O AUTOR E SUA OBRA

Como os heróis de seus romances, o australiano James Clavell é um vencedor. Seus três primeiros livros — "Changi", obra de estréia de 1961, mas só lançada no Brasil vinte anos depois, "Tai-pan" e "Shogun" — venderam cerca de doze milhões de exemplares, foram traduzidos para uma dúzia de línguas e o transformaram num homem rico, graças também aos direitos de adaptação para a televisão e o cinema.

Na forma de uma minissérie de cinco capítulos, produzida pelo próprio Clavell, "Shogun" foi visto por cento e vinte e cinco milhões de telespectadores e conquistou a segunda maior audiência nos Estados Unidos, atrás apenas de "Raízes", a saga dos negros americanos.

No centro dessas cifras astronômicas, está um autor que poderia encaixar-se perfeitamente nos papéis de suas personagens. E ele, na verdade, já o fez pelo menos duas vezes, na pele de Peter Marlowe, que em "Changi" é um prisioneiro de guerra num campo controlado pelos japoneses, e em "Casa Nobre" reaparece como um ex-roteirista de Hollywood que se torna escritor e vai a Hong Kong em busca de dados para escrever um romance sobre os fundadores da colônia.

"Alto, de cabelos loiros, com sotaque aristocrático e uma estranha intensidade nos olhos azul-acinzentados", como o descreveu o autor, Marlowe repete a trilha de Clavell, que, durante a II Guerra Mundial também passou três anos e meio na mesma Changi, a "obscena prisão" de Cingapura onde apenas um em cada quinze prisioneiros conseguiu sobreviver. O ódio aos japoneses de que foi tomado só foi superado quinze anos depois, quando começou a escrever "Shogun", converten-do-se em admiração e inspiração constantes.

Nascido em Sydney, Austrália, em 1924, e educado na Inglaterra, Clavell seguiu a tradição militar da família, ingressando na Real Artilharia inglesa com apenas dezesseis anos. A serviço, passou quatro anos no Oriente (Birmânia, índia, Malásia, Indonésia) e depois na África.

Terminada a guerra, deixou o exército com a patente de capitão e retomou os estudos na Universidade de Birmingham (1946-47). Trabalhou como vendedor em Londres e depois ingressou na BBC como produtor de programas radiofônicos.

Sua mudança para os Estados Unidos, em 1953, marca o início de seu período criativo. A literatura e o cinema tornaram-se suas duas grandes paixões. Escreveu diversos roteiros, como "A mosca da cabeça branca" ("The fly", 1958), "Fugindo do inferno" ("The great escape", 1963), "Inferno nos céus" ("633 Squadron", 1964) e "O mundo marcha para o fim" ("Satan Bug", 1964).

Além disso, seu romance "Changi" ("King rat") foi filmado pela Columbia em 1962, sob a direção de Brian Forbes, e teve no Brasil o título de "O rei de um inferno". Com sólida reputação no meio cinematográfico, James Clavell escreveu, produziu e dirigiu cinco filmes, sendo o mais conhecido "Ao mestre com carinho" ("To sir, with love"), estrelado por Sidney Poitier.

Confirmação retumbante de seu talento, "Casa Nobre" foi lançado em 1981 nos Estados Unidos e logo disparou para o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. Com este livro, Clavell escreve seu melhor trabalho, segundo a opinião da crítica, e promete que sua "saga asiática", iniciada no Japão de 1600, está longe do desfecho. Anda fazendo pesquisas para um quinto romance, que tratará provavelmente do Japão contemporâneo, e planeja um sexto sobre o maior tema oriental: a China. Enquanto isso, encontra tempo para escrever uma breve parábola, "The children's story", e preparar uma nova edição, com introdução sua, do clássico chinês de Sun Tse, "A arte da guerra".

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