CAPÍTULO 43
Enquanto guiava em direcção a White Plains, a quarenta quilômetros de Manhattan, Diane comentou:
- Parece ser uma cidade simpática. O que estamos aqui a fazer?
- Tenho aqui uma amiga. Ela toma conta de nós.
- Fale-me dela.
Kelly começou a dizer devagarinho:
- A minha mãe casou-se com um bêbado que gostava de lhe bater. Quando tive, finalmente, possibilidade financeira de tomar conta dela, consegui convencê-la a deixá-lo. Uma modelo que eu conhecia e que fugira a um namorado que a maltratava falou-me neste local. E uma pensão gerida por um anjo que se chama Grace Seidel. Trouxe a minha mãe para aqui até lhe conseguir arranjar um apartamento. Vinha todos os dias visitá-la a Grace Seidel. A minha mãe adorou cá estar e fez amizade com outras pensionistas.
Finalmente arranjei-lhe um apartamento e vim buscá-la. - Calou-se.
- E que aconteceu? - perguntou Diane.
- Ela voltou para o marido.
Tinham chegado à pensão.
- Cá estamos.
Grace Seidel era uma mulher que estava por volta dos cinqüenta anos, dinâmica, uma maternal bola de energia. Quando abriu a porta e viu Kelly, o seu rosto iluminou-se.
- Kelly! - Abraçou-a. - Que bom ver-te.
- Esta é a minha amiga Diane - apresentou Kelly.
Trocaram cumprimentos.
- O quarto já está à vossa espera - disse Grace. - Aliás, era o quarto da tua mãe. Mandei pôr mais uma cama.
Quando Grace Seidel as acompanhava até ao quarto, passaram por uma sala de estar de aspecto muito confortável onde uma dúzia de mulheres jogavam às cartas ou se dedicavam a outras actividades.
- Quanto tempo vão ficar? - perguntou Grace.
- Ainda não sabemos - responderam, depois de olharem uma para a outra.
- Não há qualquer problema - respondeu Grace a sorrir. - O quarto é vosso enquanto precisarem dele.
O quarto era muito agradável, bem tratado e limpo. Quando Grace Seidel as deixou, Kelly disse a Diane:
- Aqui estamos seguras. E a propósito, acho que entrámos para o Livro dos Recordes do Guiness. Sabe quantas vezes eles nos tentaram matar?
- Sim, sei. - Diane estava de pé junto da janela. E Kelly ouviu-a dizer: - Obrigada, Richard.
Kelly ia dizer qualquer coisa, mas depois pensou: Não vale a pena.
Andrew, dormitando sentado à sua secretária, sonhava que estava a dormir numa cama de hospital. As vozes no seu quarto tinham-no acordado.
-... E, felizmente, descobri isto quando estávamos a descontaminar o fato de protecção de Andrew. Pensei que lho devia mostrar imediatamente.
- Os tipos do exército tinham-me garantido que era perfeitamente seguro.
Um homem dava a Tanner uma das máscaras de gás do equipamento do exército.
- Encontrei um pequeno buraco. Parece que alguém lhe fez um corte. Foi o suficiente para provocar o estado em que o seu irmão se encontra.
Tanner olhou para a máscara e berrou:
- Quem quer que seja o responsável por isto vai ser punido. - Olhou para o homem e disse: - Vou já tratar do assunto. Muito obrigado por me ter avisado.
Deitado na cama, Andrew, meio grogue, viu o homem sair. Tanner ficou a olhar por instantes para a máscara e em seguida dirigiu-se a um canto do quarto onde estava um carro de hospital cheio de lençóis sujos.
Abriu caminho até ao fundo do carro e enterrou a máscara no meio dos lençóis. Andrew tentou perguntar ao irmão o que se estava a passar, mas estava demasiado cansado. Adormeceu.
Tanner, Andrew e Pauline tinham regressado ao gabinete de Tanner, e ele pediu à secretária que lhe trouxesse os jornais da manhã. Começou a dar uma vista de olhos pelas primeiras páginas.
