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16h55m

A caixa de papelão que os Lobisomens haviam mandado para Phillip Chen encontrava-se sobre a mesa de Roger Crosse. Ao lado da caixa estavam o bilhete de resgate, o chaveiro, a carteira de motorista, a caneta, até mesmo os pedaços amarfanhados do jornal rasgado que fora usado como envoltório. O saquinho de plástico estava lá, assim como o trapo manchado. Só faltava o seu conteúdo.

Tudo fora etiquetado.

Roger Crosse estava sozinho na sala, e fitava os objetos, fascinado. Pegou um pedaço do jornal. Cada pedaço havia sido cuidadosamente desamassado, a maioria tinha uma etiqueta com a data e o nome do jornal chinês a que pertencia. Ele o virou ao contrário, buscando informações ocultas, uma pista oculta, alguma coisa que houvesse deixado escapar. Não tendo achado nada, recolocou-o direitinho no lugar, e apoiou-se nas mãos, imerso em pensamentos.

O relatório de Alan Medford Grant também estava sobre a mesa, junto do intercomunicador. A sala estava em silêncio completo. Janelas pequenas davam para Wanchai e para parte do porto, na direção de Glessing's Point.

O telefone dele tocou.

— Pronto?

— O Sr. Rosemont, da CIA, e o Sr. Langan, do FBI, senhor.

— Ótimo.

Roger Crosse repôs o fone no gancho. Destrancou a primeira gaveta da sua escrivaninha, colocou com cuidado a pasta de Alan Medford Grant sobre o telex decifrado e trancou-a de novo. A gaveta do meio continha um gravador de excelente qualidade. Examinou-o, e tocou num botão oculto. Silenciosamente, os carreteis começaram a rodar. O intercomunicador sobre a mesa continha um potente microfone. Satisfeito, trancou também essa gaveta. Outro botão oculto na mesa fez correr silenciosamente uma tranca na porta da sala. Levantou-se e foi abrir a porta.

— Alô, pessoal. Vamos entrando, por favor — falou, amavelmente. Fechou a porta às costas dos dois americanos e apertou-lhes as mãos. Sem ser percebido, tocou no botão, e a tranca voltou ao seu lugar, na porta. — Sentem-se. Um chá?

— Não, obrigado — disse o homem da CIA.

— Em que lhes posso ser útil?

Os dois homens carregavam envelopes de papel pardo. Rosemont abriu o dele e tirou de dentro um maço de fotos 20 x 24, dividido em duas partes, presas com clipes.

— Tome — falou, passando-lhe o maço de cima.

Havia diversas fotos de Voranski correndo pelo cais, nas ruas de Kowloon, entrando e saindo de táxis, telefonando, e muitas mais dos seus assassinos chineses. Uma das fotos mostrava os dois chineses saindo da cabine telefônica, com uma visão clara do corpo caído ao fundo.

Somente a disciplina soberba de Crosse impediu-o de demonstrar assombro, depois uma fúria cega.

— Muito boas — falou, gentilmente, colocando-as sobre a mesa e fitando aquelas que Rosemont guardava nas mãos. — E então?

Rosemont e Ed Langan franziram o cenho.

— Vocês também o estavam seguindo?

— Claro — falou Crosse, mentindo com uma sinceridade maravilhosa. — Meu caro rapaz, estamos em Hong Kong. Gostaria muito que vocês nos deixassem fazer o nosso serviço, sem interferir.

— Rog, nós não... queremos interferir, queremos apenas escorá-lo.

— Talvez não precisemos de escoras — retrucou ele, e havia um toque de aspereza em sua voz.

— Claro. — Rosemont apanhou um cigarro e acendeu-o. Era alto e magro, com cabelos grisalhos cortados à escovinha e feições regulares. Tinha as mãos fortes, como todo o resto do corpo, — Sabemos onde os dois assassinos estão escondidos. Achamos que sabemos — continuou. — Um dos nossos acha que os encontrou.

— Quantos homens seus estão vigiando o navio?

— Dez. Nossos homens não notaram nenhum dos seus na cola desse sujeito. O despiste quase nos enganou, também.

— Muito bem bolado — disse Crosse, afavelmente, perguntando-se que despiste seria aquele.

— Nossos homens não chegaram a revistar os bolsos dele... sabemos que deu dois telefonemas da cabine... —

Rosemont notou que os olhos de Crosse se estreitaram de leve. "Curioso", pensou. "Crosse não sabia disso. Se não sabia disso, talvez o pessoal dele também não estivesse na cola do alvo. Talvez esteja mentindo, e o comuna esteve à solta em Hong Kong até ser apunhalado." — Mandamos uma foto dele pelo rádio para os Estados Unidos... logo teremos alguma resposta. Quem era ele?

— Seus documentos diziam Ígor Voranski, marujo de primeira classe, marinha mercante soviética.

— Tem ficha dele, Rog?

— É um pouco estranho vocês virem fazer uma visita juntos, não é? Quero dizer, no cinema sempre nos fazem crer que o FBI e a CIA vivem às turras.

