CAPÍTULO 24
PASSANDO A TOCHA
George Campbell, meu chofer sem língua, acabara de estacionar a limusine, de maneira delicada e gentil, à entrada lateral da Stratton Oakmont, onde ele literalmente me fez pular do assento ao quebrar seu autoimposto voto de silêncio e perguntar: “O que vai acontecer agora, sr. Belfort?”.
Ora, ora!, pensei. Já não era sem tempo de o velho diabo ceder e dizer algumas palavras para mim! E, apesar de sua pergunta ter parecido um tanto vaga, ele fora diretamente ao ponto. Afinal, em pouco mais de sete horas, às 16 horas, eu estaria diante da sala de corretagem fazendo um discurso de despedida para um exército de strattonitas extremamente preocupados, todos os quais, incluindo George, estariam questionando o que o futuro lhes havia reservado, financeiramente e tudo o mais.
Não tinha dúvidas de que em breve haveria muitas perguntas queimando na mente dos strattonitas. Perguntas como: O que aconteceria agora que Danny estava comandando o show? Ainda teriam suas mesas daqui a seis meses? E, caso tivessem, seriam tratados com justiça? Ou ele favoreceria seus velhos amigos e alguns corretores com quem tomava Ludes? E qual o destino que aguardava os corretores que foram mais amigos de Kenny do que de Danny? Seriam punidos por aquela amizade? Ou, se não fossem punidos, seriam tratados como cidadãos de segunda classe? Era possível que a Disneylândia dos Corretores sobrevivesse? Ou a Stratton lentamente se transformaria numa firma de corretagem comum, nem melhor nem pior do que outros lugares?
Preferi não compartilhar nenhum desses pensamentos com George, e apenas falei: “Você não tem com o que se preocupar, George. O que quer que aconteça, você sempre ficará bem. Janet e eu pegaremos um escritório perto daqui, e há milhares de coisas que Nadine e eu precisamos que você faça.” Sorri amplamente e disse, tentando empolgá-lo: “Pense bem, um dia você estará conduzindo Nadine e eu para o casamento de Chandler. Pode imaginar isso?”.
George concordou com a cabeça, soltou um sorriso largo, revelando sua dentição perfeita, e respondeu humildemente: “Gosto muito do meu trabalho, sr. Belfort. O senhor é o melhor patrão que eu jamais tive. A sra. Belfort também. Todo mundo ama os senhores. É triste que o senhor tenha de sair daqui. Não será a mesma coisa. Danny não é como o senhor. Ele não trata bem as pessoas. As pessoas irão embora”.
Fiquei desconcertado demais com a primeira metade da sentença de George para prestar atenção na segunda. Teria ele realmente dito que gostava do seu trabalho? E que me amava? Bem, certamente, toda essa coisa de amor era uma figura de linguagem, mas não havia como negar que George acabara de dizer que amava seu trabalho e me respeitava como chefe. Parecia irônico, depois de tudo por que eu o fizera passar: as putas... as drogas... os passeios à meia-noite pelo Central Park com strippers... as mochilas cheias de dinheiro que eu pedira para ele buscar com Elliot Lavigne.
Sim, por outro lado, eu nunca o desrespeitara, certo? Mesmo nos momentos mais sombrios e decadentes, eu sempre me esforçara para ser respeitoso com George. Apesar de ser verdade que eu tinha algumas opiniões bizarras sobre ele, nunca as compartilhei com nenhuma alma viva, com exceção, é lógico, da Duquesa, que era minha esposa, o que a tornava isenta. E mesmo nesse caso era apenas para brincar. Eu não era preconceituoso. Na verdade, nenhum judeu de bom senso poderia sê-lo. Nós éramos o povo mais perseguido da Terra.
De repente, senti-me mal por ter alguma vez questionado a lealdade de George. Ele era um bom homem. Um homem decente. Quem era eu para interpretar mil e uma coisas de tudo que ele dizia ou, nesse caso, não dizia?
Com um sorriso caloroso, falei: “George, a verdade é que ninguém pode prever o futuro, pelo menos não eu. Quem pode dizer o que acontecerá à Stratton Oakmont? Acho que apenas o tempo. De qualquer forma, lembro-me de quando veio trabalhar para mim e você costumava tentar abrir a porta da limusine para mim. Você circundava o carro e tentava chegar mais rápido.” Soltei uma risadinha ao lembrar disso. “Isso costumava deixá-lo louco. Mas a razão por eu nunca ter permitido que abrisse a porta para mim era porque eu o respeitava demais para apenas me sentar no banco traseiro da limusine e fingir que tinha um braço quebrado ou algo assim. Sempre achei que fosse um insulto para você.”
