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18h30m

Ah Tat subiu com dificuldade a larga escadaria da Casa Grande, as velhas juntas reclamando, resmungando sozinha, e atravessou a Galeria Longa, odiando a galeria e os rostos que pareciam estar sempre a observá-la. "Há fantasmas demais aqui", pensou, cheia de temor supersticioso, tendo conhecido muitos dos rostos em vida, tendo crescido naquela casa, tendo nascido naquela casa há oitenta e cinco anos. "Que coisa incivilizada manter-lhes os espíritos presos pendurando-lhes os retratos na parede. É melhor agir civilizadamente e lançá-los à lembrança, onde devem ficar os espíritos."

Como sempre acontecia, um estremecimento a percorreu ao ver a faca da Bruxa enfiada no coração do pai. "Dew neh loh moh", pensou, "aquela era mesmo uma doida, com um demônio insaciável no seu Portão de Jade, sempre lamentando secretamente a perda d'o tai-pan, o pai do marido, lamentando o seu destino por ter-se casado com o fracote do filho e não com o pai, sem nunca ter ido para a cama com o pai, o seu Portão de Jade insaciável por esse motivo.

"Ayeeyah, e todos os estranhos que subiram estas escadas ao longo dos anos para entrarem na cama dela, bárbaros de todas as nações, de todas as idades, formatos e tamanhos, para serem jogados de lado como um traste depois de a sua essência ter sido usada e esgotada, o fogo jamais tocado."

Ah Tat estremeceu de novo. "Que os deuses sejam testemunhas! O Portão de Jade e o Monge de Um Olho Só são verdadeiramente yin e yang, verdadeiramente eternos, verdadeiramente divinos, ambos insaciáveis, não importa o quanto um consuma o outro. Graças a todos os deuses meus pais permitiram que eu fizesse voto de castidade, para devotar minha vida à criação de crianças, sem nunca ser rasgada por um Talo Ardente, para jamais voltar a ser a mesma. Graças a todos os deuses que nem todas as mulheres precisam de homens para elevá-las ao estágio de unidade com os deuses. Graças a todos os deuses algumas mulheres sabiamente preferem mulheres para acariciar, tocar, beijar e gozar. A Bruxa também teve mulheres, muitas, quando ficou velha, encontrando prazer, mas não satisfação, nos seus braços juvenis. É curioso que ela se deitasse com uma garota civilizada, mas não com um homem civilizado, que sem dúvida ter-lhe-ia apagado o fogo, de uma maneira ou de outra, com instrumentos de cama ou sem eles. Que todos os deuses sejam testemunhas, quantas vezes não lhe disse isso? Eu era a única pessoa com quem ela discutia tais coisas!

"Pobre idiota, com os seus sonhos distorcidos de poder, sonhos distorcidos de luxúria, igualzinha à velha imperatriz-mãe... pesadelos de uma vida que nenhuma vara pode mitigar."

Ah Tat desviou os olhos da faca e seguiu o seu caminho. "A Casa jamais será íntegra enquanto alguém não arrancar essa faca e lançá-la ao mar... com ou sem maldição."

A velha não bateu à porta do quarto de dormir, mas entrou silenciosamente, para não acordá-lo, e ficou parada junto à grande cama de casal, olhando para baixo. Aquela era a hora de que mais gostava, quando o seu homem-menino ainda dormia, sozinho, e ela podia ver seu rosto adormecido e examiná-lo, sem ter que se preocupar com o mau humor e a irritação da Mulher Principal, com as suas idas e vindas.

"Mulher tola", pensou solenemente, vendo os vincos no rosto dele. "Por que não cumpre o seu dever como Mulher Principal e arruma outra mulher para o meu filho, uma jovem, na idade de procriar, uma pessoa civilizada, como tinha o velho Demônio de Olhos Verdes? Então esta casa seria alegre de novo. É, a casa precisa de mais filhos... é uma burrice arriscar a prosperidade nos ombros de um filho só. É uma burrice deixar este touro sozinho, burrice deixar esta cama vazia, burrice deixá-lo para ser tentado por alguma prostitutazinha bajuladora, para desperdiçar a sua essência em pastos estranhos. Por que ela não se dá conta de que temos que proteger a Casa? Bárbaros!"

Viu os olhos dele se abrirem e entrarem em foco, e depois ele se espreguiçou gostosamente.

