XLVIII

Havia já algum tempo que Magus abandonara o gabinete, chamado para resolver assuntos urgentes, e deixara os seus homens sozinhos a congeminar uma solução para o problema que lhes apresentara ao convocá-los. Ao fim de meia hora, no entanto, o chefe regressou ao local da reunião e assumiu o seu lugar à mesa.

"Então?", quis saber enquanto ajeitava o casaco. "Como é que vamos montar a armadilha aos nossos pombinhos?"

Os subordinados mantiveram a cabeça baixa e não se atreveram sequer a cruzar os olhares entre eles. Apenas Balam, e por dever da sua responsabilidade de chefe da segurança, se viu na obrigação de responder à pergunta.

"Estivemos a debater o assunto, poderoso Magus, e a verdade é que... enfim, não vai ser fácil. Eles não estão a usar os cartões de crédito nem a fazer telefonemas para amigos ou familiares que 312


tenhamos sob vigilância. Temos de esperar que..."

"Esperar o quê?", impacientou-se Magus. Fitou os seus homens com ar furioso. "Não há cá mais esperas! Temos de ser nós a tomar a iniciativa, entenderam? Não podemos estar aqui sujeitos a um golpe de sorte qualquer que pode nunca surgir."

Balam passou as costas da mão pela testa para limpar a transpiração que lhe germinava no couro cabeludo.

"Talvez se pusermos todas as polícias europeias de sobreaviso..."

O superior hierárquico cravou nele os olhos escuros e fez um grunhido sibilino.

"Só as polícias?", ironizou. "E porque não o exército também?

E, já agora, porque não decretar o estado de emergência em toda a União Europeia? Hã? Ou então convocar o Conselho de Segurança da ONU e aprovar uma resolução! Isso é que era!" Ergueu a voz.

"Decretar o estado de emergência e aprovar uma resolução porque vocês são absolutamente incompetentes para resolver este problema da treta!"

O sarcasmo não se perdeu na mesa. Os subordinados mantiveram-se calados e até Balam se encolheu.

"Era só uma ideia..."

"Uma ideia parva", cortou o chefe, recuperando a compostura.

Endireitou-se na poltrona e enlaçou os dedos uns nos outros. "O que devemos fazer é pôr-nos no lugar desse Tomás Noronha. Estive a consultar a sua lista de chamadas ao longo do ano e constatei que o nosso homem faz imensos telefonemas para o lar onde a mãe vive".

Esboçou um sorriso de escárnio. "Um menino da mamã, portanto."

A observação arrancou risos forçados ao longo da mesa; não havia quem não quisesse agradar ao chefe, sobretudo a meio de uma conversa tão tensa.

"Está em forma, poderoso Magus..."

O líder da organização sabia reconhecer a bajulação quando a 313


via; tinha consciência de que fora espirituoso, mas não dissera nada que justificasse tantas gargalhadas. Era o medo que os fazia curvarem-se.

"O que quero dizer é que por esta altura o nosso amiguinho deve andar em pulgas para ligar à sua rica mãezinha", disse, mais para si próprio do que para os seus homens. "Deve no entanto ter consciência de que estamos a vigiar o telefone da senhora, não é verdade?"

"Sim, poderoso Magus."

Não ligou ao assentimento colectivo que percorreu a sala. Os subordinados não passavam de uns yes men, umas baratas tontas que se limitavam a dizer sim a qualquer ideia que ele apresentasse, mesmo a mais disparatada. Parasitas, era o que eram.

"Se eu fosse esse Tomás Noronha, o que faria para falar com a mãe?" Deslizou os dedos pensativamente pelo mogno polido da mesa, imaginando-se no lugar da sua presa. "Se não pudesse telefonar-lhe.., se não pudesse telefonar-lhe..." Deteve a mão e levantou a cabeça, os olhos a faiscarem. "Já sei!"































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