CAPÍTULO 16
Durante toda a manhã, os jornais foram apresentando sempre a mesma história. Uma seca na Alemanha provocara pelo menos cem mortes e dizimara milhões de dólares de colheitas.
Tanner ligou para Kathy e pediu:
- Manda este artigo à senadora van Luven, com uma nota a dizer: "Mais notícias sobre o aquecimento global. Cumprimentos..."
Tanner não conseguia parar de pensar na mulher a quem chamara Princesa. E quanto mais pensava na insolência dela e na forma como o ridicularizara, mais furioso ficava. Vamos ter que melhorar as suas deixas, querido. Faz alguma idéia do pirosas que são?... Já está com tesão, querido?... Então saque lá do seu livrinho negro e vamos tentar encontrar alguém que esteja disponível para hoje à noite...
Era como se precisasse de a exorcizar de dentro de si. Decidiu que a voltaria a ver uma vez mais, para lhe dar a paga que merecia e em seguida poder esquecê-la.
Tanner esperou três dias e depois telefonou:
- Princesa?
- Quem fala?
- Estava prestes a desligar o telefone. Mas quantos homens já lhe teriam chamado Princesa ? Conseguiu manter a voz calma: Fala Tanner Kingsley.
Ah! Sim. E como está? - O tom da voz dela era completamente indiferente.
Cometi um erro, pensou Tanner. Nunca lhe devia ter telefonado.
- Pensei que podíamos jantar outra vez um dia destes, mas provavelmente está muito ocupada, por isso talvez seja melhor...
- Que tal esta noite?
Tanner foi mais uma vez apanhado desprevenido. Estava ansioso dar uma lição àquela cabra.
Quatro horas depois, Tanner estava sentado à mesa em frente de Paula Cooper num pequeno restaurante francês a leste da Lexington Avenue. Ficou espantado pelo prazer que sentiu em voltar a vê-la. Esquecera o vigorosa e viva que ela era.
- Senti a sua falta, Princesa - disse ele.
Ela sorriu.
- Oh, eu também senti a sua. Você é o máximo. É uma pessoa especial.
Eram as suas próprias palavras a serem-lhe devolvidas, troçando dele. Maldita.
Parecia que a noite ia ser uma repetição do seu último encontro. Nas noites românticas de Tanner fora sempre ele quem controlara a conversa. Com a Princesa tinha a estranha sensação de que ela estava sempre um passo à sua frente. Tinha sempre resposta pronta para tudo o que ele dizia. Era espirituosa e rápida e não aceitava parvoíces.
As mulheres com quem costumava sair eram sempre belas e disponíveis, mas, pela primeira vez na vida, Tanner sentia que talvez tivesse andado a perder alguma coisa. As outras eram todas demasiado fáceis. Eram agradáveis, mas demasiado agradáveis. Não havia ali qualquer desafio. Mas Paula...
- Fale-me de si - pediu Tanner.
Ela encolheu os ombros:
No dia seguinte, Tanner voltou a ligar.
- Princesa?
- Estava à espera que me telefonasse, Tanner. - A voz calorosa.
Tanner sentiu um pequeno frémito de prazer.
- O meu pai era rico e poderoso e eu cresci como uma menina mimada, no meio de criadas e mordomos, empregados a servir-nos na piscina, Radcliffe e uma escola de aperfeiçoamento para raparigas. Enfim, o habitual. Depois o meu pai perdeu tudo e morreu. Tenho trabalhado como assistente de um político.
- E gosta do que faz?
- Não. Ele é um chato. - Os olhos deles encontraram-se. - Ando à procura de alguém mais interessante.
- Estava?...
- Sim. Onde é que me vai levar a jantar hoje a noite?
Ele riu.
- Onde lhe apetecer.
- Apetecia-me ir ao Maxim's em Paris, mas qualquer coisa onde possa estar consigo serve.
Apanhara-o mais uma vez desprevenido, mas, por qualquer razão, as palavras dela tinham-no deixado feliz.