— Hora de levantar, meu filho — disse ela, tentando soar áspera e mandona. — Tem que tomar banho, vestir-se, dar mais telefonemas, heya, e deixar a sua pobre Mãe com mais tarefas e mais trabalho, heya?

— Sim, Mãe — resmungou Dunross em cantonense, em meio a um bocejo. Depois, sacudiu-se como um cachorro, espreguiçou-se mais uma vez e saltou da cama, dirigindo-se despido para o banheiro.

Ela examinou com ar crítico o seu corpo alto, as cicatrizes feias e enrugadas das antigas queimaduras da queda de avião que lhe cobriam a maior parte das pernas. Mas as pernas eram fortes, os flanços fortes, o yang resoluto e saudável. "Ótimo", pensou. "Que bom que está tudo bem." Mesmo assim, ela se preocupava com a perpétua esbelteza dele, sem a barriga substancial que seu dinheiro e sua posição mereciam.

— Não está comendo o bastante, meu filho!

— Mais do que o bastante!

— Há água quente no balde. Não se esqueça de escovar os dentes.

Satisfeita, começou a fazer a cama.

— Ele estava precisando desse descanso — resmungou, sem se dar conta de que estava falando em voz alta. — Na última semana tem parecido um homem endemoninhado, trabalhando o tempo todo, o medo no seu rosto, nele todo. Um medo desses pode matar. — Quando acabou de fazer a cama, falou mais alto: — Não fique fora até tarde hoje à noite. Precisa se cuidar, e se for dormir com uma prostituta, traga-a para cá, como uma pessoa sensata, heya?

Ouviu-o dar uma risada e ficou contente. "Nos últimos dias ele não tem rido o suficiente", pensou.

— Um homem precisa de risadas e de um yin jovem para alimentar o yang. Hem, o que foi que você disse?

— Perguntei pela Filha Número Um.

— Entra, sai, sempre sai, sai com aquele novo bárbaro — disse ela, indo até a porta do banheiro espiá-lo enquanto ele se lavava. — O tal de cabelos compridos e roupas amassadas que trabalha no China Guardian. Não o aprovo, meu filho, nem um pouquinho.

— Para onde eles "saíram", Ah Tat?

A velha deu de ombros, remexendo as gengivas.

— Quanto mais cedo a Filha Número Um se casar, melhor. Melhor que ela seja problema de outro homem, e não seu. Ou então deve dar-lhe uma boa sova na bunda. — Ele riu de novo, e dessa vez ela ficou imaginando por quê. — Está ficando de miolo mole — resmungou, depois se afastou. Na porta externa, lembrando-se, chamou: — Há uma pequena refeição pronta para você, antes de sair.

— Não se preocupe com comida... — começou Dunross, interrompendo-se, sabendo que era perda de tempo. Ouviu enquanto ela se afastava resmungando, fechando a porta às suas costas.

Estava de pé na banheira e jogou mais água fria sobre o corpo. "Porra, como eu queria que acabasse esta droga de falta d'água", pensou. "Que delícia uma longa chuveirada quente!", pensou, e logo se concentrou inexoravelmente em Adryon. Prontamente, escutou o conselho de Penelope: "Não banque a criança, Ian! A vida é dela, não banque a criança!"

— Estou tentando — murmurou, enxugando-se vigorosamente. Pouco antes de dormir, ligara para Penelope. Ela já estava no Castelo Avisyard, Kathy ainda na clínica de Londres para mais exames.

— Virá para cá na semana que vem. Espero que tudo saia bem.

— Estou em contato com os médicos, Penn. — Ele lhe falara da idéia de mandar Gavallan para a Escócia. — Ele sempre quis ficar aí, a Kathy também. Será melhor para os dois, não é?

— Ah, que maravilha, Ian! Que notícia maravilhosa!

— Podem ocupar toda a ala leste.

— É, sim. Ian, o tempo está maravilhoso, hoje, maravilhoso, e a casa tão linda! Não há mesmo chance de você vir passar alguns dias aqui?

— Estou de trabalho até o pescoço, Penn! Ouviu falar do mercado de ações?

Escutara o silêncio momentâneo, e quase pudera ver o rosto dela se alterar e escutar dentro da sua cabeça a fúria impotente contra o mercado, Hong Kong e os negócios, por mais que ela tentasse afastá-la.

— É. Deve ser terrível — dissera ela, ainda uma ligeira alteração na voz. — Coitado de você. Alastair estava reclamando um bocado ontem à noite. Vai ficar tudo bem, não é?