Então completei: “Mas, já que hoje é meu último dia, por que você não abre a porta para mim, apenas uma vez, e faz de conta que é uma porra de um motorista de limusine? Finja que está trabalhando para um WASP gorducho. Você pode me acompanhar até a sala de corretagem. Na verdade, pode até participar da reunião matutina de Danny. Ele deve estar fazendo-a agora”.
“... E O ESTUDO analisou mais de dez mil homens”, disse Danny pelo alto-falante, “acompanhando seus hábitos sexuais por mais de cinco anos. Acho que ficarão totalmente surpresos quando eu lhes contar algumas das descobertas.” Ao dizer isso, comprimiu os lábios, acenou com a cabeça e começou a se mover para frente e para trás, como se dissesse: “Preparem-se para ouvir a verdadeira natureza depravada do macho”.
Puta merda!, pensei. Nem saí ainda e ele já está ficando louco! Virei-me para George e fiquei um tempo avaliando sua reação, mas ele não parecia tão chocado. Sua cabeça estava jogada para o lado com um olhar que dizia algo como: “Estou ansioso para ver o que tudo isso tem a ver com ações!”.
“Vejam”, continuou Danny, trajando um terno cinza risca de giz e réplicas de óculos WASP, “o estudo descobriu que 10% de toda a população masculina é composta de verdadeiros viados.” E fez uma pausa para deixar todo o significado de suas palavras ser absorvido.
Lá vem mais um processo judicial! Corri o olhar pela sala... e vi um monte de olhares confusos, como se todos estivessem tentando compreender o que ele estava dizendo. Havia alguns poucos risos abafados, mas nenhuma gargalhada escancarada.
Aparentemente, Danny não estava satisfeito com a reação da plateia, ou a falta dela, então repetiu com gosto: “Vou falar novamente”, continuou o homem que a Comissão considerava o menor dos dois demônios, “o estudo descobriu que 10% da população masculina leva no rabo! Sim, 10% é queima-rosca! É um número enorme! Enorme! Todos esses homens recebendo no cu! Chupando rola! E...”.
Danny foi forçado a desistir de seu desvario quando a sala de corretagem estourou num pandemônio. Os strattonitas começaram a assoviar, uivar, bater palmas e gritar. Metade da sala estava agora de pé; muitos batiam palmas. Mas, lá na frente, na seção onde se concentravam as assistentes de vendas, ninguém estava de pé. Só conseguia ver suas madeixas loiras em ângulos agudos, enquanto as jovens fêmeas se inclinavam em suas cadeiras e cochichavam nos ouvidos das outras, balançando a cabeça com surpresa.
Foi então que George falou, confuso: “Não entendo. O que isso tem a ver com o mercado de ações? Por que ele tá falando sobre gays?”.
Dei de ombros e respondi: “É complicado, George, mas a única razão é estar tentando criar um inimigo comum, mais ou menos como Hitler fez nos anos 1930”. E é apenas por uma feliz coincidência, pensei, que ele não está difamando os negros neste momento. Esse mesmo pensamento me fez completar: “De qualquer forma, você não tem de ficar escutando esta merda. Por que não volta no final do dia, por volta das 16h30. Tudo bem?”.
George concordou e se afastou, mais nervoso do que nunca, pensei.
Observando essa baderna matutina, não pude evitar pensar por que Danny sempre resumia suas reuniões a sexo. Obviamente, ele estava procurando causar algumas risadas fáceis, mas havia outras formas de se chegar a isso, formas que não interferiam na transmissão da mensagem verdadeira. A mensagem, nesse caso, era que, apesar de tudo, a Stratton Oakmont era uma firma de corretagem legítima tentando ganhar dinheiro para seus clientes – e a única razão de não estar ganhando dinheiro para seus clientes devia-se a uma conspiração diabólica de vendedores a descoberto, que infestavam o mercado como gafanhotos, espalhando boatos cruéis sobre a Stratton Oakmont e qualquer outra firma de corretagem honesta que se colocasse em seu caminho. E, lógico, embutido nessa mensagem estava o fato de que, um dia, num futuro não muito distante, o valor fundamental de todas essas empresas apareceria com facilidade e as ações voltariam com tudo, erguendo-se como uma fênix entre as cinzas, quando então os clientes da Stratton ganhariam uma fortuna.
Eu explicara a Danny em inúmeras ocasiões que, lá no fundo, todos os seres humanos (exceto um punhado de sociopatas) possuíam um desejo inconsciente de fazer a coisa certa. E por isso uma mensagem subliminar deveria ser embutida em toda reunião... para que, quando sorrissem, discassem e arrancassem os olhos dos clientes, eles estivessem realizando não apenas seus próprios desejos hedonísticos de prosperidade e reconhecimento, mas também seu desejo inconsciente de fazer a coisa certa. Assim, e apenas assim, podia-se motivá-los a atingir metas que nunca sonharam ser capazes de atingir.