Ed Langan sorriu.

— Claro que vivemos... assim como vocês e a MI-5, como o KGB, o gru e cinqüenta outras operações soviéticas. Mas às vezes os nossos casos se cruzam... operamos nos Estados Unidos, Stan, fora, mas ambos somos dedicados à mesma coisa: segurança. Pensamos... estamos perguntando se podemos todos cooperar. Este caso pode ser dos grandes, e nós... Stan e eu estamos um pouco deslocados.

— É isso aí — falou Rosemont, sem acreditar no que dizia.

— Está certo — disse Crosse, necessitando das informações deles. — Mas vocês começam.

Rosemont soltou um suspiro.

— Tá legal, Rog. Há tempos ouvimos um zunzum de que algo vai acontecer em Hong Konk... não sabemos o quê... mas que sem dúvida nenhuma tem conexões nos Estados Unidos. Imagino que a pasta de Alan Medford Grant seja o elo. Veja só: Banastasio... é da Máfia. Figuraço. Narcóticos, a coisa toda. O tal de Bartlett e as armas. Armas...

— Bartlett tem ligação com Banastasio?

— Não temos certeza. Estamos verificando. Temos certeza de que as armas foram embarcadas em Los Angeles, que é a base do avião. Armas! Armas, narcóticos, e nosso interesse crescente no Vietnam. De onde vêm os narcóticos? Do Triângulo Dourado. Vietnam, Laos, e a província de Yun-nan, na China. Agora, nos metemos no Vietnam e...

— É, e estão se metendo numa fria, meu velho... já lhe disse isso umas cinqüenta vezes.

— Não somos nós que tomamos as decisões políticas, Rog, igualzinho a você. Tem mais: nosso porta-aviões nuclear está aqui, e o maldito Soviétski Ivánov chega à noite. É conveniente demais. Quem sabe se o vazamento de informações não saiu daqui? Depois, o Ed lhe dá a dica, e pegamos as cartas malucas de Alan, de Londres, e agora há a Sevrin! Quer dizer que o KGB tem gente infiltrada por toda a Ásia, e você tem um inimigo num alto cargo, em algum lugar.

— Isso ainda não foi provado.

— Certo. Mas eu conheço o Alan. Não é nenhuma besta. Se diz que a Sevrin existe e que vocês têm um agente infiltrado, um toupeira, então vocês têm um toupeira. Claro que temos gente inimiga na CIA, também, igualzinho ao KGB. Estou certo de que o Ed tem no FBI...

— Não acredito — interrompeu Ed Langan, vivamente.

— Nosso pessoal é escolhido a dedo, e treinado. Vocês pegam os seus bombeiros vindos de onde vierem.

— Certo — concordou Rosemont. Depois acrescentou para Crosse: — Voltando aos narcóticos. A China Vermelha é a nossa grande inimiga e...

— Está errado de novo, Stanley. A República Popular da China não é a grande inimiga em parte alguma. A Rússia é que é.

— A China é comuna. Os comunas são o inimigo. Bem, seria muita esperteza inundar os Estados Unidos com narcóticos baratos, e a China Vermelha... vá lá, a República Popular da China pode abrir as comportas da represa.

— Mas não o fez. Nosso Departamento de Narcóticos é o melhor da Ásia... nunca apresentou nada para apoiar sua teoria oficial errônea de que os chineses estão por trás do tráfico. Nada. A República Popular da China é tão antidroga quanto todos nós.

— Acredito no que quiser — falou Rosemont. — Rog, tem uma ficha desse agente? É do KGB, não é?

Crosse acendeu um cigarro.

— Voranski esteve aqui no ano passado. Então, disfarçou-se sob o nome de Serguei Kudriov, novamente marujo de primeira classe, novamente do mesmo navio... não tem muita imaginação, não é? — Nenhum dos dois homens sorriu. — O nome verdadeiro dele é major Iúri Bakian, Primeiro Diretório, KGB, Departamento 6.

Rosemont soltou um pesado suspiro. O homem do FBI olhou para ele.

— Então você está certo. Tudo se encaixa.

— Pode ser. — O homem alto pensou por um momento.

— Rog, e quanto aos contatos dele do ano passado?

— Agiu como turista, ficou no Nove Dragões, em Kowloon...

— Isso consta do relatório de Alan. Esse hotel é mencionado — disse Langan.

— É. Há cerca de um ano que está sob vigilância. Não encontramos nada. Bakian (Voranski) fez as coisas comuns que todo turista faz. Mantivemo-lo sob vigilância as vinte e quatro horas do dia. Ficou aqui duas semanas, e então, pouco antes de o navio zarpar, esgueirou-se de volta para ele.

— Namorada?

— Não. Nada sério. Costumava fazer ponto no Cabaré Boa Sorte, em Wanchai. Aparentemente um garanhão, mas não fazia perguntas, e não se encontrou com ninguém fora do comum.

— Alguma vez esteve no Sinclair Towers?

— Não.