— Claro que sim — dissera, com grande confiança, imaginando o que ela diria se lhe contasse que teria que garantir com seus bens pessoais o empréstimo de Murtagh, se viesse mesmo a sair. "Ah, Deus, permita que saia." Contou-lhe todas as novidades, depois disse que Alan tinha enviado uma mensagem muito interessante da qual lhe falaria pessoalmente, acrescentando que a mensageira era uma japonesa-suíça. — É uma uva!

— Espero que não seja demais!

— Oh, não! Como vai a Glenna, e como vai você?

— Muito bem. Teve notícias do Duncan?

— Tive... chega amanhã. Mandarei que lhe telefone tão logo chegue. Acho que é só, Penn, eu a amo!

— Eu também o amo, e gostaria que estivesse aqui. Ah, e como vai a Adryon?

— Na mesma. Ela e aquele tal de Haply parecem inseparáveis.

— Lembre-se de que ela não é mais criança, querido, e não se preocupe com ela. Tente deixar de ser criança também.

Terminou de se enxugar, e olhou-se no espelho, perguntando-se se seria velho para a sua idade, ou moço, sem sentir-se diferente de quando tinha dezenove anos... na universidade ou na guerra. Depois de um momento, falou:

— Tem sorte de estar vivo, meu chapa. Puxa, quanta sorte!

Seu sono fora pesado, e sonhara com o Tiptop; quase ao acordar, alguém perguntara, no seu sonho: "O que vai fazer?" "Não sei", pensou. "Até onde posso confiar naquele sacana do Sinders? Não muito. Mas ele ficou abalado com a minha ameaça... não, a minha promessa de publicar os onze pedaços de papel. E juro por Deus que o farei!

"É melhor eu ligar para o Tiptop antes de sair para a casa de Plumm. É melhor..."

Escutou a porta do quarto abrir-se de novo, e Ah Tat voltou a atravessar o quarto, parando à porta do banheiro.

— Ah, meu filho, esqueci de lhe dizer que há um bárbaro esperando por você Iá embaixo.

— É? Quem?

— Um bárbaro — falou ela, dando de ombros. — Não tão alto quanto você. Tem um nome estranho, e é mais feio do que a maioria, com cabelos de palha! — Remexeu no bolso e pegou o cartão. — Tome.

No cartão estava escrito: "Dave Murtagh III, Royal Belgium and Far East Bank". O estômago de Dunross se con-torceu.

— Há quanto tempo ele está esperando?

— Uma hora, talvez mais.

— O quê? Fodam-se todos os deuses. Por que não me acordou?

— Hem? Por que não o acordei? — perguntou ela, caus-ticamente. — Por quê? O que é que acha? Sou alguma idiota? Um demônio estrangeiro? Ayeeyah, o que é mais importante, ele esperar ou você descansar? Ayeeyah! — acrescentou desdenhosamente, e se afastou, resmungando: — Como se eu não soubesse o que era melhor para você!

Dunross vestiu-se rapidamente e desceu correndo. Murtagh estava largado numa espreguiçadeira. Acordou sobressaltado quando a porta se abriu.

— Ah, oi!

— Lamento muitíssimo. Estava tirando uma soneca e não sabia que estava aqui.

— Tudo bem, tai-pan. — Dave Murtagh estava abatidíssimo. — A velhota me ameaçou com o diabo se eu soltasse um murmúrio. Mas não faz mal, eu peguei no sono. — Estirou-se, abafando um bocejo, e sacudiu a cabeça para desanuviá-la.

— Meu Deus, desculpe ter vindo sem ser convidado, mas é melhor do que falar por telefone.

Dunross não deixou transparecer na fisionomia o desapontamento doloroso. "Deve ser uma recusa", pensou.

— Uísque?

— Sim, com soda. Obrigado. Puxa, como estou cansado! Dunross foi até a garrafa de cristal e serviu-o, depois preparou um conhaque com soda para si mesmo.

— Saúde! — brindou, resistindo à ânsia de perguntar.

— Saúde! E o senhor conseguiu o seu negócio! — O rosto do rapaz se abriu num enorme sorriso. — Conseguimos! — quase berrou. — Eles gritaram e reclamaram, mas faz uma hora concordaram. Conseguimos tudo! Cento e vinte por cento dos navios e um fundo de cinqüenta milhões de dólares americanos. A grana chega na quarta, mas o senhor pode fazer uso dela, sob palavra, na segunda às dez horas. A oferta dos petroleiros foi o toque decisivo. Puta que o pariu, conseguimos!

