CAPÍTULO 11
Yoshi Naga, oficial do turno, era um perigoso e arisco jovem de dezessete anos. - Bom dia, senhor. Seja bem-vindo.
- Obrigado. O Senhor Toranaga está a minha espera.
- Sim. - Mesmo que Hiromatsu não fosse esperado, Naga o teria admitido do mesmo modo. Toda Hiromatsu era uma das trés únicas pessoas no mundo que tinham permissão para se dirigir à presença de Toranaga de dia ou de noite, sem audiência marcada.
- Revistem o bárbaro - disse Naga. Era o quinto filho de Toranaga com uma das consortes, e idolatrava o pai.
Blackthorne submeteu-se quietamente, entendendo o que eles estavam fazendo. Os dois samurais eram muito habilidosos. Nada lhes teria escapado.
Naga fez sinal para o resto de seus homens. Moveram-se para o lado. Ele abriu pessoalmente a pesada porta.
Hiromatsu entrou na imensa sala de audiência. Pouco além da soleira, ajoelhou-se, colocou as espadas no chão a sua frente, estendeu as mãos no chão ao lado delas e inclinou profundamente a cabeça, esperando nessa posição abjeta.
Naga, sempre vigilante, indicou a Blackthorne que fizesse o mesmo. Blackthorne avançou. A sala tinha quarenta passos quadrados e dez de altura, com tatamis da melhor qualidade, impecáveis e com quatro dedos de espessura. Havia duas portas na parede oposta. Perto do estrado, num nicho, um pequeno vaso de cerâmica com um único ramo de flor de cerejeira, que enchia o quarto de cor e perfume.
Ambas as portas estavam guardadas. A dez passos do estrado, rodeando-o, encontravam-se mais vinte samurais, sentados de pernas cruzadas.
Toranaga estava sentado sobre uma única almofada no estrado. Estava tratando de uma pena quebrada na asa de um falcão encapuzado, tão delicadamente quanto um entalhador de marfim.
Nem ele nem ninguém na sala mostrou ter notado a presença de Hiromatsu ou prestado atenção a Blackthorne quando este avançou e parou ao lado do velho. Mas ao contrário de Hiromatsu, Blackthorne se inclinou como Rodrigues lhe mostrara, depois, tomando fôlego profundamente, sentou-se de pernas cruzadas e olhou fixamente para Toranaga.
Todos os olhos faiscaram na direção de Blackthorne.
Na soleira da porta, a mão de Naga estava sobre a espada. Hiromatsu já havia agarrado a sua, embora ainda estivesse de cabeça inclinada.
Blackthorne sentiu-se nu, mas se havia comprometido e agora só podia esperar. Rodrigues dissera: "Com os japoneses, você tem que agir como um rei", e embora aquilo não fosse agir como um rei, era mais que suficiente.
Toranaga levantou os olhos lentamente.
Uma gota de suor começou a brotar na têmpora de Blackthorne, quando tudo o que Rodrigues lhe dissera sobre os samurais pareceu se cristalizar naquele único homem. Sentiu o suor escorrer pouco a pouco pelo rosto até o queixo. Forçou-se a manter os olhos azuis firmes e sem piscar, o rosto calmo. o olhar de Toranaga era igualmente fixo.
Blackthorne sentiu o poder quase esmagador do homem estender-se até ele. Forçou-se a contar até seis, lentamente, depois inclinou a cabeça e curvou-a levemente de novo, esboçando um pequeno e calmo sorriso.
Toranaga olhou-o brevemente, o rosto impassível, depois baixou o olhar e se concentrou novamente no que estava fazendo. A tensão na sala diminuiu.
O falcão não era do país e estava na plenitude. O treinador, um velho e enrugado samurai, estava de joelhos diante de Toranaga, segurando o falcão como se fosse algodão de vidro. Toranaga cortou a pena quebrada, mergulhou a minúscula agulha de bambu na cola e inseriu-a no cabo da pena, depois delicadamente enfiou a pena recém-cortada até a outra extremidade. Ajustou o ângulo até considerá-lo perfeito e amarrou-a com um fio de seda. Os minúsculos sinos nos pés do falcão retiniram e ele acalmou-lhe o medo.
Yoshi Toranaga, senhor de Kwanto - as Oito Províncias cabeça do clã Yoshi, general-chefe dos exércitos do leste, presidente do conselho de regentes, era um homem baixo com uma grande cintura e um largo nariz. Tinha as sobrancelhas espessas e escuras, o bigode e a barba ralos e salpicados de cinza. Os olhos dominavam-lhe o rosto. Tinha cinqüenta e oito anos e era forte para a idade. Usava um quimono simples, um uniforme marrom comum, com cinto de algodão. Mas suas espadas eram as melhores do mundo.
- Aí está, minha beleza - disse ele com uma ternura de amante. - Agora você está inteira de novo. - Acariciou a ave com uma pena enquanto ela se sentava sempre encapuzada no pulso enluvado do treinador. Ela se arrepiou e se alisou com o bico, satisfeita. - Vamos fazê-la voar ainda esta semana.
