CAPÍTULO 3

Confissões de um


condutor de tanque

A BASE MILITAR PRÓXIMA DE GRAZ ERA O quartel-general da divisão de blindados do exército austríaco. Fiquei sabendo disso porque na Áustria todos os jovens do sexo masculino são obrigados a servir as Forças Armadas, e eu estava procurando um jeito de encaixar o serviço militar nos meus objetivos de vida. Pensei que, para o exército, o mais lógico seria alocar alguém do meu tamanho na infantaria, para subir montanhas carregando metralhadoras e munição. Só que a infantaria ficava baseada em Salzburgo, e isso não se encaixava nos meus planos. Eu queria ficar em Graz e continuar meus treinos. Minha missão era ser campeão do mundo de fisiculturismo, não lutar em guerras. Essa tampouco era a missão do exército austríaco. Só tínhamos as Forças Armadas no país porque sua existência era permitida. Era uma maneira de o país expressar sua soberania. Mas o contingente militar era pequeno, e ninguém pretendia travar nenhum combate de verdade.

Eu estava ansioso para entrar no exército e sair de casa pela primeira vez. Acabara de concluir os estudos e quanto antes terminasse o serviço obrigatório, mais cedo poderia conseguir um passaporte.

Ser condutor de tanque parecia bem interessante. Vários amigos que já haviam começado a servir tinham sido alocados em Graz, e eu lhes fiz mil perguntas sobre os trabalhos disponíveis na base. Havia muitos postos para novos recrutas, inclusive na área administrativa ou na cozinha, nas quais nem se chegava perto de um veículo de guerra. Meus amigos, porém, faziam parte da infantaria blindada, ou seja, do grupo treinado para dar apoio aos blindados. Num conflito, eles são transportados de tanque até o local da batalha e descem para procurar minas antitanque e coisas parecidas.

Mas o que me fascinava mesmo eram os tanques em si. Adoro coisas grandes, e o Patton M47 de fabricação americana, batizado em homenagem ao general da Segunda Guerra Mundial, certamente se encaixava nessa categoria. O veículo tinha quase 4 metros de largura, pesava 50 toneladas e era impulsionado por um motor de 800 cavalos de potência. Era tão possante que podia derrubar uma parede sem você nem perceber se estivesse dentro dele. Fiquei pasmo de que alguém de fato confiasse em um garoto de 18 anos para pilotar um veículo grande e caro daqueles. O outro forte atrativo era: para se qualificar como condutor de tanque era preciso primeiro obter habilitação de moto, carro, caminhão e semirreboque. Quem bancava tudo isso era o exército, uma conta que, no mundo civil, teria chegado a milhares e milhares de schillings. O exército austríaco inteiro tinha apenas 90 tanques, e eu queria me destacar.

Meu pai, que ainda sonhava que eu virasse policial ou oficial das Forças Armadas, ficou feliz em dar uma palavrinha com o comandante da base, amigo seu da época da guerra. O cara era um grande fã de esportes e ficou satisfeito em me acolher. Depois que eu completasse o treinamento básico, ele tomaria as providências necessárias para que eu pudesse montar uma academia de halterofilismo na base.

Tudo teria funcionado à perfeição não fosse por um erro de cálculo. A essa altura, eu já tinha começado a ganhar troféus de levantamento de peso. Era o campeão regional juvenil dessa modalidade, e no verão anterior vencera a disputa da divisão de pesos pesados do campeonato austríaco de levantamento de peso, derrotando homens bem mais experientes. Embora se pudesse ver de cara que eu ainda não passava de um garoto superdesenvolvido, eu também estava começando a competir com sucesso no fisiculturismo. Conquistei um campeonato regional e consegui o terceiro lugar na disputa do título de Mister Áustria – colocação boa o bastante para subir ao pódio com Kurt Marnul, que continuava sendo o rei. Logo antes de me alistar, tinha me inscrito na minha primeira competição internacional, a versão juvenil do Mister Europa, etapa seguinte e crucial do meu plano. Eu só não tinha me dado conta de que, durante todas as seis semanas do treinamento básico, não teria como sair de Graz.