Dunross precisou lançar mão de todo o seu treinamento para conter o urro de triunfo, não demonstrar no rosto a alegria, e dizer calmamente:

— Puxa, que ótimo! — Tomou mais um gole do seu conhaque. — O que foi? — perguntou, vendo a expressão chocada no rosto do homem mais moço.

Murtagh sacudiu a cabeça e se largou na espreguíçadeira, exausto.

— Vocês, ingleses, são fora de série! Jamais os compreenderei. Acabo de lhe dar uma liberdade condicional de cem por cento, com o melhor dos acordos que Deus já permitiu a um homem, e só o que me diz é "Puxa, que ótimo!"

Dunross riu. Riu com gosto, extravasando toda a sua alegria. Apertou com força a mão de Murtagh e agradeceu-lhe.

— Como é, melhorou? — perguntou, rindo de orelha a orelha.

— Melhorou! — Ele agarrou a pasta e abriu-a, tirando um maço de contratos e papéis. — Aqui estão, conforme combinamos. Passei a noite inteira acordado, fazendo a minuta. Este é o contrato do empréstimo principal, este é a sua garantia pessoal, estes são para o carimbo da companhia, dez cópias de tudo.

— Vou rubricar uma série, que ficará com você. Você rubricará uma, que ficará comigo, e depois assinaremos formalmente amanhã de manhã. Pode se encontrar comigo no meu escritório, digamos, às sete e meia da manhã? Carimbaremos todos os documentos e...

O rapaz soltou um gemido involuntário.

— Não pode ser às oito, ou oito e meia, tai-pan? Preciso pôr o sono em dia.

— Sete e meia. Pode dormir o resto do dia. — Dunross teve uma idéia repentina, e acrescentou: — Deixe a noite de amanhã reservada.

— Porque?

— É. Descanse o máximo que puder, à noite vai estar muito ocupado.

— Fazendo o quê?

— Você não é casado, nem comprometido. Portanto, uma noite divertida não será má idéia, não é?

— Puxa! — Murtagh animou-se visivelmente. — Seria fantástico.

— Ótimo. Mandarei você para um amigo meu em Aberdeen. Wu Dente de Ouro.

— Quem?

— Um velho amigo da família. Perfeitamente seguro. Por falar nisso, que tal almoçar comigo nas corridas, na semana que vem?

— Puxa vida, obrigado. Ontem a Casey me deu uma "barbada" e ganhei uma nota preta. Estão dizendo que o senhor vai montar Noble Star no sábado. Vai?

— Talvez. — Dunross fixou os olhos nele. — O negócio está realmente fechado? Não há chance de dar para trás?

— Juro por tudo o que há de mais sagrado! Ah, tome, tinha me esquecido. — Entregou-lhe o telex de confirmação. — Conforme combinamos. — Murtagh lançou um olhar ao relógio. — São seis horas em Nova York, agora, mas o senhor deve ligar para S. J. Beverly, o presidente da nossa junta diretora, daqui a uma hora... ele está esperando o telefonema. Tome o número. — O rapaz abriu um amplo sorriso. — Nomearam-me vice-presidente encarregado de toda a Ásia.

— Parabéns. — Dunross viu que horas eram. Teria que sair logo, ou chegaria atrasado, e não queria deixar Riko esperando. O coração dele bateu mais depressa um pouco. — Vamos rubricar agora?

Murtagh já estava separando os papéis.

— Só uma coisinha, tai-pan, S. J. falou que temos que manter isso em segredo.

— Vai ser difícil. Quem datilografou a papelada?

— Minha secretária... mas é americana, e não abre a boca.

Dunross concordou com a cabeça, mas intimamente não estava convencido. O operador do telex — Phillip Chen já não havia dito que tinha algumas cópias do telex? —, ou as faxineiras, ou telefonistas, seria impossível descobrir quem, mas logo a novidade estaria se espalhando, não importa o que ele ou Murtagh fizessem. Bem, e como tirar o melhor proveito de tudo, enquanto ainda era segredo?, perguntava-se, controlando-se para não dançar de alegria, o negócio sem precedentes, em que era quase impossível acreditar. Começou a rubricar a sua série de papéis, Murtagh, a dele. Parou quando ouviu a porta da frente abrir-se e fechar-se com estrondo. Adryon gritou com voz estridente:

— Ah Tat! — e continuou numa torrente de cantonense de amah, encerrando com: — ...e passou a minha blusa nova, por todos os deuses?