O treinador curvou-se e saiu.
Toranaga voltou os olhos para os dois homens à porta.
- Bem-vindo, Punho de Aço, estou contente em vê-lo - disse. - Então esse é o seu famoso bárbaro?
- Sim, senhor. - Hiromatsu aproximou-se, deixando as espadas na soleira conforme o costume, mas Toranaga insistiu para que ele as levasse consigo.
- Eu me sentiria desconfortável se você não as tivesse nas mãos - disse Toranaga.
Hiromatsu agradeceu-lhe. Ainda assim, sentou-se a cinco passos de distância. Por costume, nenhuma pessoa armada podia sentar-se mais perto do que isso de Toranaga. Na primeira fileira dos guardas estava Usagi, marido da neta de Hiromatsu, seu parente predileto, a quem este fez um breve aceno de cabeça. O jovem curvou-se profundamente, honrado e contente por ter sido notado. Talvez eu devesse adotá-lo formalmente, pensou Hiromatsu alegremente, aquecido pela lembrança da neta favorita e do primeiro bisneto, que lhe haviam apresentado no ano anterior.
- Como estão suas costas? - perguntou Toranaga solicitamente.
- Bem, obrigado, senhor. Mas devo dizer-lhe que estou contente por me ver fora daquele navio e em terra de novo.
- Ouvi dizer que você tem um novo brinquedo aqui com que passar as horas, neh?
O velho deu uma gargalhada.
- Só posso lhe dizer, senhor, que as horas não foram ociosas. Fazia anos que eu não tinha tanto trabalho.
Toranaga riu com ele. - Então deveríamos recompensá-la. Sua saúde é importante para mim. Posso mandar a ela um símbolo dos meus agradecimentos?
- Ah, Toranaga-sama, o senhor é tão gentil. - Hiromatsu ficou sério. - Poderia recompensar a todos nós, senhor, deixando este ninho de vespas imediatamente, e voltando para o seu castelo em Yedo, onde seus vassalos podem protegê-lo. Aqui estamos vulneráveis. A qualquer momento Ishido poderia...
- Partirei. Assim que a reunião do conselho de regentes termine. - Toranaga voltou-se e chamou com um gesto o português de rosto magro que estava pacientemente sentado à sua sombra. - Quer traduzir para mim agora, meu amigo?
- Certamente, senhor. - O padre tonsurado avançou e com uma graça vinda da prática ajoelhou-se em estilo japonês junto do estrado. Tinha o corpo tão enxuto quanto o rosto, os olhos escuros e líquidos, um ar de serena concentração ao seu redor. Usava meias tabis e um quimono ondeante que, nele, parecia estar na pessoa certa. Um rosário e uma cruz de ouro entalhado pendiam-lhe do cinto. Saudou Hiromatsu como a um igual, depois olhou amavelmente para Blackthorne.
- Meu nome é Martim Alvito, da Companhia de Jesus, piloto-mor. O Senhor Toranaga me pediu que lhe servisse de intérprete.
- Primeiro diga-lhe que somos inimigos e que...
- Tudo na sua hora - interrompeu-o o Padre Alvito suavemente. E acrescentou: - Podemos falar português, espanhol ou, naturalmente, latim, o que você preferir.
Blackthorne não tinha visto o padre até que o homem avançara. O estrado o escondera, e os outros samurais. Mas estivera à espera dele, prevenido por Rodrigues, e detestou o que viu: a elegância desenvolta, a aura de força e poder natural dos jesuítas. Presumira que o padre fosse muito mais velho, considerando sua posição influente e o que Rodrigues lhe falara dele. Mas eram praticamente da mesma idade, ele e o jesuíta. Talvez o padre fosse poucos anos mais velho.
- Português - disse ele, com severidade, esperando que isso pudesse lhe dar uma leve vantagem. - Você é português?
- Tenho esse privilégio.
- É mais jovem do que eu esperava.
- O Sr. Rodrigues é muito gentil. Dá-me mais crédito do que mereço. A você descreveu com perfeição. Assim como à sua bravura.
Blackthorne viu-o voltar-se e falar fluente e afavelmente com Toranaga um instante, e isso o perturbou ainda mais. Apenas Hiromatsu, de todos os homens na sala, ouviu e observou com atenção. Os outros fitavam o vazio, como se fossem de pedra.
- Agora, capitão-piloto, começaremos. Você, por favor, ouvirá tudo o que o Senhor Toranaga disser, sem interrupções - começou o Padre Alvito. - Depois responderá. Daqui em diante estarei traduzindo o que você disser quase simultaneamente, portanto, por favor, responda com grande cuidado.
- De que se trata? Não confio em você!
Imediatamente o Padre Alvito traduziu o que ele disse, e o rosto de Toranaga se turvou visivelmente.
Tenha cuidado, pensou Blackthorne, ele está brincando com você como com um peixe! Três guinéus de ouro contra um cent mascado como ele pode acabar com você. Traduza ele corretamente ou não, você tem que criar a impressão correta em Toranaga. Pode ser a única chance que você jamais tenha tido.