— Que pena — falou Langan —, seria bom demais. Tsu-yan tem um apartamento ali, Tsu-yan conhece Banastasio, John Chen conhece Banastasio, e estamos de volta às armas, aos narcóticos, Alan Medford Grant e Sevrin.

— É — concordou Rosemont, e depois acrescentou: — Já encontraram Tsu-yan?

— Não. Ele chegou a Taipé em segurança, depois sumiu.

— Acha que está escondido lá?

— Imagino que sim — respondeu Crosse. Mas, intimamente, acreditava que ele estivesse morto, já eliminado por nacionalistas, comunistas, mafiosos ou tríades. Seria um agente duplo... ou o demônio supremo de todos os serviços de informação, um agente triplo?

— Vocês o encontrarão... ou nós... ou os rapazes de Formosa.

— Roger, Voranski o conduziu a alguma parte? — indagou Langan.

— Não, a parte alguma, embora estejamos de olho nele há anos. Esteve ligado à Comissão Comercial Soviética em Bangkok, passou algum tempo em Hanói, em Seul, mas, ao que saibamos, nunca exerceu atividades secretas. Certa vez o sacana atrevido chegou a pedir um passaporte britânico, e quase o arranjou. Felizmente o nosso pessoal verifica todos os pedidos, e descobriu falhas no disfarce dele. Lamento que esteja morto... sabe como é difícil identificar os homens maus. Perde-se muito tempo e esforço. — Crosse fez uma pausa e acendeu um cigarro. — Seu posto de major é bem alto, o que sugere algo que não cheira nada bem. Talvez fosse apenas outro dos agentes especiais deles, que recebem ordens para viajar por toda a Ásia, mantendo-se ultra-secretos durante vinte ou trinta anos.

— Os filhos da mãe já tinham o plano do jogo pronto há muito tempo, que descarados! — suspirou Rosemont. — O que vão fazer com o cadáver? Crosse sorriu.

— Mandei um dos meus homens que falam russo ligar para o comandante do navio, Grigóri Suslev. Ele é membro do partido, é claro, mas praticamente inofensivo. Tem uma namorada esporádica num apartamento em Mong Kok... uma garota de cabaré que recebe dele uma mesada modesta e fica às suas ordens quando ele está aqui. Ele vai às corridas, ao teatro, vai jogar em Macau algumas vezes, fala bem inglês. Suslev está sob vigilância. Não quero nenhum dos seus apressadinhos se metendo com um dos nossos inimigos conhecidos.

— Quer dizer que Suslev é habitue por aqui?

— É, há anos que viaja por esses mares, tendo por base Vladivostok... A propósito, é ex-comandante de submarino. Vive aqui pela periferia, geralmente meio tocado.

— Como assim?

— Bêbado, mas não demais. Relaciona-se com alguns dos nossos britânicos "cor-de-rosa", como Sam e Molly Finn.

— Os tais que vivem escrevendo cartas para os jornais?

— É. São mais uns chatos do que propriamente uma ameaça à segurança. Bem, de qualquer modo, seguindo as minhas instruções, meu subordinado que fala russo disse ao comandante Suslev que sentíamos demais, mas que parecia que um de seus marujos sofrerá um ataque cardíaco dentro de uma cabine telefônica, no Terminal da Balsa Dourada. Suslev mostrou-se convenientemente chocado, e muito razoável. "Por acaso", havia no bolso de Voranski um relatório exato, palavra por palavra, da conversa telefônica do assassino. Escrevemo-lo em russo, para demonstrar ainda mais o nosso desprazer. Todos são profissionais, a bordo daquele navio, e sofisticados o bastante para saber que não removemos os agentes deles sem causa e provocação fora de série. Sabem que apenas vigiamos aqueles cuja existência conhecemos, e que, se ficamos realmente irritados, nós o deportamos. — Crosse lançou um olhar para Rosemont, os olhos duros, embora a voz se mantivesse natural. — Achamos que nossos métodos são mais eficazes do que a faca, o garrote, o veneno ou a bala.

O homem da CIA balançou a cabeça.

— Mas quem iria querer matá-lo?

Crosse voltou a olhar para as fotos. Não reconheceu os dois chineses, mas seus rostos eram nítidos, e o corpo ao fundo era uma prova incrível.

— Nós os encontraremos. Sejam quem forem. O que telefonou para a nossa delegacia disse que eram da 14K. Mas falava apenas xangaiense com um dialeto ningpo, portanto não é provável. Talvez fosse alguma espécie de tríade. Poderia ser um Pang Verde. Era certamente um profissional treinado... a faca foi usada à perfeição, com grande precisão... foi assassinado num piscar de olhos, sem emitir um som. Poderia ser um dos seus estagiários da CIA no serviço de informações de Chang Kai-chek. Ou quem sabe da CIA coreana, mais gente treinada por vocês... são anti-soviéticos também, não é? Possivelmente agentes da RPC, mas isso é improvável. Os agentes deles não costumam assassinar quai loh, especialmente aqui em Hong Kong.

Rosemont sacudiu a cabeça, e ignorou a censura. Entregou a Crosse as fotografias restantes, querendo a cooperação do inglês, precisando dela.