— Blusa? Que blusa, mocinha da voz estridente e sem paciência? A vermelha? A vermelha que pertence à Esposa Principal, que lhe disse...

— Ah, mas agora é minha, Ah Tat! Eu lhe falei muito seriamente para passá-la a ferro.

Murtagh também parará, escutando a torrente de guin-chos em cantonense que partia das duas.

— Pombas — falou, cansado —, nunca vou me acostumar à maneira como os criados agem, não importa o que a gente lhes diga!

Dunross riu e chamou-o com um gesto, abrindo a porta de mansinho. Murtagh soltou uma exclamação abafada. Adryon estava com as mãos nos quadris, soltando a língua em cima de Ah Tat, que retribuía, as duas já roucas, cada uma gritando mais do que a outra, e sem se escutarem.

— Quietas! — falou Dunross. As duas pararam. — Obrigado. Você exagera um pouco, Adryon! — disse suavemente.

Ela abriu um sorriso.

— Oh, alô, papai! Não acha...

Interrompeu-se, vendo Murtagh. Dunross notou a mudança imediata. Sentiu uma pontada de advertência a percorrê-lo.

— Ah, Adryon, deixe que lhe apresente Dave Murtagh, vice-presidente do Royal Belgium and Far East Bank na Ásia. — Olhou para Murtagh e notou a expressão atordoada no rosto dele. — Esta é minha filha, Adryon.

— A senhorita... Bem... fala chinês, srta.... Dunross?

— Ah, sim, sim, claro, cantonense. Naturalmente. Chegou há pouco a Hong Kong?

— Ah, não, senhorita, não, já... já estou aqui há cerca de meio ano.

Dunross os observava com divertimento crescente, sabendo que, naquele momento, estava completamente esquecido. "Ah, rapaz conhece garota, garota conhece rapaz, e este talvez seja o sujeito perfeito para bagunçar o coreto do Haply."

— Quer tomar uma bebida conosco, Adryon? — perguntou com naturalidade, no momento em que a conversa deles esfriou e ela se preparava para se retirar.

— Ah, obrigada, papai, mas não quero incomodá-los.

— Já estamos acabando. Vamos! Como vão indo as coisas?

— Bem, tudo bem. — Adryon voltou-se para Ah Tat, que ainda continuava ali, impávida... também percebera a instantânea atração mútua. — Vá passar a minha blusa! Por favor — falou imperiosamente, em cantonense —, tenho que sair daqui a quinze minutos.

— Ayeeyah para os seus quinze minutos, Jovem Imperatriz — falou Ah Tat, com um muxoxo, e voltou para a cozinha, resmungando.

Adryon concentrou-se em Murtagh, que se reanimou visivelmente, a sua fadiga desaparecida.

— De que parte dos Estados Unidos você é?

— Do Texas, senhorita, embora tenha passado algum tempo em Los Angeles, Nova York e Nova Orleans. Joga tênis?

— Ora, jogo, sim.

— Temos umas boas quadras no Clube Americano. Aceitaria jogar comigo na semana que vem?

— Adoraria. Já joguei Iá antes. Você é bom?

— Ah, não, srta... srta. Dunross, nível de universidade.

— Nível de universidade pode ser muito bom. Por que não me chama de Adryon?

Dunross deu-lhe o cálice de xerez. Ela lhe agradeceu com um sorriso, embora ainda se concentrando em Murtagh. "É melhor que você seja muito bom, meu caro", pensou ele, sabendo como a filha era competitiva, "ou vai levar uma surra." Disfarçando com cuidado o seu divertimento, voltou a se concentrar nos documentos. Quando acabou de rubricar a sua série, ficou observando os dois com ar crítico, a filha sentada displicentemente na beira do sofá, linda e autoconfiante, um bocado mulher, e Murtagh alto e bem-educado, um pouco encabulado, mas bem à vontade.

"Será que eu vou agüentar um banqueiro na família? É melhor eu tomar as minhas informações a respeito dele! Deus nos ajude, um americano! Bem, ele é texano, o que não é a mesma coisa, é? Gostaria que a Penn estivesse aqui..."

— ... ah, não, Adryon — dizia Murtagh. — Tenho um apartamento da firma Iá em West Point. E pequenino, mas formidável.

