CAPÍTULO 42


Kelly foi a primeira a abrir os olhos. Estava deitada de costas, despida, no nu chão de cimento de uma cave, as mãos algemadas com correntes de vinte e quatro centímetros, presas à parede, logo acima do chão. Numa parede mais afastada via-se uma pequena janela com grades, e a entrada fazia-se através de uma porta de aspecto robusto.

Kelly virou-se para Diane, que estava a seu lado, também ela nua e algemada. As roupas delas estavam atiradas para um canto.

- Onde estamos nós? - perguntou Diane meia grogue.

- No Inferno, companheira.

Kelly experimentou as algemas. Estavam fechadas e bem apertadas em redor dos seus pulsos. Conseguiu levantar o braço dez ou quinze centímetros, mas mais nada.

- Caímos direitinhas na armadilha - disse, amargamente.

- Sabe o que mais odeio em tudo isto?

Kelly olhou em redor do quarto nu e respondeu:

- Não faço a mínima idéia.

- É que eles ganharam. Sabemos porque mataram os nossos maridos e porque nos vão agora matar a nós, mas não temos qualquer hipótese de passar a informação lá para fora, para que o mundo saiba. Eles vão-se safar. Kingsley tinha razão. A nossa sorte chegou, finalmente, ao fim.

- Não, não chegou.

A porta abriu-se e Harry Flint entrou no quarto. O seu sorriso cresceu. Fechou a porta atrás de si e meteu a chave no bolso.

- As balas que disparei eram de Xilocaína. Devia ter-vos matado, mas depois pensei que antes disso nos podíamos divertir um pouco.

Aproximou-se.

As duas mulheres trocaram um olhar aterrorizado. Ficaram a ver enquanto ele, sorridente, despia a camisa e as calças.

- Olhem só o que eu tenho aqui para vos dar. Deixou cair as cuecas. O seu membro estava teso e túrgido. Olhou para elas e avançou na direcção de Diane.

- Porque não começo por ti, minha querida, e depois...?

Kelly interrompeu-o:

- Espera aí, bonitão. Que tal começares por mim? Estou cheia de tesão.

Diane olhava, estupefacta, para ela.

- Kelly...

Flint virou-se para Kelly e desfez-se em sorrisos.

- Mas é claro, querida. Tu vais adorar.

- Oh, sim! - gemeu Kelly. - Sinto tanto a falta disso.

Diane fechou os olhos. Não tinha forças para ver aquilo.

Kelly afastou as pernas e, quando Flint começou a entrar nela, ela ergueu o braço uns centímetros e meteu a mão no seu elaborado penteado. Quando a retirou trazia um travessão com uma lâmina de aço com quinze centímetros de comprimento. Num movimento destro, espetou a lâmina na parte de trás do pescoço de Flint, enterrando-a até ao fundo.

Flint tentou berrar, mas a única coisa que se ouviu foi um gorgolejar rouco. O sangue escorria-lhe pelo pescoço. Diane abriu os olhos, atordoada.

Kelly olhou para ela.

- Já pode... Agora já pode relaxar. - E afastou o corpo inerte de cima de si. - Ele está morto.

O coração de Diane batia tão depressa que parecia que lhe ia saltar do peito. Estava pálida de morte.

Kelly olhava para ela, alarmada.

- Sente-se bem?

- Eu estava com medo que ele - E a boca ficou-lhe seca. Olhou para o corpo de Harry Flint e estremeceu. - Porque é que não me contou? - Apontou para o travessão espetado no pescoço do outro.

- Porque se não servisse para nada... Bom, eu não queria que pensasse que eu a estava a deixar mal. Vamos sair daqui.

- Como?

- Já lhe mostro. - Kelly esticou uma das suas longas pernas para onde Flint deixara cair as calças. Os seus dedos dos pés esticaram-se para as alcançar. Faltavam uns seis centímetros. Mudou de posição. Ainda faltavam três centímetros. Finalmente, foi bem sucedida. Sorriu. – Voilà! Os seus dedos do pé apanharam as calças e, devagarinho, foi puxando por elas até ficarem suficientemente perto para lhes poder chegar com as mãos. Vasculhou os bolsos das calças à procura da chave. Encontrou-a. Uns segundos depois, tinha as mãos soltas. Correu para junto de Diane.

- Meu Deus, você é um milagre - exclamou esta.

- Agradeça ao meu novo penteado. Vamos sair daqui.

As duas mulheres apanharam as roupas do meio do chão e vestiram-se rapidamente. Kelly retirou a chave da porta do bolso de Flint.

Dirigiram-se para a porta e pararam para escutar. Silêncio. Kelly abriu a porta. Estavam num longo corredor vazio.

- Deve haver algures uma saída - disse Diane.

- Pois deve - concordou Kelly. -Vá por aí que eu vou...

- Não. Por favor. Vamos ficar juntas, Kelly.

Kelly apertou suavemente o braço a Diane e anuiu.

- Com certeza, companheira.

Minutos mais tarde, as duas mulheres deram por si numa garagem. Lá dentro havia um Jaguar e um Toyota.

- Escolha - disse Kelly.

- O Jaguar dá. muito nas vistas. Vamos levar o Toyota.

- Só espero que a chave esteja...

E estava. Diane sentou-se ao volante.

- Faz alguma idéia para onde vamos? - perguntou Kelly.

- Para Manhattan. Mas ainda não tenho nenhum plano.

- Ora aí estão boas notícias - respondeu Kelly suspirando.

- Precisamos de encontrar um lugar para dormir. Quando Kingsley descobrir que conseguimos fugir, vai ficar doido. Não estaremos seguras em lado nenhum.

Kelly pensava.

- Estaremos, sim.

- O que quer dizer com isso? - perguntou Diane a olhar para ela.

- Eu tenho um plano - respondeu Kelly, orgulhosa.


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