Danny estendeu os braços para o lado, e lentamente a sala começou a se acalmar. Ele falou: “Está bem, agora eis a parte realmente interessante, ou, deveria dizer, a parte preocupante. Vejam, se 10% de todos os homens são homossexuais enrustidos e há mil homens sentados nesta sala, isso significa que entre nós há cem bichas, tentando comer nosso rabo toda vez que lhes viramos as costas!”.
De repente, cabeças começaram a se virar com suspeita. Até as pequenas assistentes de vendas loiras estavam vasculhando a sala, com olhares de suspeita saindo de seus globos oculares cheios de maquiagem. Houve um murmúrio baixinho na sala, que não consegui entender bem. Mas a mensagem era clara: “Encontre-os e linche-os!”.
Fiquei observando com grande expectativa enquanto mil pescoços viravam-se para lá e para cá... olhares acusatórios eram jogados pela sala às centenas... braços jovens e fortes estendidos em todas as direções, cada um com um dedo apontado para frente. Então veio um grito aleatório de nomes:
“Teskowitz 5 é uma bicha!”
“O’Reilly é uma porra de um viado! Levante-se, O’Reilly!”
“E Irv e Scott?”, gritaram dois strattonitas em uníssono. “Sim, Scott e Irv! Scott chupa o Irv!”
Mas, depois de um minuto de dedos apontados e algumas acusações nem tão infundadas contra Scott e Irv, ninguém confessou. Então Danny ergueu os braços mais uma vez e pediu silêncio. “Ouçam”, disse, de maneira acusatória, “sei que alguns de vocês são, e há duas maneiras de fazer isso: a fácil e a difícil. Agora, vejam. Todo mundo sabe que Scott chupou Irv, e vocês não viram Scott perdendo o emprego por causa disso, viram?”
De algum ponto da sala de corretagem veio a voz na defensiva de Scott: “Eu não chupei Irv! É uma...”.
Danny cortou-o com uma voz trovejante pelos alto-falantes: “Basta, Scott, basta! Quanto mais você nega, mais culpado parece. Então deixa disso! Apenas sinto pena de sua esposa e de seus filhos, que são envergonhados por alguém como você”. Danny balançou a cabeça com nojo e então deixou Scott de lado. “De qualquer forma”, continuou o novo presidente da Stratton, “este ato desprezível tem mais a ver com poder do que com sexo. E Irv agora nos provou que é um homem verdadeiramente poderoso... fazer um dos corretores juniores chupá-lo. Assim, o ato é isento e Scott está perdoado.
“Agora que lhes mostrei como sou tolerante com esse tipo de comportamento, não há um homem de verdade entre vocês que tenha culhões, e, pelo menos, a mínima decência, caralho, de se levantar e confessar?”
Do nada, um jovem strattonita com um queixo fraco e um bom senso mais fraco ainda levantou-se e falou, com franqueza: “Sou gay e tenho orgulho disso!”. E a sala de corretagem ficou louca. Em questão de segundos, objetos voavam em sua direção como projéteis letais. Então vieram assobios e miados, e depois gritos:
“Seu viado de merda! Caia fora daqui, caralho!”
“Vamos castigar o chupador de rola!”
“Cuidado com o que bebem! Ele vai tentar embebedá-los para estuprá-los!”
Bem, pensei, esta reunião matutina estava oficialmente terminada, fim antecipado por motivos de insanidade. E o que se conseguiu com esta reunião, se é que se ganhou alguma coisa? Não tinha muita certeza, a não ser a representação de um retrato bastante cruel do que esperava a Stratton Oakmont... a partir do dia seguinte.
POR QUE EU deveria ficar surpreso?
Uma hora depois, estava sentado à minha mesa, usando essas seis palavras para me consolar, enquanto escutava Mad Max sendo balístico em relação a Danny e a mim sobre meu acordo de renúncia, que fora invenção de meu contador, Dennis Gaito, apelidado de Chef em razão de seu amor por cozinhar livros contábeis. Em resumo, o acordo dizia que a Stratton deveria me pagar 1 milhão de dólares por mês pelos próximos 15 anos, sendo a maior parte disso sob os termos de um acordo de não competição, o que significava que eu concordava em não competir com a Stratton no negócio de corretagem.
Todavia, apesar de o acordo levantar algumas suspeitas, não era na verdade ilegal (na embalagem), e eu conseguira intimidar os advogados para aprová-lo, em que pese saberem que, mesmo que o acordo fosse legal, ele não passaria pelo teste de faro.
Nesse momento, havia uma quarta pessoa sentada em minha sala: Cabana, que até o momento não havia falado muito. Mas isso não era nenhuma surpresa. Afinal de contas, Cabana passara a maior parte de sua juventude jantando em minha casa, portanto conhecia muito bem a capacidade de Mad Max.
