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14h45m

Gornt estava sentado ao lado do seu corretor, Joseph Stern, na Bolsa de Valores, observando radiante o grande quadro. Estava quente e muito úmido no salão lotado e ruidoso, telefones tocando, corretores suando, funcionários e operadores chineses. Normalmente a Bolsa era um local calmo. Mas não nesse dia. Todos estavam tensos e concentrados. E inquietos. Muitos haviam tirado o paletó.

As ações do próprio Gornt haviam baixado um ponto, mas aquilo não o incomodava nem um pouco. As da Struan haviam baixado 3,50, e o Ho-Pak estava balançando. "O tempo está se esgotando para a Struan", pensou, "tudo está preparado, tudo começou." O dinheiro de Bartlett fora depositado no seu banco suíço no prazo de uma hora, sem restrições... apenas dois milhões transferidos de uma conta desconhecida para a dele. Sete telefonemas tinham dado início aos rumores. Outro telefonema para o Japão confirmara a exatidão das datas de pagamento da Struan. "É", pensou, "o ataque começou."

Sua atenção prendeu-se à posição do Ho-Pak no quadro, enquanto um corretor anotava mais ofertas de venda. Não houve compradores imediatos.

Como começara a vender secretamente ações do Ho-Pak a descoberto na segunda-feira, pouco antes de a Bolsa fechar, às três horas — muito antes de. a corrida ter começado para valer —, estava milhões à frente. Na segunda-feira as ações haviam sido vendidas a 28,60, e agora, mesmo com o apoio que Richard Kwang estava dando, tinham baixado para 24,30... a cotação mais baixa de toda a sua história, desde que o banco fora fundado, há onze anos.

"4,30 vezes quinhentas mil dá dois milhões cento e cinqüenta mil", pensava Gornt, satisfeito. "Tudo em moeda corrente legítima de Hong Kong, se eu quisesse recomprar agora, o que não é nada mau para quarenta e oito horas de trabalho. Mas ainda não vou recomprar, claro que não. Ainda não. Agora tenho certeza de que as ações vão desabar, se não hoje, amanhã, quinta-feira. Se não na quinta, na sexta... o mais tardar na segunda, pois não há banco no mundo que possa agüentar uma corrida dessas. Então, quando houver a queda, recomprarei a poucos cents por dólar e ganharei vinte vezes meio milhão."

— Venda duzentas mil — disse, começando a vender a descoberto abertamente, agora... as outras ações escondidas cuidadosamente, espalhadas pelos seus representantes secretos.

— Santo Deus, Sr. Gornt — exclamou o seu corretor. — O Ho-Pak terá que levantar quase cinco milhões para cobrir isso. Vai sacudir todo o mercado.

— É — concordou, jovialmente.

— Vamos ter uma trabalheira para tomar emprestadas as ações.

— Pois faça-o.

Relutante, o corretor começou a se retirar, mas um dos telefones tocou.

— Sim? Oh, alô, Chang Diurno — falou, num cantonense passável. — O que deseja?

— Que possa salvar todo o meu dinheiro, Honorável Intermediário. A quanto está vendendo a Casa Nobre?

— 25,30.

Ouviu-se um guincho de pesar.

— Ai, ai, ai, tem só pouco mais de meia hora de movimento na Bolsa. Maldição! Ai, ai, ai! Por favor, venda! Por favor, venda imediatamente todas as companhias da Casa Nobre. Casa Nobre, Propriedades Boa Sorte e Balsa Dourada, também... a quanto está vendendo a Segunda Grande Companhia?

— 23,30.

— Ayeeyah, um ponto a menos do que hoje de manhã? Todos os deuses testemunhem o grande azar! Venda. Por favor, venda tudo imediatamente!

— Mas, Chang Diurno, o mercado está muito firme e...

— Imediatamente! Não ouviu os rumores? A Casa Nobre vai falir! Eeee, venda, não perca um minuto! Espere um momento, minha sócia Fung-tat também quer lhe falar.

— Sim, Terceira Arrumadeira Fung?

— O mesmo que disse Chang Diurno, Honorável Intermediário! Venda! Antes que eu esteja perdida! Venda e ligue-nos dando os preços, oh, oh, oh! Depressa, por favor.