Jantaram no La Cote Basque na Fifty-fifth Street e durante o jantar Tanner não parou de olhar para ela e de se interrogar porque se sentia tão atraído por ela. Não era a beleza, era a sua cabeça e a sua personalidade que eram estonteantes. Todo o seu ser brilhava de inteligência e autoconfiança. Era a mulher mais independente que alguma vez conhecera.
As conversas cobriam inúmeros temas e Tanner verificou que ela era espantosamente culta.
- O que é que quer fazer com a sua vida, Princesa?
Ela estudou Tanner por instantes antes de lhe responder:
- Quero poder... O poder de fazer as coisas acontecerem.
Tanner sorriu:
- Então somos muito parecidos.
- A quantas mulheres disse a mesma coisa, Tanner?
Ele deu por si a ficar zangado.
- Importa-se de parar com isso? Quando eu lhe digo que é diferente de todas as outras mulheres que alguma vez...
- Alguma vez o quê?
Tanner respondeu, exasperado:
- Você deixa-me frustrado. :
- Pobre querido. Se está frustrado, porque não vai tomar uma ducha...?
A raiva surgiu de novo. Já ouvira o suficiente. Levantou-se.
- Não interessa. Não vale a pena...
- ...em minha casa.
Tanner nem podia acreditar no que acabara de ouvir. Em sua casa?
- Sim. Tenho um pequeno pied-à-terre em Park Avenue - respondeu ela. - Quer levar-me a casa?
Não comeram a sobremesa.
O pequeno pied-à-terre era um sumptuoso apartamento maravilhosamente decorado. Tanner olhou em volta, maravilhado com o luxo e a elegância. O apartamento combinava com ela, uma colecção de quadros variados, uma mesa de refeitório, um enorme candeeiro de tecto, um canapé italiano e um conjunto de seis cadeiras Chipplldau e um sofá. Foi tudo o que Tanner conseguiu ver antes de ela lhe dizer:
- Venha ver o meu quarto.
O quarto era todo branco, com móveis brancos e um enorme espelho no tecto sobre a cama.
Tanner olhou à sua volta e comentou: - Estou impressionado. Este é o mais...
- Chiu! - Paula começava a despi-lo. - Podemos conversar depois.
Assim que ela o despiu, começou devagarinho a tirar as próprias roupas. Tinha um corpo que era a perfeição erótica. Os seu braços estavam em volta de Tanner, o corpo contra o dele, e ela encostou os lábios ao ouvido dele e murmurou:
- Já chega de preliminares.
Deitaram-se e ela estava pronta para o receber e, quando ele a penetrou, ela apertou as coxas e as ancas e depois relaxou-as e, repetindo esta operação, foi fazendo com que Tanner ficasse cada vez mais excitado. Ela mudava sempre levemente o corpo de posição para que ele recebesse sempre sensações diferentes. Deu-lhe sensações voluptuosas como ele jamais sentira, estimulando-o a um ponto de êxtase total.
Mais tarde, bastante mais tarde, conversaram pela noite dentro.
Depois dessa, ficaram juntos todas as noites. A Princesa não cessava de o surpreender com o seu humor e o seu encanto e, gradualmente, aos olhos dele transformou-se numa mulher maravilhosa.
Uma manhã, Andrew disse a Tanner:
- Nunca antes te vi sorrir tanto. Temos mulher?
Tanner anuiu.
- Sim.
- E é sério? Vais casar com ela?
- Tenho pensado nisso.
Andrew ficou a olhar para Tanner por momentos.
- Talvez não fosse má idéia dizeres-lhe.
Tanner apertou o braço ao irmão. - Talvez o faça.
Na noite seguinte, Tanner e a Princesa estavam sozinhos no apartamento dela. Tanner começou a falar:
- Princesa, um dia pediste-me que te dissesse algo que nunca antes tenha dito a outra mulher.
- Sim, querido?
Então aqui vai. Quero que cases comigo.
Houve um momento de hesitação, ela sorriu e voou para os braços dele.
- Oh, Tanner!
Ele olhou-a nos olhos.
- Isso é um sim?
Querido, eu gostava muito de me casar contigo, mas receio que tenhamos um problema.
- Que tipo de problema?
- Já te falei disso. Quero fazer alguma coisa de importante.