- Olhem para esta: "Cientistas não compreendem as tempestades fora de tempo que se abatem sobre Guatemala, Peru, México e Itália..."
Olhou, exultante, para Pauline.
- E isto é simplesmente o começo. Vão ter muito mais com que se espantar.
Vince Carballo entrou apressadamente na sala.
- Senhor Kingsley...
- Estou ocupado. O que foi?
- Flint morreu.
Tanner ficou de boca aberta.
- O quê? O que é que está a dizer? O que foi que aconteceu?
- A Stevens e a Harris mataram-no!
- Isso é impossível!
- Ele está morto. Elas escaparam e levaram o carro da senadora.
Participámos o roubo à polícia, que o encontraram em White Plains.
A voz de Tanner era sombria.
- Eu quero que faça o seguinte: arranje uma dúzia de homens e vá até White Plains. Passem a pente fino todos os hotéis, pensões e mesmo as pensões mais rascas. Qualquer lugar onde elas se possam esconder. Dou uma recompensa de quinhentos mil dólares a quem mas entregar. E despachem-se!
- Sim, senhor.
Vince Carballo saiu apressadamente.
- Não quero falar sobre isso.
- Desculpe. Sabe qual é a maior frustração? E que estivemos tão perto. Agora que sabemos o que aconteceu, não temos ninguém a quem contar. Era a nossa palavra contra a do KIG. Metiam-nos logo num asilo.
- Tem razão – concordou Kelly. – Não temos ninguém a quem recorrer.
Houve um momento de silêncio e em seguida Diane disse devagarinho:
- Temos, sim.
Os homens de Vince Carballo estavam espalhados pela cidade a verificar todos os hotéis e pensões. Um dos homens mostrou fotos de Diane e de Kelly ao empregado do Esplanade Hotel.
- Por acaso viu alguma destas mulheres? Há uma recompensa de meio milhão de dólares por elas.
O empregado abanou a cabeça.
- Quem me dera saber onde elas estão.
No Renaissance Westchester Hotel outro homem mostrava as fotos de Diane e Kelly.
- Meio milhão de dólares? Não me importava de ficar com eles.
No Crowne Plaza o empregado dizia:
- Se eu as vir, pode ter a certeza que o aviso, cavalheiro.
Vince Carballo bateu à porta da pensão de Grace Seidel.
- Bom dia.
- Bom dia. O meu nome é Vince Carballo. - Mostrou uma foto das duas mulheres. -Viu alguma destas mulheres? Há uma recompensa de meio milhão de dólares por elas.
O rosto de Grace Seidel iluminou-se.
- Kelly!
No seu quarto na pensão de Grace Seidel, Diane perguntou:
- Lamento muito o que se passou consigo quando foi a Paris.
Eles mataram o porteiro?
- Não sei, não faço idéia. A família pura e simplesmente desapareceu.
- E o seu cão?
Kelly respondeu, tensa: Não sei.
No gabinete de Tanner, Kathy Ordonez estava cheia de trabalho. Os faxes chegavam depressa de mais e a sua caixa de e-mails estava atulhada. Pegou numa pilha de papéis e entrou no gabinete de Tanner. Este estava sentado num sofá a conversar com Pauline van Luven.
Tanner ergueu o olhar quando ela entrou.
- O que é?
Ela sorriu.
- Boas notícias. Vão ter um jantar muito bem sucedido.
Tanner franziu o sobrolho.
- Desculpe? O que quer dizer com isso?
Ela mostrou-lhe os papéis.
- São todos de confirmações. Toda a gente vem.
Tanner levantou-se.
- Vem onde? Deixe-me ver isso. - Tanner leu o primeiro e-mail em voz alta. - "Temos muito gosto em aceitar o convite para o jantar nas instalações do KIG, na próxima sexta feira, para a apresentação de Prima, a vossa máquina de controle climático." Do editor da revista Time.
Tanner empalideceu. Leu o seguinte.
"Muito obrigado pelo convite para ver Prima, o seu computador que controla o clima, nas instalações do KIG. Temos muito gosto em estar presentes." Estava assinado pelo editor da Newsweek.
Folheou todos os papéis.