- Pode confiar em mim para traduzir exatamente o que você disser, da melhor maneira que eu puder. - A voz do padre era suave, sob controle absoluto. - Esta é a corte do Senhor Toranaga. Sou o intérprete oficial do conselho de regentes, do Senhor General Toranaga e do Senhor General Ishido. O Senhor Toranaga honra-me com sua confiança há muitos anos. Sugiro-lhe que responda com sinceridade porque posso lhe garantir que ele é um homem muito sagaz. Também devo assinalar que não sou o Padre Sebastio, que, talvez, é excessivamente zeloso e, infelizmente, não fala japonês muito bem nem tem muita experiência no Japão. A sua presença repentina afastou a graça de Deus para longe dele, que, lamentavelmente, permitiu que seu passado pessoal o dominasse - seus pais, irmãos e irmãs foram massacrados do modo mais hediondo na Neerlândia pelas suas... pelas forças do Príncipe de Orange. Peço que tenha indulgência e compaixão por ele. - Sorriu benevolamente. - A palavra japonesa para "inimigo" é "teki". Você pode usá-la se quiser. Se apontar para mim e usar essa palavra, o Senhor Toranaga compreenderá claramente o que quer dizer. Sim, sou seu inimigo, Capitão-Piloto John Blackthorne. Completamente. Mas não sou seu assassino. Isso você fará por si mesmo.
Blackthorne viu-o explicar a Toranaga o que dissera e ouviu a palavra "teki" várias vezes. Perguntou a si mesmo se realmente significava "inimigo". Claro que sim, pensou. Este homem não é como o outro.
- Por favor, por um momento esqueça que eu existo - disse o Padre Alvito. - Sou meramente um instrumento para transmitir as suas respostas ao Senhor Toranaga, exatamente como farei com as perguntas dele. - O Padre Alvito se acomodou, voltou-se para Toranaga e curvou-se polidamente.
Toranaga falou brevemente. O padre começou a traduzir quase simultaneamente, poucas palavras depois, com uma voz que era um perigoso espelho de inflexão e significado secreto.
- Por que você é inimigo de Tsukku-san, meu amigo e intérprete, que não é inimigo de ninguém? - O Padre Alvito acrescentou, à guisa de explicação: - Tsukku-san é o meu apelido, porque os japoneses também não conseguem pronunciar o meu nome. A língua deles não tem o som "l" nem "th". Tsukku é uma adaptação da palavra japonesa "tsuyaku", "interpretar". Por favor, responda à pergunta.
- Somos inimigos porque nossos países estão em guerra.
- Oh? Qual é o seu país?
- A Inglaterra.
- Onde fica?
- É um reino insular, mil milhas ao norte de Portugal. Portugal é parte de uma península na Europa.
- Há quanto tempo estão em guerra com Portugal?
- Desde que Portugal se tornou um Estado vassalo da Espanha. Isso foi em 1580, vinte anos atrás. A Espanha conquistou Portugal. Na realidade estamos em guerra com a Espanha. Estamos em guerra com ela há quase trinta anos.
Blackthorne notou a surpresa de Toranaga e seu olhar inquisitivo ao Padre Alvito, que fitava a distância serenamente.
- Diz que Portugal é parte da Espanha?
- Sim, Senhor Toranaga. Um Estado vassalo. A Espanha conquistou Portugal e agora são de fato o mesmo país, com o mesmo rei. Mas os portugueses são subservientes aos espanhóis em muitas partes do mundo e seus líderes são tratados como pessoas sem importância no império espanhol.
Houve um longo silêncio. Então Toranaga falou diretamente ao jesuíta, que sorriu e respondeu detalhadamente.
- O que ele disse? - perguntou Blackthorne rispidamente.
O Padre Alvito não respondeu, mas traduziu como antes, quase simultaneamente, imitando-lhe a inflexão, continuando o seu virtuosístico desempenho de interpretação. Toranaga respondeu diretamente a Blackthorne, com voz dura e cruel.
- O que eu disse não é da sua conta. Quando quiser que você saiba alguma coisa eu lhe direi.
- Sinto muito, Senhor Toranaga, não tinha a intenção de ser rude. Posso dizer-lhe que viemos em paz...
- Não pode me dizer nada no momento. Vai conter a língua até que eu lhe solicite uma resposta. Compreendeu?
- Sim.
Erro número um. Vigie-se. Você não pode cometer erros, disse ele a si mesmo.
- Por que estão em guerra com a Espanha? E com Portugal?
- Parcialmente porque a Espanha está inclinada a conquistar o mundo e nós, ingleses, e nossos aliados, os neerlandeses, recusamo-nos a ser conquistados. E parcialmente por causa das nossas religiões.
- Ah! Uma guerra religiosa? Qual é a sua religião?
- Sou cristão. Nossa igreja...
- Os portugueses e os espanhóis são cristãos! Você disse que sua religião era diferente. Qual é a sua religião?