— Estas são fotos da casa em que entraram. E o nome da rua. Nosso homem não sabia ler os caracteres, mas traduzido dá "Rua da Primeira Estação, número 14". É um becozinho nojento nos fundos da rodoviária, em North Point.

Crosse começou a examiná-las com igual cuidado. Rosemont olhou para o relógio, depois levantou-se e foi até a única janela que dava para parte do porto.

— Olhem! — exclamou, com orgulho.

Os outros dois foram para junto dele. O grande porta-aviões nuclear acabava de dobrar o North Point, dirigindo-se para o arsenal, no lado de Hong Kong. Estava todo engalanado, todas as bandeiras obrigatórias ao vento, uma multidão de marujos de branco no seu imenso convés, com fileiras bem-arrumadas dos seus ferozes caças a jato. Quase oitenta e quatro mil toneladas. Nada de chaminé, apenas um complexo de ponte vasto e ameaçador, com uma pista angular de trezentos e trinta metros que podia lançar e receber jatos, simultaneamente. O primeiro de uma geração.

— É um navio e tanto — comentou Crosse, com inveja. Era a primeira vez que o colosso entrava em Hong Kong, desde que fora posto em serviço, em 1960. — Bonito — falou, odiando o fato de o navio ser americano, e não britânico. — Qual a sua velocidade máxima?

— Não sei... é segredo, assim como tudo o mais. — Rosemont virou-se para encará-lo. — Não pode mandar aquele maldito navio espião soviético sair daqui do porto?

— Posso, e poderíamos explodi-lo, o que seria uma tolice igual. Stanley, relaxe. Tem que ser um pouco mais civilizado quanto a essas coisas. O reparo desses navios (e alguns deles realmente estão precisando) é uma boa fonte de renda, e de informações, e eles pagam as contas com presteza. Nossos métodos têm sido experimentados e testados, ao longo dos anos. "É", pensava Rosemont, sem rancor, "mas seus métodos não funcionam mais. O Império Britânico não existe mais, os rajás britânicos não existem mais, e agora temos um inimigo diferente, mais esperto, mais durão, um fanático dedicado e totalitário, que não segue as regras de Queensberry, e tem um plano mundial com fundos inesgotáveis. Vocês, britânicos, agora não têm dinheiro, nem força, nem marinha, nem exército, nem aeronáutica, e seu maldito governo está cheio de socialistas e pústulas inimigos, e nós achamos que eles venderam vocês ao bandido. Vocês foram fodidos de dentro para fora, sua segurança já era, de Klaus Fuchs e Philby para baixo. Meu Deus, ganhamos as duas guerras para vocês, pagamos pela maior parte delas, e nas duas vezes vocês esculhambaram com a paz. E se não fosse pelo nosso Comando Aéreo Estratégico, nossos mísseis, nossa força de ataque nuclear, nossa marinha, nosso exército, nossa aviação, nossos contribuintes, nossa grana, vocês todos estariam mortos ou na porra da Sibéria. Entrementes, quer me agrade ou não, tenho que tratar com você. Precisamos de Hong Kong como janela, e nesse momento precisamos dos seus tiras para tomarem conta do porta-aviões."

— Rog, obrigado pelos homens extras — falou. — Ficamos muito agradecidos.

— Também não íamos querer nenhuma encrenca enquanto ele estiver aqui. Belo navio. Invejo vocês por possuírem-no.

— Seu comandante vai manter o navio e a tripulação sob rédea curta... o pessoal que vier a terra será bem instruído, e advertido, e vamos colaborar cem por cento.

— Darei a vocês uma cópia da lista de bares que sugeri que seus marujos evitassem... alguns são "pontos" conhecidos de comunistas, alguns são freqüentados pelos nossos rapazes do H.M.S. Dart. — Crosse sorriu. — São capazes de puxar uma ou outra briguinha entre si.

— Claro. Rog, este assassinato do Voranski é coincidência demais. Posso mandar um orador de Xangai para ajudar no interrogatório?

— Avisarei se precisarmos de ajuda.

— Pode nos dar agora as cópias dos outros relatórios de Alan para o tai-pan? Aí nós o deixaremos em paz.

Crosse devolveu-lhe o olhar, retorcendo-se por dentro, embora estivesse preparado para o pedido.

— Precisarei da aprovação de Whitehall. Rosemont ficou surpreso.

— Nosso homem-chefe na Inglaterra já esteve com o seu

Grande Pai Branco, e a coisa foi aprovada. Você já devia ter recebido a notícia faz uma hora.

— É?

— Claro. Pombas, não tínhamos a menor idéia de que Alan estava na folha de pagamento do tai-pan, e ainda mais que lhe estava passando informações sigilosas! Os fios de comunicação têm estado em brasa desde que Ed recebeu a cópia principal das últimas vontades e testamento de Alan. Recebemos ordens expressas de Washington para arranjar cópias dos outros relatórios, e estamos tentando localizar a chamada para a Suíça, mas...

— Como disse?

— O telefonema de Kiernan. O segundo que deu.