Mad Max estava dizendo: “... e vocês dois, debiloides, vão prender suas tetas no arame farpado por causa disso. Uma renúncia de 180 milhões de dólares? É como mijar bem no rosto da Comissão. Porra! Caralho! Quando vocês vão aprender?”.
Dei de ombros. “Acalme-se, papai. Não é tão ruim quanto parece. É um remédio mais amargo que estou sendo forçado a engolir, e os 180 milhões servem como lubrificantes.”
Com uma alegria um tanto exagerada, Danny completou: “Max, você e eu iremos trabalhar juntos por um bom tempo, então por que não engolimos isso como experiência, hein? Afinal, é seu próprio filho quem está recebendo o dinheiro! Qual o problema disso?”.
Mad Max virou-se em seu salto e encarou Danny. Deu uma bela tragada em seu cigarro e enrugou os lábios formando um O minúsculo. Com uma exalada poderosa, formou um pequeno raio-laser de meio centímetro de diâmetro com a fumaça e o projetou sobre o rosto sorridente de Danny com a força de um canhão da Guerra Civil. Então, com Danny ainda coberto por sua nuvem de fumaça, falou: “Deixe-me dizer-lhe algo, Porush. Só porque meu filho está indo embora amanhã, isso não significa que irei demonstrar-lhe qualquer respeito recém-descoberto. Respeito tem de ser conquistado, e, se a reunião de hoje de manhã for algum indicativo, talvez eu deva ir para o setor de RH neste exato momento. Sabe quantas leis você desrespeitou com aquele discurso imbecil? Estou apenas esperando uma ligação daquele babaca obeso, Dominic Barbara. É para ele que aquele frutinha vai telefonar reclamando dessa merda”.
Então ele se virou para mim e falou: “E por que você formulou este acordo de renúncia como de não competição? Como pode competir se já está impedido?”. Deu mais uma tragada no cigarro. “Foi você e aquele filho da mãe do Gaito que bolaram esse esquema tosco. É uma bosta de um disfarce, e me recuso a tomar parte nisso.” Com isso, Mad Max dirigiu-se para a porta.
“Duas coisas, papai, antes que se vá”, falei, erguendo a mão.
Com um berro: “O quê?”.
“Primeiro, todos os advogados da firma aprovaram o acordo. E a única razão para ser de 180 milhões é porque a não competição precisa ter um prazo de 15 anos para que não percamos a isenção de impostos. A Stratton irá me pagar 1 milhão de dólares por mês, e 15 anos a 1 milhão de dólares por mês dá 180 milhões de dólares.”
“Poupe-me dessa matemática rasteira”, disparou. “Não estou impressionado. E, quanto ao código tributário, eu o conheço bem, assim como a indiferença grosseira sua e de Gaito para com ele. Então não tente me impressionar, Homenzinho. Mais alguma coisa?”
Completei casualmente: “Precisamos jantar mais cedo hoje à noite, às seis. Nadine quer levar Chandler para que você e mamãe possam vê-la”. Cruzei os dedos e aguardei que o nome Chandler fizesse sua magia sobre Mad Max, cujo rosto começou imediatamente a se abrandar com a menção do nome da única neta.
Com um sorriso largo e um sotaque levemente britânico, Sir Max falou: “Ahhh, que surpresa incrível! Sua mãe ficará muito feliz por ver Chandler! Bem, está certo, então! Vou ligar para Mamãe e dar-lhe a boa notícia!”. Sir Max saiu do escritório com um sorriso no rosto e um passo saltitante.
Olhei para Danny e Cabana e dei de ombros. “Há certas palavras-chave que o acalmam, e Chandler é a mais certeira de todas. De qualquer forma, vocês precisam aprendê-las se não quiserem que ele tenha um ataque do coração bem aqui no meio do escritório.”
“Seu pai é um bom homem”, disse Danny, “e nada mudará para ele por aqui. Eu o vejo como meu próprio pai, e ele pode dizer ou fazer o que quiser até que esteja pronto para se aposentar.”
Sorri, apreciando a lealdade de Danny.
“Mas, mais importante que seu pai”, continuou, “já estou tendo problemas com a Duke Securities. Apesar de Victor estar no negócio há apenas três dias, ele já começou a espalhar boatos de que a Stratton está em decadência e que a Duke é a nova sensação. Ainda não tentou roubar nenhum corretor, mas isso virá em seguida, tenho certeza. Esse gorducho é muito preguiçoso para ir atrás de seus próprios corretores.”
Olhei para Cabana. “O que tem a dizer sobre tudo isso?”
“Não acho que Victor seja uma ameaça tão grande”, respondeu Cabana. “A Duke é pequena; ela não tem nada para oferecer a ninguém. Não tem nenhum negócio próprio ou qualquer capital, para início de conversa, e não tem um histórico. Acho que Victor tem uma boca grande demais para controlar.”