Ele desligou. Fora o quinto telefonema que recebera de velhos clientes em pânico, e não estava gostando nada daquilo. "É uma burrice entrar em pânico", pensou, verificando o seu livro de ações. Juntos, Chang Diurno e a Terceira Arrumadeira Fung haviam investido mais de quarenta mil HK em diversas ações. Se ele vendesse agora, ainda levariam vantagem, exceto pelas perdas da Struan hoje, que tirariam a maior parte dos seus lucros.

Joseph Stern era o chefe da firma Stern and Jones, que estava em Hong Kong há cinqüenta anos. Fora somente depois da guerra que tinham se tornado corretores. Antes disso, tinham sido agiotas, fornecedores de navios e proprietários de uma casa de câmbio. Stern era um homem pequeno e de cabelos escuros, bastante calvo, na casa dos sessenta anos, e muita gente achava que tinha sangue chinês nas veias, de algumas gerações passadas.

Caminhou para junto do quadro e parou diante da coluna que indicava as cotações da Balsa Dourada. Escreveu o número de ações combinadas de Chang e Fung na coluna de venda. Era uma oferta pequena.

— Compro a trinta cents abaixo da cotação — disse um corretor.

— Não há corrida alguma à Balsa Dourada — replicou, vivamente.

— Não, mas é uma companhia da Struan. Sim ou não?

— Sabe muito bem que os lucros da Balsa Dourada subiram este trimestre.

— Não diga! Porra, mas como está quente! Não acha que podíamos instalar condicionadores de ar aqui na Bolsa? Como é, meu velho, sim ou não?

Joseph Stern pensou por um momento. Não queria pôr lenha na fogueira e aumentar o nervosismo. Na véspera a Balsa Dourada subira um dólar porque todo o ramo sabia que a assembléia anual deles era na semana vindoura. Fora um bom ano, e comentava-se que haveria distribuição de ações aos acionistas. Mas ele conhecia a primeira regra de todas as Bolsas: um dia não tinha nada a ver com o seguinte. O cliente dissera: "Venda".

— Vinte cents abaixo? — perguntou.

— Trinta. Minha oferta derradeira. O que lhe importa, ainda recebe o seu dinheiro. Como é, trinta?

— Está bem.

Stern foi correndo as companhias no quadro, vendendo a maioria das ações delas sem problema, embora a cada vez tivesse que ceder no preço. Com dificuldade, tomou emprestadas ações do Ho-Pak. Agora, parou diante da coluna referente ao banco. Havia muitas ordens de venda, a maioria de pequenas quantidades. Escreveu "200 000" no fim da lista da coluna de venda. Uma onda de choque varreu a sala. Ele a ignorou. Apenas olhou para Forsythe, que era o corretor de Richard Kwang. Era o único comprador das Ho-Pak.

— O Quillan está tentando acabar com o Ho-Pak? — perguntou um corretor.

— Já está sitiado. Quer comprar as ações?

— Nem por sombra! Também está vendendo Struan a descoberto?

— Não. Não estou.

— Meu Deus, não estou gostando nada disso.

— Fique calmo, Harry — falou alguém. — Pelo menos o mercado ganhou vida, é o que conta.

— Grande dia, não? — comentou com ele outro corretor. — Já começou a queda? Eu mesmo não tenho mais dinheiro aplicado, vendi tudo o que tinha hoje cedo. Vai ser mesmo uma queda?

— Não sei.

— Que coisa chocante, sobre a Struan, não é?

— Acredita em todos os boatos?

— Não, claro que não, mas para bom entendedor meia palavra basta, não é?

— Eu não acredito.

— A Struan baixou 3,50 pontos em um dia, meu velho. Muita gente acredita — interrompeu outro corretor. — Vendi tudo o que tinha da Struan hoje cedo. Será que Richard vai conseguir deter a corrida?

— Está nas mãos de... — Joseph Stern ia dizer Deus, mas sabia que o futuro de Richard Kwang estava nas mãos dos seus clientes, e que estes já haviam decidido. — Joss — disse, com tristeza.