O treinamento básico não me incomodou. Lá aprendi que algo que parece impossível no início pode ser alcançado. Nós achávamos que conseguiríamos subir um morro com o equipamento completo? Não. Mas, quando nos mandaram fazer isso, fomos lá e fizemos. No caminho, chegamos até a encher os bolsos com cogumelos, que nessa noite foram entregues ao cozinheiro para que ele preparasse uma sopa.

Apesar disso, eu não conseguia parar de pensar em quanto queria competir pelo título juvenil de Mister Europa. Aproveitava cada instante livre para ensaiar minhas poses na latrina. Implorei ao sargento responsável pelo treinamento para tratar o concurso como se fosse uma emergência familiar e me deixar ir competir em Stuttgart, na Alemanha. Sem chance. Na noite anterior ao concurso, decidi mandar tudo à merda e simplesmente fui.

Sete horas de trem depois, eu estava em território alemão, posando diante de algumas centenas de fãs e recebendo os aplausos. Em 1965, conquistei o título de Jovem Atleta Mais Desenvolvido da Europa. Era a primeira vez que saía da Áustria, e aquele era o maior público que já tivera. Eu me senti o próprio King Kong.

Infelizmente, quando voltei para o campo de treinamento, recebi uma punição. Fui para a detenção e passei 24 horas sozinho dentro de uma cela. Então meus superiores ficaram sabendo da vitória e fui solto. Andei na linha pelo resto do treinamento básico e logo pude entrar para a unidade de blindados comandada pelo amigo do meu pai. A partir daí, o exército virou uma diversão fantástica. Montei uma sala de musculação na caserna, onde podia treinar quatro horas por dia. Alguns dos oficiais e soldados também começaram a treinar. Pela primeira vez na vida, eu podia comer carne todos os dias – proteína de verdade. Ganhei músculos tão rápido que perdia o uniforme a cada três meses e tinha que passar para o tamanho superior.

O treinamento de moto começou imediatamente, seguido pelo de carro no mês posterior. Aprendíamos noções básicas de mecânica, porque era preciso ser capaz de consertar o próprio veículo sempre que surgisse algum defeito simples. Depois vieram as aulas de condução de caminhões, que se revelaram difíceis, pois os caminhões do exército tinham câmbios manuais mal sincronizados. Para aumentar ou diminuir a marcha, era preciso passar pelo ponto morto, acionar a dupla embreagem e acelerar o motor até a velocidade apropriada para que ele se adaptasse à marcha seguinte. Isso deu origem a muitos arranhões no câmbio e a muita tensão, pois, após uns poucos treinos na base, nos mandaram dirigir no tráfego de verdade. Era muito difícil manter os olhos na estrada antes de aprender a passar as marchas sem olhar para o câmbio, como se isso já fosse um hábito. Eu me distraía com a alavanca de câmbio e então, de repente, via carros parados na minha frente e tinha que diminuir a marcha e fazer todas aquelas operações com a alavanca – tudo com o instrutor berrando no meu ouvido. Quando voltávamos para a base, eu estava sempre empapado de suor, e essa era uma ótima maneira de queimar a gordura corporal.

A etapa de conduzir semirreboques também foi cabeluda, principalmente a parte da ré usando os retrovisores e tendo que girar o volante na direção oposta. Levei um tempo para dominar essa técnica e bati e esbarrei em objetos algumas vezes. Foi um verdadeiro alívio quando finalmente pude começar a dirigir os tanques.

O M47 foi projetado para ser guiado com uma só mão, usando uma alavanca que controla as marchas e o movimento das lagartas. Você fica sentado no canto dianteiro esquerdo do compartimento e seus pés controlam um freio e um acelerador. O assento de metal pode ser levantado e abaixado. Em geral, dirige-se com a escotilha aberta e a cabeça para fora do tanque, para poder ver o exterior. Na preparação para o combate, porém, você abaixa o banco, fecha a escotilha e passa a olhar através de um periscópio. À noite, uma versão primitiva de infravermelho permitia distinguir árvores, arbustos e outros tanques. Apesar do meu tamanho, eu cabia no assento, mas conduzir o veículo com a escotilha fechada podia ser muito claustrofóbico. Senti imenso orgulho de aprender a dirigir aquela máquina descomunal, diferente de tudo com que já havia lidado.

