inexoravel-mente, alguns homens rezavam baixinho, os olhos cerrados, os canhões rugiam, o ponteiro dos segundos começou a subir, tiques atrás de tiques, ponto a ponto para cima, Vicente fechou os olhos, Abel suspirou fundo, Matias desentorpeceu os braços, Baltazar fez o sinal da cruz, Rosa manteve-se hirto, o ponteiro subiu ainda mais e atingiu o cume, o fatídico 12.
“Vamos!“, ordenou Afonso.
O grupo do 8 ergueu-se da lama e desatou a correr, primeiro com prudên-cia, procurando o caminho aberto por entre o arame, depois mais rápido, mais rápido, todos em correria pela terra de ninguém, às escuras, as pernas moles de pavor, o grupo a tentar chegar o mais longe possível antes de os alemães darem pela sua presença, mais rápido, força, força, os soldados seguiam pelo itinerário previamente estudado, o terreno inclinava-se para cima, ressoavam os cliques e claques metálicos das Lee-Enfield embaionetadas, dos cintos, das munições, das Mills, das botas, mais o arfar ofegante dos homens em esforço, alguns tropeçavam na escuridão, as pernas sempre moles, Afonso caiu num charco invisível e logo se levantou, desengonçado, interrogou- se mil vezes sobre o que estava ali a fazer, que disparate era aquele. O torpor do álcool desaparecera, aniquilado pela adrenalina fulminante, mas o sentido de irrealidade permanecia, a sensação de sonho ainda os invadia a todos quando soou o primeiro tiro de espingarda, ouviram-se gritos do lado alemão, era o alerta, surgiram mais tiros, quatro, cinco, dez, vinte tiros, um foguete ergueu-se em Sally Trench e explodiu no ar, era um very light a iluminar a terra de ninguém. A luz fantasmagórica do foguete encheu as trincheiras como um pequeno sol, resgatando da penumbra minúsculas figuras em movimento, viam-se agora os soldados portugueses a correr em direcção às linhas inimigas, tropeçando em buracos, caindo em crateras, esbarrando em obstáculos, mais de cem homens da primeira companhia do 21 e um punhado do 8 vinham de Ferme du Bois e avançavam a descoberto pela terra de ninguém 360
em direcção ao inimigo, a Sally Trench, a Sapper Trench, a Mitzi Trench, as linhas alemãs aguardavam-nos. Mais very lights foram lançados para o ar, os alemães iluminaram o campo de batalha com sóis sucessivos, a noite fez-se dia, os tiros isolados das Mausers cresceram e misturaram-se à cacofonia da artilharia, as Maxims juntaram-se à festa e começaram a ladrar por toda a parte, voavam granadas e surgiram as primeiras explosões na terra de ninguém. E os portugueses sempre a correr, a correr, a correr.
A primeira linha alemã apareceu-lhes inesperadamente em frente, por detrás de uma derradeira vedação de espesso arame farpado.
“Alicates!“, gritou Afonso logo que caiu junto ao arame com os seus homens.
Uma praça do 21 aproximou-se rapidamente e, as mãos protegidas por umas luvas muito grossas, começou a cortar o arame com urgência, claque aqui, claque ali, claque, claque, os fios metálicos contorciam-se, as agulhas do arame balouçavam com maldade, procurando rasgar a pele de quem as mutilava, mas o homem evitava-as com perícia e ia abrindo o caminho, devagar, devagar, todos impacientes, o homem do alicate não havia meio de se despachar, claque, claque, todos deitados no chão, cada um a vigiar o inimigo, um olho nos alemães, o outro no homem do alicate, claque, claque, o alicate sempre a cortar o arame, o céu iluminava-se com foguetes e no solo dançavam as sombras, zzziiimm, zzziiimm, as balas a cortarem o ar em zumbidos sucessivos, em sibilos metálicos, em assobios de morte, traiçoeiros e enervantes, claque, claque, zzziiimm, zzziiimm, claque, claque, zzziiimm, zzziiimm.
“Já está”, anunciou por fim a praça, banhada em suor naquela madrugada gelada.
Os portugueses ergueram-se, penetraram temerosamente pelo caminho aberto pelo alicate, alguns rasgaram a pele nas pontas soltas do arame mas avançaram na mesma, saltaram à pressa para o buraco da primeira linha inimiga, as espingardas apontadas, os olhos atentos, procurando vultos ameaçadores, a trincheira parecia deserta mas o ar era sempre cortado por zumbidos, sibilos, assobios.
“Abriguem-se!“, ordenou Afonso, sentindo as balas a zurzirem como moscas em redor.