Sorri para Cabana, que acabara de confirmar o que eu já sabia... que ele não era um conselheiro de guerra e que seria de pouca serventia para Danny em assuntos como esse. Falei, num tom amigável: “Você está enganado, amigo. Você entendeu tudo ao contrário. Veja, se Victor é esperto, perceberá que tem tudo para oferecer a seus novos recrutas. Seu maior poder é, de fato, seu tamanho... ou falta de tamanho, melhor dizendo. A verdade é que, na Stratton, é difícil ser a azeitona da empada; há muitas pessoas no caminho. Assim, a não ser que se conheça alguém na administração, pode-se ser o cara mais esperto do mundo e ainda assim será impedido de subir, ou pelo menos subir rapidamente.
“Mas, na Duke, isso não existe. Qualquer cara astuto pode entrar lá e fazer as coisas como bem entender. Essa é a verdade. É uma das vantagens que uma empresa pequena tem em relação a uma empresa grande, e não apenas neste mercado, mas em qualquer ramo. Por outro lado, temos a estabilidade ao nosso lado e temos um histórico. As pessoas não temem não receber seus salários no dia certo e sabem que sempre há novas emissões de ações. Victor tentará minimizar esses fatores, e é por isso que está espalhando esse tipo de boatos.” Dei de ombros. “De qualquer forma, vou comentar isso na reunião de hoje à tarde, e é algo que você, Danny, precisa começar a reforçar durante suas reuniões, se puder deixar de lado toda essa merda de difamação de gays. Haverá uma baita guerra de propaganda... apesar de que daqui a três meses tudo acabará, e Victor estará lambendo suas feridas.” Sorri com confiança. “Então, que mais?”
“Algumas firmas menores estão atirando contra a gente”, disse Cabana, em seu tom melancólico. “Tentando roubar algumas negociações, um corretor aqui e ali. Tenho certeza de que passará.”
“Passará apenas se você fizer isso passar”, bradei. “Espalhe um boato de que iremos processar qualquer cisão da Stratton que tente roubar corretores. Nossa nova política será olho por olho.” Olhei para Danny e falei: “Alguém mais recebeu uma intimação da justiça?”.
Danny negou com a cabeça. “Não que eu saiba, pelo menos nenhum corretor nosso. Por enquanto, somos apenas eu, você e Kenny. Não acho que alguém nesta sala saiba que há uma investigação.”
“Bem”, falei, perdendo cada vez mais a confiança, “há ainda uma boa chance de toda essa coisa ser um tiro n’água. Devo ficar sabendo de algo em breve. Estou apenas aguardando Bo.”
Após alguns instantes de silêncio, Cabana falou: “A propósito, Madden assinou o contrato de caução e me devolveu a cautela, assim podemos parar de nos preocupar quanto a isso”.
Danny disse: “Eu te falei que a cabeça de Steve está no lugar certo”.
Resisti contra a vontade de contar a Danny que, ultimamente, Steve estivera difamando-o a níveis sem precedentes, dizendo que Danny era incapaz de comandar a Stratton e que eu deveria me focar mais em ajudá-lo, Steve, a construir a Sapatos Steve Madden, que estava mostrando um potencial maior do que nunca. As vendas estavam aumentando 50% ao mês – ao mês! – e ainda estavam se acelerando. Mas, do ponto de vista operacional, Steve estava completamente maluco, com a produção e a distribuição muito atrás das vendas. Em consequência, a empresa começava a ganhar má reputação com as lojas de departamento por entregar os sapatos com atraso. Encorajado por Steve, estava seriamente considerando a ideia de transferir meu escritório para Woodside, Queens, onde ficava a filial da Sapatos Steve Madden. Lá, dividiria um escritório com Steve e ele daria atenção ao lado criativo enquanto eu cuidaria do negócio.
Mas apenas falei: “Não estou dizendo que a cabeça de Steve esteja no lugar errado. Mas, agora que temos as ações, isso o forçará muito mais a fazer a coisa certa. O dinheiro faz com que as pessoas cometam coisas estranhas, Danny. Apenas tenha paciência; você descobrirá em breve”.
Às 13 horas, liguei para Janet a fim de animá-la. Nos últimos dias, ela parecia muito chateada. Hoje, parecia prestes a chorar.
“Ouça”, falei, num tom que um pai usaria com sua filha, “há muitos motivos para você ficar feliz aqui, querida. Não estou dizendo que não há por que ficar chateada, mas tem de ver isso como um novo começo, não um fim. Ainda somos jovens. Talvez tenhamos de tomar cuidado por alguns meses, mas depois voltará a ficar a todo vapor.” Sorri calorosamente. “De qualquer forma, a partir de hoje trabalharemos em casa, o que é perfeito, porque te considero parte de minha família.”
Janet começou a engolir as lágrimas. “Eu sei. É que... é que eu estou aqui desde o começo, e vi você construir isso do nada. Era como assistir a um milagre. Foi a primeira vez que me senti...” – amada?, pensei – “não sei. Quando você caminhava comigo... como um pai... eu...”, e então Janet desmoronou, chorando histericamente.
