CAPÍTULO 29


Kathy Ordonez entrou no gabinete de Tanner Kingsley com os jornais da manhã na mão e disse:

- Aconteceu mais uma vez - e deu-lhe os jornais. Todos traziam enormes cabeçalhos.

"Nevoeiro perturba as mais importantes cidades alemãs" "Todos os aeroportos alemães fechados devido ao nevoeiro" "Número de mortos aumenta devido ao nevoeiro na Alemanha"

- Quer que mande tudo isto à senadora van Luven? - perguntou Kathy.

- Sim. E rapidamente - respondeu Tanner a sorrir.

Kathy saiu apressadamente do gabinete.

Tanner olhou para o relógio de pulso e sorriu. A estas horas a bomba já deve ter explodido. Finalmente estou livre daquelas duas cabras. A voz da sua secretária soou no intercomunicador:

- Senhor Kingsley, a senadora van Luven está ao telefone, para falar consigo. Quer atender?

- Sim. - Tanner atendeu o telefone. - Daqui Tanner Kingsley.

- Como está, senhor Kingsley? Fala a senadora van Luven.

- Muito boa tarde, senadora.

- Eu e as minhas assistentes estamos perto das vossas instalações e gostaria de saber se seria conveniente para si aparecermos para uma pequena visita?

- Com certeza - respondeu Tanner com entusiasmo. - Terei muito gosto em lhe mostrar a nossa empresa.

- Muito bem. Estaremos aí dentro em breve.

Tanner premiu o botão do intercomunicador:

- Estou à espera de umas visitas, daqui a minutos. Por favor, não me passe mais chamadas.

Pensou no obituário que lera há poucas semanas nos jornais. O marido da senadora van Luven morrera de um ataque cardíaco. Vou apresentar os meus sentimentos.

Quinze minutos mais tarde, a senadora van Luven e as suas duas atraentes assistentes chegaram.

Tanner ergueu-se para as cumprimentar.

- Sinto-me encantado por ter decidido aparecer.

- Já conhece Corinne Murphy e Karolee Trost - respondeu a senadora. Tanner sorriu:

- Sim. Tenho muito gosto em voltar a vê-las - e virou-se para a senadora. - Soube da morte do seu marido. Lamento muito.

Ela agradeceu.

- Muito obrigada. Há já uns tempos que ele estava doente e por fim, há umas semanas... - respondeu, forçando um sorriso. - A propósito, as informações que me tem enviado sobre o aquecimento global têm sido muito interessantes.

- Muito obrigado.

- Quer ter a amabilidade de nos mostrar então o que fazem aqui?

- Mas é claro. E que tipo de visita têm em mente? Temos visitas de cinco dias, de quatro e de hora e meia.

- A de cinco dias não seria má... - comentou Corinne Murphy a sorrir.

A senadora van Luven interrompeu-a: -Contentamo-nos com a de meia hora.

- Com todo o gosto.

- Quantas pessoas trabalham no KIG? - perguntou a senadora.

- Perto de duas mil. O KIG tem escritórios em cerca de uma dúzia das mais importantes cidades do mundo.

Corinne Murphy e Karolee Trost estavam impressionadas.

- Nestas instalações, temos quinhentos empregados. Os membros da equipa e todos os que se encontram ligados à pesquisa encontram-se em instalações à parte. Cada cientista que aqui empregamos tem um QI mínimo de cento e sessenta.

- São génios! - arquejou Corinne Murphy.

A senadora olhou para ela com um olhar de desaprovação.

- Queiram seguir-me, por favor - pediu Tanner.

A senadora, Murphy e Trost seguiram Tanner através de uma porta lateral que conduzia aos edifícios contíguos e chegaram a uma sala cheia de equipamento de aspecto esotérico.

A senadora dirigiu-se a uma daquelas estranhas máquinas e perguntou: - Para que serve isto?

- Esta máquina é um espectógrafo de som, senadora. Converte o som da voz em escrita impressa. Tem capacidade para reconhecer milhares de vozes.

- E como é que funciona? - perguntou Trost, franzindo o sobrolho.

- Pense assim, quando um amigo lhe telefona, você reconhece-lhe imediatamente a voz porque o padrão de som da voz dele está registado no circuito do seu cérebro. Nós programámos esta maquina da mesma forma. Um filtro electrónico permite apenas a entrada no registo de uma certa gama de freqüências, por isso recebemos simplesmente os traços distintivos da voz dessa pessoa.

O resto da visita transformou-se numa sequência fascinante de gigantescas máquinas, diminutos microscópios electrónicos e salas de laboratório cheias de quadros negros repletos de misteriosos símbolos, laboratórios onde uma dúzia de cientistas trabalhavam em grupo e gabinetes onde um único cientista se encontrava embrenhado a tentar resolver um arcano problema qualquer.