— É. Graças a Deus recebemos as nossas comissões de qualquer maneira, na fartura ou na escassez. Tudo bem, não é?

— Tudo bem — ecoou Stern, detestando intimamente o sotaque inglês convencido, metido a besta, de gente bem, das exclusivas escolas particulares britânicas que nunca pôde freqüentar porque era judeu. Viu Forsythe desligar o telefone e olhar para o quadro. Mais uma vez, indicou sua oferta. Forsythe chamou-o. Ele cruzou a multidão, acompanhado por vários pares de olhos.

— Vai comprar? — perguntou.

— Quando chegar a hora, Joseph, meu velho! — Forsythe acrescentou baixinho: — Aqui entre nós, não há um jeito de fazer o Quillan largar o nosso pé? Tenho motivos para acreditar que está mancomunado com aquele cretino do Southerby.

— É uma acusação pública?

— Ora, qual é? É uma opinião particular, pombas! Ainda não leu a coluna do Haply? Tai-pans e um grande banco espalhando boatos? Sabe que Richard é estável. Richard é tão estável quanto... quanto os Rothschilds! Sabe que Richard tem mais de um bilhão de res...

— Eu vi a queda da Bolsa de 29, meu velho. Havia trilhões de reserva, naquela época, mas mesmo assim todo mundo faliu. É uma questão de dinheiro vivo, crédito e liquidez. E confiança. Vai comprar as nossas ofertas, sim ou não?

— Provavelmente.

— Até quando vão poder agüentar isso? Forsythe ergueu os olhos para ele.

— Para sempre. Não passo de um corretor. Obedeço ordens. Compre ou venda, ganho um quarto de um por cento.

— Se o cliente pagar.

— Tem que pagar. Temos as ações dele, não? Temos regras. Mas, por falar nisso, vá pro inferno.

Stern riu.

— Sou britânico, vou para o céu, não sabia? — Inquieto, voltou para sua mesa. — Acho que ele vai comprar antes de o mercado fechar.

Faltavam quinze para as três.

— Ótimo — disse Gornt. — Agora, quer... Calou-se. Ambos olharam para trás, ao sentirem a agitação velada. Dunross estava acompanhando Casey e Linc Bartlett até a mesa de Alan Holdbrook (o corretor da Struan), do outro lado do salão.

— Pensei que ele tivesse ido embora de vez — debochou Gornt.

— O tai-pan nunca foge da raia. Não é do feitio dele. — Stern observou-os, pensativo. — Parecem muito amigos. Talvez os boatos estejam todos errados, e Ian vá fechar o negócio com a Par-Con e fazer os pagamentos.

— Ele não pode. O negócio não vai ser realizado — disse Gornt. — Bartlett não é nenhum tolo. Bartlett seria louco de se unir a esse império oscilante.

— Eu nem sabia, até algumas horas atrás, que a Struan estava devendo ao Orlin. Ou que os pagamentos à Toda venciam dentro de mais ou menos uma semana. Ou até o boato mais absurdo de que o Vic não iria apoiar a Casa Nobre. Quanta bobagem! Liguei para Havergill, e foi isso o que ele disse.

— O que mais poderia dizer? Depois de uma pausa, Stern falou:

— É curioso que todas as notícias tenham vindo à tona hoje.

— Muito. Venda duzentas mil da Struan.

Os olhos de Stern se arregalaram, e ele puxou as sobrancelhas espessas.

— Sr. Gornt, não acha que...

— Não. Por favor, faça o que pedi.

— Acho que está errado, desta vez. O tai-pan é esperto demais. Arranjará todo o apoio de que precisa. O senhor vai se queimar.

— Os tempos mudam. As pessoas mudam. Se a Struan passou dos seus limites, e agora não pode pagar... Bem, meu caro, estamos em Hong Kong, e espero que os sacanas fiquem encurralados. Venda trezentas mil.

— Vender a que preço, Sr. Gornt?

— Ao do mercado.

— Levará tempo para tomar emprestadas as ações. Terei que vender em lotes muito menores. Terei...

— Está sugerindo que meu crédito não é bom, ou você não sabe realizar as funções normais de corretagem?

— Não. Claro que não — replicou Stern, sem querer ofender o seu maior cliente.