— Não estou entendendo. Rosemont explicou. Crosse franziu o cenho.

— Meu pessoal não me falou nele. Nem Dunross. Ora, por que Dunross mentiria... ou evitaria me contar isso? — Relatou aos outros exatamente o que Dunross lhe dissera. — Não havia motivo para ele ocultar isso, havia?

— Não. Bem, Rog: o tai-pan é legal? Crosse riu.

— Se está querendo saber se ele é um flibusteiro monarquista britânico cem por cento, fiel à sua Casa, a si mesmo e à rainha... não necessariamente nessa ordem... a resposta é um enfático sim.

— Então, Rog, se puder nos dar as nossas cópias agora, já vamos andando.

— Quando eu tiver a aprovação de Whitehall.

— Ligue para a sua sala de decifrar códigos... é uma Prioridade l-4a. Diz para você nos entregar as cópias ao receber a mensagem.

As l-4a eram muito raras. Exigiam liberação e ação imediatas.

Crosse hesitou, querendo evitar a armadilha em que se encontrava. Não ousava dizer-lhe que ainda não estava de posse dos relatórios de Alan. Pegou no telefone e discou.

— Aqui fala o Sr. Crosse. Alguma coisa para mim da Fonte? Uma l-4a?

— Não, senhor, exceto aquela que já lhe enviamos faz uma hora, cujo talão de recebimento o senhor assinou — respondeu a mulher do sei.

— Obrigado — Crosse desligou. — Nada, ainda — falou.

— Merda — resmungou Rosemont, e depois acrescentou: — Juraram que já a tinham enviado, e que estaria nas suas mãos quando chegássemos aqui. Vai chegar a qualquer segundo. Esperaremos, se não se importar.

— Tenho um encontro na Central daqui a pouquinho. Quem sabe logo mais à noite?

Os dois homens sacudiram a cabeça. Langan falou:

— Vamos esperar. Ordenaram-nos que os enviássemos de volta, imediatamente, por mensageiro, com uma guarda vinte quatro horas por dia. Um avião-transporte do exército deve chegar agora em Kai Tak, para levar o mensageiro: não podemos nem copiar os relatórios aqui.

— Não estão exagerando?

— Isso é você quem pode responder. O que há neles? Crosse brincava com o isqueiro, onde estavam gravadas as palavras "Universidade de Cambridge". Possuía-o desde antes de se formar.

— É verdade o que Alan Medford Grant disse sobre a CIA e a Máfia?

Rosemont devolveu-lhe o olhar.

— Não sei. Vocês utilizaram todo tipo de vigaristas durante a Segunda Guerra Mundial. Aprendemos com vocês a tirar vantagem do que tivéssemos... essa era a sua primeira regra. Além disso — acrescentou Rosemont, cheio de convicção —, esta guerra é nossa, e vamos ganhá-la, não importa como.

— É, é, sim, temos que ganhar — ecoou Langan, igualmente convencido. — Porque, se a perdermos, o mundo inteiro irá pro beleléu, e jamais teremos nova chance.

Na ponte envidraçada do Soviétski Ivâttov, três homens observavam com binóculos o porta-aviões nuclear. Um dos homens era civil, e usava um microfone ligado a um gravador. Estava fazendo um relatório técnico, pericial, sobre o que via. De quando em vez, os outros dois acrescentavam um comentário. Ambos usavam um uniforme naval claro. Um deles era o comandante Grigóri Suslev, o outro, seu imediato.

O porta-aviões vinha entrando direitinho no porto, com rebocadores a postos, mas sem cordas de rebocadores. Barcas, balsas e cargueiros apitavam as boas-vindas. Uma banda de fuzileiros tocava no tombadilho de popa. Marujos de branco acenavam para navios que passavam. O dia estava muito úmido, e o sol da tarde projetava longas sombras.

— O comandante é um cobra — comentou o imediato.

— É. Mas com todos aqueles radares, até uma criança poderia manejá-lo — replicou o comandante Suslev. Era um homem de ombros fortes, barbudo, os olhos eslavos castanhos e fundos, num rosto amistoso. — Aquelas varredeiras no topo dos mastros me parecem as novas ge para radar de longuíssimo alcance. São, Vassíli?

O perito técnico interrompeu momentaneamente a sua transmissão.

— Sim, camarada comandante. Mas, olhe para a popa! Há quatro interceptadores F5 estacionados no convés de pista direito.

Suslev soltou um assobio mudo.

— Não deviam estar em uso senão no ano que vem.

— Não — concordou o civil.

— Relate isso em separado logo que ele atraque. Somente essa notícia já valeu a nossa viagem.

Suslev apurou o foco do binóculo, enquanto o navio virava ligeiramente. Dava para ver as prateleiras de bombas dos aviões.

— Quantos F5 mais carregará no bojo, e quantas ogivas atômicas para eles?

Todos observaram o porta-aviões, por um momento.

— Talvez dessa vez tenhamos sorte, camarada comandante — disse o imediato.

— Espero que sim. Desse modo, a morte de Voranski não terá saído tão cara.