Passaram por um edifício em tijolo vermelho com um conjunto duplo de fechaduras na porta.

- E aqui, o que se passa? - perguntou a senadora van Luven.

- Uma pesquisa governamental secreta. Desculpem-me, mas não é permitido o acesso.

A visita demorou duas horas. Quando terminou, Tanner acompanhou-as de volta ao seu gabinete.

- Espero que tenham gostado - disse.

- Sim. Foi interessante - respondeu a senadora.

- Muito interessante. - Corinne Murphy sorria. Os seus olhos só viam Tanner.

- Eu adorei! - exclamou Karolee Trust.

Tanner virou-se para a senadora:

- A propósito, já teve oportunidade de conversar com os seus colegas acerca do problema ambiental de que falamos?

- Sim - respondeu a senadora, num tom de voz em que não se comprometia.

E pode dizer-me se pensa que existem hipóteses, senadora?

- Senhor Tanner, aqui não se trata de um jogo de pensar. Será informado assim que for tomada uma decisão.

Muito obrigado - retorquiu Tanner, tentando sorrir. - Muito obrigado por terem vindo até cá.

E ficou a vê-las sair. Assim que a porta se fechou nas costas delas, a voz de Kathy Ordonez soou no intercomunicador:

- Senhor Kingsley, Saida Hernandez tem estado a tentar entrar em contacto consigo. Disse que era urgente, mas o senhor pediu-me que não lhe passasse chamadas.

- Ligue para ela - pediu Tanner.

Saida Hernandez era a mulher que ele mandara ao Adams Hotel para colocar a bomba.

- Linha um.

Tanner atendeu o telefone, à espera de ouvir boas notícias.

- Então Saida? Correu tudo de acordo com o plano?

- Lamento muito, senhor Kingsley, mas não! - Sentiu o medo na voz dela. - Elas conseguiram escapar.

- Elas o quê? - O corpo de Tanner ficou rígido.

- Pois foi, senhor. Saíram do hotel antes da bomba explodir.

Um dos porteiros viu-as sair.

Tanner desligou, batendo com toda a força o telefone, e carregou no botão que ligava à sua secretária.

- Diga a Flint e a Carballo para virem cá.

Um minuto mais tarde, Harry Flint e Vince Carballo entravam no gabinete de Tanner. Este olhou-os. Estava furioso.

- As cabras conseguiram mais uma vez escapar. Esta é a última vez que permito que isto aconteça. Estão a perceber? Eu vou dizer onde elas estão e vocês vão tratar-lhes da saúde. Alguma pergunta?

- Não, senhor - responderam Flint e Carballo olhando um para o outro.

Tanner premiu um botão e imediatamente apareceu o mapa electrónico da cidade.

- Enquanto elas tiverem os meus cartões, conseguimos sempre saber onde estão.

E ficaram a ver no ecrã da televisão as luzes a acenderem-se no mapa. Tanner premiu outro botão. As luzes não se mexeram. Cerrou os dentes.

- Desfizeram-se dos cartões.

E o rosto dele foi ficando vez mais vermelho. Virou-se para Flint e Carballo. - Eu quero-as hoje!

Flint olhou para Tanner e perguntou:

- Mas como, se nós nem sabemos onde é que elas estão! Com é que quer...?

- Acham mesmo que ia permitir que uma mulher fosse mais esperta do que eu? - interrompeu. - Enquanto elas tiverem os celulares, não vão a lado nenhum sem nós sabermos.

- O senhor conseguiu arranjar os celulares delas? - perguntou Flint espantado.

Tanner nem se dignou responder. Examinava o mapa.

- Nesta altura já devem estar separadas. - Premiu outro botão.

- Vamos tentar primeiro Diane Stevens. - Marcou um número.

As luzes no mapa começaram a mexer e, devagarinho, foram-se centrando nas ruas de Manhattan, mostrando hotéis, lojas e centros comerciais. Por fim, pararam numa loja em cujo letreiro se lia "O Shopping para Todos".

- Diane Stevens está num centro comercial. - Premiu outro botão. - Vamos ver onde está Kelly Harris.

E repetiu o procedimento. As luzes recomeçaram a mover-se, desta vez centrando-se numa outra parte da cidade.

Os homens olhavam enquanto a zona iluminada se ia reduzindo e mostrava uma rua com uma loja de roupas, um restaurante, uma farmácia e uma paragem de autocarros. As luzes pesquisaram a área e, de repente, pararam em frente de um edifício grande e aberto.

- Kelly Harris está numa estação de camionetas. - A voz dele era sinistra. - Temos que as apanhar e depressa.

- Mas como? - perguntou Carballo. - Cada uma está no seu lado da cidade. Quando lá chegarmos, já terão partido.