Quero ter poder suficiente para fazer com que as coisas aconteçam, para poder mudar as coisas. E a base de tudo isso é o dinheiro. Como podemos ter futuro juntos se tu não tens futuro?
Tanner pegou-lhe na mão.
- Isso não é problema. Eu sou dono de metade de um negócio muito importante, Princesa. Um dia vou ter dinheiro que chegue para te dar tudo o que quiseres.
Ela abanou a cabeça.
- Não, o teu irmão Andrew, ele é que te diz o que tens de fazer. Sei tudo sobre vocês os dois. Ele nunca vai permitir que a empresa cresça e eu preciso mais do que aquilo que me podes dar agora.
- Estás enganada. - E Tanner reflectiu por momentos. - Quero que conheças o meu irmão.
Os três almoçaram no dia seguinte. Paula foi encantadora, e era óbvio que Andrew gostou imediatamente dela. Nos últimos tempos, Andrew preocupara-se com o tipo de mulheres com que o irmão andava. Aquela era diferente. Tinha personalidade e era inteligente e engraçada. Andrew olhou para o irmão e o seu aceno significava "boa escolha".
- Sei que o KIG tem tido imenso sucesso, Andrew, a ajudar tantas pessoas por esse mundo fora. Tanner contou-me tudo - comentou Paula.
- Fico satisfeito por o podermos fazer. E vamos fazer muito mais.
- Quer dizer que a empresa tem intenções de se expandir?
- Não exactamente. O que quero dizer é que vamos mandar muita gente para mais países onde possamos ser úteis.
- Nessa altura, começaremos a receber propostas de contratos de... - interrompeu Tanner rapidamente.
Andrew sorriu.
- Tanner é tão impaciente! Não há qualquer pressa. Vamos fazer primeiro aquilo que devemos fazer, Tanner. Ajudar os outros.
Tanner olhou para a Princesa do outro lado. A expressão dela não se comprometia.
No dia seguinte, Tanner telefonou-lhe:
- Olá, Princesa. A que horas queres que eu te vá buscar?
Houve um momento de silêncio:
- Querido, lamento muito. Mas não posso manter o nosso encontro de hoje à noite.
Tanner foi apanhado de surpresa.
- Passa-se alguma coisa?
- Não. Um amigo meu está na cidade e eu tenho de o ver.
Um amigo? Tanner sentiu uma ponta de ciúme.
- Compreendo. Então e que tal amanhã à noite? Podíamos...
- Não. Amanhã também não posso. Que tal segunda-feira?
Ela ia passar o fim de semana com o outro fulano. Tanner desligou, preocupado e frustrado.
Na segunda-feira à noite, a Princesa desculpou-se.
- Desculpa aquilo do fim de semana, querido. É que era um velho amigo meu que veio até cá para me ver.
No espírito de Tanner surgiu a imagem do maravilhoso apartamento onde ela vivia. Não havia hipótese de ela o poder pagar com o dinheiro que ganhava.
- Quem é ele?
- Lamento, mas não te posso dizer o nome. É que... bom, ele é muito conhecido e não gosta de publicidade.
- E estás apaixonada por ele?
Ela pegou na mão de Tanner e disse suavemente:
- Tanner, eu estou apaixonada por ti. E só por ti.
- E ele, está apaixonado por ti?
- Sim, está - disse ela hesitando.
Tanner pensou: Tenho que encontrar uma maneira de lhe dar tudo aquilo que ela quer. Não me posso dar ao luxo de a perder.
Na manhã seguinte, às 8 e 45, Andrew Kingsley foi despertado pelo som do seu telefone a tocar.
- Tenho uma chamada da Suécia. Um momento, por favor.
Instantes depois ouviu-se uma voz com um toque de sotaque sueco a dizer:
- Parabéns, senhor Kingsley. O Comité do Nobel escolheu-o para receber o Prémio Nobel da Física deste ano, pelo seu inovador trabalho em nano tecnologia...
O Prémio Nobel! Assim que a conversa terminou, Andrew vestiu-se apressadamente e dirigiu-se de imediato ao seu gabinete. No minuto em que Tanner chegou, Andrew correu para o irmão para lhe dar as novidades. E Tanner abraçou-o.
