XV
Os três dias de espera revelaram-se incrivelmente penosos. Luís mal conseguiu pregar olho durante todo esse tempo e arrastava-se com tristeza de um lado para o outro, como se carregasse às costas um fardo de espinhos. Como era possível que Amélia se tivesse ido embora sem nada dizer?
Nem um aviso, nem uma palavra, nem um recado. Sumira-se e era tudo.
Como sempre acontecia quando ficava ansioso, perdeu totalmente o apetite. Andou dois dias em que quase não tocou na comida; petiscava e nada mais. A situação chegou a tal ponto que dona Hortense não pôde conter o enervamento.
"Mas o que se passa, menino?", perguntou ao jantar de quinta-feira, já exasperada. "É a feijoada que não lhe agrada? E o vinhinho que não está bom?"
"Não, dona Hortense", disse ele, que apenas comera a sopa e recusara o prato principal. "Não tenho fome."
"Prefere que a Graciete lhe prepare um bifinho?"
"Não vale a pena", repetiu Luís.