CAPÍTULO 38
MARCIANOS DO TERCEIRO REICH
O lugar parecia bastante normal, à primeira vista.
O Centro de Recuperação Talbot Marsh fica numa área de meia dúzia de acres, totalmente ajardinada, em Atlanta, Geórgia. Foi uma viagem do aeroporto, na limusine, de apenas dez minutos, e eu passara todos esses 600 segundos planejando minha fuga. Na verdade, antes de descer do avião, dei aos pilotos uma ordem para não decolarem sob nenhuma circunstância. Era eu, afinal de contas, não a Duquesa, explicara, quem estava pagando a conta. Além do mais, havia uma graninha extra para eles caso ficassem por um tempo. Eles me garantiram que ficariam.
Assim, quando a limusine embicou na entrada da clínica, vasculhei o terreno com os olhos de um prisioneiro. Enquanto isso, Brad-pançudo e Mike Problema de Glândulas estavam à minha frente e, como eles haviam dito, não se via um muro de cimento, uma barra de metal, uma torre de vigia nem uma cerca de arame farpado.
A propriedade brilhava com o sol da Geórgia, com todas aquelas flores roxas e amarelas, roseiras aparadas e carvalhos e olmos enormes. Era bem diferente dos corredores infestados por urina do Centro Médico Delray. Contudo, algo parecia fora do lugar. Talvez porque o lugar fosse muito bonito? Havia mesmo tanto dinheiro em clínicas de reabilitação de drogas?
Havia uma área circular de desembarque em frente ao prédio. Quando a limusine se aproximou, Brad-pançudo levou a mão ao bolso e puxou três notas de 20. “Pegue isso”, disse. “Sei que você está sem dinheiro no bolso, portanto considere isto um presente. É quanto custa um táxi até o aeroporto. Não quero que precise pegar carona. Nunca se sabe o tipo de maníaco viciado em drogas com quem se irá deparar.”
“Do que está falando?”, perguntei, inocentemente.
“Eu o vi sussurrando no ouvido do piloto”, falou Brad-pançudo. “Faço isso há muito tempo, e se há uma coisa que aprendi é que, se alguém não está pronto para ficar sóbrio, não existe nada que eu possa fazer para forçá-lo. Não vou insultar você com a analogia de conduzir um cavalo até a água e todo esse lixo. Mas, de qualquer forma, imaginei que lhe devia 60 pratas por me fazer rir tanto no caminho para cá.” Ele balançou a cabeça. “Você é realmente uma figura.”
Fez uma pausa, como se estivesse procurando as palavras certas. “De qualquer forma, tenho de dizer que esta foi uma das intervenções mais bizarras do mundo. Ontem estava na Califórnia, sentado numa convenção chatíssima, quando recebi uma ligação frenética do sempre atrasado Dennis Maynard, que me fala de uma modelo deslumbrante que tem um marido zilionário prestes a se matar. Acredite ou não, hesitei de início, em razão da distância, mas então a Duquesa de Bay Ridge pegou o telefone e não aceitaria um não como resposta. Em seguida, estávamos num jatinho particular. E então encontramos você, que era a maior viagem de todas.” Ele deu de ombros. “Tudo que posso dizer é que desejo muita sorte para você e sua esposa. Espero que fiquem juntos. Seria um grande final para a história.”
Problema de Glândulas concordou com a cabeça. “Você é um bom homem, Jordan. Nunca se esqueça disso. Mesmo que saia pela porta da frente daqui a dez minutos e vá direto para uma caverna de crack, isso ainda não muda quem você é. Essa é uma doença do caralho; ela é esperta e destrói a gente. Eu fugi de três clínicas antes de fazer a coisa certa. Minha família acabou me encontrando debaixo de uma ponte; eu estava vivendo como um mendigo. E o mais doente de tudo é que, depois que eles finalmente me levaram para uma clínica, escapei novamente e voltei para a ponte. É assim que essa doença funciona.”
Suspirei longamente. “Não vou mentir para vocês. Mesmo durante o nosso voo para cá hoje, quando eu estava contando todas aquelas histórias hilárias e todos ríamos incontroladamente, ainda estava pensando em drogas. Ardia no fundo da minha mente como uma porra de um ferro de moldar. Já estou pensando em telefonar para o meu traficante de Quaaludes assim que sair daqui. Talvez eu consiga viver sem cocaína, mas não sem Ludes. Eles são uma parte importante da minha vida agora.”
“Sei exatamente como se sente”, falou Brad-pançudo, concordando com a cabeça. “Na verdade, ainda me sinto assim em relação à coca. Não passa um dia sem que eu sinta vontade de usar. Mas consegui ficar sóbrio por mais de 13 anos. E sabe o que faço?”
Sorri. “Sim, gordinho do inferno... um dia por vez, certo?”
“Ah”, disse Brad-pançudo, “você está aprendendo! Ainda há esperança para você.”
“Sim”, murmurei, “que a cura comece.”
Saímos do carro e andamos por um curto caminho de concreto que dava na entrada principal. Dentro, o lugar era bem diferente do que eu imaginara. Era deslumbrante. Parecia um clube masculino de charuto, com carpete bem felpudo, rico e avermelhado, muito mogno e nogueira nodosa, além de sofás, cadeiras e poltronas que pareciam confortáveis. Havia uma estante enorme cheia de livros que pareciam antigos. Em frente a ela ficava uma poltrona de couro vermelho-escuro com um encosto bem alto. Parecia incrivelmente confortável, então fui direto para ela e me deixei cair.
Ahhhhhhh... quanto tempo fazia que eu não me sentava numa cadeira confortável sem que cocaína e Quaaludes estivessem borbulhando dentro do meu cérebro? Eu não sentia mais dores nas costas, ou nas pernas, ou nos quadris, ou qualquer outra dor. Nada me incomodava, nada de encheção de saco. Respirei fundo e soltei o ar... Era uma respirada boa, sóbria, parte de um momento bom, sóbrio. Quanto tempo fazia? Quase nove anos que eu não ficava sóbrio. Nove anos, caralho, de total insanidade! Puta merda... que vida!
E eu estava morrendo de fome! Precisava desesperadamente comer algo. Qualquer coisa menos Froot Loops.
Brad-pançudo andou até mim e perguntou: “Você está bem?”.
“Estou morrendo de fome”, respondi. “Pagaria 100 mil dólares por um Big Mac já.”
“Vou ver o que posso fazer”, falou. “Mike e eu precisamos preencher alguns formulários. Então vamos levá-lo para dentro e conseguiremos algo para você comer.” Ele sorriu e saiu.
Respirei fundo novamente, com a diferença de que, dessa vez, durou uns dez segundos. Estava olhando para o centro da estante de livros quando finalmente soltei o ar... e, naquele mesmo instante, estava livre da compulsão. Estava satisfeito. Nada mais de drogas. Eu sabia. Tinha usado o suficiente. Não sentia mais o desejo. Tinha passado. O motivo, eu nunca saberia. Tudo que eu sabia era que nunca tocaria nelas novamente. Algo havia dado um clique em meu cérebro. Algum tipo de interruptor fora apertado, e era tudo que eu sabia.
Ergui-me da cadeira e andei até o canto da sala de espera, onde Brad-pançudo e Mike Problema de Glândulas estavam preenchendo a papelada. Levei a mão ao bolso e puxei as 60 pratas. “Pegue isso”, falei para Brad-pançudo, “pode levar a grana. Vou ficar.”
Ele sorriu e aquiesceu, com consciência. “Que bom, meu amigo.”
Pouco antes de saírem, disse-lhes: “Não se esqueçam de telefonar para a Duquesa de Bay Ridge e peçam a ela para entrar em contato com os pilotos. Caso contrário, eles ficarão aguardando lá por semanas”.
“Bem, um brinde para a Duquesa de Bay Ridge!”, falou Brad-pançudo, fazendo um falso brinde.
“Para a Duquesa de Bay Ridge!”, todos dissemos em uníssono.
Então nos abraçamos... e fizemos promessas de manter contato. Mas eu sabia que isso nunca aconteceria. Eles cumpriram sua função, e era hora de passarem para o próximo caso. E era hora de eu ficar sóbrio.
FOI NA MANHÃ seguinte que um novo tipo de insanidade começou: insanidade sóbria. Acordei por volta das 9 horas, sentindo-me positivamente alegre. Nenhum sintoma de recaída, nada de ressaca e nada de compulsão para usar drogas. Eu não estava na verdadeira reabilitação ainda; isso começaria amanhã. Ainda estava na unidade de desintoxicação. Enquanto me dirigia à lanchonete para tomar café, a única coisa que me incomodava era que ainda não conseguira entrar em contato com a Duquesa, que parecia ter sumido do mapa. Eu telefonara para casa em Old Brookville e falara com Gwynne, que me dissera que Nadine sumira. Ela aparecera uma única vez, para falar com as crianças, e nem sequer mencionara meu nome. Assim, concluí que meu casamento tinha acabado.
Depois do café da manhã, estava retornando para meu quarto quando um cara musculoso, com uma careca feroz e aparência de paranoia intensa, acenou para mim. Encontramo-nos perto dos telefones públicos. “Oi”, falei, estendendo a mão. “Meu nome é Jordan. Como está?”
Ele apertou minha mão com cuidado. “Shhh!”, disse, olhando ao redor. “Siga-me.”
Segui-o até a lanchonete, onde nos sentamos a uma mesa quadrada de refeitório, longe dos ouvidos de outros seres humanos. A essa hora da manhã, havia apenas um punhado de pessoas na lanchonete, e a maioria era de funcionários, trajando aventais brancos. Eu considerara meu novo amigo um lunático completo. Ele estava vestido como eu: jeans e camiseta.