- O Nobel! Mas isso é maravilhoso, Andrew! Maravilhoso! E era. Porque agora todos os problemas de Tanner estavam em vias de ser resolvidos.
Cinco minutos mais tarde, Tanner falava com a Princesa.
- Percebes o que isto significa, minha querida? Agora que o KIG tem o Prémio Nobel, podemos conseguir todos os negócios que quisermos. Estou a falar em termos de grandes contratos com o governo e com as grandes empresas. Vou poder dar-te o mundo.
- Mas isso é fabuloso, querido.
- E casas comigo?
- Tanner, eu quero casar contigo mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Quando Tanner desligou estava eufórico. Correu para o gabinete do irmão.
- Andrew, vou-me casar.
Andrew levantou os olhos e disse calorosamente:
- Que excelentes notícias. E quando é o casamento?
- Vai ser marcado para muito em breve. E todo o pessoal da em presa vai ser convidado.
Quando Tanner chegou ao seu escritório na manhã seguinte, Andrew o aguardava. E tinha uma flor na lapela.
- Para que é isso?
Andrew sorriu.
- Estou a preparar-me para o teu casamento. Sinto-me muito feliz por ti.
- Muito obrigado, Andrew.
As notícias espalharam-se rapidamente. Como o casamento ainda não tinha sido oficialmente anunciado, ninguém fez qualquer comentário a Tanner, mas havia olhares e sorrisos.
Tanner entrou no gabinete do irmão.
- Andrew, com esta coisa do Nobel, todos virão ter connosco. E com o dinheiro do prémio...
Andrew interrompeu-o:
- Com o dinheiro do prémio vamos poder mandar mais gente para a Eritreia e para o Uganda.
- Mas vais usar este prémio para desenvolver a empresa, não vais? - perguntou Tanner bem devagar.
Andrew abanou a cabeça:
- Vamo-nos limitar a fazer aquilo que nos propusemos, Tanner.
Este olhou longamente para o irmão:
- A empresa é tua, tu é que sabes, Andrew.
Tanner telefonou-lhe assim que decidiu o que fazer.
- Princesa, vou ter que ir a Washington em trabalho. Pode ser que não tenhas notícias minhas durante dois ou três dias.
- Mas nada de louras, nem morenas, nem ruivas - respondeu ela para o arreliar.
- Não há hipótese. És a única mulher no mundo por quem estou apaixonado.
- E eu por ti.
Na manhã seguinte, Tanner Kingsley estava no Pentágono em reunião com o chefe do pessoal, o general Alan Barton.
- Considero a sua proposta muito interessante - comentou o general. - Andávamos sem saber quem devíamos usar para fazer o teste.
- O vosso teste tem a ver com nanotecnologia e o meu irmão acaba de ganhar o Prémio Nobel pelo trabalho que desenvolveu nesse domínio.
- Todos nós sabemos disso.
- Ele está tão excitado que está disposto a fazer tudo pro bono.
- Ficamos muito lisonjeados, senhor Kingsley. Não temos assim tantos laureados com o Prémio Nobel a oferecerem os seus serviços.
- E olhou para cima para se certificar de que a porta estava fechada.
- Isto é top secret. Se resultar, vai ser um dos mais importantes componentes do nosso armamento. A nanotecnologia molecular pode dar-nos o controle do mundo físico, ao nível dos átomos individuais.
Até hoje, todos os esforços para tornar os chips ainda mais pequenos do que o seu tamanho actual têm sido bloqueados devido à interferência electrónica chamada "cross talk", quando os electrões ficam fora de controle. Se esta experiência for bem sucedida, vai dar-nos novas e importantes armas de autodefesa e de ataque.
- Não existe qualquer perigo nesta experiência, pois não? Não quero que aconteça nada ao meu irmão - perguntou Tanner.
- Não precisa de se preocupar. Nós mandamos todo o equipamento de que vão precisar, incluindo os fatos de segurança, e dois dos nossos cientistas para trabalharem com o seu irmão.
- Então temos luz verde?
- Têm.
No regresso a Nova Iorque, Tanner ia pensando: Agora só me falta convencer Andrew.