— Ótimo, então venda Struan a descoberto. Agora. Gornt o observou enquanto ele se afastava. Seu coração batia agradavelmente.

Stern foi até Sir Luís Basílio, da velha firma de corretagem Basílio e Filhos, que detinha, pessoalmente, um grande bloco de ações da Struan, além de ter muitos clientes substanciais que detinham número ainda maior. Tomou emprestadas as ações, depois caminhou até o quadro e escreveu a imensa oferta na coluna de venda. O giz fez muito barulho. Gradativamente, fez-se silêncio na sala. Os olhares se voltavam para Dunross e Alan Holdbrook, para os americanos, depois para Gornt, e de novo para Dunross. Gornt viu Linc Bartlett e Casey a observá-lo, e ficou contente porque ela estava lá. Casey usava saia e blusa de seda amarela, muito californiana, e um lenço de cabeça verde prendendo os cabelos. "Por que será que ela é tão sensual?", perguntou-se Gornt, distraidamente. "Uma estranha aura de convite parece cercá-la. Por quê? Será que é porque nenhum homem ainda a satisfez?"

Sorriu para ela, com um leve aceno de cabeça. Ela lhe retribuiu com um meio sorriso, e ele pensou ter notado nele uma sombra. Cumprimentou Bartlett polidamente, e recebeu de volta um cumprimento igualmente polido. Os olhos dele fixaram-se nos de Dunross, e os dois homens ficaram se fitando.

O silêncio aumentou. Alguém tossiu nervosamente. Todos estavam conscientes da imensidão da oferta, e das implicações que ela trazia.

Stern indicou com uma batidinha a sua oferta, novamente. Holdbrook inclinou-se para a frente e consultou Dunross, que alçou ligeiramente os ombros e sacudiu a cabeça, depois começou a conversar baixinho com Bartlett e Casey.

Joseph Stern esperou. Então, alguém se ofereceu para comprar uma parte, e ficaram discutindo o preço. Logo, cinqüenta mil ações tinham mudado de dono, e a nova cotação do mercado era 24,90. Ele mudou o número 300 000 para 250 000 e ficou esperando. Vendeu mais algumas, mas o grosso permaneceu. Então, como não houve compradores, voltou para o seu lugar. Estava suando.

— Se esse número ficar ali de um dia para o outro, não vai fazer nenhum bem à Struan.

— É. — Gornt ainda observava Casey, que escutava atentamente o que Dunross dizia. Ele se recostou na cadeira e pensou por um momento. — Venda mais cem mil do Ho-Pak.....e duzentas mil da Struan.

— Santo Deus, Sr. Gornt, se a Struan cair, o mercado inteiro vai balançar, até sua própria companhia vai perder.

— Haverá uma adaptação. Várias adaptações, é claro.

— Haverá um banho de sangue. Se a Struan cair, outras companhias também cairão, milhares de investidores perderão tudo e...

— Não estou precisando de um sermão sobre a economia de Hong Kong, Sr. Stern — disse Gornt, friamente. — Se não quiser seguir minhas instruções, vou procurar quem o faça.

Stern enrubesceu.

— Eu... terei que arrebanhar as ações primeiro. Um número desses... conseguir tal soma...

— Então sugiro que se apresse! Quero isso no quadro ainda hoje!

Gornt ficou olhando enquanto ele se afastava, saboreando tremendamente aquele momento. "Filho da mãe atrevido!", pensava. "Os corretores não passam de parasitas, todos eles." Sentia-se muito seguro. O dinheiro de Bartlett estava na sua conta. Podia recomprar Ho-Pak e Struan naquele momento, e ficar milhões à frente. Satisfeito, seu olhar voltou a se fixar em Casey. Ela o observava. Não pôde ler nada na fisionomia da moça.

Joseph Stern circulava por entre os corretores. Parou de novo à mesa de Basílio. Sir Luís Basílio afastou os olhos do quadro e sorriu para ele.

— Então, Joseph? Quer tomar emprestadas mais ações da Casa Nobre?

— Sim, por favor.