O campo de manobras mais próximo era uma grande extensão de terras que margeava o sopé da montanha entre Thal e Graz. Para chegar lá, tínhamos que sair da base e percorrer uma sinuosa estrada secundária de cascalho por uma hora e meia – um grupo formado por 20 tanques, que passava rugindo e sacolejando por casas e povoados. Em geral circulávamos à noite, quando o tráfego de civis era mínimo.

Eu tinha orgulho de minha perícia ao volante: conseguia manobrar com precisão e passar sem muitos sacolejos por buracos e valas, para que meu comandante e os companheiros de tanque não fossem sacudidos de um lado para outro. Ao mesmo tempo, tinha certa propensão a catástrofes.

Quando acampávamos ao ar livre, seguíamos sempre a mesma rotina. Primeiro malhávamos: eu levava meus pesos, minhas barras e meu banco guardados em compartimentos em cima do tanque, onde em geral ficavam as ferramentas. Três, quatro ou cinco outros membros do pelotão se juntavam a mim e fazíamos uma hora e meia de exercícios antes de comer alguma coisa. Havia noites em que os condutores tinham que ficar nos tanques, enquanto os outros iam dormir nas barracas. Cavávamos um buraco raso no chão, forrávamos com um cobertor e estacionávamos o tanque por cima, no intuito de nos protegermos dos javalis selvagens. Não tínhamos autorização para matá-los e eles percorriam livremente a área – acho que sabiam que não poderiam ser abatidos. Também postávamos sentinelas, que ficavam em pé sobre os tanques para os animais não poderem alcançá-las.

Certa noite, quando estávamos acampados perto de um riacho, acordei sobressaltado porque pensei ter ouvido os javalis. Então reparei que não havia nada em cima de mim. Meu tanque tinha sumido! Olhei em volta e o vi uns 10 metros adiante, mergulhado na água, com a traseira para o alto. O nariz estava submerso e o canhão, enfiado na lama. Descobrimos depois que eu tinha me esquecido de acionar a trava, e o solo era suficientemente inclinado para o tanque rolar devagarinho para longe enquanto dormíamos. Tentei tirá-lo do riacho, mas as lagartas tinham atolado na lama.

Tivemos que mandar buscar um reboque de 80 toneladas e gastamos muitas horas para desatolar meu tanque. Depois disso, tivemos que levá-lo para a oficina. A torre de artilharia teve que ser removida. O canhão precisou ser mandado para uma limpeza especial. Por esse descuido, peguei 24 horas de solitária.

Mesmo na garagem dos tanques eu conseguia ser um risco. Certa manhã, dei a partida no meu, ajustei o banco e me virei para verificar os medidores antes de sair. Os números estavam normais, mas senti o tanque se sacudir um pouco, como se o motor estivesse prestes a morrer. Pensei que talvez fosse melhor acelerar um pouco para esquentar o motor. E foi o que fiz, mantendo os olhos cravados nos mostradores, mas o tremor só fez aumentar. Muito estranho. Foi nessa hora que percebi uma poeira caindo. Subi à escotilha para ver e constatei que, em vez de apenas acelerar o motor, eu tinha feito o tanque andar e estava derrubando a parede da garagem. Por isso o tremor. Então um cano estourou e começou a jorrar água para todo lado, e um cheiro de gás tomou conta do ar.

As pessoas gritavam: “Pare! Pare!” Então desliguei o tanque. Desci e corri até o outro lado da garagem para falar com o comandante que conhecia meu pai. Imaginei que ele fosse minha melhor chance. Eu o vira naquela mesma manhã e ele dissera algo como “Encontrei seu pai outro dia e disse a ele que você está se saindo muito bem”.

Bati na porta da sala dele e disse:

– Comandante, acho que causei um pequeno problema.

Ele continuava de excelente humor.

– Ah, não se preocupe. O que aconteceu, Arnold?

– Bem, venha ver. O senhor tem que ver.

– Vamos lá – respondeu ele, e me deu tapinhas nas costas enquanto saíamos, ainda no mesmo humor da manhã, como quem dissesse “Você está indo bem”.

Foi então que ele viu a água jorrando, os homens aglomerados e o tanque entalado na parede.

Seu humor mudou na mesma hora: aos gritos, ele me xingou de todos os nomes em que conseguiu pensar, dizendo que iria ligar para o meu pai e lhe dizer o contrário do que tinha falado antes. As veias de seu pescoço saltaram. Então ele se acalmou e disse:

– Quando eu voltar do almoço, quero isso tudo consertado. É o único jeito de você se redimir. Reúna os homens e dê um jeito.

