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"Três minutos e dez segundos para a explosão", murmurou Tomás, aterrado. "Você consegue desarmar a bomba?" Rebecca abanou maquinalmente a cabeça. "Em três minutos? Isso não é possível!"
Levaram ambos as mãos à boca, sentindo-se impotentes para resolver o problema.
"Isto é uma bomba?", perguntou o polícia, de repente muito alarmado. "E melhor mandar evacuar esta zona!"
"Esta bomba é nuclear", observou Rebecca. "Já não vale a pena evacuar nada. É demasiado tarde para isso."
Tomás encarou-a.
"Oiça, Rebecca. Tem de haver uma maneira."
"E impossível, Tom! Teríamos de abrir a bomba e desactivar o propulsor da bala de urânio enriquecido.
Isso não se faz em... em..."
Olhou de novo para o relógio.
08:53
"... em menos de três minutos! É absolutamente impossível!" Recusando-se a desistir, Tomás pegou na caixa negra com o mostrador do relógio a âmbar e analisou-a. "Isto é um teclado."
"Sim, faz parte do sistema de segurança", disse Rebecca. "O teclado serve para introduzir um código que activa a bomba."
A informação acendeu-lhe uma luz de esperança.
"Isso significa que deve também haver um código que a desactiva..."
"E provável", admitiu ela. "O problema é que não sabemos que código é esse."
Tomás voltou a cabeça para o corpo do homem da bata branca, que permanecia estendido na rua.
"Mas sabem eles", disse. Levantou o olhar para o polícia que os acompanhava. "Algum dos tipos da ambulância sobreviveu?"
"O paciente", indicou o homem do NYPD, afastando--se para deixar ver Ahmed. "Foi atingido nos pulmões, mas safa-se."
Tomás arrastou-se para junto do seu antigo aluno.
"Ahmed! Ahmed!"
O árabe tinha os olhos fechados, mas abriu-os ao ouvir alguém chamar o seu nome, coisa que não esperava. Olhou Tomás com surpresa, como se visse e não acreditasse.
"Professor!", exclamou em português. "O que está o senhor a fazer aqui?"
"É uma longa história", disse Tomás, esforçando-se por sorrir. "Tu estás bem?"
Ahmed suspirou com dificuldade.
"Estou pronto para entrar no Paraíso", murmurou.
"Deus é grande e misericordioso e vai acolher-me no Seu belo jardim."
Ouvindo-o falar assim, Tomás percebeu que não ia ser fácil convencê-lo a revelar o código de desactivação.
"Ouve, Ahmed", disse com suavidade. "Es livre de ir para o jardim de Alá se quiseres e quando quiseres. Mas, sabes, eu não estou com muita pressa e gostava de continuar a viver por mais algum tempo."
"Compreendo", assentiu o homem da Al-Qaeda, manifestamente com dificuldade em falar devido à ferida nos pulmões. "Se o senhor morrer agora irá para o Inferno, uma vez que é um infiel." Tossiu.
"Mas há uma solução."
"Diz."
"Converta-se ao islão agora", sugeriu. "Recite a sbahada, aceitando Alá como o único Deus e Maomé como o Seu Profeta. Tornar-se-á imediatamente muçulmano e morrerá como um sbabid. Deus, na Sua misericórdia infinita, acolhê--lo-á no Paraíso das virgens."
Estas palavras soaram a Tomás como uma sentença de morte; era evidente que Ahmed não iria falar.
Mesmo assim, não desistiu. Apontou para o relógio cujos dígitos brilhavam na sombra, a dois metros de distância, saltitando na contagem decrescente.
"Estás a ver aquilo?"
Ahmed voltou a cabeça para lá.
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"Falta um minuto e meio para Alá me receber no Paraíso", murmurou o árabe. "Deus é grande!"
"Quando a bomba explodir irá morrer muita gente, Ahmed. Mulheres, crianças, velhos. Não podes deixar que isso aconteça. Por favor, dá-me o código para desactivar a bomba."
"Se as vítimas forem muçulmanas serão todas shahid e irão para o Paraíso das virgens e dos rios de vinho sem álcool. Se forem infiéis, irão conhecer as chamas do Inferno. O senhor professor ainda tem tempo de se converter."
Tomás respirou fundo.
"Ouve, Ahmed, como sabemos nós que esta é mesmo a vontade de Deus? Porque não damos a Deus a hipótese de escolher?"
"Não percebo", murmurou o árabe, uma expressão interrogativa nos olhos. "Escolher o quê? Escolher como? Como se pode pôr Deus a escolher?"
"Dá-me uma pista para o código", sugeriu o historiador. "Se eu conseguir chegar à chave que pára a contagem decrescente, é porque Deus quis que a bomba não detonasse. Por outro lado, se eu não conseguir, é porque Deus quis que ela rebentasse. O
que achas da ideia? Não me digas que tens medo de entregar a Deus a decisão..."
Ahmed voltou a espreitar o relógio.
Um minuto para a explosão. O que tinha ele a perder?
"Está bem", assentiu. "Deus, na Sua infinita sabedoria,
decidirá. A pista é esta: Thy mania by /." 0
Tomás fez uma careta. "O
quê?"
"Thy mania by I. E essa a pista para o código."
"Isso é Shakespeare ou quê?"
O homem da Al-Qaeda lançou um derradeiro olhar na direcção do relógio e sorriu.
"Tem um minuto, senhor professor", disse, cerrando os olhos. "Que se cumpra a vontade de Alá e se solte a fúria divina!"
Percebendo que do seu antigo aluno não arrancaria mais nada, Tomás arrastou-se para junto do relógio e digitou Thy mania by I no teclado. Depois fixou os olhos no mostrador a âmbar.
00:5 í
nn çn uu.Ou
Os algarismos prosseguiram a sua marcha inexorável.
"Então?", perguntou Rebecca, afogada em ansiedade.
"Conseguiu parar o..."
"Chiu!", ordenou Tomás.
O historiador fez um esforço para se concentrar na charada.
Tby mania by I.
Parecia inglês antigo e queria dizer literalmente a tua mania por eu. Ou por mim. Shakespeare era uma possibilidade, mas, se fosse de facto uma referência a um qualquer verso do grande poeta inglês, estava tudo perdido. Não havia tempo para localizar a referência e o verso, e muito menos para extrair daí a palavra ou a frase que travasse a detonação da bomba.
Sem conseguir controlar o nervosismo, lançou uma espreitadela para o mostrador do relógio.
.•45
Duas gotas de suor percorreram a testa de Tomás.
A verdade, a triste verdade, é que já não havia tempo para nada. A única esperança que via era tratar-se de um anagrama. Se fosse outra coisa, estava realmente tudo perdido. Seria um anagrama?
Mesmo que fosse, o tempo esgotava-se sem misericórdia.
■33
Deixem cá ver, pensou, escrevinhando a charada num pedaço de cartão que arrancou de uma caixa pousada na viatura.
Tby mania by I.
Um espasmo de dor no ombro fê-lo gemer. Era como se uma agulha ali espetada remexesse na ferida latejante, mas respirou fundo, controlou o sofrimento e, embora a custo, voltou a concentrar-se.
Se fosse um anagrama, raciocinou, teria de manter estas letras mas alterar a sua ordem, de modo a encontrar uma outra frase ou palavra que usasse as mesmas letras. A haver tal palavra, considerou, provavelmente seria uma qualquer referência islâmica. Teria de ser uma palavra com dois y, dois a, um í, um m...