Os homens anicharam-se às paredes. O capitão olhou em volta e viu praças do 21
misturadas com o seu pelotão do 8. Matias esticou a cabeça acima do nível do parapeito para lobrigar o inimigo, detectou clarões de armas a serem disparadas e logo se encolheu.
“Estão naquela direcção”, indicou entre duas arfadas, apontando com a mão para a direita.
O cabo ajeitou a Lewis, respirou fundo para recuperar o fôlego, ergueu-se num ímpeto, apontou a metralhadora para o sector que identificara e começou a vomitar rajadas.
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Os outros homens, encorajados pelo exemplo de Matias, ergueram-se igualmente e dispararam as Lee-Enfield na mesma direcção. Os very lights continuavam activos, iluminando a batalha, e os portugueses viram os alemães lá ao fundo a fugir.
“Fogo à vontade! “, exclamou Afonso, a pistola na mão. A Lewis e as Lee-Enfield despejavam balas e balas sobre os fugitivos, alguns tombaram no chão, um ou outro ainda se levantou e retomou a corrida em dificuldade, a coxear, o fogo permaneceu intenso até os alemães que ainda se encontravam em pé saírem do campo de visão. Afonso chamou então o sinaleiro do seu grupo. O homem aproximou-se com o telefone na mão, o fio esticado desde as linhas portuguesas. Afonso fez sinal ao sargento Rosa.
“Larga o foguete de chegada “
O sargento pegou num very light e disparou-o para o céu.
O foguete explodiu em luz vermelha lá em cima, lançando uma claridade de sangue sobre as linhas. Outros very lights vermelhos explodiram à direita e à esquerda. Era o sinal convencionado para anunciar às linhas portuguesas que a primeira linha alemã se encontrava ocupada pelo CEP. Satisfeito com a indicação de que as coisas estavam a correr bem com os outros pelotões, Afon so pegou no telefone.
“Aqui pelotão do centro”, anunciou o capitão pelo bocal. “Estamos em posição.
Henrique. Repito. Henrique. “
“Henrique” era o nome de código para a artilharia portuguesa alongar o tiro para a retaguarda alemã. A ideia era fustigar o inimigo e evitar atingir as tropas portuguesas instaladas na primeira linha alemã.
Logo que a artilharia corrigiu o tiro, Afonso fez sinal aos homens e o grupo progrediu cautelosamente por uma trincheira de comunicação com o intuito de limpar o terreno, os soldados avançando curvados e de espingarda em riste. Matias ia à frente, a pesada Lewis nos braços, seguido do sargento Rosa e de Abel, atrás vinham Afonso, Vicente e Baltazar, mais os homens do 21. Viram um buraco à direita e hesitaram.
“Um abrigo”, murmurou Matias para trás, a metralhadora apontada para um buraco aberto na base de um maciço bloco de cimento.
Afonso aproximou-se e verificou a entrada do abrigo sem se atrever a aproximar-se.
“Façam-me a limpeza disso.“
O sargento Rosa disparou dois tiros para o interior e ficou a aguardar. Nada. Matias avançou, colocou o cano da Lewis pelo buraco e espreitou. Estava tudo escuro.
“Lanterna.“
Afonso deu uma lanterna eléctrica ao sargento Rosa, que a colocou nas mãos do cabo. Matias acendeu a luz e verificou o abrigo. O clarão percorreu as paredes, viam-se 362
estantes com livros nas paredes, fios eléctricos e lâmpadas penduradas no tecto. A luz da lanterna desceu pelo chão, iluminaram-se sofás, cadeiras, camas duplas com grossos cobertores, o soalho parecia seco. Ao fim de algum tempo, Matias deu-se por satisfeito e voltou a cabeça para trás.
“Não está cá ninguém”, disse aos companheiros. De seguida, o cabo mergulhou no buraco e desceu para inspeccionar melhor o abrigo. Atrás dele seguiram os outros homens do 8 e alguns do 21, todos embasbacados com o bunker alemão.
“Ena, caraças, já me toparam isto? “, exclamou Baltazar. “Isto é um abrigo de reis!
Porra! Que categoria! “
“É do camano”, confirmou Vicente, sentando-se com visível prazer na superfície fofa do sofá. “Andamos nós a viver na lama e estes gajos a refaste-larem-se nestes palacetes. Sim senhor, ist'é qu'é vida! A eles tratam-nos bem. Já connosco é o qu'a malta sabe...“
“Se o pessoal tivesse um hotel destes, até nem me importava de andar nas trinchas”, gracejou Baltazar. “Categoria! “
Afonso sentia-se igualmente surpreendido com a qualidade do abrigo, era, de longe, superior a qualquer coisa existente no CEP ou mesmo nas posições britânicas que visitara.
Mas a estupefacção durou pouco. Tinha pressa em sair dali, completar a missão e regressar à segurança relativa das trincheiras portuguesas. Constatou que não havia documentos para apreender e decidiu abandonar o local.