O bom das Forças Armadas é que elas são uma instituição autossuficiente. A divisão tinha os próprios pedreiros, encanadores e material de construção. Por sorte, o telhado não havia desabado nem nada tão grave assim acontecera, e meu tanque, naturalmente, era feito de aço, de modo que estava inteiro. Os caras acharam meu acidente tão engraçado que na mesma hora se ofereceram para ajudar, então não tive que organizar muita coisa. À tarde, já tínhamos consertado os canos e a parede, e precisamos só esperar até que tudo secasse para poder emassar pelo lado de fora. Eu estava contente, pois tivera a oportunidade de aprender como misturar cimento e montar blocos de concreto. É claro que tive que aturar a base inteira gozando a minha cara: “Ah, sim, eu soube do seu tanque.” Também tive que passar uma semana inteira trabalhando na cozinha, descascando batatas junto com todos os outros palermas em um lugar onde todos podiam nos ver quando iam buscar a comida.

Na primavera de 1966, estava começando a pensar que o exército não era necessariamente útil para mim. Minha vitória em Stuttgart no outono do ano anterior atraíra bastante atenção. Albert Busek, um dos organizadores do concurso e jornalista responsável pela revista Sport Revue, escreveu um comentário prevendo que o fisiculturismo estaria prestes a entrar na era Schwarzenegger. Recebi várias propostas para me tornar treinador profissional, incluindo uma do editor de Busek, Rolf Putziger, o maior promotor do fisiculturismo na Alemanha. Ele me ofereceu um emprego de gerente em sua academia de Munique, a Universum Sport Studio. A proposta era muito tentadora: seria uma bela oportunidade para treinar, e eu teria mais chance de me tornar conhecido. Na Áustria, o fisiculturismo ainda era um coadjuvante do halterofilismo, mas na Alemanha já estava mais consolidado como modalidade independente.

No mundo do fisiculturismo, a notícia de minha vitória em Stuttgart continuava a se espalhar. Eu saíra na capa de várias revistas, pois era um bom personagem para as matérias: um garoto austríaco saído do nada, com 18 anos e bíceps de 48 centímetros.

Decidi que o mais lógico seria pedir uma dispensa antecipada do exército. Junto com o pedido, apresentei uma cópia da oferta de emprego de Putziger e algumas das matérias das revistas sobre mim. Meus superiores sabiam da minha ambição de me tornar campeão de fisiculturismo, e eu achava que aquilo seria um grande passo para mim. Mas não estava muito esperançoso. Embora o período mínimo de serviço no exército austríaco fosse de nove meses, os condutores de tanque precisavam servir por três anos por causa do custo de seu treinamento. Eu já tinha ouvido falar em condutores dispensados antes do prazo por causa de algum parente doente ou porque precisavam voltar para trabalhar na fazenda da família, mas nunca ouvira falar em ninguém dispensado para correr atrás de um sonho.

Não que eu não gostasse do exército. Na verdade, o serviço militar foi uma das melhores coisas que já me aconteceram. Ser soldado contribuiu muito para minha autoconfiança. Quando passei a viver longe da minha família, descobri que podia me virar sozinho. Aprendi a fazer amizade com desconhecidos e a ser amigo também. A estrutura e a disciplina do quartel pareciam mais naturais do que em casa. Depois que cumpria as ordens, tinha a sensação de ter realizado alguma coisa.

Ao longo de nove meses, eu aprendera mil coisas: de lavar e consertar camisas a fritar ovos na tampa do exaustor de um tanque. Dormira ao relento, passara noites inteiras vigiando alojamentos e descobrira que noites insones não querem dizer que você não possa estar na sua melhor forma no dia seguinte, e que dias sem comer não significam que você vá morrer de fome. Eram coisas nas quais eu nunca havia pensado antes.

