CAPÍTULO 16

O exterminador do futuro

NA PRIMEIRA VEZ EM QUE VI O PROJETO gráfico do cartaz do filme O exterminador do futuro, o robô assassino tinha a cara de O. J. Simpson, não a minha. Algumas semanas antes, durante a projeção de um filme, eu havia esbarrado com Mike Medavoy, diretor da Orion Pictures, estúdio que estava financiando o projeto.

– Achei o filme perfeito para você – disse ele. – Chama-se O exterminador do futuro.

Fiquei desconfiado na hora, pois houvera um filme de ação muito ruim alguns anos antes intitulado O exterminador.

– Que título estranho – comentei.

– Bom, podemos mudá-lo – retrucou ele. – Mas, enfim, é um papel ótimo, de protagonista, bem heroico. – Ele descreveu um filme de ação e ficção científica no qual eu interpretaria um corajoso soldado chamado Kyle Reese, que luta para salvar uma garota e proteger o futuro do mundo. – O. J. Simpson praticamente já aceitou interpretar o Exterminador, que é mais ou menos uma máquina de matar.

Olhei para ele com curiosidade. Ele sugeriu:

– Por que não marcamos uma reunião? O diretor mora em Venice, perto do seu escritório.

Estávamos na primavera de 1983. Eu vinha lendo vários roteiros, pois tinha ideia de embarcar em mais um novo projeto além de Conan, o destruidor, cujas filmagens estavam previstas para começar mais para o final do ano. Recebia propostas de filmes de guerra, policiais e até mesmo um ou dois romances. Fiquei interessado em um roteiro sobre Paul Bunyan, o lendário lenhador gigantesco, uma das principais figuras do folclore americano. Gostei do fato de ele sair por aí combatendo injustiças e achei que ter um boi azul como comparsa poderia ser divertido. Houve também o roteiro sobre o herói folclórico Big Bad John, baseado na canção de sucesso do cantor country Jimmy Dean lançada em 1961. Ela conta a lenda de um mineiro fortíssimo e misterioso que usa sua força para salvar os colegas durante o desabamento de uma mina, mas não consegue escapar. Depois que estrelei um filme importante dirigido por Dino de Laurentiis e produzido pela Universal Pictures, estúdios e cineastas passaram a me cortejar, e os projetos que me ofereciam iam ficando cada vez mais interessantes. Pouco depois da estreia de Conan, troquei de agente e assinei com Lou Pitt, poderoso diretor do departamento responsável pela descoberta de novos talentos da International Creative Management. Fiquei chateado por abandonar Larry Kubik, que tanto me ajudara quando minha carreira de ator sequer havia começado. No entanto, cheguei à conclusão de que precisava ter uma agência importante como a ICM para me dar respaldo, pois ela representava todos os grandes cineastas e projetos e tinha a rede de contatos necessária. Sem contar, é claro, que era agradável chegar por cima em uma das gigantescas agências que haviam me recusado poucos anos antes.

Minha mente logo se adaptou ao novo mundo em que passei a viver. Eu sempre disse a Maria que meu objetivo era ganhar 1 milhão de dólares por filme, e essa quantia já estava garantida para a continuação de Conan. Só que eu não queria me restringir a esse personagem. A ideia de estrelar alguns filmes ao estilo Hércules e então usar os cachês para investir em academias, como Reg Park, caiu por terra. Senti que precisava almejar algo além disso.

“E se eu der o melhor de mim, agora que os estúdios estão me procurando?”, pensei. “E se eu me dedicar de corpo e alma à interpretação, às cenas de ação, a tudo o que preciso para ter uma grande atuação na tela? Além disso, tenho que investir num marketing pessoal de primeira qualidade e em ótimas estratégias de divulgação e promoção dos filmes, caprichando na publicidade. E se eu estabelecer como objetivo tornar-me um dos cinco principais protagonistas de Hollywood?”

As pessoas viviam falando sobre como havia lugar apenas para poucos atores no topo da pirâmide do sucesso, mas eu sempre tivera certeza de que cabia mais um. Sentia que, como havia muito pouco espaço, as pessoas ficavam intimidadas e se sentiam mais à vontade permanecendo na parte de baixo. Na verdade, porém, quanto mais gente pensa assim, mais cheia fica a parte inferior! Não vá para onde estiver lotado. Vá para onde estiver vazio. Embora seja mais difícil de chegar, é lá que é o seu lugar, e é lá que haverá menos competição.

Logicamente, estava muito claro que eu jamais seria um ator como Dustin Hoffman ou Marlon Brando e tampouco um humorista como Steve Martin, mas tudo bem. Eu estava sendo procurado para interpretar personagens sobre-humanos em filmes de ação, como Clint Eastwood, Charles Bronson e, em um passado mais remoto, John Wayne. Era com esses caras que eu me comparava. Eu assistia a todos os filmes desses atores. Então, haveria bastante trabalho – e muitas oportunidades de me tornar um astro tão importante quanto qualquer um deles. Eu queria estar no mesmo nível e na mesma faixa de cachê desses atores. Assim que me dei conta disso, fui tomado por uma grande sensação de calma, pois estava vendo claramente aonde queria chegar, da mesma maneira que acontecera no fisiculturismo. Eu acreditava plenamente que conseguiria alcançar meu objetivo. Uma nova visão me guiava, e sempre sinto que, se consigo visualizar e acreditar em alguma coisa, conseguirei alcançá-la.

Lou Pitt e eu já estávamos à procura de filmes de guerra e filmes heroicos para servir de plano B caso Conan algum dia perdesse o fôlego. Caso contrário, era mais um exercício de especulação: segundo as cláusulas do meu contrato em vigor, Dino de Laurentiis era dono do meu passe por 10 anos. O documento me obrigava a fazer um filme da série a cada dois anos pelo tempo que ele julgasse necessário, até no máximo cinco filmes, e a não aceitar nenhum outro papel. Assim, se Conan se tornasse o sucesso que todos queríamos, faríamos um terceiro filme em 1986, um quarto em 1988 e assim por diante, e ganharíamos rios de dinheiro. Quanto à exclusividade que me prendia a Dino, Lou me falou: “Não se preocupe com isso. Se for preciso, podemos renegociar.”

Assim, deixei de lado essa preocupação, e a ideia de passar do mundo dos músculos para os populares filmes de ação foi se tornando cada vez mais atraente.

Mike Medavoy marcou um almoço para que eu me reunisse com o diretor de O exterminador do futuro e os produtores John Daly e Gale Anne Hurd. Li o roteiro antes de ir. Era muito bem escrito, empolgante e cheio de ação, mas a história era um tanto estranha. Sarah Connor, que trabalha como garçonete em uma lanchonete, passa a ser perseguida por um assassino implacável. Na verdade, trata-se do Exterminador, um robô recoberto de tecido humano que veio do futuro, de 2029, época de horror em que os computadores do mundo se rebelam e provocam um holocausto nuclear. As máquinas estão usando exterminadores para aniquilar o que resta da raça humana. No entanto, humanos combatentes da resistência começam a deter as máquinas. Seu carismático líder é John Connor, futuro filho de Sarah. As máquinas decidem esmagar a rebelião impedindo Connor de nascer. Por isso, despacham um exterminador, através de um portal no tempo, para caçar Sarah no presente. Sua única esperança é Reese, um jovem soldado leal a John Connor, que atravessa o portal antes que este seja destruído. Sua missão é deter o exterminador.