- É a cristã. É difícil explicar de modo simples e rápido, Senhor Toranaga. São ambas...
- Não há necessidade de ser rápido, Senhor Piloto, apenas preciso. Tenho muito tempo. Sou muito paciente. Você é um homem culto, obviamente não é um camponês, portanto pode ser simples ou complicado conforme deseje, exatamente o necessário para ser claro. Se se desviar do ponto eu o trarei de volta. Estava dizendo?
- Minha religião é cristã. Há duas religiões cristãs importantes, a protestante e a católica. A maioria dos ingleses são protestantes.
- Adoram ao mesmo Deus, à Nossa Senhora e à Criança?
- Não, senhor. Não do modo como os católicos o fazem.
- O que ele quer saber? Será que é católico? Devo responder o que acho que ele quer saber ou o que acho que é verdade? Será que é anticristão? Mas ele não chamou o jesuíta de "meu amigo"?
Será que Toranaga é um simpatizante dos católicos, será que vai se tornar católico?
- Você acredita que Jesus é Deus?
- Acredito em Deus - disse ele cuidadosamente.
- Não se esquive a uma pergunta direta! Acredita que Jesus é Deus? Sim ou não?
Blackthorne sabia que em qualquer corte católica do mundo ele já teria sido condenado há muito por heresia. E na maioria das cortes protestantes, se não em todas. O simples fato de hesitar antes de responder a uma pergunta assim já era uma admissão de dúvida. Dúvida era heresia.
- Não se pode responder a perguntas sobre Deus com um "sim" ou "não". Tem que haver gradações de "sim" ou "não". Ninguém sabe com certeza sobre Deus até que esteja morto. Sim, acredito que Jesus era Deus, mas não, não sei com certeza até estar morto.
- Por que foi que você quebrou a cruz do padre quando chegou ao Japão?
Blackthorne não esperava essa pergunta. Toranaga sabe de tudo o que aconteceu desde que cheguei?
- Eu... eu queria mostrar ao Daimio Yabu que o jesuíta, o Padre Sebastio, o único intérprete que havia lá, que ele era meu inimigo, que não merecia crédito, pelo menos na minha opinião. Porque eu tinha certeza de que ele necessariamente não traduziria com exatidão, não como o Padre Alvito está fazendo agora. Acusou-nos de sermos piratas, por exemplo. Não somos piratas, viemos em paz.
- Ah, sim! Piratas. Voltarei à pirataria num instante. Você diz que ambas as seitas são cristãs, ambas veneram Jesus, o Cristo? A essência do ensinamento dele não é "amarem-se uns aos outros"?
- Sim.
- Então como podem ser inimigos?
- O credo deles... a versão deles do cristianismo é uma falsa interpretação das Escrituras.
- Ah! Finalmente estamos chegando a alguma coisa. Então vocês estão em guerra devido a uma diferença de opinião sobre o que é Deus e o que não e?
- Sim.
- É uma razão muito estúpida para fazer guerra.
- Concordo - disse Blackthorne. Olhou para o padre. - Concordo de todo o coração.
- Quantos navios tem a sua esquadra?
- Cinco.
- E você era o primeiro-piloto?
- Sim.
- Onde estão os outros?
- Ao mar - disse Blackthorne cuidadosamente, continuando a mentira e presumindo que Toranaga tivesse sido instruído por Alvito para perguntar certas coisas. - Fomos divididos por uma tempestade e dispersamo-nos. Onde estão exatamente eu não sei, senhor.
- Seus navios eram ingleses?
- Não, senhor, holandeses. Da Holanda.
- Por que um inglês está encarregado de navios holandeses?
- Isso não é raro, senhor. Somos aliados. Pilotos portugueses às vezes comandam navios e esquadras - espanhóis. Tomei conhecimento de que pilotos portugueses comandam alguns dos seus navios oceânicos, e por lei.
- Não há pilotos holandeses?
- Muitos, senhor. Mas para uma viagem tão longa os ingleses são mais experimentados.
- Mas por que você? Por que quiseram que você conduzisse os navios deles?
- Provavelmente porque minha mãe era holandesa, falo a língua fluentemente e sou experimentado. Fiquei contente com a oportunidade.
- Por quê?
- Foi a minha primeira oportunidade para singrar estas águas. Não havia navios ingleses planejando vir tão longe. Foi uma chance de circunavegar.
- Você pessoalmente, piloto, juntou-se à esquadra por causa da sua religião e para combater seus inimigos da Espanha e Portugal?
- Sou um piloto, senhor, antes de mais nada. Nenhum inglês ou holandês jamais esteve nestes mares antes. Somos principalmente uma esquadra mercante, embora tenhamos cartas de corso para atacar o inimigo do Novo Mundo. Viemos ao Japão para fazer comércio.
- O que são cartas de corso?
- Licenças legais emitidas pela coroa, ou governo, autorizando-nos a combater o inimigo.
- Ah, e os seus inimigos estão aqui. Planeja combatê-los aqui?