Minha ambição era me tornar um líder algum dia, mas eu sabia que aprender a obedecer também era importante. Como Winston Churchill tinha dito, os alemães eram os melhores do mundo tanto para esganar alguém quanto para se prostrar a seus pés, e essa mesma psicologia prevalecia no exército austríaco. Se você deixasse seu ego transparecer, eles o recolocavam no seu devido lugar. Aos 18 ou 19 anos, a mente está pronta para absorver essa mensagem. Se não a absorve até os 30, a hora passou. Quanto mais dificuldades o exército nos impunha, mais eu aceitava e sentia que não devia me preocupar. Acima de tudo, tinha orgulho de ser responsável por aquela máquina de 50 toneladas com apenas 18 anos, ainda que nem sempre exercesse essa responsabilidade tão bem quanto deveria.

Meu pedido de dispensa antecipada passou meses tramitando. Antes de ser considerado, outro episódio veio manchar meu histórico militar. Era final de primavera e estávamos fazendo um exercício noturno de 12 horas, das seis da tarde às seis da manhã. Às duas, a companhia tinha manobrado até uma posição no alto de uma crista de montanha e ouvimos a ordem: “Muito bem, pausa para comer. Comandantes de tanque, apresentem-se para instruções.”

Eu estava no rádio, brincando com um amigo que acabara de receber uma versão mais nova do Patton, o M60, movido a diesel. Ele cometeu o erro de se gabar que seu tanque era mais veloz que o meu. Por fim, acabei desafiando-o a provar isso, e começamos os dois a descer a encosta. Eu teria parado – a voz da razão na minha mente me dizia para fazer isso –, mas estava ganhando. Os outros colegas dentro do tanque comigo estavam ficando loucos. Ouvi alguém gritar mandando que eu parasse, mas pensei que fosse apenas outro condutor de tanque tentando me ultrapassar. Quando cheguei ao sopé do morro, parei e olhei para trás à procura do M60. Foi então que reparei em um soldado agarrado com todas as forças à nossa torre de artilharia. Ele e alguns outros membros da infantaria estavam sentados em cima do tanque quando eu começara a descer.

Todos os outros tinham pulado ou caído e ele fora o único que conseguira se segurar até o fim. Acendemos os faróis e tornamos a subir a encosta – devagar, para não atropelar ninguém –, e fomos recolhendo os homens espalhados. Felizmente, ninguém havia se ferido com gravidade. Quando chegamos ao alto, três oficiais aguardavam em um jipe. Passei por eles e estacionei o tanque como se nada tivesse acontecido.

Assim que saí pela escotilha, os três oficiais começaram a me criticar severamente em uníssono. Fiquei em posição de sentido até eles terminarem. Quando a gritaria cessou, um dos oficiais deu um passo à frente, lançou-me um breve olhar de raiva e então começou a rir.

– Condutor Schwarzenegger, leve seu veículo até ali – ordenou ele.

– Sim, senhor!

Estacionei o tanque no ponto que ele havia indicado. Quando saí, percebi que estava no meio de um fundo e espesso lamaçal.

– Agora, condutor Schwarzenegger, quero que o senhor passe rastejando por debaixo do seu tanque. Quando sair lá atrás, suba em cima dele, desça pela torre, passe pelo compartimento e saia pelo alçapão de emergência inferior. Em seguida faça tudo de novo.

Ele me mandou repetir esse circuito 50 vezes.

Quando terminei, quatro horas mais tarde, estava coberto com quase 10 quilos de lama e mal conseguia me mexer. Devo ter sujado o tanque com mais uns 50 quilos de lama ao passar por dentro dele. Depois tive que levá-lo de volta à base para ser limpo. O oficial poderia ter me jogado na detenção por uma semana, mas devo admitir que essa punição foi mais eficaz.

Jamais saberei ao certo, mas acho que a tal corrida de tanques talvez tenha pesado a favor do meu pedido de dispensa antecipada. Algumas semanas depois do incidente, fui convocado a uma audiência com meus superiores. Sobre a mesa do comandante estavam as revistas de fisiculturismo e minha carta de oferta de emprego.

– Explique-nos isto aqui – pediu ele. – O senhor se candidata a ser condutor de tanque por três anos e então, menos de um ano depois, pede para ir embora no verão porque lhe ofereceram um emprego em Munique.

Eu gostava do exército, respondi, mas o emprego em Munique era uma excelente oportunidade para minha carreira.

– Bem – disse o oficial, com um sorriso –, considerando o fato de que a sua presença aqui é um tanto arriscada, vamos aprovar o seu pedido e dispensá-lo mais cedo. Não queremos nenhum incidente com outros tanques.

Загрузка...