— Isso faz uma diferença muito grande, não é? Eu moro aqui, mas logo vou ter o meu próprio apartamento. — Acrescentou, significativamente: — Não vou, papai?

— Naturalmente. — Dunross acrescentou prontamente: — Depois da universidade! Aqui está a minha série, sr. Murtagh. Pode rubricar a sua?

— Ah, claro... desculpe! — Murtagh quase saiu correndo, rubricou a sua série rapidamente, com um floreio. — Pronto, senhor. O senhor... bem... falou às sete e meia no seu escritório amanhã cedo, não é?

Adryon arqueou uma das sobrancelhas.

— É melhor ser pontual, Dave. O tai-pan é um chato quando se trata de pontualidade.

— Que bobagem! — disse Dunross.

— Eu o amo, papai, mas não é bobagem!

Bateram papo por um minuto, depois Dunross lançou um olhar ao relógio, fingindo-se preocupado,

— Que droga! Tenho que dar um telefonema, depois sair correndo. — Imediatamente, Murtagh pegou a sua pasta, mas Dunross acrescentou inocentemente: — Adryon, você falou que ia sair daqui a alguns minutos. Será que não dá tempo de dar uma carona ao sr. Murtagh?

O rapaz falou imediatamente:

— Ora, posso arranjar um táxi, não há necessidade de se incomodar...

— Ora, não é incômodo algum — disse ela, feliz —, não mesmo. West Point fica no meu caminho.

Dunross deu-lhes boa-noite e saiu. Mal notaram a saída dele, que foi para o seu gabinete e fechou a porta. E ao fechar a porta deixou para trás tudo o que não fosse Tiptop. De cima da lareira, Dirk Struan o fitava. Dunross fitou-o também, por um momento.

— Tenho os planos A, B ou C — falou em voz alta. — Todos vão dar em desastre, se o Sinders não fizer a parte dele.

Os olhos apenas sorriram, na sua maneira curiosa.

— Para você era fácil — murmurou Dunross. — Quando alguém se metia no seu caminho, você podia matá-lo, até mesmo a Bruxa.

Um pouco antes discutira seus planos com Phillip Chen.

— São todos perigosos — dissera o velho, muito preocupado.

— Qual deles você aconselha?

— A escolha tem que ser sua, tai-pan. Terá que dar garantias pessoais. Também há a questão do prestígio, embora eu lhe dê apoio em tudo, e você pediu um favor como um Velho Amigo.

— E quanto a Sir Luís?

— Já combinei encontrá-lo logo mais, tai-pan. Espero que ele coopere. — Phillip Chen parecia mais cinzento e envelhecido do que nunca. — É uma pena que não haja nada que possamos dar ao Tiptop para o caso de Sinders roer a corda.

— E quanto a permutar a frota de petroleiros? Podemos fazer pressão sobre Vee Cee? E quanto aos tórios... ou Joseph Yu?

— Tiptop precisa de alguma coisa para permutar, tai-pan, não uma ameaça. P. B. disse que ajudaria?

— Prometeu telefonar ao Tiptop hoje à tarde... disse que também ia tentar um dos seus amigos em Pequim.

Exatamente às sete horas, Dunross discou.

— O sr. Tip, por favor. Ian Dunross.

— Boa noite, tai-pan. Como vai? Soube que talvez vá montar Noble Star no sábado que vem.

— É possível.

Conversaram sobre assuntos inconseqüentes, depois Tiptop perguntou:

— E aquela pessoa infeliz? No máximo, quando vai ser solta?

Dunross controlou-se, depois comprometeu o seu futuro.

— Amanhã ao anoitecer, em Lo Wu.

— O senhor garante pessoalmente que ele estará Iá?

— Garanto pessoalmente que fiz tudo o que estava ao meu alcance para persuadir as autoridades a soltarem-no.

— Isso não é a mesma coisa que dizer que o homem estará Iá. É?

— Não. Mas estará. Tenho... — Dunross se interrompeu. Estava prestes a dizer "quase certeza", e então compreendeu que certamente fracassaria... não ousando dar a garantia, por saber que um fracasso comprometeria para sempre o seu prestígio, a sua credibilidade... mas lembrou-se de algo que Phillip Chen dissera sobre Tiptop precisar de alguma coisa para permutar, então, subitamente, viu uma abertura. — Ouça, sr. Tip — começou, seu súbito entusiasmo chegando quase a nauseá-lo. — Estamos numa época difícil. Os Velhos Amigos precisam dos Velhos Amigos como nunca antes. Particularmente, muito particularmente, soube que, nos dois últimos dias, a nossa Divisão Especial descobriu que há um aparelho de espionagem soviética aqui, de grande importância, secretíssimo, e o codinome da operação é Sevrin. O propósito da Sevrin é a destruição do elo do Reino Médio com o resto do mundo.

