— Sei que não é hora de falar nisso, Tai-Pan, mas será que você poderia emprestarme quatrocentos e cinqüenta guinéus?
— O quê? O que você disse?
— Poderia emprestar-me quatrocentos e cinqüenta guinéus, Tai-Pan? Sei que é um momento terrível, mas aquela velha feiticeira, a Fortheringill, está viva... nenhum tufão ousaria tocá-la, por Deus! E ameaça colocar-me na prisão por dívidas. Não tenho a quem recorrer, a não ser você.
— Você disse “Tai-Pan”. Você me chamou de “Tai-Pan”.
— E você não é?
Então, Culum lembrou-se do que seu pai dissera. A respeito da alegria e da dor de ser Tai-Pan; a respeito de ser homem; de se cuidar sozinho; a respeito da vida e seu combate.
Sua solidão desapareceu. Olhou para os três homens lá embaixo. Sua ansiedade voltou. Era bastante simples para Aristotle dizer “Tai-Pan”, pensou. Mas e eles? Precisa conquistar sua confiança, colocá-los de seu lado. Como? O que papai disse? “Os homens são governados com o cérebro e com magia.”
Levantou-se, todo trêmulo.
— Eu... eu tentarei. Por Deus, realmente tentarei. Jamais o esquecerei, Aristotle. Jamais.
Desceu o morro, com o estômago dando voltas. O mestre-d’armas aproximava-se, vindo do escaler, e eles se encontraram na porta da frente.
— Sua Excelência quer que vá a bordo imediatamente.
— Por favor, diga-lhe que o verei logo que possível — disse Culum, com uma calma que não sentia.
— Ele quer vê-lo agora.
— Estou ocupado. Diga-lhe que estou ocupado!
O homem corou, fez continência e saiu às pressas.
O que haverá nesses papéis, afinal?, Culum perguntou a si mesmo. Reuniu suas forças e encarou Orlov, Vargas e Gordon Chen.
— Brock deu ordens a bordo do meu navio — disse Orlov. Viu as manchas de sangue nas mãos e nas mangas de Culum e estremeceu. — Ordens para baixar a bandeira, por Odin! Eu teria feito isso, de qualquer maneira, logo que soubesse. Devo receber ordens dele, agora, hein?
— Brock irá destruir-nos, Sr. Culum. O que vamos fazer? — disse Vargas, torcendo as mãos.
— Vargas, vá fazer acertos para o funeral. Meu pai e sua senhora serão enterrados juntos.
— O quê?
— Sim. Juntos. Ela é cristã e será enterrada com ele. Gordon, espere por mim. Quero falar com você. Orlov, vá para bordo de seu navio e ice a bandeira. Depois, vá a bordo do White Witch e traga minha senhora para terra.
— Disse para trazê-la?
— Sim. Para cá. — Pegou os vinte soberanos. — Entregue essas moedas a Brock, com meus cumprimentos. Diga a ele que eu mandei dizer que são para comprar um caixão para si mesmo.
Os três homens olharam com estranheza para Culum. Depois, disseram:
— Sim, Tai-Pan. — E obedeceram.
Fim