CAPÍTULO 30
Enquanto Diane atravessava o átrio do Delmont Hotel em direcção aos elevadores, o seu coração começou a bater aceleradamente. Estava ansiosa por ouvir o que Kelly tinha para lhe contar.
A porta de um dos elevadores abriu-se e várias pessoas saíram.
- Sobe?
- Sim. - Diane entrou. - Para a Penthouse, por favor.
Pensava velozmente Mas em que projecto estavam os nossos maridos envolvidos que era tão secreto que acabaram por serem mortos? E como foi que Kelly o conseguiu descobrir?.
O elevador encheu. A porta foi fechada e começou a subir. Diane vira Kelly ainda há umas horas atrás, mas, para seu espanto, percebeu que estava com saudades dela.
Ao fim de uma meia dúzia de paragens, o rapaz do elevador abriu a porta e disse:
- Penthouses.
Na sala de estar da Penthouse A, Flint aguardava junto da porta, tentando ouvir os sons que vinham do corredor. O problema é que a porta era bastante grossa e Flint sabia porquê. Não era para evitar que o som de fora se ouvisse no interior. Era para evitar que o som do interior se ouvisse lá fora.
Era naquela Penthouse que tinham lugar as reuniões de administração, mas Flint costumava brincar e dizer que ali nunca ninguém se aborrecera. Três vezes por ano, Tanner convidava alguns directores do KIG de uma dúzia de países. Quando os assuntos agendados terminavam, era trazido um enxame de lindíssimas jovens para divertir os convidados. Flint várias vezes ficara de guarda nessas orgias e agora, ali de pé, relembrava o mar de corpos nus, de gemidos e de libertinagem que se desenrolava, pelas camas e sofás, e imediatamente sentiu uma erecção. Sorriu. Em breve as senhoras resolveriam a situação.
Quando Diane ia a sair do elevador, perguntou ao rapaz:
- Para que lado fica a Penthouse A?
- No lado esquerdo do elevador, mas não está lá ninguém
- Como? - Diane virou-se.
- Essa Penthouse só é usada para reuniões de administração e a próxima é apenas em Setembro.
- Eu não vou a nenhuma reunião de administração. - Diane sorriu. - Vou ter com uma amiga que está à minha espera.
O rapaz, que a ficou a ver enquanto ela virava à esquerda e se dirigia para a Penthouse A, encolheu os ombros, fechou a porta do elevador e começou a descida.
A medida que Diane se aproximava da porta da Penthouse, acelerou o passo, tal era a excitação que sentia a crescer dentro de si.
Lá dentro, Flint aguardava que batessem à porta. Qual delas será a primeira a chegar? A loura ou a negra ? Quero lá saber, não sou racista!
Pareceu-lhe ouvir o som de alguém a aproximar-se e segurou na arma com firmeza.
Kelly lutava para combater a impaciência. Chegar ao Delmont Hotel fora complicado, o trânsito... os sinais vermelhos... as obras nas ruas. Estava atrasada. Correu pelo átrio do hotel e entrou no elevador.
- Para a Penthouse, por favor.
No quinquagésimo andar, enquanto Diane se aproximava da Penthouse A, a porta da suítezinha abriu-se e um empregado apareceu, recuando para o corredor, enquanto puxava um enorme carrinho cheio de bagagens, bloqueando-lhe a passagem.
- Eu já tiro isto da frente - disse, em jeito de desculpa.
Voltou a entrar na suite e apareceu com mais duas malas. Diane tentou passar, mas não havia espaço. O empregado disse:
- Pronto, já está. Queira desculpar o incómodo - e afastou o carrinho para que Diane pudesse passar.
Ela caminhou até à Penthouse A e erguia a mão para bater à porta quando se ouviu uma voz a chamar, vinda do fundo do corredor:
- Diane!
Virou-se. Kelly acabava de sair do elevador.
- Kelly!
Diane voltou para trás ao seu encontro.
Dentro da Penthouse, Flint tentava ouvir o que se passava. Estaria ali alguém? Podia abrir a porta para espreitar, mas, se o fizesse, podia pôr o plano em risco. Mata-as assim que entrarem pela porta.
No corredor, Kelly e Diane abraçavam-se, encantadas por se reencontrarem.
- Desculpe estar atrasada, mas o trânsito estava uma desgraça.
Apanhou-me no momento em que ia apanhar o autocarro para Chicago - dizia Kelly.
Diane olhava intrigada para ela.
- Eu? Eu apanhei-a?