- CBS, NBC, CNN, Wall Street Journal, Chicago Tribune, e, de Londres, o The Times, todos ansiosos por poderem assistir à apresentação de Prima.
Pauline permanecia sentada, incapaz de dizer fosse o que fosse. Tanner estava tão furioso que nem conseguia falar.
- Mas que diabo se está a passar? - E de repente parou. - Aquelas cabras!
No Irma's Internet Café, Diane atarefava-se num computador. Olhou para cima para Kelly.
- Falta alguém?
- Elle, Cosmopolitan, Vanity Fair, Mademoisellee, Readers Digest... - respondeu Kelly.
Diane riu.
- Acho que já chega. Só espero que o Kingsley tenha um bom catering. Vai ter muita gente na sua festa.
Vince Carballo olhava para Grace Seidel, excitado.
- Conhece Kelly?
- Sim, conheço - respondeu ela. - É uma das modelos mais famosas do mundo.
O rosto de Vince Carballo iluminou-se.
- E onde é que ela está?
Grace olhou para ele, espantada.
- Isso eu já não sei. Nunca a conheci pessoalmente:
O rosto dele ficou vermelho.
- Mas disse que a conhecia!
- O que eu queria dizer é que toda a gente a conhece. Ela é muito famosa. Não é linda?
- Não faz idéia de onde possa estar?
Grace respondeu, pensativa: - Bem, talvez até tenha alguma idéia.
- Onde?
- Eu hoje de manhã vi uma mulher que se parecia muito com ela a entrar para um autocarro. Ia com outra pessoa...
- Que autocarro era?
- Era o autocarro para Vermont.
- Muito obrigado.
E Vince Carballo partiu apressadamente.
Tanner atirou com a pilha de faxes e e-mails ao chão e virou-se para Pauline.
- Percebeste o que aquelas cabras fizeram? Não podemos permitir que ninguém ponha os olhos no Prima.
Ficou pensativo durante algum tempo.
- Acho que o Prima vai ter um acidente na véspera da festa e acabará por ir pelos ares.
Pauline olhou para ele por instantes e sorriu.
- Prima II!
Tanner acenou com a cabeça.
- Exactamente. Podemos viajar pelo mundo e, quando estivermos prontos, vamos para Tamoa e começamos a funcionar com o Prima II.
A voz de Kathy Ordonez ouviu-se no intercomunicador. Parecia frenética.
- Senhor Kingsley, os telefones estão doidos. Tenho o New York Times, o Washington Post e Larry King, todos em espera para falarem consigo.
- Diga-lhes que estou numa reunião - e virou-se para Pauline.
- Temos de sair daqui para fora. - Deu uma palmadinha nas costas de Andrew. - Anda, vem connosco.
- Sim, Tanner.
Os três saíram e dirigiram-se ao edifício de tijolo vermelho.
- Tenho uma coisa muito importante para tu fazeres, Andrew.
- O que quiseres - respondeu este.
Tanner liderou o caminho até ao edifício vermelho e aproximou-se de Prima. Virou-se para Andrew.
- O que quero que faças é o seguinte. Eu e a Princesa temos de nos ir embora agora, mas às seis da tarde quero que desligues este computador. É muito simples - e apontou. - Estás a ver o botão grande vermelho?
Andrew respondeu que sim. - Sim, estou a ver.
- A única coisa que tens de fazer é premi-lo três vezes, às seis da tarde. Três vezes. Consegues lembrar-te disso?
- Sim, Tanner. Às seis em ponto. Três vezes - respondeu Andrew.
- Muito bem. Encontramo-nos mais tarde.
Tanner e Pauline começaram a afastar-se.
Andrew ficou a olhar para eles. - Não me vão levar convosco?
- Não. Tu ficas aqui. Mas não te esqueças, seis da tarde e três vezes.
- Eu não me esqueço.
Quando saíam cá para fora, Pauline perguntou: - E se ele se esquecer?
Tanner riu.
- Não faz qualquer diferença. Está marcado para explodir automaticamente às seis da tarde. Só queria ter a certeza de que ele está lá dentro quando isso acontecer.