“Meu nome é Anthony”, falou, estendendo a mão para mais um cumprimento. “Você é o cara que veio de jatinho particular ontem?”
Ah, droga! Eu queria permanecer anônimo de vez em quando, não aparecer como um dedão inchado. “Sim, fui eu”, respondi, “mas gostaria que não comentasse sobre isso. Quero me enturmar, está bem?”
“O seu segredo está seguro comigo”, murmurou, “mas desejo-lhe sorte ao tentar manter qualquer coisa em segredo neste lugar.”
Isso soou um tanto estranho, meio Orwell, na verdade. “É mesmo?”, perguntei. “Por quê?”
Ele olhou ao redor novamente. “Porque este lugar é como a porra de Auschwitz”, sussurrou. Então piscou para mim.
Nesse instante, percebi que o cara não era totalmente louco, talvez um pouco doido apenas. “Por que é como Auschwitz?”, perguntei, sorrindo.
Ele encolheu os ombros musculosos. “Porque é uma puta tortura aqui, parece um campo de concentração nazista. Vê aqueles funcionários ali?” Apontou com a cabeça. “Eles são a SS. Depois que o trem o deixa aqui, nunca mais se sai. E há trabalho escravo também.”
“Que merda você está falando? Pensei que fosse apenas um programa de quatro semanas.”
Ele comprimiu os lábios, formando uma linha fina, e balançou a cabeça. “Talvez para você, mas não para o resto de nós. Imagino que não seja médico, certo?”
“Não, sou banqueiro... apesar de estar um tanto aposentado agora.”
“É mesmo?”, perguntou. “Como você se aposentou? Parece uma criança.”
Sorri. “Não sou uma criança. Mas por que me perguntou se sou médico?”
“Porque quase todo mundo aqui é médico ou enfermeira. Eu, por exemplo, sou quiroprático. Há apenas um punhado de pessoas como você. Todos os outros estão aqui porque perderam a licença para praticar medicina. Assim, os funcionários têm total domínio sobre a gente. A não ser que digam que está curado, não se recebe a licença de volta. É um baita pesadelo. Algumas pessoas estão aqui há mais de um ano, e ainda estão tentando pegar a licença de volta!” Balançou a cabeça, sério. “É uma puta insanidade. Todo mundo fica delatando os outros, tentando ganhar pontos com os funcionários. Doentio pra caralho mesmo. Você não tem ideia. Os pacientes zanzam como robôs, cuspindo lixo da AA, fingindo que estão reabilitados.”
Concordei com a cabeça, compreendendo a situação. Um acordo maluco como esse, em que os funcionários tinham todo esse poder, era uma receita para o abuso. Graças a Deus, eu estava acima disso. “Como são as pacientes mulheres? Alguma gostosa?”
“Só uma”, respondeu. “Um arraso. Nota 12 numa escala de 1 a 10.”
Isso me excitou! “Ah, e como ela é?”
“É uma loirinha, mais ou menos 1,67 metro, corpo incrível, rosto perfeito, cabelo cacheado. Realmente bonita. Uma bunda linda.”
Sacudi a cabeça, fazendo uma anotação mental para ficar longe dela. Ela cheirava a problema. “E quem é esse tal Doug Talbot? Os funcionários falam dele como se ele fosse uma porra de um deus. Como ele é?”
“Como ele é?”, murmurou meu amigo paranoico. “Ele é como o puto do Adolf Hitler. Ou, na verdade, como o dr. Josef Mengele. Ele é um cara convencido pra caralho, e tem poder total sobre nós, com exceção de você e talvez mais dois. Mas você ainda precisa ter cuidado, porque ele tentará usar sua família contra você. Eles entrarão na cabeça da sua esposa e dirão que, a não ser que fique aqui por seis meses, você irá ter uma recaída e colocará fogo nos seus filhos.”
NAQUELA NOITE, POR volta das 19 horas, liguei para Old Brookville procurando a Duquesa, mas ela ainda estava sumida. Contudo, consegui falar com Gwynne; contei a ela que havia conhecido meu terapeuta e que fora subdiagnosticado (sei lá o que isso significa) como um consumista compulsivo e também viciado em sexo, o que era basicamente verdade e que, pensei, não era problema dele. De qualquer forma, o terapeuta me informara que eu seria mantido sob restrição de dinheiro e masturbação – sendo-me permitido apenas dinheiro suficiente para usar em máquinas de bebidas e comida e masturbação uma vez a cada duas semanas. Imaginei que esta última restrição era reforçada pelo sistema de honra.
Pedi a Gwynne que enfiasse alguns milhares de dólares dentro de meias enroladas e então as enviasse pela UPS. Tinha esperança de que passariam pela Gestapo, falei-lhe, mas, de qualquer forma, era o mínimo que ela podia fazer, especialmente após nove anos sendo uma das minhas principais facilitadoras. Preferi não compartilhar minha restrição de masturbação com Gwynne, contudo tinha uma leve suspeita de que isso seria um problema até maior do que a restrição de dinheiro. Afinal de contas, eu estava sóbrio havia quatro dias e já tinha ereções espontâneas sempre que o vento soprava.
O mais triste de tudo foi que, antes de terminar a ligação com Gwynne, Channy veio até o telefone e falou: “Você está em Atlântida porque empurrou mamãe na escada?”.
Respondi: “Este é um dos motivos, docinho. Papai estava muito doente e não sabia o que estava fazendo”.
“Se você ainda está doente, posso dar um beijo para afastar o bicho-papão de novo?”.
“Espero que sim”, respondi, com tristeza. “Talvez você possa dar um beijo para afastar tanto o bicho-papão da mamãe como o do papai.” Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
“Vou tentar”, falou ela, com a maior seriedade.
Mordi o lábio, afastando o choro escancarado. “Sei que irá, querida. Sei que irá.” Então disse a ela que a amava e desliguei o telefone. Antes de ir para a cama naquela noite, fiquei de joelhos e fiz uma oração para que Channy conseguisse afastar com beijos nossos bichos-papões. Assim tudo ficaria bem novamente.
ACORDEI NA MANHÃ seguinte pronto para conhecer a reencarnação de Adolf Hitler... ou seria dr. Josef Mengele? De qualquer forma, a clínica toda – pacientes e funcionários – estava se juntando essa manhã no auditório para uma reunião regular de grupo. Era um espaço vasto sem separações. Havia 120 cadeiras num círculo enorme, e à frente da sala havia uma pequena plataforma com um púlpito, onde o orador do dia contaria sua história de desgraça por vício de drogas.
Estava sentado como qualquer paciente num grande círculo de médicos e enfermeiras viciados em drogas (ou marcianos, do Planeta Talbot Marte, conforme eu os nomeara). Nesse momento, todos os olhos estavam sobre o orador convidado de hoje: uma mulher de aparência desolada, com 40 e poucos anos, que tinha um quadril do tamanho do Alasca e um problema sério de acne, do tipo que se encontra normalmente em doentes mentais que passaram a maior parte da vida sob o efeito de drogas psicotrópicas.
“Oi”, falou ela, com uma voz tímida. “Meu nome é Susan, e eu sou... errr... uma alcoólatra e viciada em drogas.”
Todos os marcianos na sala, incluindo eu, responderam em seguida, dizendo: “Oi, Susan!”, ao que ela corou e abaixou a cabeça, derrotada... ou seria uma vitória? De qualquer forma, não havia dúvidas de que ela era uma propagadora de baboseiras de primeira linha.
Agora havia silêncio. Aparentemente, Susan não era bem uma oradora pública, ou talvez o cérebro dela tenha entrado em curto-circuito em razão de todas as drogas que consumira. Enquanto Susan juntava as ideias, fiquei um tempo analisando Doug Talbot. Ele estava sentado na frente da sala com cinco funcionários em cada lado. Tinha cabelo curto bem branco e parecia estar na casa dos 60 anos. Sua pele era branca e pastosa, e ele tinha o tipo de queixo quadrado e expressão amarga que em geral se associa a um carcereiro maldoso, o tipo que olha no olho um condenado à espera da sentença de morte antes de apertar o botão da cadeira elétrica e diz: “Estou fazendo isso para o seu próprio bem!”.
Finalmente, Susan continuou. “Eu... estou... err... sóbria... há quase 18 meses e não poderia ter feito isso sem a ajuda e inspiração de... err... Doug Talbot.” Ela se virou para Doug Talbot e fez uma reverência com a cabeça, quando então a sala toda ergueu-se e começou a bater palmas; a sala inteira com exceção de mim. Eu estava chocado demais com a imagem coletiva de mais de cem marcianos puxa-sacos tentando conseguir suas licenças de volta.
Doug Talbot acenou com a mão para os marcianos e então balançou a cabeça, como se dissesse: “Oh, por favor, vocês estão me deixando envergonhado! Faço este trabalho apenas pelo amor à humanidade!”. Mas eu não tinha dúvidas de que essa alegre infantaria de funcionários observava com cuidado quem não estava aplaudindo alto o suficiente.
Enquanto Susan continuava a papagaiar, comecei a girar a cabeça pela sala... procurando a loira cacheada com o rosto deslumbrante e o corpo de matar, e a encontrei sentada bem à minha frente, no lado oposto do círculo. Ela era deslumbrante mesmo. Tinha feições delicadas, angelicais... não as feições esculpidas de modelo da Duquesa, mas eram bonitas de qualquer forma.
