CAPÍTULO 18
No dia seguinte, Tanner estava calmamente sentado no seu gabinete quando a secretária lhe ligou.
- Está aqui uma comissão para falar com o senhor.
- Uma comissão?
- Exactamente.
- Eles que entrem.
Supervisores de vários departamentos do KIG entraram no gabinete de Tanner.
- Senhor Kingsley, gostaríamos de lhe dar uma palavrinha.
- Façam o favor de se sentarem.
Todos se sentaram.
- Qual é o problema?
Um dos encarregados começou:
- Bom... É que nós estamos um pouco preocupados. Depois do que aconteceu ao seu irmão... O KIG vai continuar a funcionar?
Tanner abanou a cabeça.
- Não faço idéia. Neste momento, ainda estou em estado de choque. Não consigo aceitar o que aconteceu a Andrew. - E ficou por momentos pensativo. - Mas eu digo-vos o que vou fazer. Não posso predizer as nossas hipóteses, mas, pelo meu lado, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que permaneçamos a funcionar. Esta é uma promessa que eu próprio faço. Manter-vos-ei ao corrente.
Ouviram-se murmúrios de aprovação e Tanner ficou a ver os homens sair.
No dia em que Andrew saiu do hospital, Tanner colocou-o numa das casas do pessoal que havia nas instalações, onde facilmente podiam cuidar dele, e deu-lhe um gabinete mesmo ao lado do seu. Os empregados ficaram atónitos ao ver o que acontecera a Andrew.
Passara de um cientista brilhante e atento para um zombie. A maior parte do dia passava-o sentado numa cadeira, a olhar pela janela, meio a dormir, mas parecia feliz por estar de volta ao KIG, embora tivesse apenas uma vaga idéia do que fazia ali. Todos os empregados estavam comovidos com a forma como Tanner tratava bem do irmão e pela solicitude e cuidado que demonstrava para com ele. A atmosfera no KIG mudou quase de um dia para o outro. Quando fora Andrew a dirigi-la, tudo era informal. Agora, de repente, transformara-se numa empresa formal e era gerida como um verdadeiro negócio, em lugar da anterior filantropia. Tanner começou a enviar agentes para fora da empresa com a finalidade de angariarem clientes. Os negócios começaram a florescer a uma velocidade extraordinária.
A notícia da mensagem de adeus de Princesa espalhou-se rapidamente pela empresa. Os empregados que se tinham preparado para um casamento interrogavam-se como Tanner ia encaixar este rude golpe. Houve inúmeras especulações entre o pessoal sobre o que ele faria depois desta rejeição.
Dois dias depois de Tanner ter recebido a carta, apareceu uma notícia nos jornais a anunciar que a que fora noiva de Tanner se casara com Edmond Barclay, um milionário e grande senhor dos media. As únicas alterações no comportamento de Tanner foi um aumento na rabugice e uma ética de trabalho que era ainda mais forte do que anteriormente. Todas as manhãs passava duas horas sozinho, a trabalhar num projecto que estava envolto em total secretismo.
Uma noite, Tanner foi convidado para falar na MENSA, a sociedade de pessoas de QI elevado. Como muito dos empregados do KIG eram seus membros, ele acabara por aceitar.
Quando chegou, na manhã seguinte, ao quartel-general, estava acompanhado por uma das mais belas mulheres que os seus empregados alguma vez tinham visto. Tinha aspecto latino, olhos escuros, uma tez cor de azeitona e uma figura sensacional.
Tanner apresentou-a ao pessoal.
- Esta é Sebastiana Cortez. Discursou ontem na MENSA. Uma apresentação brilhante.
De repente, toda a atitude de Tanner parecia mais ligeira. Levou-a para o seu escritório e não voltaram a aparecer durante uma hora. Quando saíram, almoçaram na sala de jantar particular de Tanner.
Uma das funcionárias fez uma busca sobre Sebastiana na internet. Era uma antiga Miss Argentina e vivia em Cincinati, onde estava casada com um proeminente homem de negócios.
Quando regressaram ao escritório dele depois do almoço, a voz de Tanner ouvia-se na recepção através do intercomunicador, que ele deixara ligado.
- Não te preocupes, querida. Acabamos por descobrir uma maneira de resolver as coisas.
As secretárias juntaram-se em redor do intercomunicador, ouvindo interessadamente a conversa.
- Temos de ter muito cuidado. O meu marido é um homem muito ciumento.
- Não vai haver problema. Tratarei de tudo para que nos continuemos a manter em contacto.
Não era preciso ser-se um génio para perceber o que estava a acontecer. As secretárias estavam com dificuldade em evitar o riso.
- Tenho muita pena que tenhas de regressar já a casa.
- Também eu. Quem me dera poder ficar, mas não é possível.
Quando Tanner e Sebastiana saíram do escritório, eram a imagem do decoro. Os empregados deliciaram-se com a idéia de que Tanner não imaginava que eles sabiam o que se passava.
No dia seguinte à partida dela, Tanner mandou vir um telefone banhado a ouro, para ser instalado no seu escritório com um misturador digital. A sua secretária e as assistentes tinham ordens expressas para nunca o atenderem.
Daí em diante, Tanner falava no telefone dourado praticamente todos os dias e no fim de cada mês partia para um prolongado fim-de-semana de onde regressava com aspecto refrescado. Nunca disse aos empregados onde ia, mas eles adivinhavam.
Dois dos assistentes de Tanner estavam a conversar e um deles disse ao outro:
- A palavra rendez-vous diz-te alguma coisa?
A vida amorosa de Tanner recomeçara novamente e a mudança nele era bem visível. Todos andavam satisfeitos.