Ah, caramba!, pensei. O que eu fizera de errado? Meu objetivo fora consolá-la, e agora ela estava chorando. Precisava telefonar para a Duquesa! Ela era especialista nesse tipo de coisa. Talvez pudesse vir correndo para cá e levar Janet para casa, apesar de que isso levaria muito tempo.
Não tendo escolha, fui até Janet e abracei-a com delicadeza. Com grande ternura, falei: “Não há nada de errado em chorar, mas não se esqueça de que há muita coisa para fazermos. Com certeza, a Stratton vai quebrar, Janet; é apenas questão de tempo; mas, já que estamos saindo agora, sempre seremos lembrados como um sucesso”. Sorri e disse num tom mais animador: “De qualquer forma, Nadine e eu vamos jantar hoje com meus pais, e vamos levar Chandler. Quero que venha também, certo?”.
Janet sorriu – sorriu com a ideia de ver Chandler – e não pude evitar pensar o que isso significava sobre o estado em que nossas próprias vidas estavam, quando apenas a pureza e a inocência de um bebê podia nos trazer paz.
EU JÁ ESTAVA fazendo meu discurso de despedida havia 15 minutos quando me dei conta que estava fazendo a minha própria oração funerária. Mas, pelo lado bom, eu também tinha a oportunidade única de testemunhar as reações de todos que foram ao meu enterro.
E veja-os sentados lá, prestando atenção a tudo que digo! Tantas expressões extasiadas... tantos olhos ansiosos... tantos torsos bem formados inclinando-se para a frente em seus assentos. Veja todos aqueles olhares adoráveis das assistentes de vendas com suas sedutoras madeixas loiras, seus decotes deliciosamente grandes e, lógico, seus quadris incrivelmente redondos. Talvez eu devesse estar plantando sugestões subliminares em suas mentes... que cada uma delas deveria arder com o desejo insaciável de me chupar e engolir cada gota de minha masculinidade pelo resto de suas vidas.
Puta merda, eu era um pervertido do caralho! Mesmo agora, no meio do meu discurso de despedida, minha mente estava vagando furiosamente. Meus lábios estavam movendo-se para cima e para baixo, agradecendo aos strattonitas por cinco anos de lealdade e admiração incondicionais, mas ainda estava me perguntando se devia ou não ter comido mais assistentes de vendas. O que isso dizia sobre mim? Isso me tornava fraco? Ou seria apenas natural querer comer todas elas? Afinal de contas, qual o sentido de ter o poder se não o usasse para transar? Na verdade, eu não explorara esse aspecto do poder tanto quanto poderia, ou pelo menos não tanto quanto Danny explorara! Será que me arrependeria disso algum dia? Ou será que tivera a atitude correta? A atitude madura! A atitude responsável!
Todos esses pensamentos bizarros rugiam em minha cabeça com a ferocidade de um tornado F-5, enquanto palavras de sabedoria barata jorravam de minha boca em torrentes, sem o menor sinal de esforço consciente. E então notei que minha mente não estava de fato pensando em duas coisas (o que sempre fazia), mas estava pensando em três coisas, o que era bizarro demais.
O terceiro pensamento era um monólogo interno, questionando o aspecto decadente do segundo pensamento, que estava focando nos prós e contras de ser chupado pelas assistentes de vendas. Enquanto isso, o primeiro pensamento zunia ininterruptamente, e minhas palavras para os strattonitas pulavam dos meus lábios como minúsculas pérolas de livros de autoajuda, e as palavras vinham de... onde? Talvez da parte do cérebro que trabalha independentemente da consciência... ou talvez as palavras estivessem fluindo da força do hábito. Afinal, quantas reuniões eu fizera nos últimos cinco anos? Duas por dia por cinco anos... Com 300 dias úteis por ano, dava 1.500 dias úteis, vezes duas reuniões por dia, 3 mil reuniões, menos algumas reuniões que Danny conduzira, provavelmente 10% do total, subtraído do bruto de 3 mil reuniões, e o número 2.700 surgia do nada em minha mente, mas as minúsculas pérolas de almanaque continuavam a jorrar de meus lábios enquanto eu fazia a matemática.
... e quando voltei para o momento, estava explicando como o banco de investimento Stratton Oakmont sobreviveria com certeza – sobreviveria com certeza! – porque era maior que qualquer pessoa ou qualquer coisa. E então senti necessidade de roubar uma fala de Franklyn Delano Roosevelt – que, apesar de ter sido um democrata, ainda parecia um cara bastante razoável... mas fui recentemente informado que sua esposa era sapatão – e comecei a contar para os strattonitas que não havia nada para temer além do próprio medo.