De repente, os marcianos ficaram de pé novamente, e Susan fez uma reverência envergonhada. Então andou pesadamente até Doug Talbot, inclinou-se e deu-lhe um abraço. Mas não era um abraço caloroso; ela manteve seu corpo longe do dele. Era da forma que os poucos pacientes do dr. Mengele que sobreviveram devem tê-lo abraçado, em reuniões de atrocidade e eventos afins... uma espécie de versão extrema da síndrome de Estocolmo, em que reféns acabavam respeitando seus sequestradores.
Agora, um funcionário começava a declamar um pouco da sua papagaiada. Dessa vez, quando os marcianos se levantavam, eu me levantava também. Todos pegavam as mãos dos outros, e eu pegava também.
Em uníssono, fazíamos reverências com a cabeça e cantávamos o mantra do AA: “Deus, dê-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença”.
Agora todos começaram a aplaudir, e aplaudi também... só que dessa vez eu estava aplaudindo com sinceridade. Afinal de contas, apesar de ser um cínico filho da puta, não havia como negar que o AA era uma coisa incrível, uma salvação para milhões de pessoas.
Havia uma longa mesa retangular no fundo da sala com alguns bules de café, bolachinhas e bolos. Quando me aproximei, escutei uma voz desconhecida berrando: “Jordan! Jordan Belfort!”.
Virei-me e – Puta merda! – era Doug Talbot. Estava andando na minha direção, com um sorriso enorme em seu rosto pastoso. Ele era alto, por volta de 1,85 metro, apesar de não parecer estar em boa forma. Trajava uma jaqueta esporte azul que parecia cara e calça de tweed cinza. Ele acenava para que eu fosse até ele.
Naquele instante, podia sentir centenas de pares de olhos fingindo não olhar para mim... não, na verdade eram 115 pares de olhos, porque os funcionários estavam fingindo também.
Ele estendeu a mão. “Então finalmente nos conhecemos”, disse, acenando com a cabeça. “É um prazer. Bem-vindo a Talbot Marsh. Sinto como se você e eu nos conhecêssemos há muito tempo. Brad contou-me tudo sobre você. Mal posso esperar para ouvir as histórias. Tenho algumas para contar também... nenhuma tão boa quanto as suas, tenho certeza.”
Sorri e apertei a mão do meu novo amigo. “Ouvi falar muito de você também”, respondi, lutando contra o desejo de me utilizar de ironia.
Ele colocou o braço em meu ombro. “Venha”, falou calorosamente, “vamos para o meu escritório por um tempo. Eu o libero hoje à tarde. Você será transferido lá para cima, para um apartamento. Vou levá-lo de carro até lá.”
E naquele mesmo instante fiquei sabendo que a clínica estava com um problema sério. Seu proprietário – o inalcançável, primeiro e único Doug Talbot – era meu novo melhor amigo, e todos os pacientes e funcionários sabiam disso também. O Lobo estava pronto para mostrar suas garras... mesmo na clínica.
DOUG TALBOT ACABOU se mostrando um cara bastante decente, e passamos um bom tempo contando histórias de guerra. Na verdade, como eu logo descobriria, praticamente todos os viciados em recuperação compartilham um desejo mórbido de jogar “Você Consegue Ultrapassar a Insanidade do Meu Vício?”. Obviamente, não demorou muito para Doug perceber que tinha sido seriamente sobrepujado e, quando cheguei à parte em que abri minha mobília com uma faca de açougueiro, ele já havia escutado o suficiente.
Por isso, mudou de assunto e começou a contar que estava em meio a um processo de levar sua empresa a público. Então ele me entregou alguns documentos, para ilustrar que negócio incrível estava fazendo. Estudei-os obedientemente, apesar de achar difícil prestar atenção. Aparentemente algo se desligara em meu cérebro a respeito de Wall Street, e não consegui ter aquela empolgação de sempre enquanto olhava a papelada.
Depois entramos em sua Mercedes preta e ele me levou até meu apartamento, que era no final da rua da clínica. Na verdade, não fazia parte de Talbot Marsh, mas Doug tinha um acordo firmado com a empresa administradora do complexo, e mais ou menos um terço das 50 unidades semianexadas era ocupado pelos pacientes de Talbot. Outro centro lucrativo, concluí.
Quando eu estava saindo da Mercedes, Doug falou: “Se houver algo que possa fazer por você, e se algum dos funcionários ou pacientes não estiver tratando-o bem, apenas me diga que eu cuido disso”.
Agradeci, imaginando que havia 99% de chances de eu ir conversar com ele sobre este assunto antes de as quatro semanas terminarem. Então me dirigi para a cova do leão.
Havia seis apartamentos separados em cada prédio da vila, e a minha unidade ficava no segundo andar. Subi um pequeno lance de escada e encontrei a porta da minha unidade escancarada. Meus dois companheiros de quarto estavam lá dentro, sentados a uma mesa de jantar circular feita de alguma madeira clara que parecia bem barata. Eles estavam escrevendo furiosamente em cadernos espiralados.
“Oi, meu nome é Jordan”, falei. “Prazer em conhecê-los.”
Antes mesmo de se apresentarem, um deles, um loiro alto, com pouco mais de 40 anos, perguntou: “O que Doug Talbot queria?”.
Então o outro, que era realmente muito bonito, completou: “É, como você conhece Doug Talbot?”.
Sorri para eles e respondi: “Sim, bem, é um prazer conhecê-los também”. Então passei por eles sem dizer mais nada, fui para o quarto e fechei a porta. Havia três camas lá dentro, sendo que uma delas estava desarrumada. Joguei minha mala ao lado e sentei-me no colchão. Na outra ponta do quarto havia uma tevê simples sobre um rack de madeira barata. Liguei a tevê e coloquei no noticiário.
Um minuto depois, meus companheiros de quarto estavam sobre mim. O loiro falou: “Assistir a tevê durante o dia não é considerado adequado”.
“Isso alimenta sua doença”, disse o bonito. “Não é considerada boa ideia.”
Boa ideia? Porra! Se eles soubessem ao menos como minha cabeça era demente! “Bem, agradeço a preocupação de vocês com a minha doença”, disparei, “mas não assisto a tevê há quase uma semana, portanto, se vocês não se importarem, por que não ficam longe de mim e se preocupam com a doença de vocês, caralho? Se eu quiser ter ideias ruins, é isso que irei fazer.”
“Que tipo de médico você é, hein?”, perguntou o loiro, de maneira acusadora.
“Não sou médico, e qual é a daquele telefone ali?” Apontei para um telefone preto Trimline sobre uma mesa de madeira. Sobre ele havia uma janela retangular que precisava desesperadamente de limpeza. “É permitido usá-lo ou isso seria considerado ideia ruim também?”
“Não, pode usar, sim”, respondeu o bonito, “mas é apenas para chamadas a cobrar.”
Aquiesci. “Qual sua especialidade médica?”
“Costumava ser oftalmologista, mas perdi minha licença.”
“E você?”, perguntei ao loiro, que era um verdadeiro membro da juventude hitlerista. “Perdeu sua licença também?”
Ele fez que sim com a cabeça. “Sou dentista e mereci perder minha licença.” Seu tom era totalmente robótico. “Sofro de uma doença terrível e preciso ser curado. Graças à equipe de Talbot Marsh, tive grandes avanços em minha recuperação. Assim que disserem que estou curado, tentarei recuperar minha licença.”
Balancei a cabeça como se houvesse acabado de ouvir algo que desafiava a lógica, então peguei o telefone e comecei a ligar para Old Brookville. O dentista disse: “Falar por mais de cinco minutos é considerado inadequado. Não é bom para sua recuperação”.
O médico dos olhos completou: “Os funcionários irão repreendê-lo por isso.”
“É mesmo?”, perguntei. “Como eles vão descobrir?”
Ambos ergueram as sobrancelhas e deram de ombros inocentemente.
Ofereci-lhes um sorriso sem graça. “Bem, com licença, porque preciso fazer alguns telefonemas. Devo terminar em mais ou menos uma hora.”
O loiro sacudiu a cabeça, olhando para o relógio. Então os dois voltaram para a sala de jantar e mergulharam em suas recuperações.
Um instante depois, Gwynne atendeu o telefone. Cumprimentamo-nos calorosamente, e ela sussurrou: “Enviei para o senhor mil dólares nas suas meias. Tu recebeu?”.
“Ainda não”, respondi. “Talvez chegue amanhã. Mais importante, Gwynne, não quero envolvê-la mais nessa história com Nadine. Sei que ela está em casa e que não atenderá telefone, e não me importo. Nem conte a ela que telefonei. Apenas atenda o telefone todo dia de manhã e chame as crianças para mim. Vou ligar por volta das 8 horas, tudo bem?”
“Certo”, disse Gwynne. “Espero que o senhor e a sra. Belfort ajeitem as coisas. Tudo tem estado muito quieto por aqui. E muito triste.”
“Espero que sim também, Gwynne. Espero mesmo que sim.” Conversamos por mais alguns minutos até que me despedi.
Naquela noite, pouco antes das 21 horas, recebi minha primeira dose da insanidade de Talbot Marsh. Havia uma reunião na sala de estar com todos os residentes da vila, onde deveríamos compartilhar qualquer ressentimento que surgira durante o dia. Era chamada de reunião do passo 10, porque tinha algo a ver com o décimo passo dos Alcoólicos Anônimos. Mas quando peguei o livro dos AA e li o décimo passo – que era continuar a fazer o inventário pessoal e, quando estivesse errado, admitir o erro prontamente –, não conseguia imaginar como essa reunião se aplicava a isso.