James Cameron, o diretor, um cara magrelo e agitado, foi quem teve a ideia dessa história esquisita. Nesse dia, durante o almoço, nossos santos bateram. Assim como muitos artistas que moravam em Venice, Cameron me pareceu muito mais real do que meus conhecidos que moravam, digamos, em Hollywood Hills. Ele só tinha feito um filme, um longa de terror italiano chamado Piranhas II: Assassinas voadoras do qual eu nunca ouvira falar, mas isso me agradou. Ele me contou como aprendera a fazer filmes com Roger Corman, o gênio da produção e da direção de baixo orçamento. Só pelo vocabulário de Cameron, já pude ver que ele entendia do negócio. Parecia saber tudo sobre câmeras e lentes, sobre a forma de se montar um plano, sobre luzes e iluminação, sobre direção de arte. E conhecia também os atalhos para poupar dinheiro que permitem fazer um filme por 4 milhões de dólares em vez de 20. E esse era o orçamento previsto para O exterminador do futuro: 4 milhões.

Toda vez que eu falava no filme, percebia que estava mais interessado no personagem do Exterminador que no de Reese, o herói. Eu conseguia visualizar o Exterminador muito claramente.

– Uma das coisas que me preocupam é que o ator que for interpretar o Exterminador, seja ele O. J. Simpson ou outro qualquer, precisa se preparar da maneira adequada. Isso é muito importante. Porque, pense bem, se o cara for mesmo uma máquina, não vai sequer piscar o olho antes de atirar. Quando carregar um novo pente na arma, não vai precisar nem olhar, pois quem vai estar fazendo isso é uma máquina, um computador. Quando matar, não haverá absolutamente nenhuma expressão no seu rosto, nem alegria, nem vitória, nada. – Nenhum pensamento, nenhum piscar de olhos, apenas ação.

Eu disse a Cameron como achava que o ator deveria se preparar para isso. No exército, aprendíamos a desmontar e remontar as armas apenas pelo tato. Éramos vendados e tínhamos que desmontar uma metralhadora toda suja de lama, limpá-la e montá-la outra vez.

– É esse o tipo de preparação que ele deveria fazer – falei. – Não é muito diferente do que eu fiz em Conan.

Contei-lhe como passara horas treinando para aprender a manejar uma espada e a decapitar pessoas como se já tivesse nascido sabendo fazer isso.

Quando pedimos o cafezinho, Cameron de repente perguntou:

– Por que você não faz o Exterminador?

– Não, não, não quero que pareça que estou retrocedendo.

O Exterminador tinha ainda menos falas que Conan (acabou ficando com 18), e eu receava passar a impressão de que estava evitando papéis com falas ou, pior ainda, de que boa parte do meu diálogo fora cortado na edição porque não estava bom.

– Acho que você daria um ótimo Exterminador – insistiu ele. – Basta ouvir você falar... sério, poderia começar o papel amanhã! Não precisaríamos nem conversar outra vez. Você entende o personagem melhor que ninguém. – E ele ainda completou: – Você não fez comentário nenhum sobre Kyle Reese.

Cameron pegou pesado tentando me convencer.

– Muito poucos atores conseguiram transmitir a ideia de uma máquina. – Um dos poucos a ser bem-sucedido, segundo ele, fora Yul Brynner, que interpretara um robô assassino no thriller de ficção científica Westworld: Onde ninguém tem alma. – É algo muito difícil, muito desafiador do ponto de vista da interpretação. E, Arnold, é o papel-título! O Exterminador é você. Imagine só o cartaz: Exterminador: Schwarzenegger.

Respondi que fazer o papel de um vilão não iria ajudar minha carreira. Era algo que eu poderia fazer depois, mas naquele momento eu precisava continuar interpretando heróis, para o público se acostumar comigo na pele desse tipo de personagem e não ficar confuso. Cameron discordou. Pegou um lápis e um papel e começou a desenhar.

– O que vai fazer com o personagem depende de você – argumentou. – O Exterminador é uma máquina. Ele não é bom nem mau. Se o interpretar de forma interessante, pode transformá-lo em uma figura heroica, que as pessoas vão admirar pelo que é capaz de fazer. E tudo depende também do modo como vamos filmar e editar o filme.

Ele então mostrou o desenho que tinha feito de mim como Exterminador. A imagem transmitia com exatidão toda a frieza do personagem. Eu poderia começar a atuar tendo apenas aquele desenho como referência.

– Estou absolutamente convencido de que, se você fizer esse papel, o Exterminador vai ser um dos personagens mais memoráveis que já existiram – continuou Cameron. – Posso ver que você é ele, que é uma máquina, que entende totalmente do que se trata. Esse papel arrebatou você.

Prometi reler o roteiro outra vez e pensar no assunto. A essa altura, a conta do almoço já tinha chegado. Em Hollywood, os atores nunca pagam. Nesse dia, porém, John Daly não conseguiu achar a carteira, Gale Anne Hurd estava sem bolsa e Cameron descobriu que também estava sem dinheiro. Todos se levantaram e apalparam os bolsos como em um esquete de comédia.

Por fim, falei:

– Deixem comigo.

Depois de ter que pedir dinheiro emprestado a Maria para pegar o voo naquela vez, eu nunca mais saíra de casa sem pelo menos mil dólares em dinheiro vivo e um cartão de crédito sem limite. Então paguei a conta e todos eles ficaram muito constrangidos.

Meu agente se mostrou cético. A opinião comum em Hollywood é que interpretar um vilão equivale a um suicídio profissional. Além do mais, depois de ter uma visão do meu próprio futuro, tenho muita resistência a mudar de planos. Apesar de tudo isso, vários motivos pareciam fazer de O exterminador do futuro a opção certa. Aquele era um projeto no qual eu poderia aposentar as tangas e usar roupas de verdade! Os argumentos de venda seriam a interpretação e a ação, não apenas eu arrancando a camisa. O Exterminador era o personagem durão por excelência, com roupas transadas e óculos bacanas. Eu sabia que aquele papel me faria brilhar. Podia não ter muitas falas, mas pelo menos me permitiria expandir minhas habilidades e aprender a manusear armas modernas. O roteiro era ótimo, o diretor era inteligente e cheio de garra, e o cachê era bom: 750 mil dólares por seis semanas de filmagem em Los Angeles mesmo. No entanto, o projeto também era pequeno o suficiente para eu não arriscar toda a minha reputação tentando algo novo.

Pensei que, se eu fizesse um bom trabalho em O exterminador do futuro, outras portas poderiam se abrir. O mais importante era que meu papel seguinte não poderia ser de vilão. Na verdade, eu não deveria fazer nenhum outro personagem desse tipo por um bom tempo. Não queria abusar dos deuses do cinema.

Levei apenas um dia para ligar para Jim Cameron e dizer que aceitava interpretar a máquina. Ele ficou felicíssimo, mas sabia que a primeira coisa a fazer era conseguir a liberação de Dino de Laurentiis.