Foi nesse instante que me senti obrigado a enfatizar como Danny era mais do que capaz de comandar a firma, principalmente assessorado por alguém tão astuto como Cabana. Mas, ah, ainda vi milhares de olhos se revirando e um número igual de cabeças balançando, sérias.
Então, senti ser necessário cruzar a linha do bom senso. “Ouçam, todos. O fato de eu estar sendo barrado do mercado de valores não me impede de aconselhar Danny. É verdade! Não apenas é legal dar conselhos a Danny, mas também posso aconselhar Andy Greene, Steve Sanders, os proprietários da Biltmore e da Monroe Parker e qualquer um nesta sala de corretagem que esteja interessado em ouvir. E, apenas para que saibam, Danny e eu temos uma tradição de tomar café e almoçar juntos, e é uma tradição que não temos intenção de terminar só por causa desse acordo ridículo que fui forçado a fazer com a Comissão... um acordo que fiz apenas porque sabia que garantiria a sobrevivência da Stratton pelos próximos cem anos!”
E com isso veio um aplauso estrondoso. Corri os olhos pela sala. Ahhh, que adoração! Tanto amor pelo Lobo de Wall Street! Até que troquei olhares com Mad Max, que parecia estar fumegando pelas orelhas. Por que ele estava tão preocupado? Todo mundo estava engolindo essa merda! Por que ele não podia apenas participar da alegria? Resisti ao desejo de chegar à conclusão óbvia de que meu pai estava reagindo de maneira diferente porque era a única pessoa na sala de corretagem que dava a mínima para mim e que estava, de alguma forma, preocupado ao ver seu filho pular de um precipício legal.
Pelo bem de Mad Max, completei: “Agora, é lógico, serão apenas conselhos, o que, pela própria definição da palavra, significa que minhas sugestões não têm de ser seguidas!”. Ao que Danny gritou da lateral da sala: “Sim, isso é verdade, mas por que diabos alguém, em sã consciência, não seguiria o conselho de JB?”.
Novamente aplausos entrondosos! Espalhou-se pela sala de corretagem como o vírus ebola, e logo a sala inteira estava de pé, dando ao Lobo ferido a terceira ovação da tarde. Ergui a mão pedindo silêncio e tive a agradável visão de Carrie Chodosh, uma das poucas corretoras da Stratton, que também, por acaso, era uma das minhas favoritas.
Carrie tinha 30 e poucos anos, o que na Stratton a tornava uma antiguidade virtual. Contudo, ainda era linda. Fora uma das primeiras corretoras da Stratton... vindo até mim quando estava quebrada, com as calças na mão. Na época, estava com o aluguel três meses atrasado, e sua Mercedes estava sendo perseguida por um cobrador. Vejam, Carrie era mais uma numa longa linhagem de mulheres bonitas que cometeram o terrível engano de se casarem com o homem errado. Após um casamento de dez anos, seu ex-marido recusava-se a pagar um centavo de pensão alimentícia.
Era uma transição perfeita, pensei: falar sobre a Duke Securities para depois sugerir a possibilidade de uma investigação do FBI. Sim, melhor comentar sobre o FBI agora, quase prever uma investigação, como se o Lobo tivesse adivinhado que isso aconteceria e se preparado para se defender do ataque.
Mais uma vez ergui a mão pedindo silêncio. “Ouçam, todos, não vou mentir para vocês aqui. Entrar em acordo com a Comissão foi uma das decisões mais duras que tive de tomar. Mas sabia que a Stratton permaneceria, não importando o que acontecesse. Vejam, o que torna a Stratton tão especial, o que a torna tão impossível de ser parada, é que aqui não é apenas um lugar onde as pessoas vêm trabalhar. E não é apenas um negócio em busca de lucros. A Stratton é uma ideia! E pela própria natureza de ser uma ideia não pode ser contida, nem pode ser reprimida por uma investigação de dois anos nas mãos de um bando de reguladores palhaços, que ficaram congelados em nossa sala de reuniões e não se importaram em gastar milhões de dólares dos contribuintes para embarcar na maior caça a bruxas desde Salem!
“A ideia da Stratton é que não importa em que família se nasceu, ou a que escolas se foi, ou se foi ou não votado como o mais propenso ao sucesso na formatura da escola. A ideia da Stratton é que, quando se vem aqui e se pisa na sala de corretagem pela primeira vez, começa-se uma nova vida. No mesmo momento em que se atravessa a porta e jura-se lealdade à firma, torna-se parte da família e torna-se um strattonita.”
Respirei fundo e apontei na direção de Carrie. “Ora, todos aqui conhecem Carrie Chodosh, certo?”
A sala de corretagem respondeu com assovios, gritos e uivos.