— Para Quillan? — perguntou Sir Luís. Era um belo velho, pequeno, elegante, muito magro, na casa dos setenta. Era o presidente do comitê que dirigia a Bolsa naquele ano.

— Sim.

— Venha sentar-se aqui, vamos conversar um momento, velho amigo. Quantas está querendo, agora?

— Duzentas mil.

Sir Luís franziu o cenho.

— Já há trezentas mil no quadro... mais duzentas? É um ataque sem quartel?

— Ele... ele não disse, mas acho que sim.

— É uma grande pena que aqueles dois não possam fazer as pazes.

— É.

O homem mais velho pensou por um momento, depois falou, em voz mais pausada:

— Estou pensando em suspender as transações com as ações do Ho-Pak e, desde a hora do almoço, com as da Casa Nobre. Estou muito preocupado. Neste exato momento, uma derrocada do Ho-Pak, juntamente com uma derrocada da Casa Nobre, poderia destruir todo o mercado. Minha nossa! É inconcebível uma derrocada da Casa Nobre. Arrastaria consigo centenas de nós, talvez toda a Hong Kong. É inconcebível.

— Talvez a Casa Nobre precise de uma vistoria. Posso tomar emprestadas duzentas mil ações?

— Primeiro me responda, sim ou não, e se for sim, quando: devemos suspender as transações com as do Ho-Pak? Devemos suspender também as da Struan? Já colhi os votos de todos os membros do comitê, exceto o seu. Estão divididos quase igualmente.

— Nenhuma delas jamais foi suspensa. Seria ruim suspender qualquer uma delas. Esta é uma sociedade livre... no melhor sentido, creio. Deixe que as coisas se ajeitem por si. Eles que se entendam, os Struans, os Gornts, e todo o resto, que os melhores atinjam o topo, e os piores... — Stern sacudiu a cabeça, cansadamente. — Ah, mas para mim é fácil falar, Luís, não sou grande investidor em nenhuma das duas.

— Onde está o seu dinheiro?

— Em diamantes. Todos os judeus precisam de coisas pequenas, coisas que possam ser carregadas e escondidas, coisas que possam ser convertidas em dinheiro vivo com facilidade.

— Não há necessidade de você ter medo aqui, Joseph. Há quantos anos a sua família está aqui, e prosperando? Olhe para Solomon... certamente ele e sua família são os mais ricos de toda a Ásia.

— Para os judeus, o medo é um estilo de vida. E ser odiado também.

Mais uma vez, o velho soltou um suspiro.

— Ah, este mundo, este belo mundo, como deveria ser belo. — Um telefone tocou, e ele atendeu delicadamente, as mãos minúsculas, seu português soando doce e líquido aos ouvidos de Stern, embora não entendesse uma palavra. Percebeu apenas "Sr. Mata" dito respeitosamente várias vezes, mas o nome nada significava para ele. Dentro de um momento, Sir Luís recolocara o fone no gancho, com ar muito pensativo, — O secretário de finanças ligou logo depois do almoço, muito perturbado. Há uma delegação do Parlamento aqui, e uma falência de banco ficaria extremamente mal para todos nós — disse. Deu um sorriso matreiro. — Sugeri que ele apresentasse ao governador legislação que regulamente os bancos, como na Inglaterra, e o pobre coitado quase teve um treco. Não devo implicar tanto com ele! — Stern sorriu junto com ele. — Como se precisássemos da interferência do governo aqui! — Seus olhos ficaram mais penetrantes. — Então, Joseph, vota para deixar as coisas como estão... ou para suspender uma, ou as duas ações, e quando?

Stern olhou para o relógio. Se fosse até o quadro agora, teria tempo de sobra para anotar as duas ofertas de venda, e ainda desafiar Forsythe. Era uma sensação gostosa saber que tinha o destino das duas casas nas mãos, ainda que temporariamente.

— Talvez fosse muito bom, talvez ruim. Como está a votação, até agora?

— Como falei, quase empatada.

Houve outra explosão de alvoroço, e os dois homens ergueram os olhos. Mais ações da Struan mudavam de mãos. A cotação baixara para 24,70. Agora, era Phillip Chen que se debruçava sobre a mesa de Holdbrook.

— Pobre Phillip, não está com uma cara nada boa — disse Sir Luís, penalizado.