Quando fui falar com Dino em seu escritório, ele não era mais aquele homenzinho enfezado que eu ofendera alguns anos antes. Sua atitude comigo parecia benevolente, quase paternal. Joe Weider já havia me despertado essa mesma sensação várias vezes. Tentei esquecer o fato de Dino ter tirado meus 5% de Conan no início da nossa parceria. Aquilo não tinha importância, decidi, e sempre prefiro ser movido pelos pontos positivos. Em pé na sala dele, fiquei observando as estatuetas e os prêmios de todas as partes do mundo: Oscars, Globos de Ouro, prêmios italianos, alemães, franceses e japoneses. Eu tinha uma enorme admiração por Dino e por tudo o que ele havia conquistado. Desde 1942, ele participara da produção de mais de 500 filmes e produzira oficialmente cerca de 130. Aprender com ele era muito mais importante que aqueles ridículos 5%. Além do mais, ele havia cumprido o acordo de me pagar 1 milhão de dólares por Conan II, o que me permitira alcançar meu objetivo. Eu era grato por isso.

Não precisei dizer nada para que ele entendesse o que me levara até ali. Dino sabia que eu estava recebendo outras propostas, e acho que o fato de mais pessoas em Hollywood quererem trabalhar comigo fez com que ele me valorizasse mais. Ele também havia percebido que eu tenho uma mentalidade mais parecida com a de um homem de negócios que com a de um ator, e que era capaz de entender os seus problemas.

– Estão aparecendo oportunidades incríveis, e quero estar livre para fazer algumas dessas outras coisas entre um e outro filme do Conan – falei. Lembrei a ele que só poderíamos fazer um Conan a cada dois anos, porque o pessoal do marketing precisava desse intervalo para explorar todo o potencial de cada filme. – Portanto, tenho tempo para outros projetos – argumentei. Contei-lhe sobre O exterminador do futuro e um ou dois outros filmes nos quais estava interessado.

Dino poderia muito bem ter me mantido preso por 10 anos. Mas não, foi flexível. Quando terminei de falar, ele balançou a cabeça e disse:

– Eu quero trabalhar com você e espero que a gente faça muitos filmes juntos. É claro que entendo o seu raciocínio. – O acordo que fizemos foi que eu continuaria a atuar nas sequências de Conan, contanto que elas permanecessem lucrativas. Se além disso eu me comprometesse a fazer um filme de ação contemporâneo com ele, a ser definido posteriormente, ele me liberaria para outros projetos. – Vá fazer o seu filme – falou. – Quando eu tiver um roteiro pronto, ligo para você.

A única outra condição era que eu só seria liberado depois das filmagens de Conan II, porque ele não queria que eu perdesse a concentração. Tive que tornar a falar com Cameron e Daly para saber se eles estariam dispostos a adiar as filmagens de O exterminador do futuro até a primavera seguinte. Eles aceitaram. Falei também com Mike Medavoy.

Em comparação com o primeiro filme, Conan, o destruidor pareceu uma viagem de férias ao Club Med. Filmamos no México, com um orçamento mais ou menos igual ao do anterior, de modo que havia cenários incríveis e bastante dinheiro para bancar a produção. John Milius, no entanto, não estava disponível nem para escrever o roteiro nem para dirigir a continuação. Diante disso, o estúdio assumiu um papel bem mais ativo na produção, o que gerou grandes equívocos, na minha opinião.

A Universal só conseguia pensar em E.T. O sucesso de bilheteria de Spielberg rendera tanto dinheiro que os executivos do estúdio decidiram que Conan também deveria ser transformado em entretenimento para a família. Alguém chegou a estimar que, se Conan, o bárbaro tivesse recebido uma classificação etária de 12 anos em vez de 18, teria uma bilheteria 50% maior. A ideia era que, quanto mais comercial e popular fosse o filme, quanto maior seu potencial de aceitação generalizada, maior seria o seu sucesso.

Só que não dava para transformar Conan, o bárbaro, em Conan, a babá. Ele não era um personagem para crianças de 12 anos. Era um cara violento, que vivia para conquistar e se vingar. O que fazia dele um herói eram o físico, as habilidades de guerreiro, a capacidade de suportar a dor e a noção de lealdade e honra, com uma leve pitada de humor. Suavizar o personagem a fim de que ele se adequasse à censura 12 anos poderia até ampliar o público em um primeiro momento, mas acabaria por prejudicar a série, pois os fãs mais entusiastas de Conan ficariam chateados. É preciso satisfazer primeiro os melhores clientes. Quem eram os leitores dos livros de Conan? Quem eram os fanáticos por seus quadrinhos? Essas pessoas tinham deixado bem claro que adoraram Conan, o bárbaro. Portanto, se quiséssemos que elas adorassem ainda mais a continuação, era preciso melhorar a trama, tornar a história mais ousada e as cenas de ação ainda mais espantosas. Focar na classificação etária era uma decisão equivocada.

Deixei minha opinião bem clara para Dino, Raffaella e o estúdio, e debatemos bastante o assunto. “Vocês estão se vendendo”, falei. “Não estão respeitando o que o filme é. Se ficam constrangidos com a violência ou com o que o personagem representa, talvez devessem desistir de fazer a continuação. Larguem o projeto ou vendam para outra pessoa! Mas não o transformem em algo que ele não é.”

Não adiantou nada. No fim das contas, como estava preso pelo contrato, tive que acatar a decisão deles.

Dessa vez, o diretor foi Richard Fleischer, que trabalhava em Hollywood havia 40 anos e dirigira alguns filmes memoráveis, como Tora! Tora! Tora! e Vinte mil léguas submarinas. Não foi ideia sua transformar Conan em um filme para crianças, mas, aos 66 anos, ele estava feliz por ter um emprego e não iria brigar com o estúdio nem com Dino. Eles o instruíram a dar ao filme um tom de quadrinhos, mais próximo da fantasia e da aventura, e a substituir a filosofia de Nietzsche e a violência por castelos mágicos. Em todos os outros sentidos, Richard foi um diretor incrível para Conan, o destruidor, mas ele fez questão de que seguíssemos essas diretrizes.

Apesar de tudo isso, uma coisa que tornou o filme divertido foi a oportunidade de trabalhar com Wilt Chamberlain e Grace Jones. Raffaella repetira o truque de Milius de contratar não atores interessantes para compor o elenco. Na trama, uma rainha feiticeira promete ressuscitar Valeria, o amor perdido de Conan, se ele for buscar para ela algumas joias e uma presa de animal com poderes mágicos. Para ajudá-lo nessa missão, empresta-lhe sua linda jovem sobrinha, a única humana que pode tocar nas joias, e o capitão da guarda de seu palácio, o gigante Bombaata, que tem ordens para matar Conan assim que eles conseguirem o que procuram.

Bombaata foi o primeiro papel de Chamberlain no cinema. Além de ser um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos, Wilt – cujo apelido era Stilt, “a estaca” –, por causa de seus 2,16 metros, era também uma prova viva de que a musculação não necessariamente faz de você um fisiculturista. Na academia da Universal, ele pegou uma pilha inteira de pesos e fez extensões de tríceps com 109 quilos como se não fosse nada. De 1959 a 1973, era tão potente e competitivo nas quadras que ninguém conseguia tirá-lo do caminho, e pude constatar suas habilidades atléticas no modo como ele manuseava a espada.