Ergui a mão e sorri. “Está bem, isso foi bem legal. Caso algum de vocês não saiba, Carrie foi uma das primeiras corretoras da Stratton, uma das oito primeiras. E, quando pensamos em Carrie, pensamos em como ela está hoje: uma mulher bonita que dirige uma Mercedes novíssima; que vive no melhor condomínio de Long Island; que veste conjuntos Chanel de 3 mil dólares e vestidos Dolce e Gabanna de 6 mil dólares; que passa seus invernos nas Bahamas e seus verões nos Hamptons; conhece-se ela como alguém que tem uma conta bancária com só Deus sabe quanto dinheiro”, provavelmente nada, se eu tivesse de adivinhar, já que ali era a Stratton, “e, lógico, todos conhecem Carrie como uma das executivas mais bem pagas de Long Island, a caminho de ganhar mais de 1,5 milhão de dólares este ano!”
Então contei a eles sobre como era a vida de Carrie quando viera à Stratton e, na hora certa, Carrie respondeu alto e empolgada: “Sempre te amarei, Jordan!”, quando então a sala de corretagem ficou maluca novamente, e eu recebi minha quarta ovação.
Baixei a cabeça em agradecimento, então, depois de uns 30 segundos, pedi silêncio. Quando os últimos strattonitas retomaram seus assentos, falei: “Entendam que Carrie estava contra a parede; ela tinha uma criança pequena para cuidar e uma montanha de contas caindo sobre ela. Não podia falhar! Seu filho, Scott, que por acaso é um garoto incrível, logo estará estudando numa das melhores faculdades do país. E, graças à sua mãe, não terá de se formar devendo algumas centenas de milhares de dólares em empréstimos acadêmicos e ser forçado a...”. Ah, merda! Carrie estava chorando! Eu fizera isso novamente! A segunda vez em um dia que eu levava uma mulher às lágrimas! Onde estaria a Duquesa?
Carrie estava chorando com tanta força que três assistentes de vendas a cercaram. Precisava concluir rapidamente e finalizar meu discurso de despedida antes que alguém mais começasse a chorar. “Está bem”, falei. “Todos amamos Carrie e não queremos vê-la chorando.”
Carrie ergueu a mão e disse, entre soluços: “Estou.. estou bem. Sinto muito”.
“Está certo”, respondi, tentando imaginar qual seria a resposta mais adequada a uma strattonita chorosa durante um discurso de despedida. Será que existia tal protocolo? “O que eu estava tentando dizer era que se acham que a oportunidade de avanço rápido não existe mais... que, por a Stratton ser tão grande e tão bem administrada, o seu caminho para o topo é de alguma forma bloqueado, bem, na história da Stratton nunca houve a hora exata para alguém subir na cadeia e ir direto para o topo. E isso, meus amigos, é um fato!
“A verdade é que, agora que estou indo embora, há um grande vazio que Danny precisa preencher. E de onde ele irá preenchê-lo? Do lado de fora? De algum lugar em Wall Street? Não, lógico que não! A Stratton promove internamente. Sempre foi assim! Desse modo, quer você tenha acabado de entrar, ou esteja aqui já há alguns meses e acabou de passar pela Série Sete, ou esteja aqui há um ano e acabou de ganhar seu primeiro milhão, hoje é seu dia de sorte. Conforme a Stratton continuar a crescer, haverá outros obstáculos regulatórios. E, assim como a Comissão, vamos atravessá-los também. Quem sabe? Talvez da próxima vez seja a Associação Nacional de Corretores de Valores... ou os governos estaduais... ou talvez até a Procuradoria-Geral dos Estados Unidos. Mas quem sabe com certeza? Afinal, quase toda grande firma de Wall Street passa por isso uma vez. Mas tudo de que precisam saber é que, no final, a Stratton irá aguentar e que da adversidade vêm as oportunidades. Talvez da próxima vez será Danny aqui, e ele estará passando a tocha para algum de vocês.”
Fiz uma pausa para deixar minhas palavras serem absorvidas, e então comecei minha conclusão. “Então, boa sorte, pessoal, e sucesso. Peço a vocês apenas um favor: que sigam Danny da forma que me seguiram. Jurem lealdade a ele como fizeram a mim. A partir de agora, Danny está no comando. Boa sorte, Danny, e que Deus o abençoe! Sei que você levará as coisas a um novo nível!” E com isso ergui o microfone para o ar em saudação a Danny e recebi a melhor ovação de uma vida inteira.
Depois que a multidão se acalmou, fui presenteado com um cartão de despedida. Tinha 0,90 por 1,80 metro, e, em um lado, com grandes letras quadradas vermelhas, Para o Melhor Chefe do Mundo! Em cada lado havia notas manuscritas – breves cumprimentos de cada um de meus strattonitas – agradecendo-me por mudar suas vidas tão drasticamente.
Mais tarde, depois que fui para minha sala e fechei a porta pela última vez, não pude evitar pensar se eles ainda estariam me agradecendo daqui a cinco anos.