“Vamos, vamos embora daqui! “, ordenou. “Vamos lá, vamos lá, rápido! “ Os homens saíram do abrigo e regressaram à trincheira de comunicação, restabelecendo-se a hierarquia anterior. Matias à frente, Rosa logo a seguir, os restantes atrás. A trincheira fez uma leve curva à esquerda e, no meio daquela escuridão iluminada pelos clarões da artilharia e pelos sucessivos very lights, o cabo detectou um vulto a desaparecer ao fundo.
“Boches! “, avisou.
O grupo parou por momentos e, após uma ligeira hesitação, retomou a marcha, Matias muito atento a qualquer movimento.
Trinta metros mais à frente, perto do sector onde tinha visto o vulto, deparou com novo buraco, desta feita à esquerda, na base do parapeito.
“Abrigo.“
Mais uma paragem. Rosa repetiu o procedimento anterior e disparou dois tiros para o esconderijo. Ouviu-se barulho lá dentro e um tiro respondeu ao fogo português.
“Granadas”, pediu Matias.
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Rosa entregou-lhe duas Mills, Matias pegou numa, premiu a alavanca, puxou pela argola e arrancou a cavilha de segurança, atirou-a pelo buraco e repetiu a operação com a outra. Ouviram-se gritos em alemão, “achtung!“, “was ist das?“, “granate!“, sucederam-se duas explosões, veio o silêncio, ouviu-se um gemido e Matias aproximou-se da entrada do abrigo, apontou a lanterna e viu estantes partidas, um corpo estendido de bruços, uma perna decepada, um outro corpo pendurado numa cadeira, um terceiro a mexer-se no chão, barriga para o ar, o ventre aberto e os intestinos a escorregarem-lhe pelas mãos, o homem a olhar surpreendido para as suas entranhas expostas. Ergueu os olhos e mirou Matias.
“Entschuldigen... Sie bitte!“, disse, arfando. “Knnen Sie... mir helfen?“ Respirou fundo. Gemeu. “Bitte... Kamerad.“
Matias olhou para trás, para os seus companheiros. “O abrigo está limpo.“
“Os boches?“, quis saber Afonso. “Estão dois mortos e um ferido“ O capitão espreitou pela entrada e viu o alemão estendido no chão, a gemer.
“Coitado”, comentou. “Já viram que ficou com as tripas de fora? Matias assentiu com a cabeça. “Não se safa. Está a bombar.“
O alemão insistiu, o esgar perdido.
“Bitte.” Arfou. “Kamerad.“ Gemeu. “Knnen... Sie mir. Helfen” Afonso entendeu.
“Está a pedir ajuda”, explicou. “Se calhar, é melhor dar-lhe um tiro, acaba-se-lhe já o sofrimento”
O capitão olhou em redor, como que a pedir voluntários. Matias baixou os olhos, os que estavam atrás fizeram- se desentendidos. Afonso voltou a mirar o alemão, ergueu a pistola, apontou-a à cabeça do homem, deixou-a apontada, aguardou, hesitou terrivelmente, pensou que era um acto de caridade, de mise-ricórdia, mas logo outro pensamento contrapôs, lembrando-lhe que ia matar alguém, que ia pecar, era talvez a sua reprimida consciência de seminarista a revoltar-se, pensou e hesitou, a hesitação prolongou-se, o alemão agonizante devolveu-lhe o olhar, percebeu tudo, os olhos azuis miravam- no aterrorizados, viam o abismo, viam o fim. Afonso suspirou e baixou a pistola. Não era capaz.
“Vamos embora”, disse pesadamente, regressando à trincheira de comunicação.
O grupo avançou pelas linhas abandonadas pelo inimigo e chegou à Mitzi Trench.
Mais abrigos desertos foram inspeccionados, todos revelando condições de habitabilidade infinitamente superiores às existentes do lado aliado. Afonso chamou os sapadores-mineiros da terceira companhia, igualmente envolvidos na operação, e os abrigos foram arrasados. Pouco depois, um very light verde iluminou o céu à direita. Era o sinal de 364
retirada dado pelo comandante da operação, o capitão Ribeiro de Carvalho. Os homens regressaram à primeira linha alemã e Afonso voltou ao telefone do sinaleiro.
“Aqui pelotão do centro”, anunciou. “António. Repito. António.
Tratava-se da palavra de código a informar que ia retirar. Devolveu o telefone ao sinaleiro e deu ordem de retirada. O grupo meteu pela brecha aberta no arame farpado, atravessou a terra de ninguém e regressou a Copse Trench, o ponto de Ferme du Bois donde tinham partido duas horas antes.
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