As lutas mais interessantes eram entre Wilt e Grace Jones. Ela fazia uma guerreira bandida chamada Zula, que usava uma maça; ela mandou dois dublês para o hospital por acidente com essa arma durante as cenas de luta. Eu já a conhecia do círculo de Andy Warhol em Nova York: modelo, artista performática e estrela da música de 1,86 metro, Grace podia ser realmente uma fera. Passou 18 meses treinando para as filmagens. Ela e Chamberlain não paravam de bater boca no trailer de maquiagem sobre qual dos dois era autenticamente negro. Wilt se referia a ela como afro-americana, e Grace, nascida e criada na Jamaica, perdia as estribeiras. “Eu não sou afro-americana, não me chame assim!”, gritava ela.

O trailer de maquiagem é um lugar do set onde todo mundo conversa. Se alguém está preocupado com alguma coisa, é lá que isso vem à tona. Às vezes as pessoas vão para o trailer a fim de ficar à vontade, se divertir e dar umas risadas. Mas há ocasiões em que chegam procurando briga, por estarem se sentindo inseguras, ou então por terem muitas falas na cena seguinte e estarem com medo, suscetíveis a qualquer coisinha.

Algumas grandes celebridades se maquiam em seu próprio trailer. Eu não gosto de fazer isso. Por que iria querer ficar sozinho, em vez de estar com os outros integrantes do elenco? Eu sempre me maquiava no trailer coletivo.

Todas as conversas que se possa imaginar são ouvidas nesse trailer: preocupações com a cena seguinte, reclamações sobre o filme, pontos que cada um precisa trabalhar.

O trailer de maquiagem é a mãe de todos os salões de beleza do mundo, porque as atrizes, naturalmente, têm muito mais problemas que uma dona de casa comum. “Tenho que fazer uma cena e não está dando certo, o que isso quer dizer?” Ou: “Estou com uma espinha, você consegue dar um jeito?” O diretor de fotografia talvez já tenha lhe dito: “Não sou cirurgião. Não consigo fazer uma espinha sumir.” Então a atriz fica contrariada com isso e volta para refazer a maquiagem.

No que se refere a relacionamentos pessoais, várias coisas vêm à tona. Essa questão sempre causa conflitos quando você passa dois, três, cinco meses filmando em locações, longe de casa e da família. Então os caras reclamam dos filhos que deixaram e se queixam da mulher que talvez os esteja traindo.

Todos batem papo e cada um dá seu pitaco: os atores, o maquiador. Então aparece o diretor, preocupado com o astral de algum ator. Às vezes você vê gente pelada sendo tatuada para a cena. É um ótimo lugar para comédias e dramas. Mesmo para um trailer de maquiagem, porém, os bate-bocas entre Wilt e Grace eram fenomenais, e eu não conseguia entender o porquê de toda aquela hostilidade entre eles.

– Não sou igual a você – dizia ela. – Não sou descendente de escravos sem instrução. Sou jamaicana, falo francês, e meus antepassados nunca foram escravos.

Ambos usavam a torto e a direito a palavra nigger, “crioulo”, o que me deixava chocado. Wilt dizia:

– Não tenho nada de negro. Não me venha com essa babaquice! Eu moro em Beverly Hills no mesmo lugar que os brancos, só trepo com mulheres brancas, dirijo os mesmos carros dos brancos, tenho tanto dinheiro quanto os brancos. Então vá se foder, crioula é você.

Certa vez, eu me meti:

– Opa, opa, opa, pessoal! Gente, por favor, isto aqui é um trailer de maquiagem. Vamos parar com esse bate-boca. O clima aqui tem que ser tranquilo, porque todo mundo está se preparando para a cena. Então não vamos nos exaltar. Além do mais, vocês já se olharam no espelho? Como podem dizer que não são negros? Ora, vocês dois são negros!

E eles responderam:

– Não, você não entende, não tem nada a ver com a cor. Tem a ver com atitude, com origem.

Seus argumentos foram ficando muito, muito complexos. Eles na verdade não estavam falando sobre cor, e sim sobre como grupos étnicos diferentes haviam chegado aos Estados Unidos. Era meio cômico ver duas pessoas negras acusando uma à outra de ser negra. Mais tarde, na festa de encerramento, nós rimos desse assunto, e Grace e Wilt acabaram se dando muito bem. Ambos têm muito talento, são pessoas divertidas. Mas naquele momento eles precisavam ter aquela discussão.

O México logo se tornou um de meus lugares preferidos para filmar. As equipes eram muito empenhadas e sua perícia nos sets era inacreditável. Parecia o velho padrão europeu. Se você precisasse de uma encosta de morro, por exemplo, para servir de fundo a um plano, em duas horas a encosta estaria pronta, com todas as palmeiras, os pinheiros e tudo o mais que fosse necessário.

Montei tanto a cavalo em Conan, o destruidor que tinha a sensação de que os cavalos eram nossos mesmo quando não estávamos filmando. Maria foi nos visitar algumas vezes, e eu a levava para cavalgar pelas montanhas. Ela cresceu praticando equitação ao estilo inglês e salto a cavalo, então monta muito bem. Nós prendíamos nossas cestas de piquenique nos animais, levávamos uma garrafa de vinho e ficávamos relaxando nas montanhas, sonhando. Não tínhamos nada com que nos preocupar, nenhuma responsabilidade.


QUANDO VOLTEI DO MÉXICO, em fevereiro de 1984, estava pronto para começar a preparação de O exterminador do futuro. Tinha apenas um mês antes que as filmagens começassem. O desafio era me condicionar ao comportamento frio e sem emoções do ciborgue.

Antes das filmagens e durante as duas primeiras semanas, treinei com armas todo santo dia, desmontando-as e montando-as com os olhos vendados até os gestos se tornarem automáticos. Passei horas intermináveis no estande de tiro para aprender as técnicas de manuseio de um arsenal completo, para me acostumar com o barulho e para aprender a não piscar. Como Exterminador, quando se engatilha ou carrega uma arma de fogo não se olha para baixo, da mesma forma que Conan não faria isso ao embainhar a espada. Além, é claro, de ter que ser ambidestro. Tudo isso se aprende à custa de muita repetição. É preciso treinar cada movimento 30, 40, 50 vezes até dominá-lo plenamente. Desde a época do fisiculturismo, eu aprendera que tudo na vida é questão de repetição e prática. Quanto mais você esquia, melhor saberá esquiar; quanto mais repetições fizer, melhor será o seu corpo. Acredito muito em trabalhar duro, em suar a camisa e não parar antes de alcançar o objetivo, então esse desafio me atraía.

Por que entendi o Exterminador? Isso continua a ser um mistério para mim. Enquanto estava decorando o papel, meu mantra era o discurso que Reese faz para Sarah Connor: “Escute e entenda o que vou dizer. O Exterminador está solto por aí. Ele não pode ser dissuadido. Não sente pena, remorso ou medo. E de maneira nenhuma ele vai parar, nunca, antes de ter matado você.” Me empenhei em transmitir a ideia de que eu não tinha humanidade ou expressividade nenhuma, nenhum gesto supérfluo, apenas força de vontade. Assim, quando o Exterminador aparece na delegacia onde Sarah se refugiou e diz ao policial da noite “Sou amigo de Sarah Connor. Fiquei sabendo que ela está aqui. Posso vê-la, por favor?”, e o policial responde “Vai demorar um pouco. Se quiser esperar, tem um banco ali”, você simplesmente sabe que não vai acontecer nada de bom.