Seja lá como for, oito de nós estávamos sentados em círculo. O primeiro médico, um careca com cara de nerd, com 40 e poucos anos, falou: “Meu nome é Steve e sou alcoólatra, viciado em drogas e viciado em sexo. Estou sóbrio há 42 dias”.
Os outros seis médicos disseram: “Oi, Steve!”. E disseram com tanto prazer que, se eu não soubesse, teria jurado que haviam acabado de conhecer Steve.
Steve falou: “Tenho apenas um ressentimento hoje, e é em relação a Jordan”.
Isso me acordou! “Em relação a mim?”, exclamei. “Nem troquei duas palavras com você, amigo. Como você poderia estar ressentido comigo?”
Meu dentista favorito disse: “Você não tem o direito de se defender, Jordan. Não é o propósito da reunião”.
“Ora, desculpem-me”, murmurei. “E qual o propósito, então, desta reunião maluca? Porque juro que não consigo descobrir.”
Todos balançaram a cabeça em uníssono, como se eu fosse burro ou algo assim. “O propósito desta reunião”, explicou o dentista nazista, “é que guardar ressentimentos pode interferir em sua recuperação. Assim, todas as noites, nos juntamos e contamos qualquer ressentimento que possa ter surgido durante o dia.”
Olhei para o grupo, e todos haviam baixado o canto da boca e estavam concordando com a cabeça sabiamente.
Balancei a cabeça, contrariado. “Bem, pelo menos posso ouvir por que o bom e velho Steve está ressentido comigo?”
Todos fizeram que sim com a cabeça, e Steve falou: “Tenho ressentimentos em relação a você por causa de seu relacionamento com Doug Talbot. Todos nós estamos aqui há meses, alguns há quase um ano, e nenhum de nós sequer chegou a conversar com ele. Contudo, ele te trouxe para casa de Mercedes”.
Comecei a rir na cara de Steve. “E é por isso que você está ressentido comigo? Porque ele me trouxe para casa na porra da Mercedes dele?”
Ele concordou e deixou a cabeça cair, derrotado. Alguns segundos depois, a pessoa seguinte no círculo se apresentou, da mesma maneira retardada, e então falou: “Eu também estou ressentido com você, Jordan, por voar para cá num jatinho particular. Nem tenho dinheiro para comer e você fica voando por aí em aviões particulares”.
Corri os olhos pela sala e todos estavam concordando com a cabeça. Perguntei: “Mais alguma razão para estarem magoados comigo?”.
“Sim”, respondeu, “também tenho ressentimentos contra você pela sua relação com Doug Talbot.” Mais cabeças concordando.
Então o próximo médico apresentou-se como alcoólatra, viciado em drogas, viciado em comida, e falou: “Tenho apenas um ressentimento, e também em relação a Jordan”.
“Ora, meu Deus do céu”, murmurei, “que surpresa do caralho! Você poderia me alegrar dizendo por quê?”
Ele comprimiu os lábios. “Pelas mesmas razões deles, e também porque você não precisa seguir as regras daqui em razão de sua relação com Doug Talbot.”
Corri os olhos pela sala e todos estavam concordando com a cabeça.
Um a um, todos os meus sete colegas pacientes compartilharam seus ressentimentos em relação a mim. Quando foi minha vez de falar, disse: “Olá, meu nome é Jordan, e sou alcoólatra, viciado em Quaalude e viciado em cocaína. Sou também viciado em Xanax, Valium, morfina, Klonopin, GHB, maconha, Percocet, mescalina e quase tudo o mais, incluindo putas caríssimas, putas com preços medianos e uma prostituta de rua ocasional, mas apenas quando tenho vontade de me punir. Às vezes, recebo uma massagem à tarde numa daquelas pocilgas coreanas e mando uma jovem garota coreana bater uma punheta para mim com óleo de bebê. Sempre ofereço algumas notas de cem a mais se enfiarem a língua no meu cu, mas é uma incógnita, em razão da barreira da língua. De qualquer forma, nunca uso camisinha, por questão de princípio. Estou sóbrio há cinco dias inteirinhos, e fico andando por aí com uma ereção constante. Sinto muita falta de minha esposa e, se quiserem realmente ter ressentimento de mim, vou lhes mostrar uma foto dela”. Dei de ombros. “De qualquer forma, tenho ressentimento de cada um de vocês por serem fracotes e por tentarem jogar as frustrações de suas vidas sobre mim. Se querem realmente se focar em suas próprias recuperações, parem de olhar para o lado e comecem a olhar para dentro de si, porque são verdadeiras vergonhas para a humanidade. E, a propósito, estão certos sobre uma coisa... sou amigo de Doug Talbot, portanto desejo a vocês muita sorte quando tentarem me delatar para os funcionários amanhã.” Com isso, saí do círculo e disse: “Com licença, preciso fazer alguns telefonemas”.
Meu dentista favorito falou: “Ainda precisamos discutir as suas tarefas. Cada pessoa na unidade tem de limpar uma área. Colocaremos você nos banheiros esta semana”.
“Acho que não”, resmunguei. “A partir de amanhã, haverá uma faxineira nessa espelunca. Podem falar com ela quanto a isso.” Entrei no quarto, bati a porta e telefonei para Alan Lipsky a fim de contar-lhe sobre essa insanidade dos marcianos de Talbot. Rimos por uns bons 15 minutos e então começamos a conversar sobre os bons tempos.
Antes de desligar, perguntei se ouvira alguma coisa da Duquesa. Ele disse que não, e desliguei o telefone mais triste por causa disso. Fazia quase uma semana, e as coisas pareciam estranhas com ela. Liguei a tevê e tentei fechar os olhos, mas, como sempre, dormir não foi fácil. Finalmente, por volta da meia-noite, caí no sono... com mais um dia de sobriedade na conta e uma ereção furiosa dentro da cueca.
NA MANHÃ SEGUINTE, às 8 horas em ponto, telefonei para Old Brookville.
O telefone foi atendido no primeiro toque.
“Alô?”, perguntou a Duquesa com delicadeza.
“Nae? É você?”
Com simpatia: “Sim, sou eu”.
“Como você está?”
“Estou bem. Aguentando firme, acredito.”
Respirei fundo e soltei o ar lentamente. “Eu... eu telefonei para dizer oi para as crianças. Elas estão aí?”
“Qual o problema?”, perguntou com tristeza. “Não quer falar comigo?”
“Não, lógico que quero conversar com você! Não há nada no mundo que eu queira mais do que falar com você. Apenas achei que você não queria falar comigo.”
Com gentileza: “Não, isso não é verdade. Eu quero muito falar com você. Bem ou mal, você ainda é meu marido. Acredito que esta seja a parte mais difícil, certo?”
Senti lágrimas juntando-se em meus olhos, mas lutei para afastá-las. “Não sei o que dizer, Nae. Eu... sinto muito pelo que aconteceu... eu... eu...”
“Não faça isso”, disse ela. “Não se desculpe. Eu entendo o que aconteceu e te perdoo. Esta é a parte fácil, perdão. Esquecer é outra história.” Ela fez uma pausa. “Mas eu te perdoo, sim. E quero continuar. Quero tentar fazer esse casamento funcionar. Ainda te amo, apesar de tudo.”
“Eu te amo também”, falei, entre lágrimas. “Mais do que você imagina, Nae. Eu... eu não sei o que dizer. Não sei como isso aconteceu. Eu... eu não consegui dormir por meses e...”, respirei fundo, “... não sabia o que estava fazendo. Está tudo borrado em minha mente.”
“A culpa é tanto minha quanto sua”, falou, com gentileza. “Eu via você se matando e apenas fiquei lá, sem fazer nada. Pensei que estava te ajudando, mas estava na verdade fazendo o oposto. Eu não sabia.”
“Não é sua culpa, Nae, é minha. É que tudo aconteceu tão lentamente, ao longo de tantos anos, que não vi como aconteceu. Antes que eu me desse conta, estava fora de controle. Sempre me considerei uma pessoa forte, mas as drogas eram mais fortes.”
“As crianças estão com saudade. Eu também. Eu queria falar com você há dias, mas Dennis Maynard disse-me que eu devia esperar até que você estivesse totalmente desintoxicado.”
Aquele idiota do caralho! Vou arrebentar aquele cuzão! Respirei fundo, tentando me acalmar. O que eu menos precisava era perder a linha com a Duquesa no telefone. Eu precisava provar para ela que ainda era um homem racional, que as drogas não haviam me modificado para sempre. “Sabe”, falei com calma, “foi muito bom você ter mandado aqueles dois médicos até o hospital”, recusava-me a usar as palavras unidade psiquiátrica, “porque odiei Dennis Maynard, mais do que você pode imaginar. Quase não vim à clínica por causa dele. Havia algo nele que me pegou da maneira errada. Acho que ele tinha uma queda por você.” Fiquei aguardando ela me chamar de louco.
Ela deu uma risadinha. “É engraçado você dizer isso, porque Laurie pensou a mesma coisa.”
“É mesmo?”, perguntei, com vontade de matar alguém. “Achei que eu estava apenas sendo paranoico!”
“Não sei”, disse a Duquesa sedutora. “De início, eu estava muito abalada para notar isso, mas, quando ele me convidou para ir ao cinema, achei que era um pouco além da conta.”
“Você foi?” O método mais apropriado para matá-lo, pensei, seria fazer com que perdesse sangue através de castração.
“Não! Lógico que não fui! Foi inapropriado da parte dele convidar. De qualquer forma, ele foi embora no dia seguinte e nunca mais ouvi falar dele.”
“Por que você não foi me ver no hospital, Nae? Senti tanto sua falta. Pensei em você o tempo todo.”