- Não sabíamos o que esperar quando chegássemos aqui, senhor. Viemos apenas para comerciar. Seu país é quase desconhecido, uma lenda. Os portugueses e espanhóis são muito sigilosos sobre esta área.
- Responda à pergunta: seus inimigos estão aqui. Planeja combatê-los aqui?
- Se eles me atacarem, sim.
Toranaga mudou de posição irritado.
- O que vocês fazem no mar ou em seus países é assunto de vocês. Mas aqui há uma lei para todos e os estrangeiros estão na nossa terra unicamente por permissão. Qualquer desordem ou rixa públicas são imediatamente punidas com morte. Nossas leis são claras e serão obedecidas. Compreendeu?
- Sim, senhor. Mas viemos em paz. Viemos para fazer comércio. Poderíamos. discutir o assunto, senhor? Preciso carenar o meu navio e fazer alguns reparos. Podemos pagar tudo. Depois há a quest...
- Quando eu quiser falar sobre comércio ou qualquer outra coisa eu lhe direi. Enquanto isso, por favor, limite-se a responder às perguntas. Portanto você se juntou à expedição para fazer comércio, por lucro, não por dever ou lealdade? Por dinheiro?
- Sim. É o nosso costume, senhor. Ser pago e ter uma parte do saq... do comércio todo e de todos os bens inimigos capturados.
- Então você é um mercenário?
- Fui contratado como primeiro-piloto para conduzir a expedição. Sim. - Blackthorne podia sentir a hostilidade de Toranaga, mas não compreendia por quê. O que foi que eu disse de errado? O padre não disse que eu assassinaria a mim mesmo? - É um hábito normal entre nós, Toranaga-sama - repetiu.
Toranaga começou a conversar com Hiromatsu e trocaram pontos de vista, ambos num acordo óbvio. Blackthorne pensou ver asco no rosto deles. Por quê? Obviamente era alguma coisa relacionada com "mercenário", pensou. O que há de errado nisso? As pessoas todas não são pagas? De que outro modo ganhar dinheiro suficiente para viver? Mesmo que se herde terra, ainda se...
- Você disse antes que veio para fazer comércio pacificamente - estava dizendo Toranaga. - Por que, então, carrega tantas armas e tanta pólvora, mosquetes e munição?
- Nossos inimigos espanhóis e portugueses são muito numerosos e fortes, Senhor Toranaga. Temos que nos proteger e ...
- Está dizendo que suas armas são meramente defensivas?
- Não. Usamo-las não só para nos proteger mas também para atacar nossos inimigos. E nós as produzimos em abundância para comércio, as armas de melhor qualidade do mundo. Talvez pudéssemos negociá-las com o senhor, ou outras mercadorias que trazemos.
- O que é um pirata?
- Um fora-da-lei. Um homem que rouba, mata ou pilha por lucro pessoal.
- Não é o mesmo que um mercenário? Não é isso que vote é? Um pirata e um chefe de piratas?
- Não. A verdade é que meus navios têm cartas de corso dos dirigentes legais da Holanda, autorizando-nos a combater em todos os mares e lugares dominados até agora pelos nossos inimigos. E a encontrar mercados para nossos produtos. Para os espanhóis e a maioria dos portugueses, sim, somos piratas, e hereges religiosos, mas, repito, a verdade é que não somos.
O Padre Alvito terminou de traduzir, depois começou a falar tranqüila mas firmemente, direto a Toranaga.
Como gostaria de poder falar assim diretamente também, pensou Blackthorne, blasfemando intimamente. Toranaga olhou para Hiromatsu e o velho fez algumas perguntas ao jesuíta, que respondeu prolixamente. Depois Toranaga se voltou para Blackthorne e sua voz tornou-se ainda mais severa.
- Tsukku-san diz que esses "holandeses", os neerlandeses, eram vassalos do rei espanhol até alguns anos atrás. É verdade?
- Sim.
- Em conseqüência, os neerlandeses, seus aliados, encontram-se em estado de rebelião contra o rei legal?
- Estão em luta contra os espanhóis, sim. Mas.. .
- Isso não é rebelião? Sim ou não?
- Sim. Mas há circunstâncias atenuantes. Sérias atenu...
- Não existem "circunstâncias atenuantes" quando se trata e rebelião contra um senhor soberano.
- A menos que se vença.
Toranaga olhou atentamente para ele. Depois riu estrondosamente. Disse alguma coisa a Hiromatsu no meio da gargalhada e Hiromatsu assentiu.
- Sim, Sr. Estrangeiro com o nome impossível, sim. Você citou o único fator atenuante. - Outra casquinada, depois o humor desapareceu de modo tão repentino como começara. Vocês vão vencer?
- Hai.
Toranaga falou novamente mas o padre não traduziu de imediato. Estava sorrindo de modo peculiar, os olhos fixos em Blackthorne. Suspirou e disse:
- Tem tanta certeza?
- Foi isso o que ele disse ou é o que você está dizendo?
- O Senhor Toranaga disse isso. Minha... ele disse isso.