— Os americanos são idiotas em trazê-lo para cá... não sabem que todos os agentes na Ásia serão tentados por ele?

— Sorte nossa que sejam. Torna o nosso serviço bem mais fácil.

Mais uma vez, Suslev concentrou-se nos F5, que pareciam vespões-soldados entre outros vespões.

À sua volta, a ponte estava lotada de equipamento de vigilância avançadíssimo. Um radar varria o porto. Um marujo de cabelos grisalhos, impassível, fitava a tela, o porta-aviões representado por um blip alto e nítido, que se destacava dos demais.

O binóculo de Suslev moveu-se para o ominoso complexo da ponte do porta-aviões, depois percorreu toda a extensão do navio. Sem conseguir se controlar, estremeceu frente ao seu tamanho e potência.

— Dizem que nunca foi reabastecido... desde o seu lançamento, em 1960.

Às suas costas a porta da sala de rádio anexa à ponte se abriu e um radiotelegrafista chegou junto dele, bateu continência e estendeu um telegrama.

— Urgente, do Centro, camarada comandante.

Suslev pegou o telegrama e assinou um recibo. Era um amontoado de palavras sem sentido. Com um último olhar para o porta-aviões, ele pousou o binóculo sobre o peito e saiu em largas passadas da ponte. Seu camarote ficava no mesmo convés, um pouco mais para a popa. Havia um guarda na porta, assim como nas duas entradas da ponte.

Trancou de novo a porta do camarote atrás de si, e abriu o pequeno cofre disfarçado. Seu livro de códigos estava escondido numa parede falsa. Sentou-se à sua mesa. Rapidamente, decifrou a mensagem. Leu-a com atenção, depois ficou com o olhar perdido no espaço, por um momento.

Leu-a pela segunda vez, depois guardou o livro de códigos, fechou o cofre e queimou o original do telegrama num cinzeiro. Pegou o telefone.

— Ponte? Mandem o camarada Metkin ao meu camarote! Enquanto esperava, ficou de pé junto à vigia, imerso em pensamentos. O camarote dele estava desarrumado. Fotos de uma mulher corpulenta, que sorria constrangida, pousavam emolduradas sobre sua mesa. Havia outra foto de um jovem bem-apessoado, com a farda da marinha, e de uma garota adolescente. Livros, uma raquete de tênis e um jornal sobre o beliche desfeito.

Bateram à porta. Ele foi destrancá-la. O marujo que estivera observando a tela de radar estava à sua frente.

— Entre, Dmítri.

Suslev indicou o telegrama decifrado com um gesto e trancou novamente a porta do camarote.

O marujo era baixo e atarracado, de cabelos grisalhos e um rosto simpático. Era, oficialmente, comissário do povo, e portanto o oficial mais antigo do navio. Apanhou a mensagem decifrada. Dizia: "Prioridade Um. Grigóri Suslev. Assumirá imediatamente os deveres e responsabilidades de Voranski. Londres relata interesse máximo da CIA e da MI-6 em informações contidas em pastas de capa azul, entregues extra-oficialmente a Ian Dunross, da Struan, pelo coordenador do Serviço de Informações Britânico, Alan Medford Grant. Ordene a Arthur que obtenha cópias imediatamente. Se Dunross destruiu as cópias, mande avisar por telegrama se é exeqüível um plano para detê-lo e extrair dele o que sabe por processos químicos".

A fisionomia do marujo se fechou. Olhou para o comandante Suslev.

— Alan Medford Grant?

— É.

— Que ele arda no inferno por mil anos!

— Arderá, se existir alguma justiça neste mundo ou no outro. — Suslev deu um sorriso sombrio. Foi até um aparador, onde pegou uma garrafa de vodca pela metade e dois copos. __ Ouça, Dmítri, se eu falhar ou não voltar, assuma o comando. — Mostrou a chave. — Destranque o cofre. Lá há instruções para decifrar códigos e tudo o mais.

— Deixe-me ir hoje, em seu lugar. Você é mais impor...

— Não. Obrigado, velho amigo. — Suslev deu-lhe um abraço caloroso. — Em caso de acidente, assuma o comando e cumpra a nossa missão. Para isso fomos treinados. — Tocou com seu copo no do outro. — Não se preocupe. Tudo vai dar certo — falou, contente por poder fazer o que queria, e muito satisfeito com o seu emprego e posição na vida. Secretamente, era vice-controlador na Ásia do primeiro diretório do KGB, Departamento 6, responsável por todas as atividades sigilosas na China, na Coréia do Norte e no Vietnam; conferencista sênior no Departamento de Assuntos Externos da Universidade de Vladivostok, 2A-Contra-Informações; coronel do KGB; e, o que era o mais importante, membro destacado do partido no Extremo Oriente. — O Centro deu a ordem; você precisa vigiar a nossa retaguarda aqui. Hem?