- Venham comigo - pediu Tanner virando-se.

E dirigiu-se a uma sala ao lado, com Flint e Carballo mesmo atrás dele. A sala onde entraram era uma imensidão de monitores, de computadores e de teclados electrónicos, com diferentes teclas de cores codificadas. Numa prateleira estava instalada uma pequena máquina com dúzias de CDs e de DVDs. Tanner procurou e inseriu na máquina um que tinha escrito por fora Diane Stevens. E foi explicando aos homens:

- Isto que aqui temos é um sintetizador de voz. As vozes das senhoras Stevens e Harris foram previamente digitalizadas. Os padrões da fala delas foram registados e analisados. Ao premir um botão, cada palavra que eu disser será calibrada de forma a duplicar vozes delas. - Tanner pegou num celular e marcou uns números. Ouviu-se um cauteloso:

Alô? - ouviu-se a voz de Kelly Harris.

Kelly? Que bom que a apanho. - Era Tanner quem falava, mas era a voz de Diane Stevens que eles ouviam.

- Diane! Apanhou-me mesmo a tempo. Estou prestes a sair daqui para fora.

Flint e Carballo ouviam, maravilhados.

- Kelly, para onde vai?

- Vou para Chicago. Vou apanhar um avião para casa, de O'Hare.

- Kelly, não pode ir embora.

Houve um silêncio e em seguida:

- Porquê?

- Porque eu finalmente descobri o que se estava a passar. Já sei quem matou os nossos maridos e porquê.

- Oh, meu Deus! Mas como foi... Tem a certeza?

- Absoluta. Tenho todas as provas de que possamos precisar.

- Diane, isso é maravilhoso.

- Tenho as provas comigo. Estou no Delmont Hotel, na Penthouse A. Daqui vou ao FBI. E queria que viesse comigo, mas se tem mesmo que voltar para casa, compreendo.

- Não! De forma nenhuma. Eu quero terminar aquilo que Mark estava a tentar fazer.

Flint e Carballo ouviam cada palavra, fascinados. Ao fundo, ouvia-se o anúncio do autocarro para Chicago.

- Eu vou consigo, Diane. Disse que era o Delmont Hotel?

- Sim. Fica na Eighty-sixth Street. Penthouse A.

- Vou a caminho. Encontramo-nos daqui a pouco.

A ligação foi cortada. Tanner virou-se para Flint e Carballo.

- Metade do problema está resolvido. Agora vamos tratar da outra parte.

E Flint e Carballo observavam enquanto Tanner inseria um CD com o nome de Kelly Harris no sintetizador. Tanner moveu um interruptor no telefone e marcou uns números.

A voz de Diane surgiu quase imediatamente.

- Alô?

Tanner falou no telefone, mas era a voz de Kelly que se ouvia.

- Diane...

- Kelly! Está tudo bem?

- Está tudo muito bem. Tenho excitantes notícias. Descobri quem matou os nossos maridos e porquê.

- O quê? Mas quem... Quem...?

- Não podemos falar disto ao telefone, Diane. Estou instalada no Delmont Hotel, na Eighty-sixth Street. Penthouse A. Pode vir cá ter comigo?

- Mas é claro. Vou já.

- Excelente, Diane. Fico à espera.

E Tanner desligou e virou-se para Flint:

- Tu é que vais estar à espera! - Deu uma chave a Flint. - Esta é a chave da Penthouse A. É uma suite da empresa. Vai imediatamente para lá e espera por elas. Quero que as mates assim que entrarem a porta. Eu depois trato dos corpos.

Carballo e Tanner viram Flint sair apressadamente pela porta.

- E eu, o que quer que eu faça, senhor Tanner? - perguntou Carballo.

- Tu encarregas-te de Saida Hernandez.

Dentro da suite, à espera, Flint estava determinado a não deixar que, daquela vez, alguma coisa corresse mal. Ouvira falar sobre o que Tanner fazia aos que lhe atrapalhavam a vida. Comigo não, pensou. Pegou na arma, verificou o carregador e aplicou o silenciador. Agora só lhe restava esperar.

Num táxi, a seis quarteirões do hotel, Kelly pensava excitadamente no que Diane lhe dissera. Descobri finalmente o que se estava a passar. Já sei quem matou os nossos maridos e porquê. Tenho todas as provas de que possamos precisar. Mark, finalmente vou fazer com que paguem por aquilo que te fizeram.

Diane estava febril de impaciência. O pesadelo chegava ao fim. Kelly descobrira de alguma forma quem estava por detrás de toda aquela trama para as matar e tinha provas. Richard, vou fazer com que te sintas orgulhoso de mim. Sinto-te perto e...

Os seus pensamentos foram interrompidos pelo motorista do táxi.

- Chegámos, minha senhora. Delmont Hotel.


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