Cameron prometera fazer do Exterminador uma figura heroica. Conversamos muito sobre como conseguir isso. Como fazer o público admirar um ciborgue que destrói uma delegacia e massacra 30 policiais? O segredo era uma combinação da minha interpretação com o jeito de filmar e coisas sutis que Jim faria para que os policiais parecessem uns patetas. Em vez de serem competentes guardiões da segurança pública, eles estão sempre meio perdidos, sempre um passo atrás. Então o espectador pensa: “Eles são burros, não entendem o que está acontecendo, são arrogantes e metidos a besta.” E o Exterminador os aniquila.

Pessoas controladoras como Jim são fanáticas por filmagens noturnas. Elas permitem um controle total da iluminação, pois é você quem a cria. Não precisa competir com o sol. Começa no escuro, depois vai acrescentando luz. Se quiser criar uma cena de rua deserta em que o espectador logo sinta que ali não é um bom lugar para se estar, é mais fácil fazer isso à noite. Portanto, a maior parte de O exterminador do futuro foi filmada depois do pôr do sol. Para os atores, é claro, filmar à noite é uma rotina árdua, porque não é tão confortável nem tão divertido quanto de dia.

Cameron me lembrava John Milius. Tinha verdadeira paixão pela sétima arte e conhecia a história do cinema, os filmes, diretores e roteiros. Ele adorava conversar sobre tecnologia, mas eu não tinha muita paciência quando ele falava sobre efeitos técnicos impossíveis de obter. “Por que você não dirige bem o filme e pronto? Sério, Spielberg e Coppola se satisfazem com as câmeras. Alfred Hitchcock fez os filmes dele sem ficar reclamando do equipamento. Então quem você pensa que é, porra?”, eu pensava. Levei algum tempo para perceber que Jim era um diretor incrível.

Ele coreografava tudo com precisão, sobretudo as cenas de ação. Contratou coordenadores de dublês e se reuniu com eles antes de filmar para explicar o que queria em cada plano, como um diretor fazendo a marcação em uma peça de teatro. Por exemplo, dois carros saíam de um beco para uma avenida durante uma perseguição, quase trombavam de frente com o tráfego que vinha em sentido contrário e um dos carros derrapava e batia no para-choque traseiro de uma picape que seguia na outra direção. Jim filmava isso como plano geral, depois fazia os planos de outros ângulos. Era tão experiente que os dublês sentiam que podiam realmente conversar com o diretor sobre o seu trabalho. Então eles iam lá e corriam todos os riscos necessários para fazer as cenas.

Às três da manhã, quando eles filmavam, em geral eu estava dormindo no trailer. Só iriam precisar de mim dali a duas horas, então eu aproveitava para tirar um cochilo. Mas, quando via o material no dia seguinte, eu ficava assombrado. Era incrível um diretor ter habilidade e segurança para conseguir aquilo no seu segundo filme.

No set, Cameron conhecia cada detalhe e vivia para lá e para cá ajeitando as coisas. Parecia ter olhos nas costas. Sem nem mesmo olhar para o teto, dizia: “Daniel, caramba, cadê aquele refletor? E já falei para pôr uma bandeirinha nele! Ou será que vou ter que subir lá e fazer eu mesmo essa porra?” Então Daniel, a 30 metros do chão, quase caía do andaime. Como Cameron podia saber? Ele conhecia todo mundo pelo nome e deixava bem claro que ninguém podia sacaneá-lo nem ficar de enrolação. Que ninguém pensasse que poderia se safar de algo assim. Ele gritava, repreendia a pessoa em público e armava um escarcéu, sempre usando um vocabulário preciso que fazia o sujeito da iluminação pensar: “Esse cara sabe mais sobre o assunto que eu. É melhor fazer exatamente o que ele está pedindo.” Para alguém como eu, que não presta atenção em detalhes assim, foi uma escola.

Percebi, no entanto, que Cameron não era apenas um homem detalhista – era um visionário no que dizia respeito à história e ao projeto como um todo, sobretudo à forma como as mulheres são retratadas em cena. Nos dois meses anteriores às filmagens de O exterminador do futuro, ele escreveu os roteiros de Aliens: O resgate e Rambo II: A missão. Rambo mostrou que Cameron sabe muito bem escrever um filme de machões, mas o personagem mais importante de Aliens é uma mulher: Ripley, interpretada por Sigourney Weaver. Em O exterminador do futuro, Sarah Connor também se torna uma poderosa heroína.

Isso não se aplicava apenas aos filmes que Jim fazia. Apesar de a lista das mulheres com quem ele se casou ser bem longa, eram todas mulheres com quem ninguém queria criar confusão. A produtora de O exterminador do futuro, Gale Anne Hurd, casou-se com Jim mais tarde, durante as filmagens de Aliens. Cabia a ela fechar nosso projeto dentro do orçamento – que acabou sendo esticado para 6,5 milhões de dólares. Mesmo essa quantia, porém, era muito enxuta para um filme ambicioso como aquele. Gale, que na época não tinha nem 30 anos, se tornara produtora depois de se formar em Stanford e começara a trabalhar como secretária de Roger Corman. Era apaixonada por filmes e superdedicada ao projeto. No início, ela e a amiga Lisa Sonne, uma das diretoras de arte, foram à nossa casa certo dia às três da manhã para me acordar e falar sobre o filme.

– De onde vocês estão vindo? – perguntei.

– Ah, a gente veio de uma festa – responderam elas.

Estavam meio doidonas. De repente, me peguei conversando animadamente sobre O exterminador do futuro: o que necessitava ser feito, em que precisavam da minha ajuda. Quem é que faz isso às três da manhã? Eu achei fantástico.

Gale costumava me procurar para falar sobre o roteiro, as filmagens e os desafios do projeto. Era uma profissional bem durona, mas podia mostrar toda a sua doçura quando achava que isso iria ajudar. Às seis da manhã, no meu trailer do set, ela se sentava no meu colo e dizia: “Você trabalhou muito esta noite, mas se importa se ficarmos mais três horas com você para continuar a filmar? Senão não vamos conseguir.” Sempre tenho em alta conta pessoas que abraçam um projeto e se dedicam a ele 24 horas por dia. Além do mais, ela precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir, pois na verdade não tinha tanta experiência assim em produção. Assim, enquanto muitos atores teriam pegado o telefone para reclamar com seu agente, eu fazia as horas extras de bom grado.

Foi um contraste e tanto passar de uma imensa e cara filmagem da Universal Studios no exterior para o mundo noturno de O exterminador do futuro, em que cada centavo fazia diferença. Eu não fazia parte de uma gigantesca engrenagem, e sentia que não era apenas um ator. Era parceiro dos responsáveis pelo projeto. Gale ficava no trailer ao lado do meu, cuidando da produção, e Jim vivia por perto e me deixava participar de várias decisões. John Daly, que levantara o dinheiro, também era muito presente. Tirando esses três, não havia mais ninguém. Éramos quatro pessoas dando duro para que aquilo acontecesse. Estávamos todos em início de carreira e queríamos fazer algo que desse certo.

O mesmo valia para os principais integrantes da equipe. Eles não eram tão conhecidos nem haviam ganhado muito dinheiro até então. Stan Winston estava tendo sua grande chance na criação dos efeitos especiais do filme, incluindo todas as peças móveis para os assustadores planos fechados. Jeff Dawn, maquiador, e Peter Tothpal, o cabeleireiro que inventou maneiras de os cabelos do Exterminador parecerem espetados e queimados, estavam na mesma situação. Foi incrível quando todos nós obtivemos reconhecimento mundial graças a nosso trabalho.