— Claro. Não precisa se preocupar com isso, Grigóri. Posso cuidar de tudo. Mas fico preocupado com você — disse Metkin. Há anos navegavam juntos, e ele respeitava muito Suslev, embora não soubesse de que fonte provinha a sua autoridade suprema. Às vezes, sentia-se tentado a procurar descobrir. "Você está ficando velho", dizia consigo mesmo. "Vai se aposentar no ano que vem, e talvez precise de amigos poderosos, e o único meio de ter a ajuda de amigos poderosos é conhecer os seus segredos. Mas, com ou sem Suslev, sua bem-merecida aposentadoria será honrosa, tranqüila, em sua casa na Criméia." O coração de Metkin bateu mais forte ao pensar naquela linda paisagem e no clima excelente do mar Negro, na vida que levaria ao lado da mulher, e vendo de vez em quando o filho, um oficial promissor do KGB, no momento em Washington, não mais correndo riscos ou perigos, vindos de dentro ou de fora.

"Oh, Deus, proteja o meu filho de ser traído ou cometer um erro", orou fervorosamente. Logo sentiu uma onda de náusea, como sempre, temendo que seus superiores soubessem que, intimamente, era um crente, e que seus pais, camponeses, o haviam criado dentro dos ensinamentos da Igreja. Se eles soubessem, jamais haveria aposentadoria na Criméia, só um lugar remoto e gelado qualquer, e nunca um lar de verdade.

— Voranski — falou, como sempre disfarçando cuidadosamente o ódio que sentia pelo homem. — Ele era dos grandes, não? Onde foi que errou?

— Foi traído, eis o problema — falou Suslev, com ar sombrio. — Vamos achar seus assassinos, e eles pagarão. Se eu for o próximo da lista... — O homenzarrão deu de ombros, depois serviu-se de mais vodca, com uma risada repentina. — E daí, não é? Tudo em nome da causa, do partido e da Mãe Rússia!

Encostaram os copos um no outro, e os esvaziaram.

— Quando vai para terra?

Suslev sentiu o travo da bebida forte. Depois, agradecido, saboreou o gostoso calor que crescia dentro de si, e seus terrores e ansiedades pareceram menos reais. Fez um sinal para a vigia.

— Logo que ele esteja atracado e seguro — falou, com sua risada ressonante. — Ah, mas é um belo navio, não?

— Não temos nada que se iguale àquele filho da mãe, comandante, temos? Ou àqueles caças. Nada.

Suslev sorriu enquanto se servia de novo.

— Não, camarada. Mas se o inimigo não tiver força de vontade real para resistir, pode ter cem daqueles porta-aviões, não faz diferença.

— É, mas os americanos são excêntricos. Um general pode tornar-se um tanto belicoso, e eles podem nos varrer da face da terra.

— Concordo que agora possam, mas não o farão. Não têm colhões para tanto. — Suslev bebeu de novo. — E então? Só mais um tempinho e acabaremos com a alegria deles! — Soltou um suspiro. — Vai ser bom, quando começarmos.

— Vai ser terrível.

— Não; uma guerra curta, quase sem derramamento de sangue contra os Estados Unidos, e depois o resto desabará, como um cadáver cheio de pus.

— Sem derramamento de sangue? E quanto às bombas atômicas deles? Bombas de hidrogênio?

— Jamais usarão armas atômicas ou mísseis contra nós, têm medo demais, mesmo agora, dos nossos! Porque estão certos de que os usaremos.

— E usaremos?

— Não sei. Alguns comandantes usariam. Eu não sei. É certo que replicaremos com eles. Mas usá-los em primeiro lugar? Não sei. A ameaça será sempre o bastante. Estou certo de que jamais precisaremos de uma guerra de verdade. — Tocou fogo num dos cantos da mensagem decifrada e botou-a no cinzeiro. — Mais vinte anos de detente (ah, que gênio russo inventou isso) e teremos uma marinha maior e melhor que a deles, uma força aérea maior e melhor que a deles. Agora temos mais tanques e mais soldados, mas sem navios e aviões, teremos que esperar. Vinte anos não é esperar muito para que a Mãe Rússia domine a terra.

— E a China? E quanto à China?

Suslev engoliu a vodca e encheu os dois copos de novo. Agora a garrafa estava vazia, e ele a jogou sobre o beliche. Fitou o papel que ardia no cinzeiro, retorcendo-se e crepitando, morrendo.

— Talvez a China seja o único lugar onde usar nossas armas atômicas — disse, com naturalidade. — Não há ali nada de que precisemos. Nada. Isso resolveria o nosso problema chinês definitivamente. Quantos homens em idade militar tinham eles, na última estimativa?

— Cento e dezesseis milhões com idade entre dezoito e vinte e cinco.

— Imagine só! cento e dezesseis milhões de demônios amarelos partilhando oito mil quilômetros das nossas fronteiras... e depois os estrangeiros dizem que somos paranóicos quando se trata da China! — Bebericou a vodca, saboreando-a devagar, desta feita. — Armas atômicas resolveriam o nosso problema com a China. De modo rápido e permanente.

O outro homem fez que sim com a cabeça.

— E esse Dunross? Os documentos de Alan Medford Grant?

