XLII

O gemido baixo que vinha do banco traseiro obrigou Decarabia a espreitar para trás enquanto conduzia. Não conhecia nem queria conhecer os nomes dos dois homens que o acompanhavam na operação, mas sabia que tinha uma emergência entre mãos. O ferido contorcia-se de dores depois de ter sido baleado no abdómen e o brutamontes que tentava cuidar dele não parecia realmente saber o que fazer; a sua especialidade evidentemente era matar, não salvar.

Nada daquilo fora previsto. Decarabia voltou a concentrar-se na condução, buscando mentalmente soluções para a situação que se criara, até que se convenceu de que precisava de instruções superiores. Pegou no auricular, ligou-o e ajustou-o à orelha direita.

Depois marcou o número de telefone.

"Então?", foi a primeira coisa que ouviu do outro lado da linha quando a ligação foi estabelecida. "Já tens o DVD?"

Respirou fundo, preparando-se para dar a má notícia; sabia que não ia ser fácil.

"Infelizmente não, grande Magus", comunicou num tom neutro, blindando as emoções para enfrentar o vendaval que adivinhava. "O passarinho 279


fugiu do ninho e levou o ovo."

Fez-se um breve silêncio na linha.

"O quê?"

A pergunta foi feita com um misto de choque e ameaça, mas Decarabia não se deixou intimidar; desde os seus tempos nas forças especiais que estava habituado a lidar com o perigo e não era a irritação do seu mestre que o faria tremer de medo.

"Capturámos os dois pombinhos no apartamento que nos indicou", disse. "Acontece que o nosso homem, e ao contrário do que me foi sempre comunicado, não tinha o DVD consigo."

"Estás a brincar..."

"Receio bem que não, grande Magus. O que ele tinha era uma informação qualquer que estava num envelope e que conduziria ao local onde o DVD se encontrava escondido."

"Que porra de confusão é essa? Estás a falar de quê?"

O operacional bufou e encheu os pulmões de paciência.

"Estou a falar das informações incompletas que me foram fornecidas", disse. "Uma operação destas requer sempre informações exactas e minuciosas para correr bem. Disseram-me que o tipo tinha o DVD e afinal isso não era verdade. O que ele tinha era uma informação sobre o paradeiro do DVD, o que é bem diferente."

A voz do outro lado acalmou.

"Já percebi. E então?"

"E então isso mudou tudo, até porque o tipo que andamos a caçar é um vivaço de primeira água. Por medida de segurança, o gajo guardou a informação no cofre de um banco." Respirou fundo. "Tivemos de improvisar, como calcula. Meti os pombinhos no carro e levei-os ao banco."

"Enlouqueceste?"

"Era a única maneira de obtermos o paradeiro do DVD, grande Magus", explicou. "Mas correu tudo mal. O cabrão tinha uma arma de electrochoques escondida no cofre e usou-a contra nós. Depois a gaja da 280


Interpol sacou a Glock aqui do brutam... uh... enfim, arrancou-nos uma das nossas armas e abriu fogo contra nós. Um dos nossos ficou ferido. Os tipos fugiram, tivemos de liquidar um segurança do banco e estamos agora mergulhados na maior confusão." Voltou a bufar. "Tenho um ferido comigo e não sei o que fazer com ele."

"Leva-o ao hospital."

"Mas qual hospital, grande Magus? Se entrar num serviço de urgências com um homem baleado na barriga, é evidente que a polícia será de imediato informada..."

"Não te preocupes com a polícia", replicou o seu interlocutor. "Vou estabelecer um contacto com as autoridades espanholas e o problema será de imediato resolvido. O mais importante neste momento é pôr as mãos nesse maldito DVD. Onde estão agora os pombinhos?"

Decarabia suspirou, desalentado com o falhanço.

"Não sei, grande Magus", admitiu com impotência. "Escaparam no meio da confusão e, apesar de termos ido atrás deles, já não os apanhámos. Tínhamos um ferido nas mãos, não é? Isso atrapalhou as coisas, como deve calcular."

Foi a vez de a voz do outro lado da linha respirar fundo, claramente desagradada com as novidades.

"Vou avisar as autoridades espanholas", disse Magus. "Quanto a vocês, seus imbecis encartados, venham de imediato para aqui."

Desligou sem esperar pela resposta.
















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