Não tentei criar nenhuma química com Linda Hamilton e Michael Biehn, que interpretam Sarah Connor e Kyle Reese. Pelo contrário. Os dois ficam muito tempo em cena, mas, no que diz respeito ao meu personagem, eram irrelevantes. O Exterminador era uma máquina. Pouco lhe importava o que os dois fizessem. Ele só estava ali para matá-los e seguir em frente. Os dois me falariam sobre as cenas que filmavam quando eu não estava presente. Tudo bem, contanto que a interpretação fosse boa e eles fizessem o que tinham que fazer. Mas não nos aproximamos. Quanto menos química, melhor. Sério: nunca poderia haver química entre uma máquina e um ser humano! Então eu tentava não pensar neles. Era quase como se eles estivessem filmando seu próprio drama, que não tinha nada a ver comigo.

O exterminador do futuro não foi o que eu chamaria de um set de filmagem feliz. Como se pode ser feliz no meio da noite, explodindo coisas, quando todo mundo está exausto e há uma pressão tremenda para conseguir sequências de ação complicadas e efeitos visuais perfeitos? Era um set produtivo, no qual a diversão era fazer coisas realmente inacreditáveis. Eu pensava: “Que ótimo. Um filme de terror com ação. Pensando bem, nem dá para saber o gênero deste filme, de tão radical que é.”

Eu passava boa parte do tempo com o rosto coberto de cola para prender os dispositivos de efeitos especiais. Por sorte, tenho uma pele resistente, de modo que os produtos químicos nunca chegaram a estragá-la demais, mas era horrível mesmo assim. Quando usava o olho vermelho do Exterminador por cima do meu, sentia o fio que o mantinha aceso esquentar até me queimar. Tive que aprender a operar um braço de efeitos especiais, enquanto o meu próprio braço passava horas amarrado às minhas costas.

Cameron era cheio de surpresas. Um dia, assim que me maquiaram como Exterminador, ele falou: “Entre na van. Vamos filmar uma cena.” Fomos até uma rua residencial próxima e ele tornou a falar. “Está vendo aquela caminhonete ali? Mexemos nela toda. Quando eu der o sinal, ande até a porta do carona, olhe em volta, dê um soco na janela, abra a porta, entre no carro, dê a partida e saia dirigindo.” Não tínhamos dinheiro para pedir autorização à prefeitura e montar a cena do Exterminador roubando um carro como deveria ser, então foi assim que fizemos. Burlar a autorização para manter o filme dentro do orçamento me deu a sensação de estar participando da criatividade de Jim.

Ideias ruins o deixavam realmente irritado, sobretudo quando diziam respeito ao roteiro. Um belo dia, decidi que O exterminador do futuro não tinha momentos engraçados suficientes. Há uma cena em que o ciborgue entra em uma casa e passa em frente à geladeira. Então pensei que talvez a porta da geladeira pudesse estar aberta, ou então ele poderia abri-la. Veria cervejas lá dentro, ficaria intrigado pensando o que era aquilo, beberia uma e o álcool lhe subiria à cabeça, fazendo-o se comportar feito um bobo por alguns segundos. Jim me interrompeu antes mesmo de eu terminar. “Arnold, ele é uma máquina, não um ser humano”, disse ele. “Não é o E.T. Não pode ficar bêbado!”

Nosso maior desacordo foi em relação à famosa frase “I’ll be back” (que foi traduzida como “Eu voltarei” na versão em português). Essa é a fala do Exterminador logo antes de destruir a delegacia. A cena levou muito tempo para ser filmada, porque eu fiquei insistindo em dizer “I will be back”. Eu achava que a frase fosse soar mais mecânica e ameaçadora sem a contração.

– Se eu disser I’ll fica muito feminino – reclamei, repetindo a contração para Jim poder escutar o problema. – I’ll. I’ll. I’ll. Assim não me soa másculo.

Ele me olhou como se eu tivesse perdido a razão.

– Vamos manter I’ll – sentenciou. Só que eu ainda não estava pronto para aceitar isso, então continuamos a debater o assunto. No final, Jim começou a gritar: – Olhe aqui, confie em mim e pronto, tá bom? Eu não ensino você a atuar, e você não me ensina a escrever.

E filmamos a cena como estava escrita no roteiro. A verdade era que, mesmo após tantos anos falando inglês, eu ainda não entendia muito bem as contrações. A lição que aprendi, porém, foi que roteiristas nunca mudam nada. Jim não estava filmando o roteiro de outra pessoa: foi ele quem escrevera aquele texto. Ele era ainda pior que Milius. Não aceitava mudar sequer um apóstrofo.


NO VERÃO DE 1984, QUANDO Conan, o destruidor estreou nos cinemas, me dediquei totalmente a promover o filme. Participei de todos os programas de entrevistas nacionais e regionais que aceitaram me receber, começando pelo Late Night with David Letterman, e dei entrevistas aos maiores jornais e revistas do país, e até aos menos importantes. Tive que depender do pessoal de relações públicas para agendar aparições no exterior, muito embora 50 milhões de dólares da bilheteria do primeiro Conan – ou seja, mais da metade – tivessem sido arrecadados fora dos Estados Unidos. Estava decidido a fazer tudo o que pudesse para transformar meu primeiro papel de 1 milhão de dólares num sucesso.

No fim das contas, o segundo filme acabou superando a arrecadação de Conan, o bárbaro, rompendo a marca dos 100 milhões de dólares em receitas no mundo inteiro. Mas o que foi bom para minha reputação não foi tão bom assim para a série. Nos Estados Unidos, Conan, o destruidor foi exibido em menos salas e arrecadou 31 milhões, 23% a menos que o primeiro. Nossos temores haviam se concretizado. Ao repaginar Conan como o que o crítico de cinema Roger Ebert batizou alegremente de “um simpático bárbaro família”, o estúdio afastou parte de nosso público principal.

Minha sensação era que Conan já não me interessava mais. A franquia havia chegado ao fim da estrada. Quando voltei das turnês publicitárias, tornei a me encontrar com Dino de Laurentiis e lhe disse de uma vez por todas que não queria mais fazer filmes pré-históricos, só contemporâneos. Na realidade, ele também havia perdido o interesse por Conan. Em vez de me pagar milhões por novas continuações, preferia que eu fizesse um filme de ação para ele, embora ainda não tivesse um roteiro. Sendo assim, eu por enquanto estava livre para fazer mais projetos como O exterminador do futuro.

Foi tudo muito amigável, e exatamente como tínhamos conversado no outono anterior – só que, como Dino era Dino, tinha um favor a me pedir antes que eu aposentasse de vez a espada. “Por que você não faz uma participação especial?”, e me entregou um roteiro chamado Guerreiros de fogo.

Sonja, a protagonista da história, era a versão feminina de Conan nos quadrinhos e romances de fantasia: uma guerreira querendo vingar o assassinato dos pais que rouba tesouros e talismãs mágicos e enfrenta feiticeiros e monstros malvados. O papel que Dino tinha em mente para mim não era Conan, mas Lorde Kalidor, aliado de Sonja. Grande parte da trama gira em torno do desejo que ele sente por ela e da virgindade da moça. “Nenhum homem jamais me terá a não ser que me derrote em uma luta justa”, declara ela.

