XXXVII

A primeira coisa que os três homens fizeram quando entraram no prédio da calle Velázquez foi carregar no botão e chamar o elevador.

O aparelho desceu ao rés-do-chão, sempre a emitir um zumbido suave, e imobilizou-se com um soluço, como se estivesse ébrio.

Decarabia abriu a porta e fez sinal aos operacionais que o acompanhavam.

"Mantenham-na aberta."

Garantindo assim que o ascensor não entraria em movimento, pegou numa chave de fendas e soltou o painel de comando onde os botões assinalavam os vários andares. Depois pegou num alicate e cortou as ligações eléctricas por detrás do painel.

As luzes interiores apagaram-se de imediato, como se o elevador tivesse morrido nesse instante.

"Já está."

O ascensor estava inutilizado; se por algum motivo as Presas conseguissem escapulir-se do apartamento, esta via de fuga estava cortada.

Teriam de descer pelas escadas, o que tornava a escapatória bem mais demorada.

Decarabia saiu do interior da caixa escura e deitou a mão à Beretta, até então escondida à sua cintura.

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"Já não estamos na rua", lembrou num sussurro tenso. "Podem preparar a artilharia."

Os dois companheiros obedeceram e tiraram as Glock que também haviam prendido aos cintos, por baixo das camisas. Com as pistolas na mão iniciaram a lenta escalada do prédio, os passos leves para não fazerem barulho.

O primeiro lanço das escadas terminava num pátio estreito com uma janela rectangular. Espreitaram por ela para verificar o que se encontrava nas traseiras. Viram um outro prédio abandonado, exactamente igual àquele em que se encontravam. Decarabia analisou as paredes exteriores do edifício e verificou que havia escadas metálicas a escalarem as traseiras em Z sucessivos, uns por cima dos outros.

"Atenção às saídas de emergência", disse, alertando para a existência das escadas. "Se aqueles prédios as têm, este também as terá." Voltou-se para um dos seus homens, o mais leve. "Quando entrarmos no apartamento, a tua missão é selar essa escapatória.

Percebeste?"

"Afirmativo", devolveu o operacional. "Tivemos o mesmo problema em Nice, quando lá fomos despachar os dois franceses. Na altura bloqueámos as escadas de emergência. Faço o mesmo agora?"

"Não, não é preciso", decidiu Decarabia. "A nossa entrada no apartamento será muito mais rápida, eles não vão ter tempo de fugir para as traseiras. Quando penetrarmos no local, se os nossos pombinhos não estiverem juntos, selas de imediato a saída de emergência. Mas se os apanharmos um ao lado do outro basta que faças uma inspecção ao apartamento para nos certificarmos de que não está lá mais ninguém. Compreendeste?"

"Afirmativo."

Retomaram a ascensão. Pararam momentaneamente no primeiro andar e escutaram o interior dos diversos apartamentos com os ouvidos colados às portas, para perceberem se havia actividade.

"Tudo limpo", decretou Decarabia depois de terem corrido todo o 250


andar. "Vamos."

Subiram ao segundo andar e os olhos dos três fixaram-se na porta que constituía o seu alvo, as armas apontadas nessa direcção, as respirações quase suspensas. Decarabia tocou nos ombros dos dois homens que o acompanhavam e apontou para a porta.

"Vigiem-na."

Correu as restantes portas do andar e certificou-se de que os seus interiores estavam silenciosos. Sentindo-se mais à vontade, aproximou-se da porta que Magus lhe apontara como alvo e encostou os ouvidos à madeira.

Ouviu barulho no interior. Concentrou-se melhor, a orelha totalmente colada à superfície lisa, e destrinçou vozes.

"Um homem e uma mulher", sussurrou para os companheiros.

"São eles."

Os três recuaram dois passos e verificaram as munições nas pistolas. Depois Decarabia tirou duas caixas pretas que trazia no bolso traseiro das calças e abeirou-se de novo da porta. Um dos homens que o acompanhavam mostrou-lhe um rolo de fita adesiva que ele cortou com os dentes. Usou o pedaço de fita adesiva para colar as duas caixas pretas uma à outra e depois à fechadura. Decarabia ultimou as ligações do controlo remoto e os três recuaram para trás da escada, de modo a ficarem protegidos de um impacto directo.

Ab rigad os p el a pa re de d o átri o d o s egu nd o an da r , entreolharam-se para se certificarem de que estavam todos prontos.

Um a um, fizeram que sim com a cabeça. Decarabia ergueu a mão com o controlo remoto e deu início à contagem decrescente para o assalto.

"Cinco.., quatro... três.., dois... um..."


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