Houve um silêncio longo, mas fiquei aguardando. Precisava de uma resposta. Ainda estava tentando entender por que essa mulher, minha esposa – que obviamente me amava –, não tinha vindo me visitar depois de uma tentativa de suicídio. Não fazia sentido.
Após uns dez segundos, ela respondeu: “De início, estava assustada pelo que aconteceu na escada. É difícil explicar, mas você parecia outra pessoa naquele dia, possuído ou algo assim. Não sei. E então Dennis Maynard falou-me que eu não deveria vê-lo até que fosse para a clínica. Não sabia se ele estava certo ou errado. Não é como se eu tivesse um manual para seguir nessa situação, e ele supostamente era o especialista. De qualquer forma, o que importa é que você foi para a clínica, certo?”.
Queria dizer que não, mas não era hora de começar uma discussão. Tinha o resto da vida para discutir com ela. “Sim, bem, estou aqui, e isso é o mais importante.”
“Como estão as recaídas?”, perguntou, mudando de assunto.
“Na verdade, não tive nenhuma recaída, ou pelo menos nenhuma que eu sentisse. Acredite ou não, assim que cheguei aqui perdi o desejo de usar drogas. É difícil explicar, mas estava sentado na sala de espera e, de repente, a compulsão se desvaneceu. De qualquer forma, este lugar é meio maluco, para dizer o mínimo. O que irá me manter sóbrio não é Talbot Marsh; sou eu.”
Muito nervosa agora: “Mas você ainda vai ficar aí 28 dias, certo?”.
Sorri com gentileza. “Sim, pode relaxar, querida. Vou ficar. Preciso de um tempo afastado de toda a loucura. De qualquer forma, a parte dos AA é realmente boa. Li o livro e é incrível. Irei a reuniões quando chegar em casa, apenas para garantir que eu não tenha recaídas.”
Passamos os 30 minutos seguintes falando pelo telefone, e no final da conversa eu tinha minha Duquesa de volta. Sabia disso. Podia sentir em meus ossos. Contei-lhe todas as minhas ereções e ela me prometeu que ajudaria nesse departamento assim que eu retornasse para casa. Perguntei a ela se faria sexo por telefone comigo, mas ela se recusou. Contudo, continuaria insistindo com ela quanto a isso. Por fim, imaginei, ela consentiria.
Então dissemos vários Eu te amos e fizemos promessas de escrever um para o outro todos os dias. Antes de desligar, contei-lhe que telefonaria três vezes por dia.
Os dias seguintes passaram sem que nada diferente acontecesse e, sem que me desse conta, eu havia completado uma semana longe das drogas.
Todo dia tínhamos algumas horas para atividades pessoais, para irmos à academia ou algo assim, e eu logo entrei num pequeno grupo de marcianos puxa-sacos. Um dos médicos – um anestesista que tivera o hábito de se anestesiar enquanto seus pacientes estavam na mesa sob seus cuidados – estava em Talbot Marsh havia mais de um ano, e recebera seu carro, enviado pela família. Era uma merda de um Toyota sedã cinza, mas servia para o seu propósito.
Era uma viagem de mais ou menos dez minutos de carro até a academia, e eu estava sentado no banco de trás, trajando um short Adidas cinza e uma regata, quando tive uma ereção enorme. Fora provavelmente causada pelas vibrações do motor de quatro cilindros, ou talvez pelos buracos na estrada, mas havia enviado algumas doses de sangue para a minha virilha. Era uma ereção enorme, dura como pedra, do tipo que aperta sua cueca e precisa ser ajustada, e então reajustada, deixando o cara insano.
“Vejam isso”, disse, puxando a frente do meu short de ginástica e mostrando o pênis aos marcianos.
Todos se viraram e olharam. Sim, pensei, parecia legal. Apesar de minha altura, Deus fora bem generoso comigo nesse departamento. “Nada mal!”, falei para meus amigos médicos, enquanto agarrava meu pênis e dava algumas sacudidas. Então o bati contra minha barriga, o que causou uma pancada um tanto agradável.
Finalmente, depois da quarta pancada, todo mundo começou a rir. Era um raro momento de leveza em Talbot Marsh, um momento entre homens, um momento entre marcianos, em que as delicadezas sociais podiam ser deixadas de lado, em que a homofobia podia ser totalmente ignorada e homens podiam ser apenas aquilo: homens! Malhei bem naquela tarde, e o resto do dia passou sem que acontecesse nada de mais.
No dia seguinte, pouco depois do almoço, eu estava numa sessão de terapia em grupo terrivelmente chata. Minha conselheira apareceu, pedindo para falar comigo.
Não poderia estar mais feliz... até dois minutos depois, quando estávamos em seu pequeno escritório e ela jogou a cabeça para o lado, num ângulo que demonstrava esperteza, e falou, usando o tom do Grande Inquisidor: “Então, como está, Jordan?”.
Abaixei os cantos da boca e dei de ombros. “Estou bem, acho.”
Ela sorriu com cautela e perguntou: “Tem tido desejos ultimamente?”.
“Não, de forma alguma”, respondi. “Numa escala de um a dez, eu teria de dizer que meu desejo por drogas é zero. Talvez até menos que isso.”
“Ah, isso é muito bom, Jordan. Muito, muito bom.”
Que caralho! Sabia que estava deixando passar algo aqui. “Err, estou um pouco confuso. Alguém lhe disse que eu estava pensando em usar drogas?”
“Não, não”, respondeu, balançando a cabeça. “Não tem nada a ver com isso. Estou apenas querendo saber se você teve algum outro desejo ultimamente, não relacionado a drogas.”
Vasculhei minha memória curta por desejos, mas não encontrei nada, além do desejo óbvio de sair deste lugar, ir para casa encontrar a Duquesa e comê-la toda, sem parar, por um mês. “Não, não tenho tido nenhum desejo. Quer dizer, sinto falta da minha esposa e tudo o mais, e gostaria de ir para casa, ficar com ela, mas só isso.”
Ela comprimiu os lábios, concordou com a cabeça lentamente e então disse: “Tem tido desejos de se expor em público?”.
“O quê?”, bradei. “Do que está falando? O que você acha, que sou um maníaco ou algo assim?” Balancei a cabeça com desdém.
“Bem”, ela disse, séria, “recebi três reclamações por escrito hoje, de três pacientes diferentes, e todos dizem que você se expôs para eles; que abaixou o short e se masturbou na presença deles.”
“Isso é mentira”, disparei. “Não estava batendo punheta, pelo amor de Deus. Apenas chacoalhei algumas vezes e bati-o contra a minha barriga para que todos pudéssemos ouvir o som. Só isso. Qual o problema disso? De onde eu vim, um pouquinho de nudez entre homens não é algo para se fazer caso.” Balancei a cabeça. “Estava apenas brincando. Tenho tido ereções desde que cheguei a este lugar. Acho que meu pinto está finalmente acordando depois de todas as drogas. Mas, já que isso parece incomodar tanto todo mundo, vou manter o passarinho na gaiola nas próximas semanas. Nada de mais.”
Ela aquiesceu. “Bem, você tem de entender que traumatizou alguns dos outros pacientes. A recuperação deles está bem frágil neste ponto, e qualquer choque repentino pode mandá-los de volta para o consumo.”
“Você acabou de dizer traumatizados? Para com isso, caralho! Não acha que é um pouco de exagero? Quer dizer... Caramba! Estamos falando de homens adultos! Como poderiam ter ficado traumatizados ao ver meu pinto, a não ser, é lógico, que um deles quisesse chupá-lo. Acha que pode ser isso?”
Ela deu de ombros. “Não saberia dizer.”
“Bem, tenho certeza de que ninguém naquele carro ficou traumatizado. Foi um momento entre homens, só isso. O único motivo para eles me delatarem foi porque queriam provar à equipe que estavam curados, reabilitados, ou sei lá o quê. Fariam qualquer coisa para receber suas licenças de volta, certo?”
Ela concordou. “Obviamente.”
“Ah, então você sabe isso?”
“Sim, lógico que sei. E o fato de todos terem delatado você me faz questionar seriamente o status da recuperação deles.” Ela me deu o sorriso que significava que não havia ressentimentos. “De qualquer forma, isso não muda o fato de seu comportamento não ter sido apropriado.”
“Que seja”, murmurei. “Não irá acontecer novamente.”
“É justo”, falou, entregando-me uma folha de papel datilografada. “Apenas preciso que assine este contrato comportamental. Diz aí que você concorda em não se expor em público novamente.” Ela me deu uma caneta.
“Está brincando comigo!?”
Ela fez que não com a cabeça. Comecei a rir ao ler o contrato. Tinha apenas algumas linhas e dizia exatamente o que ela indicara. Dei de ombros e assinei, então me levantei da cadeira e me dirigi para a porta. “Só isso?”, brinquei. “Caso encerrado?”
“Sim, caso encerrado.”
Quando estava retornando para minha sessão de terapia, tive a sensação estranha de que não estava encerrado. Esses marcianos de Talbot eram um grupo estranho.
NO DIA SEGUINTE, era hora de outra discussão da távola redonda. Mais uma vez, todos os 105 marcianos e mais ou menos uma dúzia de funcionários sentaram-se num círculo grande no auditório. Doug Talbot, percebi, estava conspicuamente ausente.
Assim, fechei os olhos e me preparei para a papagaiada. Depois de 10 ou 15 minutos, eu estava meio dormindo, quando escutei: “... Jordan Belfort, que a maioria de vocês conhece”.
Ergui a cabeça. Minha terapeuta assumira a reunião em algum momento, e agora estava falando sobre mim. Fiquei me perguntando o porquê.
