O

g r e g o

f u n g o u ,

d e s p reocupado. "Com tanto trabalho, suspeito que não será em breve."

O professor Markopoulou encostou-se à parede e escorregou até ficar de cócoras. A espera ia ser longa e não valia a pena desgastarem-se em pé. Percebendo que teria mesmo de ser paciente, Tomás seguiu-lhe o exemplo e deslizou para o chão até se acocorar ao lado do colega.


O jantar foi uma mistela tão intragável que o professor Markopoulou se recusou a comer. Em vez disso pôs duas notas de vinte euros nas mãos do graduado de serviço e pouco depois o homem reapareceu com um saco de plástico e uma garrafa de branco. O vinho tinha um certo sabor avinagrado que o tornava insuportável para o paladar de Tomás, embora perfeitamente aceitável para os gregos que com ele partilhavam a cela, mas a comida constituiu uma agradável surpresa; eram duas doses de moussaka que lhe souberam ao empadão que a mãe lhe fazia na sua infância.

Na altura em que lambiam os restos do jantar obtido a custo de suborno o guarda abriu de novo a porta da cela e atirou mais um detido para o interior. Para surpresa de todos, o recém-chegado não tinha ar de ser um manifestante. Apresentava o cabelo louro 46


despenteado e usava calções às riscas verticais azuis e brancas. O

mais importante é que vestia um pólo branco desportivo com um emblema redondo e negro ao peito. Tratava-se do emblema da Mannschaft, a selecção de futebol da Alemanha.

A chegada do novo recluso desencadeou um burburinho na cela.

Os anarquistas trocaram algumas palavras entre eles e um acabou por se dirigir ao loiro do pólo da Mannschaft.

"Deutsch?"

O olhar do recém-chegado iluminou-se ao compreender a palavra que o identificava.

"Jawohl."

A confirmação desencadeou um novo burburinho entre os restantes reclusos.

"O que estás aqui a fazer? Vieste juntar-te à manifestação?"

O alemão arrebitou uma sobrancelha, como se a simples sugestão fosse a coisa mais absurda que jamais escutara.

"Eu? Nem pensar!"

"Então porque te prenderam?"

"Dirigia-me ao Pártenon quando me deparei com uma multidão que atirava pedras contra as vitrinas e saqueava as lojas. De repente apareceu a Polizei e prendeu toda a gente que ali estava. De modo que fui apanhado enquanto me limitava a fazer turismo."

Trocaram-se na cela novas palavras em grego num tom agitado, inflamado até. A certa altura os anarquistas pareceram chegar a acordo e começaram a movimentar-se; de uma forma sub-reptícia, rodearam o alemão e cercaram-no.

"Isto vai acabar mal", sussurrou o professor Markopoulou, o alarme estampado no rosto. "Muito mal mesmo."

"Porquê? O que se passa?"

O olhar preocupado do arqueólogo grego desviou-se para o detido que momentos antes entrara na sala e depois para os homens que o 47


rodeavam com esgares ameaçadores.

"Estão a dizer que... que..."

"Que o quê?"

O professor Markopoulou engoliu em seco, num esforço para recuperar a frase que lhe morrera na garganta. Quando retomou a fala, quase só lhe saiu um miado amedrontado.

"Que o vão matar."





































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