— Nós os tiraremos dele. Afinal de contas, Dmítri, um dos nossos, é gente da família dele, outro é um de seus sócios, outro trabalha no sei. Arthur e a Sevrin estão em qualquer lado para onde ele se vire, e ainda temos uns doze decadentes para quem apelar no seu Parlamento, alguns no seu governo.

Os dois desataram a rir.

— E se ele tiver destruído os papéis? Suslev deu de ombros.

— Dizem que ele tem uma memória fotográfica.

— Faria o interrogatório aqui?

— Seria perigoso utilizar as substâncias químicas, em profundidade, e depressa. Nunca fiz um serviço desses. E você?

— Não.

O comandante franziu o cenho.

— Quando fizer seu relatório, hoje à noite, diga ao Centro para deixar um perito a postos, para o caso de precisarmos — Koronski, de Vladivostok, se estiver disponível.

Dmítri concordou com a cabeça, imerso em pensamentos. O Guardian matutino, meio amassado, largado sobre o beliche do comandante, chamou sua atenção. Foi até lá pegá-lo, os olhos acesos.

— Grigóri... se tivermos que prender Dunross, por que não culpá-los? Então você teria todo o tempo que fosse preciso. — A manchete berrava suspeitos em caso de seqüestro dos lobisomens. — Se Dunross não voltar... quem sabe nosso homem seria o tai-pan! Hem?

Suslev começou a rir baixinho.

— Dmítri, você é um gênio.

Rosemont lançou um olhar ao relógio de pulso. Já esperara o bastante.

— Rog, posso usar seu telefone?

— É claro — respondeu Crosse.

O homem da CIA apagou o cigarro e ligou para o ramal central da CIA no consulado.

— Aqui é Rosemont... ligue-me com 2022. Era o número do centro de comunicações da CIA.

— 2022. Chapman... quem está falando?

— Rosemont. Alô, Phíl, alguma novidade?

— Não, exceto que o Marty Povitz relatou que há um bocado de atividade na ponte do Ivánov, binóculos superpoten-tes. Três sujeitos, Stan. Um é civil, os outros são o comandante e o imediato. Uma das suas varredeiras de radar de curto alcance está sempre operando. Quer que a gente avise ao comandante do Corregidor?

— Pombas, não, para que aborrecê-lo mais do que o necessário? Escute, Phil, tivemos confirmação do nosso 40-41?

— Claro, Stan. Chegou às... chegou às dezesseis horas e três minutos, hora local.

— Obrigado, Phil, até logo.

Rosemont acendeu outro cigarro. Azedamente, Langan, que não fumava, fitou-o, mas ficou calado, já que Crosse também estava fumando.

— Rog, que brincadeira é essa? — perguntou Rosemont, com aspereza, chocando Langan. — Você recebeu a sua Prioridade l-4a às dezesseis e três, na mesma hora que nós. Por que toda essa protelação?

— No momento, acho conveniente — retrucou Crosse, com voz agradável.

Rosemont enrubesceu, e Langan também.

— Pois eu não acho, e temos instruções, instruções oficiais, para pegarmos as nossas cópias imediatamente.

— Lamento muito, Stanley.

O pescoço de Rosemont agora estava muito vermelho, mas ele manteve o controle.

— Não vai obedecer à l-4a?

— Não no momento.

Rosemont levantou-se e dirigiu-se para a porta.

— Tudo bem, Rog, mas vão arrancar o seu couro. Jogou para trás a tranca com força, escancarou a porta e saiu. Langan se pôs de pé, de cara amarrada também.

— Qual é o motivo, Roger? — perguntou. Crosse devolveu-lhe o olhar, calmamente.

— Motivo para quê?

Ed Langan começou a ficar zangado, mas se deteve, subitamente estupefato.

— Deus, Roger, ainda não tem os papéis? É isso?

— Qual é, Ed? — replicou Crosse, tranqüilamente. — Logo você saberá como somos eficientes.

— Isso não é resposta, Roger. Tem ou não tem?

Os olhos serenos do homem do FBI se mantiveram fixos em Crosse, e não o abalaram. Depois ele saiu, fechando a porta atrás de si. Crosse tocou prontamente no botão oculto. A tranca foi para o lugar. Outro botão oculto desligou o gravador. Ele apanhou o telefone e discou.

— Brian? Já teve notícias de Dunross?

— Não, senhor.

— Encontre-se comigo lá embaixo imediatamente. Com Armstrong.

— Sim, senhor.

Crosse desligou. Apanhou o documento formal de prisão intitulado ordem de detenção segundo a lei de segredos oficiais. Rapidamente preencheu a lacuna com "Ian Struan Dunross" e assinou as duas cópias. Ficou com a primeira, a segunda trancou na sua gaveta. Correu os olhos pelo gabinete, verificando tudo. Satisfeito, colocou cuidadosamente uma nesguinha de papel na fenda da gaveta, para que somente ele pudesse saber se alguém a havia aberto, ou mexido nela. Saiu da sala. Pesadas trancas de segurança encaixaram-se na porta, às suas costas.


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