Maria leu o roteiro e disse: “Não faça esse filme. É um lixo.” Eu concordava, mas sentia que estava devendo um favor a Dino. Assim, no final de outubro, logo antes da data marcada para a estreia de O exterminador do futuro, peguei um avião para Roma, onde as filmagens de Guerreiros de fogo já haviam começado.

Dino passara mais de um ano procurando uma atriz que se parecesse suficientemente com uma amazona para interpretar Sonja. Acabou encontrando Brigitte Nielsen na capa de uma revista: uma modelo dinamarquesa de 21 anos e 1,86 metro, com cabelos ruivos flamejantes e a reputação de ser da pá virada. Ela nunca havia atuado, mas Dino simplesmente pagou sua passagem até Roma, fez um teste de câmera com ela e a contratou para o papel principal. Então, para fazer o filme acontecer, recrutou veteranos da equipe de Conan: Raffaella na produção, Richard Fleischer na direção e Sandahl Bergman como a traiçoeira rainha Gedren de Berkubane.

No fim das contas, minha suposta participação especial exigiu quatro semanas inteiras no set. Eles filmaram todas as cenas de Lorde Kalidor com três câmeras, depois usaram as imagens extras na sala de montagem para esticar o tempo em tela do personagem. Assim, em vez de uma pequena aparição, acabei virando um dos principais personagens do filme. No cartaz de Guerreiros de fogo, minha imagem era duas vezes maior que a de Brigitte. Eu me senti ludibriado. Era o jeito que Dino havia encontrado de usar minha imagem para vender seu filme, por isso me recusei a participar de qualquer promoção em julho do ano seguinte, quando Guerreiros de fogo estreou.

O filme ficou tão ruim que foi indicado a três Framboesas de Ouro, espécie de Oscar às avessas para filmes ruins: Pior Atriz, Pior Atriz Coadjuvante e Pior Atriz Estreante. Brigitte acabou “vencendo” na categoria Pior Atriz Estreante. Péssimos filmes às vezes podem ser sucessos de bilheteria, mas Guerreiros de fogo era ruim demais até mesmo para ser kitsch e acabou sendo um fracasso. Tentei manter distância e brinquei que estava aliviado por ter sobrevivido.

Para mim, a maior complicação de Guerreiros de fogo foi a própria Sonja. Eu me envolvi com Brigitte Nielsen e tivemos um tórrido caso no set. Gitte, como todos a chamavam, tinha uma personalidade alegre e divertida aliada a uma enorme carência. Depois das filmagens, passamos umas duas semanas viajando pela Europa antes de seguir cada qual o seu caminho. Voltei para casa imaginando que nosso romance tivesse acabado.

Em janeiro, porém, ela foi a Los Angeles fazer a dublagem do filme – regravar os diálogos para que ficassem mais nítidos – e disse que queria um relacionamento firme comigo. Tivemos que ter uma conversa séria.

“Gitte, aquilo foi uma coisa que aconteceu lá no set”, falei. “Foi divertido, mas nada sério. Eu já estou envolvido com a mulher com quem quero me casar. Espero que você compreenda.” Ela me olhou sem entender, e eu continuei: “Se estiver querendo namorar uma estrela de Hollywood, tem vários caras disponíveis por aí, e eles vão ficar malucos com você. Sobretudo com a sua personalidade.”

Ela não gostou muito, mas aceitou. Dito e feito: mais tarde no mesmo ano, conheceu Sylvester Stallone e foi amor à primeira vista. Fiquei feliz por ela ter encontrado um bom companheiro.


DURANTE MINHA AUSÊNCIA, O exterminador do futuro havia se tornado uma sensação. Lançado uma semana antes do Dia das Bruxas de 1984, passou seis semanas no primeiro lugar das bilheterias dos Estados Unidos e estava chegando aos 100 milhões de dólares de arrecadação. Na verdade, só me dei conta da extensão do sucesso quando voltei ao país e algumas pessoas me pararam na rua em Nova York.

– Cara, a gente acabou de ver o filme. Diga aquela frase! Diga! Você tem que dizer!

– Que frase?

– Ah, aquela, I’ll be back!

Nenhum de nós que havia participado do filme tinha a menor ideia de que essa seria a fala da qual as pessoas iriam se lembrar. Quando você faz um filme, nunca pode realmente prever qual acabará sendo a fala mais repetida.

Apesar do sucesso de O exterminador do futuro, a Orion fez um péssimo marketing. Jim Cameron ficou amargurado. A empresa estava concentrada em promover o grande sucesso Amadeus, história do compositor setecentista Wolfgang Amadeus Mozart que acabou ganhando oito Oscars naquele ano. Assim, sem pensar muito em O exterminador do futuro, os marqueteiros o posicionaram no mercado como filme B, muito embora desde o começo houvesse indícios de que o filme era muito mais que isso. Os críticos o classificaram como uma grande novidade, como quem pergunta: “Caramba, de onde saiu isso?” As pessoas ficavam pasmas com o que viam e com aquele jeito de filmar. E ele não agradava apenas aos homens. O filme fez um sucesso surpreendente com o público feminino, em parte por causa da intensa história de amor entre Sarah Connor e Kyle Reese.

A campanha publicitária da Orion, porém, foi orientada para os fanáticos por filmes de ação e me mostrava atirando e explodindo tudo em volta. O comercial de TV e o trailer exibido nos cinemas levavam a maioria das pessoas a dizer: “Xi, uma ficção científica maluca e violenta. Não é para mim. Quem sabe meu filho de 14 anos possa gostar. Ah, mas talvez ele não deva assistir. A censura é 16 anos.” O que a Orion sinalizou para a indústria foi: “Esse é só mais um filme para ajudar a pagar as contas. Nossa aposta mesmo é o filme sobre Mozart.”

Cameron ficou ensandecido. Implorou ao estúdio para expandir a promoção e passar a divulgar melhor o filme antes da estreia. Os anúncios deviam ter sido mais abrangentes, dando mais destaque à história e a Sarah Connor, transmitindo a seguinte mensagem: “Você pode até pensar que este filme é uma ficção científica maluca, mas vai se surpreender. Esta é uma de nossas apostas.”

Trataram Jim feito criança. Antes da estreia, um dos executivos lhe disse que “thrillers de ação pouco refinados” como aquele em geral tinham uma vida de 15 dias. No segundo fim de semana o público cai pela metade, e na terceira semana tudo já acabou. Pouco importava que O exterminador do futuro tivesse estreado em primeiro lugar e permanecido nessa posição. A Orion não iria aumentar o orçamento promocional. Se os executivos tivessem escutado Jim, nossa bilheteria poderia ter sido duas vezes maior.