- Sim. Diga-lhe que sim, tenho muita certeza. Posso explicar por quê?
O Padre Alvito falou com Toranaga muito mais tempo do que levaria para traduzir essa simples pergunta. Você está tão calmo quanto aparenta? - queria perguntar-lhe Blackthorne. Qual é a chave que o desvenda? Como o destruo?
Toranaga falou e tirou um leque da manga.
O Padre Alvito começou a traduzir novamente com a mesma descortesia sinistra, cheio de ironia.
- Sim, piloto, você pode me dizer por que acha que vencerá esta guerra.
Blackthorne tentou permanecer confiante, consciente de que o padre o estava dominando.
- Atualmente dominamos os mares da Europa, a maioria dos mares da Europa - disse, corrigindo se. Não se deixe arrebatar. Diga a verdade. Torça-a um pouco, exatamente como é certo que o jesuíta está fazendo, mas diga a verdade. - Nós, ingleses, esmagamos duas imensas armadas espanholas e portuguesas - invasões - e é pouco provável que eles sejam capazes de organizar outras. Nossa pequena ilha é uma fortaleza e estamos seguros agora. Nossa Marinha domina o mar. Nossos navios são mais rápidos, mais modernos, e mais bem armados. Com mais de cinqüenta anos de terror, Inquisição e carnificina, os espanhóis não venceram os holandeses. Nossos aliados estão ilesos e fortes e uma coisa mais: estão fazendo o império espanhol sangrar até a morte. Venceremos porque somos os donos dos mares e porque o rei espanhol, na sua vaidosa arrogância, não vai querer deixar livre um povo hostil.
- São os donos dos mares? Dos nossos também? Os que contornam nossas costas?
- Não, claro que não, Toranaga-sama. Não tive a intenção de ser arrogante. Referia-me, naturalmente, aos mares europeus, embora...
- Bom, fico contente de que isso esteja claro. Estava dizendo? Embora...?
- Apesar de que, em todos os altos-mares, logo estaremos varrendo o inimigo - disse Blackthorne claramente.
- Você disse "o inimigo". Talvez nós também sejamos seus inimigos? E então? Tentarão afundar nossos navios e nos assolar?
- Não posso conceber a idéia de ser seu inimigo.
- Eu posso, com muita facilidade. E então?
- Se o senhor viesse contra a minha terra, eu o atacaria e tentaria vencê-lo - disse Blackthorne.
- E se o seu governante ordenasse que nos atacasse aqui?
- Eu daria conselho em contrário. Veementemente. Nossa rainha daria ouvidos. Ela é ...
- Você é governado por uma rainha e não por um rei?
- Sim, Senhor Toranaga. Nossa rainha é sábia. Ela não daria... não poderia dar uma ordem tão imprudente.
- E se desse? Ou se o seu governante legal o fizesse?
- Então eu encomendaria a alma a Deus porque certamente morreria. De um modo ou de outro.
- Sim. Morreria. Você e todas as suas legiões. - Toranaga fez uma pausa. Em seguida perguntou: - Quanto tempo você levou para chegar aqui?
- Quase dois anos. Exatamente um ano, onze meses e dois dias. Uma distância marítima aproximada de quatro mil léguas, cada uma de três milhas.
O padre traduziu, depois acrescentou alguma coisa brevemente. Toranaga e Hiromatsu interrogaram o padre, que assentiu e respondeu.
Toranaga usava o leque pensativamente.
- Converti as medidas e o tempo, Capitão-Piloto Blackthorne, para as medidas deles - disse o padre polidamente.
- Obrigado.
Toranaga falou novamente:
- Como chegou aqui? Por que rota?
- Pelo estreito de Magalhães. Se dispusesse de meus mapas e portulanos, poderia lhe mostrar com clareza, mas foram roubados... foram removidos do meu navio com as minhas cartas de corso e todos os meus papéis. Se o senhor...
Blackthorne parou quando Toranaga falou bruscamente com Hiromatsu, que estava igualmente perturbado.
- Afirma que todos os seus papéis foram removidos... roubados?
- Sim.
- Isso é terrível, se for verdade. Abominamos o roubo no Nippon... Japão. A punição para roubo é a morte. O assunto será investigado instantaneamente. Parece incrível que qualquer japonês fizesse tal coisa, embora haja infames bandidos e piratas aqui e ali.
- Talvez só tenham sido tirados do lugar - disse Blackthorne. - E colocados em segurança em alguma outra parte. Mas são valiosos, Senhor Toranaga. Sem as minhas cartas marítimas, eu seria como um homem cego num labirinto. Gostaria que eu lhe explicasse minha rota?
- Sim, mas mais tarde. Primeiro diga-me por que percorreram toda essa distância.
- Viemos para comerciar, pacificamente - repetiu Blackthorne, contendo a impaciência. - Para comerciar e voltar para casa. Para fazê-lo mais rico e a nós mais ricos. E para tentar...
- Vocês mais ricos e nós mais ricos? O que é mais importante aí?