- Sim. Estava a entrar para o autocarro quando me ligou.
Fez-se um momento de silêncio.
- Mas, Kelly... Eu não lhe liguei. Foi você quem me ligou. Para me dizer que tinha as provas de que precisamos... - E viu o olhar de horror a aparecer no rosto de Kelly.
- Eu não...
Viraram-se as duas a olhar para a Penthouse A. Diane respirou fundo.
- Vamos...
- Isso.
Desceram a correr um lanço de escadas, entraram no elevador e saíram do hotel, tudo em menos de três minutos.
Dentro da Penthouse, Flint olhava para o relógio. Mas porque é que as cabras estão a demorar tanto tempo?
Diane e Kelly sentaram-se no metropolitano numa carruagem apinhada de gente.
- Não sei como eles fizeram isto - começou Diane. - Mas era a sua voz.
- E eu ouvi a sua. Eles não vão descansar enquanto não nos matarem. São como polvos com milhares de tentáculos sangrentos que querem colocar em redor dos nossos pescoços.
- Para nos matarem, precisam primeiro de nos encontra ripostou Diane.
- Como é que nos encontraram desta vez? Já nos desfizemos dos cartões do Kingsley e não temos mais nada com que possam... Olharam uma para a outra e em seguida para os celulares.
- Mas como foi que eles conseguiram os nossos números? - interrogou-se Kelly.
- Lembre-se de com quem estamos a lidar. De qualquer das maneiras, este é, talvez, o lugar mais seguro em toda Nova Iorque. Pod mos ficar no metropolitano até que... - Diane olhou para o outro lado da coxia e ficou pálida.
- Vamos sair na próxima paragem - pediu com urgência na voz. - Na próxima.
- O quê? Mas você disse...
E Kelly seguiu o olhar de Diane. Na placa de anúncios que corria por cima das janelas estava uma fotografia de uma sorridente Kelly que anunciava um lindíssimo relógio de senhora. - Oh, meu Deus!
Levantaram-se e dirigiram-se apressadamente para a porta, à espera da próxima paragem. Dois marines sentados junto à porta olhavam de boca aberta para elas.
Kelly sorriu-lhes, tirou o celular a Diane, pegou no seu e deu um a cada um dos militares. - Nós depois ligamo-vos.
E desapareceram.
Na Penthouse, o telefone tocou. Flint atendeu-o.
- Já passou uma hora. O que se passa, senhor Flint? - perguntou Tanner.
- Elas não apareceram.
- O quê?
- Tenho estado aqui à espera.
- Volta já para o escritório.-Tanner desligou o telefone com força.
No início começara como um assunto de trabalho sem importância de que Tanner tinha de tratar. Agora passara a ser um assunto pessoal. Tanner pegou no seu celular e marcou o número do celular de Diane.
Um dos marines a quem Kelly dera os telefones atendeu: - finalmente, querida! Então, o que fazemos hoje à noite?
As cabras desfizeram-se dos telefones.
Era uma pensão de aspecto rasca, numa rua lateral do West Side. Quando o táxi ia a passar em frente, Diane e Kelly repararam no anúncio que dizia "TEMOS QUARTOS" e Diane pediu ao motorista:
- Pare aqui, por favor.
As duas saíram e bateram à porta da frente do prédio. A dona da pensão, que lhes abriu a porta, era uma simpática mulher de meia idade chamada Alexandra Upshaw.
- Posso arranjar-vos um excelente quarto a quarenta dólares por noite, com pequeno almoço.
- Isso é óptimo - respondeu Diane, mas viu a expressão no rosto de Kelly. - O que se passa?
- Nada! - Kelly fechou por instantes os olhos. Não, aquela não se parecia nada com a pensão em que fora criada, a limpar retretes, a ter de cozinhar para gente desconhecida e a ouvir os sons do padrasto bêbado a bater na mãe. Conseguiu esboçar um sorriso. - Serve perfeitamente.
Na manhã seguinte, Tanner estava reunido com Flint e Carballo.
- Elas deitaram fora os meus cartões e despacharam também os celulares - disse.
- Então, quer dizer que as perdemos - comentou Flint.
- Nada disso, senhor Flint - respondeu Tanner. - Só por cima do meu cadáver. Nós não vamos atrás delas. Elas é que virão ter connosco.
Os dois homens olharam um para o outro e em seguida de volta para Tanner.
- Como assim?
- Diane Stevens e Kelly Harris vão estar aqui, no KIG, na próxima segunda-feira, às onze e um quarto da manhã.