Ainda assim, sob a ótica do investimento, O exterminador do futuro foi um grande sucesso: custou apenas 6,5 milhões de dólares, mas arrecadou 40 milhões de dólares nos Estados Unidos e 50 milhões no restante do mundo. Nosso lucro, porém, não estava no mesmo patamar de um E.T. Para mim, por mais estranho que parecesse, foi uma sorte o filme não ter tido mais sucesso. Isso porque, se ele tivesse arrecadado, digamos, 100 milhões logo de cara apenas nas salas americanas, teria sido difícil para mim conseguir outro papel que não o de vilão. Em vez disso, o filme caiu na categoria de “boa surpresa” e entrou para a lista dos 10 melhores do ano da revista Time. Na minha opinião, o fato de tanto Conan quanto O exterminador do futuro terem arrecadado 40 milhões de dólares nos Estados Unidos mostrava que o público americano me aceitava tanto como herói quanto como vilão. E, como era de se esperar, antes do fim do ano Joel Silver – produtor do hit 48 horas, estrelado por Nick Nolte e Eddie Murphy – foi ao meu escritório para tentar me vender o papel do coronel John Matrix, impressionante herói de um thriller de ação chamado Comando para matar, com cachê de 1,5 milhão.

O caso com Brigitte Nielsen ressaltou o que eu já sabia: queria que Maria fosse minha esposa. Em dezembro, ela admitiu que vinha pensando cada vez mais em casamento. Sua carreira estava decolando – agora era correspondente televisiva da CBS News –, mas completaria 30 anos em breve e queria formar uma família.

Como Maria havia passado tanto tempo sem falar em nos casarmos, não precisei de um segundo aviso. “Então é isso”, pensei, “acabou essa história de namoro, de dizer às pessoas que estamos esperando o momento certo e essa baboseira toda. Vamos levar esse negócio a sério e dar o próximo passo.” No dia seguinte, pedi a amigos que trabalhavam no ramo de pedras preciosas que desenhassem um anel, e, quando anotei minhas resoluções para 1985, bem no alto da lista coloquei: “Neste ano vou pedir Maria em casamento.”

Eu gostava de anéis em que o diamante maior ficava no meio, ladeado por dois menores à esquerda e à direita. Pedi a meus amigos joalheiros que criassem algo nesse estilo e fiz um desenho para mostrar o que eu imaginava. Queria que o diamante maior tivesse no mínimo cinco quilates e os outros um ou dois quilates cada um. Começamos a desenvolver essa ideia e em poucas semanas já tínhamos alguns esboços. Algumas semanas depois, o anel ficou pronto.

Desse dia em diante, mantive-o sempre no bolso, embrulhado. Vivia procurando o momento certo para fazer o pedido em todos os lugares a que íamos. Nessa primavera, quase pedi a mão de Maria em várias partes da Europa e em Hyannis Port, Massachusetts, mas parecia que nunca surgia o momento perfeito. Na realidade, estava planejando pedi-la em casamento quando a levasse para o Havaí, em abril. No entanto, assim que chegamos encontramos três outros casais que disseram “Viemos aqui para ficar noivos” ou “Viemos aqui para nos casar”.

Pensei: “Arnold, não peça a mão dela no Havaí, porque todos os bobalhões vêm aqui fazer a mesma coisa.”

Eu tinha que ser mais criativo. Sabia que minha mulher um dia contaria aquela história para nossos filhos, e que eles contariam para nossos netos, então precisava pensar em algo original. Eram muitas opções. Poderia ter sido durante um safári na África, ou no alto da Torre Eiffel, tirando o fato de que ir a Paris estragaria a surpresa. O desafio era que o pedido fosse totalmente inesperado.

“Talvez eu devesse levá-la à Irlanda”, pensei, “que é o país de seus antepassados. Quem sabe não peço a mão dela em um castelo irlandês?”

No final das contas, acabei fazendo o pedido de forma espontânea. Era julho, estávamos na Áustria visitando minha mãe e levei Maria para passear de barco a remo no Thalersee. Era o lago em que eu havia crescido, onde brincara quando menino, aprendera a nadar e ganhara troféus de natação, começara a praticar fisiculturismo, saíra pela primeira vez com uma garota. O lago significava tudo isso para mim. Desde que me ouvira falar a respeito dele, Maria queria visitá-lo. Tive a sensação de aquele era o lugar certo para pedir sua mão. Ela ficou totalmente surpresa e começou a chorar e a me abraçar. Então, tudo correu exatamente como eu havia imaginado, bem da maneira que tinha que ser.

Quando voltamos para a margem do lago, é claro, ela começou a pensar em perguntas de todo tipo. “Quando você acha que deve ser a cerimônia?” “Quando seria melhor fazer a festa de noivado?” “Quando devemos fazer o anúncio?”

E me perguntou:

– Você já falou com meu pai?

– Não – respondi.

– Nos Estados Unidos, o costume é falar com o pai da futura noiva para pedir a permissão dele.

– Maria, você acha que eu sou burro? – retruquei. – Se eu perguntasse ao seu pai, ele contaria para sua mãe e ela daria com a língua nos dentes para você em um segundo. O que você acha, que eles são leais a mim? A filha deles é você. Ou então ela contaria para Ethel, Bobby e todo mundo da família antes mesmo de você ficar sabendo. Eu precisava ter a chance de realmente fazer o pedido. Então é claro que não conversei com eles. Na verdade, não falei com ninguém.

Nessa mesma noite, liguei para o pai dela.

– Sei que normalmente eu deveria ter falado com você primeiro, mas não queria dizer nada porque sei que você teria comentado com Eunice, e ela teria contado para Maria – falei.

– Você tem toda a razão. É exatamente o que ela teria feito – disse Sarge.

– Então queria pedir sua permissão agora.

E ele respondeu:

– Arnold, vai ser um grande prazer ter você como genro.

Sargent era sempre muito, muito educado e agradável.

Então contei a novidade a Eunice, que ficou muito animada. Mas tenho certeza de que Maria já tinha ligado para ela antes de mim.

Passamos bastante tempo com minha mãe. Ficamos na sua casa, fomos passear em Salzburgo, viajamos e nos divertimos muito. Depois voltamos para casa e fomos para Hyannis Port. Fizemos uma festinha para comemorar o noivado, com todos sentados em volta da mesa: a família Shriver, Eunice e a irmã Pat, Teddy e a então esposa, Joan, além de muitos primos Kennedy. As mesas lá eram sempre muito compridas e eles recebiam vários convidados para jantar.

Tive que contar nos mínimos detalhes como fizera o pedido. Foi divertido. Todos prestaram atenção em cada palavra que eu disse e não pararam de exclamar: “Ah! Puxa! Sensacional!” Houve muitos aplausos.

“A bordo de um barco a remo? Meu Deus, onde você conseguiu arrumar um troço desses?”

Teddy estava todo animado, falando alto e se divertindo:

– Que incrível! Ouviu isso, Pat? O que você teria feito se Peter a tivesse pedido em casamento a bordo de um barco a remo? Sei que Eunice teria preferido um veleiro. Ela diria: “Barco a remo? Isso não presta. Eu quero é ação!”

– Teddy, deixe Arnold terminar a história.

Todos faziam perguntas ao mesmo tempo:

“Mas, Arnold, e depois, o que Maria fez?”

“Qual foi a expressão no rosto dela?”

“O que você teria feito se ela tivesse dito não?”

Antes de eu conseguir responder, alguém falou: “Como assim, dito não? Maria mal podia esperar que ele fizesse o pedido!”

Foi uma forma tipicamente irlandesa de saborear os mínimos detalhes e transformar tudo em uma grande diversão.

Por fim, depois de algum tempo, Maria teve a chance de falar. “Foi muito romântico”, declarou. E levantou o anel de noivado para todo mundo ver.

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