“Assim, em vez de ter um orador convidado hoje”, continuou minha terapeuta, “acho que seria mais produtivo se Jordan compartilhasse com o grupo o que aconteceu.” Ela fez uma pausa e olhou na minha direção. “Você faria a gentileza de compartilhar conosco, Jordan?”
Corri os olhos pela sala, vendo que todos os marcianos estavam me encarando, incluindo Shirley Temple com suas lindas madeixas loiras. Eu ainda estava um pouco confuso sobre o que a minha terapeuta queria que eu falasse, apesar de ter uma leve suspeita de que tinha algo a ver com o fato de eu ser um maníaco sexual.
Inclinei-me para a frente, encarei minha terapeuta e dei de ombros. “Não tenho nada contra falar para o grupo”, falei, “mas o que é que você quer que eu diga? Tenho muitas histórias. Por que não escolhe uma?”
Com isso, todos os 105 marcianos viraram a cabeça na direção da terapeuta. Parecia que estávamos disputando uma partida de tênis. “Bem”, respondeu ela, terapeuticamente, “você tem a liberdade de falar sobre o que quiser nesta sala. É um lugar muito seguro. Mas por que não começa falando sobre o que aconteceu no carro outro dia, no caminho para a academia?”
Os marcianos viraram a cabeça para mim. Gargalhando, falei: “Você está brincando, certo?”.
Agora os marcianos voltaram a olhar para minha terapeuta... que comprimiu os lábios e balançou a cabeça, como se dissesse: “Não, estou falando sério!”.
Que ironia!, pensei. Minha terapeuta estava me tornando o centro das atenções. Que glória! O Lobo... de volta à ação! Eu adorava isso. O fato de metade das pessoas na sala serem mulheres tornava tudo ainda melhor. A Comissão de Valores Mobiliários retirara de mim a possibilidade de ficar diante de uma multidão e fazer um discurso, e agora minha terapeuta fizera a gentileza de me devolver aquele poder. Eu faria um show que os marcianos nunca esqueceriam!
Acenei com a cabeça e sorri para minha terapeuta. “Tudo bem se eu ficar de pé no meio da sala para falar? Penso melhor enquanto estou me movendo.”
As 105 cabeças marcianas voltaram-se para minha terapeuta. “Por favor, fique à vontade.”
Andei até o centro da sala e encarei diretamente os olhos de Shirley Temple. “Olá, pessoal! Meu nome é Jordan e sou alcoólatra, viciado em drogas e maníaco sexual.”
“Olá, Jordan!”, veio a resposta sincera, acompanhada por algumas risadinhas. Shirley Temple, contudo, ficara vermelha como beterraba. Eu a encarei diretamente em seus enormes olhos azuis quando me referi a mim mesmo como maníaco sexual.
Segui: “De qualquer forma, não sou muito de falar diante de multidões, mas farei o que posso. Está certo... por onde devo começar? Ah, minhas ereções... sim, é o ponto mais apropriado, imagino. Eis a raiz do problema. Passei os últimos dez anos de minha vida com o pinto num estado de seminarcose, resultado de todas as drogas que eu usava. Quer dizer, não me entendam mal, não era impotente ou algo assim, apesar de ter de admitir que houve milhares de vezes em que não consegui levantá-lo em razão de toda a coca e os Ludes”.
A risada se espalhou. Ah, o Lobo de Wall Street! Comecemos a partida! Ergui a mão pedindo silêncio.
“Não, sério, não é para ficar rindo. Vejam, na maior parte das vezes que não conseguia levantá-lo, eu estava com putas, e isso acontecia umas três vezes por semana. Portanto, eu estava basicamente jogando dinheiro pela janela... pagando mais de mil dólares por trepada e nem sendo capaz de dormir com elas. Era tudo muito triste, e muito caro também.
“De qualquer forma, no final elas normalmente conseguiam, pelo menos as boas conseguiam, apesar de precisar um pouco de coação com brinquedos e afins.” Baixei os cantos da boca e dei de ombros, como se dissesse: “Brinquedinhos sexuais não é algo vergonhoso!”.
Agora irrompia uma gargalhada enorme e, apesar de nem olhar, podia dizer que era o som da gargalhada das marcianas. Minhas suspeitas se confirmaram quando corri os olhos pela sala e vi todas as marcianas me olhando com sorrisos incríveis em seus belos rostos marcianos. Seus ombros marcianos iam para cima e para baixo a cada risadinha. Enquanto isso, os marcianos atiravam farpas contra mim com seus olhos marcianos.
Balancei a mão pedindo silêncio e continuei: “Não importa, não importa. Vejam, a ironia é que, quando estava com minha esposa, nunca tinha este problema. Podia sempre levantá-lo com ela, e da forma normal... e se vocês a vissem entenderiam por quê. Mas, quando comecei a cheirar sete gramas de coca por dia, bem, surgiram problemas com ela também.
“Contudo, agora que não toco em drogas há mais de uma semana, acho que meu pênis está passando por alguma espécie de metamorfose estranha, ou talvez um novo despertar. Tenho andado por aí com uma ereção 23 horas por dia... ou talvez até mais.” Um grande estrondo de gargalhada das marcianas. Corri os olhos pela sala. Ah, sim, eu as tinha pego! Eram minhas agora! O Lobo... jogando suas presas para as damas! Centro das atenções!
“De qualquer forma, achei que alguns dos homens aqui compreenderiam meu apuro. Quer dizer, parecia lógico que outras pessoas estivessem sofrendo esta aflição terrível também, certo?”
Corri os olhos pela sala e todas as marcianas estavam concordando com a cabeça, enquanto os marcianos balançavam a cabeça para a frente e para trás, olhando-me com desdém. Dei de ombros. “Assim, como estava dizendo, eis como o problema começou. Eu estava no carro com três outros pacientes, pacientes sem pinto, agora que estou pensando melhor, e nos dirigíamos para a academia, e acho que foram as vibrações do motor ou talvez os buracos na estrada, mas, o que quer que tenha sido, do nada tive uma ereção enorme!”
Observei a sala, cuidadosamente evitando os olhares flamejantes dos marcianos... saboreando, em vez disso, os olhares apaixonados de todas as marcianas. Shirley Temple lambia os lábios em antecipação. Pisquei para ela e falei: “De qualquer forma, foi apenas um momento inofensivo entre homens, só isso. Ora, não vou negar que saquei a cobra”, um estrondo de risadas das marcianas, “e não vou negar que a bati contra minha barriga uma ou duas vezes ”, mais risadas, “mas tudo foi feito para brincar. Não era como se eu estivesse chacoalhando-o com ferocidade, tentando gozar no banco de trás do carro... porém não vou passar sermão naqueles que já o fizeram alguma vez. Quer dizer, cada um com seu cada um, certo?”. Uma marciana não identificada berrou: “Sim, cada um com seu cada um!”, ao que o resto das marcianas começou a bater palmas.
Ergui a mão pedindo silêncio, perguntando-me por quanto tempo os funcionários permitiriam que isso continuasse. Suspeitei que por tempo indefinido. Afinal de contas, a cada segundo que eu falava havia alguma empresa de seguro recebendo um boleto de cada um desses 105 marcianos. “Assim, para resumir, vou lhes dizer o que está realmente me incomodando em todo esse assunto: é que esses três caras que me entregaram, cujos nomes não serão mencionados... contudo, se vierem até mim mais tarde, ficarei feliz em contar-lhes exatamente quem são, a fim de que possam evitá-los... todos riram e brincaram enquanto estávamos no carro. Ninguém me confrontou, nem me deu qualquer pista de que considerava aquilo que eu estava fazendo de mau gosto.”
Balancei a cabeça com nojo. “Sabem, a verdade é que venho de um mundo bem extravagante, um mundo que eu mesmo construí, em que coisas como nudez, prostitutas, sacanagens e todos os tipos de atos depravados eram considerados normais.
“Olhando para o passado, sei que era errado. E sei que era insano. Mas sei disso agora... hoje... aqui, como um homem sóbrio. Sim, hoje sei que arremessar anões é errado e que trepar com quatro putas é errado e que manipular ações é errado e que trair a esposa é errado e que dormir à mesa de jantar ou no acostamento da estrada ou bater nos carros de outras pessoas porque dormi no volante, sei que todas essas coisas são erradas.
“Sou o primeiro a admitir que estou bem longe de ser alguém perfeito. Sou na verdade inseguro e humilde, e fico facilmente envergonhado.” Fiz uma pausa, mudando meu tom para bem sério. “Mas me recuso a demonstrar isso. Se tivesse de escolher entre vergonha e morte, escolheria morte. Dessa forma, sim, sou uma pessoa fraca, impotente. Mas uma coisa que nunca me verão fazendo é julgar as outras pessoas.”
Dei de ombros e soltei um suspiro bastante óbvio. “Sim, talvez o que fiz no carro tenha sido errado. Talvez tenha sido de mau gosto e ofensivo. Mas desafio qualquer pessoa nesta sala a dizer que fiz com malícia no coração ou para tentar foder a recuperação de outra pessoa. Fiz aquilo para brincar com esta situação terrível em que estou. Sou viciado em drogas há quase uma década e, apesar de parecer normal de alguma forma, sei que não sou. Vou sair daqui em algumas semanas, e estou cagando de medo de voltar para a cova do leão, de voltar para as pessoas, lugares e coisas que alimentavam meu vício. Tenho uma esposa que amo e dois filhos que venero, e, se voltar para lá e tiver uma recaída, irei destruí-los para sempre, principalmente meus filhos.
