XLVI

Os homens sentados à volta da mesa evitavam olhar uns para os outros. De expressão tacituma e olhos perdidos no labirinto do problema, ponderavam a questão aparentemente sem serem capazes de encontrar uma solução convincente. Instalado à cabeça da mesa a presidir à reunião, Magus passeou devagar os olhos por eles, fitando cada um por sua vez, como se assim esperasse arrancar a algum o contributo decisivo. O

que via, porém, não lhe agradava.

"Já percebi", disse por fim, desviando o olhar dos seus subordinados.

"Vocês é que são os homens da segurança, mas tenho de ser eu a resolver este problema."

Balam, chefe da secção de segurança do Cultus Sathanas, pigarreou, como se a observação lhe tivesse sido dirigida e requeresse resposta.

"Decarabia fez-nos perder tempo e opções", lamentou-se. "Não se pode esperar que..."

"Decarabia foi recrutado porque vocês não estavam a fazer bem o vosso trabalho", atalhou Magus, sem paciência para ouvir mais desculpas. "Vocês falharam na operação de Nice e, para falar com franqueza, não tenho grande confiança na vossa capacidade de resolver 298


este engulho."

O chefe da segurança não desarmou.

"Nice não foi uni fracasso completo", argumentou. "Neutralizámos os dois abelhudos."

"Mas não recuperaram o DVD!"

"É um facto", reconheceu Balam. "O problema é que Decarabia, com os seus falhanços em Lisboa e Madrid, piorou as coisas. Se nos tivesse permitido actuar, poderoso Magus, teríamos acabado o que ficou incompleto em Nice. Em vez disso foi recrutado esse artolas só porque veio da SAS e, como está à vista de todos, a coisa correu mal."

Consciente de que não era com recriminações que iam resolver o problema, Magus fez um gesto vago com a mão.

"Bem, não vale a pena chorar sobre leite derramado", sentenciou, esforçando-se por olhar em frente. "Estas operações deixaram os nossos inimigos de sobreaviso. A questão é esta: como poderemos agora chegar até eles?" Voltou a passear o olhar pelos seus subordinados. "Alguém tem alguma ideia?"

O silêncio regressou à mesa. Sentindo-se desconfortável por se revelar incapaz de sugerir o que quer que fosse, o chefe de segurança levantou a mão para falar.

"Proponho que mantenhamos a mãe do tipo sob vigilância e esperemos que ele..."

"Não digas disparates", cortou Magus. "A mãe continua sob vigilância, claro, mas o gajo não é parvo e não vai agora voltar a cometer o mesmo erro. Não vale a pena contar com isso."

"Então o que poderemos fazer?"

Era uma boa pergunta. Magus recostou-se na sua poltrona e considerou as várias circunstâncias e possibilidades que condicionavam o caso. O mutismo na sala prolongou-se, apenas quebrado pela ocasional tosse ou arranhar de gargantas. O chefe do Cultus Sathanas parecia a milhas dali, equacionando hipóteses e opções.

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Ao fim de algum tempo, no entanto, pareceu regressar ao presente.

"Só vejo uma maneira de o apanhar", acabou por dizer. "Temos de lhe estender uma armadilha."

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