- Ambas as partes devem lucrar, naturalmente, e o comércio deve ser justo. Estamos visando ao comércio a longo prazo; ofereceremos termos melhores do que os dos portugueses e espanhóis, e um serviço melhor. Nossos mercadores...
Blackthorne parou ao ouvir o som de vozes altas do lado de fora da sala. Hiromatsu e metade dos guardas dirigiram-se imediatamente para a soleira, e os outros se moveram para formar um cerrado aglomerado de proteção ao estrado. Os samurais diante das portas internas puseram-se de prontidão, igualmente.
Toranaga não se movera. Falou ao Padre Alvito.
- Deve vir para cá, Capitão Blackthorne, para longe da porta - disse o padre com uma premência cuidadosamente contida. - Se dá valor à vida, não se mova repentinamente nem diga nada. - Moveu-se lentamente para a porta interna à esquerda e sentou-se perto dela.
Blackthorne curvou-se inquieto para Toranaga, que o ignorou, e caminhou com cautela na direção do padre, profundamente consciente de que sob aquele ponto de vista a entrevista fora um desastre.
- O que está acontecendo? - perguntou num sussurro ao se sentar.
Os guardas em torno se retesaram ameaçadores e o padre disse rapidamente alguma coisa para tranqüilizá-los.
- Será um homem morto na próxima vez que falar - disse a Blackthorne, pensando: quanto mais depressa, melhor. Com uma lentidão compassada, pegou um lenço da manga e enxugou o suor das mãos. Exigira-lhe todo o treinamento e resistência permanecer calmo e amável durante a entrevista do herege, que fora pior do que até o padre-lnspetor esperara.
- Você terá que estar presente? - perguntara o padre-lnspetor na noite anterior.
- Toranaga solicitou-me especificamente.
- Acho que é muito perigoso para você e para todos nós. Talvez pudéssemos pretextar uma doença. Se você estiver lá, terá que traduzir o que o pirata disser, e pelo que descreve o Padre Sebastio ele é um demônio na terra, tão astucioso quanto um judeu.
- É muito melhor que eu esteja lá, Eminência. Pelo menos serei capaz de interceptar as mentiras menos óbvias de Blackthorne.
- Por que será que veio até aqui? Por que agora, quando tudo estava se tornando perfeito de novo? Será que eles realmente têm outros navios no Pacífico? É possível que tenham enviado uma esquadra contra a Manila espanhola? Não que eu me importe um nadinha com essa cidade pestilenta ou qualquer uma das colônias espanholas nas Filipinas, mas uma esquadra inimiga no Pacífico! Isso teria terríveis implicações para nós na Ásia. E se ele conseguisse que Toranaga lhe desse ouvidos, ou Ishido, ou qualquer um dos daimios mais poderosos, bem, ficaria enormemente difícil, para dizer o mínimo.
- Blackthorne é um fato. Felizmente estamos numa posição de poder lidar com ele.
- Deus é meu juiz, mas eu quase acreditaria que os espanhóis, ou mais provavelmente os seus lacaios desencaminhados, os franciscanos e os beneditinos, deliberadamente o guiaram para cá a fim de nos importunar.
- Talvez tenham feito isso, Eminência. Não há nada que os monges não fariam para nos destruir. Mas é apenas ciúme por estarmos tendo êxito onde eles fracassam. Certamente Deus lhes mostrará o erro do seu procedimento! Talvez o inglês se "remova" por si mesmo antes de causar qualquer dano. Seus portulanos provam que ele é o que é. Um pirata e um líder de piratas!
- Leia-os para Toranaga, Martim. As partes onde ele descreve o saquê de povoados indefesos da África ao Chile, e a lista do saquê e toda a matança.
- Talvez devêssemos esperar, Eminência. Sempre podemos exibir os portulanos. Esperemos que ele se condene sem isso.
O Padre Alvito enxugou as palmas das mãos novamente.
Podia sentir os olhos de Blackthorne sobre ele. Deus tenha piedade de você, pensou. Pelo que disse hoje a Toranaga, sua vida não vale um níquel falsificado, e pior ainda, sua alma está além de qualquer redenção. Será crucificado, mesmo sem a evidência dos seus portulanos. Deveríamos mandá-los de volta ao Padre Sebastio, de modo que ele possa devolvê-los a Mura? O que faria Toranaga se os papéis nunca fossem descobertos? Não, isso seria perigoso demais para Mura.
A porta na extremidade mais afastada abriu-se com um estremecimento.
- O Senhor Ishido quer vê-lo, senhor - anunciou Naga.
- Ele... ele está aqui no corredor e quer vê-lo. Imediatamente, diz ele.
- Voltem a seus lugares, todos vocês - disse Toranaga aos seus homens. Foi imediatamente obedecido. Mas todos os samurais se sentaram encarando a porta, com Hiromatsu à testa deles, as espadas afrouxadas nas bainhas. - Naga-san, diga ao Senhor Ishido que ele é sempre bem-vindo. Peça-lhe que entre.