“Contudo, aqui em Talbot Marsh, onde eu supostamente estaria rodeado por pessoas que entendem o que estou passando, há três cuzões tentando questionar minha recuperação e me mandar para fora deste lugar. E isso é realmente triste. Não sou nada diferente de qualquer um de vocês, homem ou mulher. Sim, talvez eu tenha um pouco mais de grana, mas tenho medo, preocupação e insegurança em relação ao futuro, e passo a maior parte do dia rezando para que tudo termine bem. Para que um dia eu seja capaz de sentar com meus filhos e dizer: ‘Sim, é verdade que empurrei mamãe pela escada uma vez enquanto estava sob o efeito de cocaína, mas isso foi 20 anos atrás, e estou sóbrio deste então’.”
Balancei a cabeça novamente. “Assim, da próxima vez que pensarem em me delatar para os funcionários, gostaria que pensassem duas vezes. Vocês estarão apenas se machucando. Não serei mandado para fora deste lugar tão rapidamente, e os funcionários são muito mais espertos do que vocês imaginam. E isso é tudo o que tenho a dizer. Agora, se me dão licença, estou tendo uma ereção... portanto preciso me sentar para evitar um constrangimento. Obrigado.” Balancei a mão no ar como se fosse um candidato político em campanha, e a sala explodiu num aplauso atroador. Todas as marcianas, todos os funcionários e mais ou menos metade dos marcianos levantaram-se, fazendo uma ovação incrível.
Quando me sentei, fixei o olhar em minha terapeuta. Ela sorriu para mim, acenou com a cabeça e mostrou o punho no ar uma única vez, como se dissesse: “Bom para você, Jordan”.
Nos 30 minutos seguintes, ocorreu uma discussão aberta, durante a qual as marcianas defenderam minhas ações, dizendo que eu era adorável, enquanto alguns machos da espécie continuavam a me atacar, dizendo que eu era uma ameaça à sociedade marciana.
NAQUELA NOITE, SENTEI-me com meus companheiros de quarto e falei: “Ouçam, estou de saco cheio de toda esta merda que está acontecendo aqui. Não quero ficar ouvindo que esqueci de abaixar a tampa da privada e que falo demais ao telefone ou que ronco muito alto. Estou cansado. Então eis minha proposta. Vocês estão desesperados por grana, certo?”.
Fizeram que sim com a cabeça.
“Bom”, falei. “Eis o que vamos fazer. Amanhã de manhã vocês irão telefonar para meu amigo Alan Lipsky, e ele abrirá contas para vocês na firma de corretagem dele. Amanhã à tarde, cada um de vocês terá cinco mil. Podem mandar o dinheiro para onde quiserem. Mas não quero ouvir mais nenhum cochicho de nenhum de vocês até eu sair deste lugar. Isso acontecerá daqui a menos de três semanas, portanto não será muito difícil.”
Logicamente, ambos telefonaram na manhã seguinte, e logicamente isso melhorou em muito nosso relacionamento. Todavia, meus problemas em Talbot Marsh estavam longe do fim. Mas não era a sedutora Shirley Temple quem complicava as coisas. Não, meus problemas vinham de meu desejo de ver a Duquesa. Escutei boatos entre a comunidade marciana de que, em raras ocasiões, a equipe médica concedia licenças. Telefonei para a Duquesa e perguntei-lhe se ela pegaria um voo até aqui para passar um longo final de semana, caso minha requisição fosse aceita.
“Só me diga onde e quando”, respondeu, “e vou te dar um final de semana do qual você nunca esquecerá.”
Era por essa razão que eu estava no momento no consultório da minha terapeuta, tentando conseguir uma licença. Era minha terceira semana no planeta Talbot Marsh e eu não tivera mais nenhum problema, apesar de ser conhecimento comum entre os marcianos que eu participava de apenas 25% das sessões de terapia em grupo. Mas ninguém parecia se importar com isso. Eles perceberam que Doug Talbot não iria me afastar e que, com os meus modos estranhos, eu estava sendo uma influência positiva.
Sorri para minha terapeuta e falei: “Ouça, não vejo qual o problema de eu sair numa sexta e voltar num domingo. Estarei com a minha esposa o tempo todo. Você falou com ela, portanto sabe que ela está ciente do programa. Será bom para a minha recuperação”.
“Não posso permitir isso”, argumentou minha terapeuta, balançando a cabeça. “Seria uma diferença muito grande em relação aos outros pacientes. Todos estão nervosos, e isso tem a ver com o suposto tratamento especial que você recebe aqui.” Ela sorriu com simpatia. “Ouça, Jordan, nossa política é de que pacientes não têm direito a licenças até que tenham ficado na clínica por pelo menos 90 dias... e tenham se comportado perfeitamente. Nada de ficar pelado ou algo assim.”
Sorri para minha terapeuta. Ela era uma pessoa decente, essa dama, e eu me aproximara dela nas últimas semanas. Fora perspicaz da parte dela, naquele dia, colocar-me diante da multidão e me dar uma chance de me defender. Eu descobriria, apenas muito tempo depois, que ela havia conversado com a Duquesa, que a informara de minha habilidade para convencer as massas, para o bem ou para o mal.
“Sei que vocês têm regras”, falei, “mas elas não foram feitas para alguém em minha situação. Como posso estar sujeito a uma regra que requer um período de esfriamento de 90 dias quando minha estada completa será de apenas 28 dias?” Dei de ombros, não gostando muito de minha própria lógica, até que uma inspiração maravilhosa começou a borbulhar em meu cérebro sóbrio. “Tenho uma ideia!”, gorjeei. “Por que você não me coloca diante do grupo novamente para fazer outro discurso? Vou tentar vender para eles ideia de que mereço uma licença, mesmo que isso vá contra a política institucional.”
Sua resposta foi colocar a mão na ponta do nariz e começar a esfregá-lo. Então ela sorriu delicadamente. “Sabe, quase quero responder que sim, apenas para ouvir que tipo de lorota você irá contar aos pacientes. Na verdade, não tenho dúvidas de que os convenceria.” Ela deu mais algumas risadinhas. “Foi um belo discurso aquele que você fez duas semanas atrás, de longe o melhor na história de Talbot Marsh. Você tem um dom incrível, Jordan. Nunca vi algo assim. Apenas por curiosidade, porém, o que diria aos pacientes se eu lhe desse a oportunidade?”
Dei de ombros. “Ainda não tenho certeza. Sabe, não planejo sempre o que vou dizer. Eu costumava fazer duas reuniões por dia com um campo de futebol cheio de gente. Fiz isso por quase cinco anos, e não consigo me lembrar de uma única vez que cheguei a pensar sobre o que diria antes de fazer o discurso. Normalmente havia um ou dois tópicos que precisavam ser abordados, mas era só isso. Tudo o mais vinha com o momento.
“Sabe, há algo que acontece comigo só quando estou diante de uma multidão. É difícil descrever, mas é como se, de repente, tudo ficasse muito claro. Meus pensamentos começassem a se desenrolar pela minha língua sem nem ao menos eu precisar pensá-los. Um pensamento leva a outro, e então eu entro no pique.
“Mas, respondendo a sua pergunta, eu provavelmente usaria psicologia reversa com eles, explicaria que a permissão para eu sair de licença seria bom para a recuperação deles mesmos. Que a vida, num todo, não é justa, e que eles deviam se acostumar a isso agora num ambiente controlado. Então, em seguida, faria se sentirem mal por mim... contando-lhes o que fiz a minha esposa na escada e como minha família estava próxima de ser destruída em razão de meu vício em drogas, e como essa visita agora provavelmente faria a diferença para minha esposa e eu permanecermos juntos ou não.”
Minha terapeuta sorriu. “Acho que você precisa descobrir uma forma de usar suas habilidades para algo bom, descobrir uma maneira de passar sua mensagem, só que fazendo-o para um bem maior, não para corromper pessoas.”
“Ahhh”, falei, sorrindo de volta, “então você tem me escutado todas essas semanas. Eu não tinha certeza. De qualquer forma, talvez eu o faça algum dia, mas, por enquanto, quero apenas retornar para minha família. Planejo sair do negócio de corretagem também. Tenho alguns investimentos para recuperar e então paro de vez, para sempre. Parei com as drogas, as putas, as traições, todo o lixo das ações, tudo. Vou viver o resto da minha vida calmamente, longe dos holofotes.”
Ela começou a rir. “Bem, de alguma forma, acho que sua vida não será assim. Acho que nunca viverá na obscuridade. Pelo menos não por muito tempo. Não me refiro a isso como uma coisa ruim. O que estou tentando dizer é que você tem um dom maravilhoso, e acho que é importante para sua recuperação aprender a usar esse dom de maneira positiva. Apenas foque na sua recuperação primeiro, fique sóbrio, e o resto de sua vida cuidará de si.”
Deixei cair a cabeça, fiquei olhando para o chão e concordei. Sabia que ela estava certa, e isso me assustava muito. Eu queria desesperadamente manter-me sóbrio, mas sabia que as chances eram totalmente adversas. Tinha de admitir que, após aprender mais sobre os AA, isso não mais parecia uma impossibilidade patente, apenas uma tentativa a longo prazo. A diferença entre sucesso e derrota, eu achava, tinha muito a ver com participar das reuniões dos AA assim que saísse da clínica de reabilitação – encontrar um padrinho com quem me identificasse, alguém que oferecesse ajuda e força quando as coisas não estivessem bem.
“E quanto à minha licença?”, perguntei, erguendo as sobrancelhas.