— É. Uma pena a história do John. Eu gostava dele. E quanto aos Lobisomens? Acha que os jornais estão exagerando?

— Não, não acho. — Os velhos olhos brilhavam maliciosos. — Não mais do que você, Joseph.

— Como?

— Decidiu deixar como está. Quer deixar o tempo de hoje se esgotar, não é? É o que quer, não é?

— Que melhor solução poderia haver?

— Se eu não fosse tão velho, concordaria com você. Mas, sendo velho, e desconhecendo o dia de amanhã, ou se viverei para ver o amanhã, prefiro o meu drama hoje mesmo. Muito bem. Não contarei o seu voto, desta vez, e agora a votação do comitê está empatada, portanto decidirei, como me cabe por direito. Pode tomar emprestadas duzentas mil ações da Casa Nobre até sexta-feira, sexta-feira às duas. Então, poderei pedi-las de volta... tenho que pensar na minha própria Casa, não? — Os olhos vivos mas bondosos no rosto enrugado instaram Stern a se levantar. — O que vai fazer agora, meu amigo?

Joseph Stern deu um sorriso triste.

— Sou corretor.

Foi até o quadro e escreveu na coluna de venda do Ho-Pak com mão firme. Depois, no novo silêncio, foi até a coluna da Struan e escreveu o número com clareza, cônscio de que agora era o alvo de todas as atenções. Podia sentir a inveja e o ódio. Mais de quinhentas mil ações da Casa Nobre estavam em oferta agora, mais do que em qualquer época na história da Bolsa. Esperou, desejando que o tempo se esgotasse. Houve um alvoroço de interesse quando Soorjani, o parse, comprou alguns blocos de ações, mas era notório que ele era representante de muitos membros das famílias Struan e Dunross, e de seus correligionários. E embora tivesse comprado cento e cinqüenta mil, aquilo fazia pouca diferença diante da enormidade da oferta de Gornt. O silêncio chegava a doer. Faltava um minuto.

— Nós compramos!

A voz do tai-pan quebrou o silêncio.

— Todas as minhas ações? — perguntou Stern, com voz rouca, o coração disparado.

— É. As suas e todo o resto. Ao preço de mercado! Gornt se pôs de pé.

— Com o quê? — perguntou, sardonicamente. — São quase nove milhões em dinheiro.

Dunross também se pôs de pé, um meio sorriso de sarcasmo no rosto.

— A Casa Nobre tem crédito para isso... e milhões a mais. Alguém já duvidou disso?

— Eu duvido... e vendo a descoberto amanhã!

Nesse momento, a campainha de encerramento tocou, estridente, a tensão se rompeu, e ouviu-se um rugido de aprovação.

— Meu Deus, mas que dia...

— O bom e velho tai-pan...

— Não dava para eu agüentar muito mais...

— Será que o Gornt o derrota, desta vez?...

— Talvez todos aqueles malditos boatos não passem de besteira...

— Pombas, ganhei uma fortuna em comissões...

— Acho que o Ian está com medo...

— Não esqueça que ele tem cinco dias para pagar as ações...

— Não vai poder comprar assim amanhã...

— Meu Deus, amanhã! O que vai acontecer amanhã?... Casey mudou de posição na cadeira, o coração batendo loucamente. Afastou com esforço o olhar de cima de Gornt e Dunross, e fitou Bartlett, que estava simplesmente olhando para o quadro, soltando um assobio mudo. Estava assombrada... assombrada e um pouco assustada.

Pouco antes de vir encontrar-se com Dunross, Linc lhe falara dos seus planos, do seu telefonema para Gornt, do encontro que tinham tido.

— Agora, está sabendo de tudo, Casey — dissera suavemente, sorrindo para ela. — Agora, os dois foram engabelados, e nós controlamos o campo de batalha, tudo por dois milhões. Os dois estão se engalfinhando, cada um procurando a jugular do outro, prontos para se devorarem. Agora, é só esperar. Segunda-feira é o Dia D. Se Gornt ganhar, nós ganhamos. Se Dunross ganhar, nós ganhamos. Haja o que houver, seremos a Casa Nobre.


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