O homem alto entrou a passos largos na sala. Dez dos seus samurais - cinzentos - o seguiram, mas permaneceram à soleira e, a um sinal dele, sentaram-se de pernas cruzadas.
Toranaga curvou-se com uma formalidade precisa e a reverência foi retribuída com a mesma exatidão.
O Padre Alvito bendisse a própria sorte por estar presente.
O conflito pendente entre os dois líderes rivais afetaria completamente o curso do império e o futuro da Mãe Igreja no Japão, portanto qualquer indício ou informação que pudesse ajudar os jesuítas a decidir onde lançar sua influência seria de uma importância incomensurável. Ishido era zen-budista e fanaticamente anticristão, Toranaga era zen-budista e abertamente simpatizante.
Mas a maioria dos daimios cristãos apoiava Ishido, temendo justificadamente, acreditava o Padre Alvito - a ascendência de Toranaga. Os daimios cristãos achavam que, se Toranaga eliminasse a influência de Ishido do conselho de regentes, usurparia o poder todo para si. E uma vez que detivesse o poder, acreditavam eles, poria em execução os editos de expulsão do taicum e arrasaria a verdadeira fé. Se, no entanto, Toranaga fosse eliminado, a sucessão, uma débil sucessão, estaria garantida e a Mãe Igreja prosperaria.
Como a fidelidade dos daimios cristãos vacilava, semelhantemente ao que ocorria com todos os outros daimios da terra, e o equilíbrio do poder entre os dois líderes flutuasse continuamente, ninguém sabia com certeza que lado era, na realidade, o mais poderoso. Nem ele, o Padre Alvito, o europeu mais bem informado do império, podia dizer com certeza que lado os daimios cristãos realmente apoiariam quando o conflito se tornasse declarado, ou que facção prevaleceria.
Viu Toranaga descer do estrado, atravessando o círculo de segurança formado por seus homens.
- Bem-vindo, Senhor Ishido. Por favor, sente-se ali. - Toranaga fez um gesto na direção da única almofada sobre o estrado. - Gostaria que se sentisse confortável.
- Não, obrigado, Senhor Toranaga. - Ishido Kazunari era magro, moreno e muito vigoroso, um ano mais novo do que Toranaga. Eram inimigos de longa data. Oito mil samurais no interior e nos arredores do Castelo de Osaka atendiam às suas ordens, pois era o comandante da guarnição - e portanto o comandante da guarda pessoal do herdeiro -, general-chefe dos exércitos de oeste, conquistador da Coréia, membro do conselho de regentes, e antigamente inspetor-geral de todos os exércitos do falecido taicum, os quais, legalmente, eram compostos por todos os exércitos de todos os daimios no reino inteiro. - Não, obrigado - repetiu. - Ficaria embaraçado de estar confortável e o senhor não, neh? Um dia eu lhe tomarei a almofada, mas não hoje.
Uma torrente de cólera percorreu os marrons ante a ameaça implícita de Ishido, mas Toranaga respondeu amavelmente.
- Veio num momento muito oportuno. Eu estava acabando de entrevistar o novo bárbaro. Tsukku-san, por favor, diga-lhe que se levante.
O padre fez conforme o solicitado. Sentiu a hostilidade de Ishido vindo do outro lado da sala. Além de ser anticristão, Ishido sempre fora veemente na sua condenação a todos os europeus e queria o império totalmente fechado para eles. Ishido olhou para Blackthorne com acentuado desagrado.
- Ouvi dizer que era feio, mas não imaginava que fosse tanto. Corre o boato de que é pirata. É mesmo?
- O senhor pode duvidar disso? E também e mentiroso.
- Então, antes de crucificá-lo, deixe-o comigo por meio dia. O herdeiro poderia achar divertido vê-lo antes com a cabeça no lugar. - Ishido riu asperamente. - Ou talvez devesse ser ensinado a dançar como um urso, então o senhor poderia exibi-lo por todo o império: "O Monstro Vindo do Leste".
Embora fosse verdade que Blackthorne tivesse, singularmente, vindo dos mares orientais - ao contrário dos portugueses, que sempre vinham do sul e por isso eram chamados de bárbaros meridionais -, Ishido estava espalhafatosamente insinuando que Toranaga, que dominava as províncias orientais, era o verdadeiro monstro.
Mas Toranaga simplesmente sorriu, como se não tivesse compreendido.
- É um homem de muito humor, Senhor Ishido - disse. - Mas concordo em que quanto mais depressa o bárbaro for eliminado, melhor. É enfadonho, arrogante, fala grosso e de modo singular, sim, mas é de pouco valor, e sem educação. Naga-san, mande alguns homens e ponha-o com os criminosos comuns. Tsukku-san, diga-lhe que os acompanhe.
- Capitão-piloto, deve seguir esses homens.
- Para onde estou indo?
O padre hesitou. Estava contente por ter vencido, mas o adversário era corajoso e tinha uma alma imortal que ainda podia ser salva.
- Vai para a prisão - disse.
- Por quanto tempo?
- Não sei, meu filho. Até que o Senhor Toranaga resolva.