“Vou levar o assunto para ser discutido na reunião de funcionários amanhã. No final, não depende de mim, depende do dr. Talbot.” Ela deu de ombros. “Como sua terapeuta principal, posso vetar, mas não irei fazê-lo. Vou me abster de votar.”
Acenei com a cabeça, indicando que compreendi. Eu falaria com Talbot antes daquela reunião. “Obrigado por tudo”, disse. “Você me terá por apenas mais uma semana, mais ou menos. Tentarei não te encher muito.”
“Você não me enche”, respondeu ela. “Na verdade, você é meu favorito, apesar de eu nunca admitir isso para ninguém.”
“E não contarei a ninguém.” Inclinei-me e a abracei com carinho.
CINCO DIAS DEPOIS, numa sexta-feira, um pouco antes das 18 horas, eu estava aguardando na pista de pouso do terminal particular do Aeroporto Internacional de Atlanta. Estava encostado no para-choques traseiro de uma limusine Lincoln preta, olhando para o céu boreal com olhos sóbrios. Meus braços estavam cruzados no peito e tinha uma ereção enorme dentro da calça. Estava aguardando a Duquesa.
Pesava quatro quilos e meio a mais do que quando cheguei, e minha pele voltara a resplandecer juventude e saúde. Tinha 34 anos e havia sobrevivido ao inenarrável... um vício em drogas de proporções bíblicas, um vício em drogas de tamanha insanidade que eu deveria ter morrido havia muito, de overdose, de acidente de automóvel, de queda de helicóptero, de acidente de mergulho ou de uma entre milhares de formas diferentes.
Contudo, lá estava eu, ainda de posse de todas as minhas faculdades. Era um começo de noite bonito e limpo, com uma brisa leve e quente. A essa hora do dia, no começo do verão, o sol ainda estava tão alto no céu que eu consegui ver o Gulfstream muito antes de suas rodas tocarem a pista. Parecia quase impossível que dentro daquela cabine estivesse minha linda esposa, a quem eu fizera passar por um inferno de sete anos de vício em drogas. Fiquei tentando imaginar o que ela estaria vestindo e o que estaria pensando. Estaria nervosa como eu? Estaria tão bonita quanto eu me lembrava? Exalaria ainda aquele perfume incrível? Ela realmente ainda me amava? As coisas poderiam voltar ao que foram?
Descobri tudo no instante em que a porta da cabine se abriu e a sedutora Duquesa emergiu com sua linda e cintilante madeixa loira. Estava deslumbrante. Deu um passo para a frente e então, à típica maneira da Duquesa, firmou uma pose, com a cabeça jogada para o lado, os braços dobrados abaixo dos seios e uma longa perna nua girada para o lado, numa afirmação de desafio.
Então ela apenas ficou me olhando. Usava um vestidinho de verão rosa. Não tinha mangas e ficava a uns 15 centímetros acima dos joelhos. Ainda mantendo a pose, comprimiu aqueles lábios sedutores e começou a balançar sua cabecinha loira para trás e para a frente, como se dissesse: “Não acredito que este é o homem que amo”. Andei um passo para a frente, joguei as palmas das mãos para o ar e dei de ombros.
E ficamos lá, encarando-nos por uns dez segundos, até que, de repente, ela desistiu de sua pose e me assoprou um beijo duplo maravilhoso. Então esticou os braços, fez uma pequena pirueta para anunciar sua chegada à cidade de Atlanta e desceu a escada correndo com um grande sorriso no rosto. Comecei a correr na direção dela, e nos encontramos no meio da pista de pouso. Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e deu um pulinho para enrolar suas pernas em torno da minha cintura. Então me beijou.
E ficamos nos beijando pelo que pareceu uma eternidade, enquanto inspirávamos o perfume um do outro. Girei 360 graus, ainda a beijando, até que nós dois começamos a rir. Afastei os lábios, enterrei o nariz no decote dela e a cheirei, como um cachorrinho. Ela soltava risinhos incontroladamente. Seu cheiro era tão bom que quase parecia impossível de existir.
Joguei a cabeça um pouco para trás e encarei aqueles olhos azuis vívidos dela. Falei, num tom bem sério: “Se eu não fizer amor com você neste exato segundo, irei gozar bem aqui na pista de pouso”.
A resposta da Duquesa foi uma reversão para sua voz de bebê: “Ai, meu pobre garotinho!”. Inho? Inacreditável! “Está com tanto tesão que está prestes a explodir, não?”
Concordei avidamente.
A Duquesa continuou: “E olhe como você está jovial e bonito agora que ganhou alguns quilinhos e sua pele não está mais verde. Pena que tenha de aprender uma lição neste final de semana”. Ela deu de ombros. “Não haverá amor até 4 de julho.”
Hein? “O que você está falando?”
Num tom muito sábio: “Você me escutou, amorzinho. Você foi um garoto muito mau, portanto agora terá de pagar por isso. Primeiro tem de provar-se para mim antes que eu permita que enfie novamente. Por enquanto apenas pode me beijar”.
Dei uma risadinha. “Para com isso, sua louca!” Agarrei sua mão e comecei a puxá-la na direção da limusine. “Não consigo esperar até 4 de julho! Preciso de você agora... neste exato instante! Quero fazer amor com você no banco de trás da limusine.”
“Nananinanão”, falou, balançando a cabeça de uma forma exagerada. “Este final de semana será apenas de beijos. Vamos ver como se comporta nos próximos dois dias, e então talvez no domingo considerarei a ideia de avançarmos.”
O motorista da limusine era um caipirão branquelo baixinho, na casa dos 60 anos, chamado Bob. Usava um quepe de motorista e estava em pé ao lado da porta traseira, aguardando-nos. Falei: “Esta é minha esposa, Bob. Ela é uma duquesa, por isso trate-a adequadamente. Aposto que não tem recebido muita realeza por aqui ultimamente, tem?”.
“Ah, não”, respondeu Bob, bastante sério. “Nem pessoas comuns.”
Comprimi os lábios e acenei com a cabeça, sério. “Foi o que pensei. De qualquer forma, não fique intimidado com ela. Ela, na verdade, é bastante simples, certo, querida?”
“Sim, bastante simples. Agora cale a porra dessa boca e entre na droga da limusine”, bradou a Duquesa.
Bob ficou paralisado de horror, obviamente assustado com a possibilidade de alguém com sangue real, como a Duquesa de Bay Ridge, usar tal linguajar.
Falei para Bob: “Não ligue para ela; ela apenas não quer parecer muito arrogante. Reserva seu lado elegante para quando está na Inglaterra, com os outros reais”. Pisquei. “De qualquer forma, deixando a brincadeira de lado, Bob, como sou casado com ela, sou um duque; assim, acho que, como será nosso motorista durante todo o final de semana, pode muito bem se dirigir a nós como Duque e Duquesa... apenas para evitar qualquer confusão.”
Bob fez uma reverência formal. “Logicamente, Duque.”
“Muito bem”, respondi, empurrando a Duquesa para o banco de trás pelas suas fabulosas nádegas reais. Entrei logo na sequência. Bob bateu a porta e então se dirigiu ao avião a fim de pegar a bagagem real da Duquesa.
Imediatamente ergui o vestido dela e vi que não usava calcinha. Ataquei. “Eu te amo tanto, Nae. Tanto, tanto!...” Empurrei-a para baixo no assento de trás, comprido, e encostei minha ereção nela. Ela grunhiu deliciosamente, esfregando sua pélvis na minha, dando-me o prazer de uma pequena fricção. Beijei-a e beijei-a até que, depois de alguns minutos, ela estendeu os braços e me empurrou para longe.
Entre risadinhas: “Pare, garotinho safado! Bob está voltando. Você terá de esperar até chegarmos ao hotel”. Ela olhou para baixo e viu minha ereção através do jeans. “Ai, meu pobre bebezinho” – inho? Por que sempre inho? – “está prestes a explodir!” Ela comprimiu os lábios. “Deixe-me esfregá-lo para você.” Desceu a palma da mão até minha virilha e começou a esfregar o contorno da ereção.
Respondi apertando o botão da divisória no console do teto. Quando a partição subiu, fechando-se, murmurei: “Não posso esperar até chegarmos ao hotel! Vou fazer amor com você bem aqui, com Bob ou sem Bob!”.
“Certo!”, falou a Duquesa traquina. “Mas é apenas uma foda de compaixão, portanto não conta. Ainda não vou fazer amor com você até que prove para mim que se tornou um bom garoto. Entendido?”
Concordei, fazendo minha expressão de cachorrinho, e começamos a rasgar as roupas um do outro. Quando Bob voltou para a limusine, eu estava já bem dentro da Duquesa, e nós dois grunhíamos com selvageria. Levei um indicador aos lábios e falei: “Shhhhhh!”.
Ela concordou, e eu me levantei e apertei o botão do interfone. “Bob, meu bom homem, você está aí?”
“Sim, Duque.”
“Esplêndido. A Duquesa e eu temos alguns assuntos muito urgentes para discutir, portanto, por gentileza, não nos perturbe até chegarmos ao Hyatt.”
Pisquei para a Duquesa e indiquei o botão do interfone com as sobrancelhas. “Ligado ou desligado?”, sussurrei.
A Duquesa ergueu a cabeça e começou a morder o interior da boca. Então deu de ombros. “Você pode até deixá-lo ligado.”
Essa era a minha garota! Ergui a voz e falei: “Curta o show da realeza, Bob!”. E, com isso, o sóbrio Duque de Bayside, Queens, começou a fazer amor com sua esposa, a sedutora Duquesa de Bay Ridge, Brooklyn, como se não houvesse amanhã.