— Isso não é novidade, tai-pan. Os hegemonistas sempre serão hegemonistas, Rússia tzarista ou Rússia soviética, não há diferença. Há quatrocentos anos que é assim. Desde a sua primeira incursão e roubo nas nossas terras. Mas, por favor, continue.

— Acredito que Hong Kong e o Reino Médio sejam alvos iguais. Somos a sua única janela para o mundo. O Velho Demônio de Olhos Verdes foi o primeiro a enxergar isso, e é verdade. Qualquer interrupção aqui, e somente os hegemonistas ganharão. Alguma documentação, parte da documentação da Divisão Especial veio parar em minhas mãos.

Com absoluta exatidão, Dunross começou a citar literalmente o que estava escrito nos principais documentos roubados do relatório de Alan, sua mente parecendo ler as páginas que lhe vinham à memória sem esforço. Deu a Tiptop todos os detalhes relativos à Sevrin, os espiões, o agente infiltrado na polícia.

Fez-se um silêncio chocado.

— Qual a data do principal documento sobre a Sevrin, tai-pan?

— Foi aprovado por um "L. B." no dia 14 de março de 1950.

Um longo suspiro. Muito longo.

— Lavrenti Béria?

— Não sei.

Quanto mais Dunross pensava nesse novo plano, mais excitado ficava, tendo agora certeza de que essa informação e uma prova positiva nas mãos certas em Pequim causariam uma tempestade nas relações sino-soviéticas.

— Seria possível ver este documento?

— Sim, seria possível — replicou Dunross, as costas molhadas de suor, dando graças à sua antevisão de tirar fotocópias dos trechos referentes à Sevrin dos relatórios de Alan.

— E o documento tchecoslovaco a que se referiu?

— Sim, a parte que possuo.

— Qual a sua data?

— Dia 6 de abril de 1959.

— Quer dizer que os nossos pseudo-aliados sempre foram coração de lobo e pulmões de cachorro?

— Parece que sim.

— Por que será que a Europa e aqueles capitalistas nos Estados Unidos não compreendem quem é o verdadeiro inimigo no mundo? Heya?

— É difícil de entender — retrucou Dunross, fazendo agora o joguinho da espera.

Depois de uma pausa, novamente controlado, Tiptop falou:

— Estou certo de que meus amigos gostariam de uma cópia desse... desse papel da Sevrin, juntamente com qualquer outro documento de apoio.

Dunross enxugou o suor da testa, mas manteve a voz calma.

— Como um Velho Amigo, é meu privilégio ajudar no que puder.

Novo silêncio.

— Um amigo mútuo telefonou para oferecer apoio ao seu pedido para o dinheiro do Banco da China, e há alguns minutos eu soube que uma pessoa muito importante ligou de Pequim para sugerir que qualquer ajuda que se pudesse dar ao senhor seria merecida. — Novo silêncio, e Dunross quase pôde sentir Tiptop e os outros, que provavelmente estavam escutando na extensão, sopesando, concordando ou sacudindo a cabeça. — Pode me dar licença um minuto, tai-pan? Há alguém à porta.

— Quer que eu lhe telefone mais tarde? — disse, prontamente, para dar-lhes tempo para pensar.

— Não, isso não será necessário... se o senhor não se incomodar de esperar um minuto.

Dunross escutou o telefone sendo pousado. Um rádio tocava ao fundo. Sons indeterminados que poderiam ser vozes abafadas. O coração dele estava disparado. A espera parecia interminável. Depois, o telefone foi novamente erguido.

— Desculpe, tai-pan. Por favor, mande as cópias cedo... após a sua reunião matinal seria conveniente?

— Sim, sim, claro.

— Por favor, dê lembranças minhas ao sr. David MacStruan, quando ele chegar.

Dunross quase deixou cair o telefone, mas recuperou-se a tempo.

— Estou certo de que ele deseja que eu as retribua. Como vai o sr. Yu? — perguntou, dando um tiro no escuro, querendo berrar ao telefone: "E quanto ao dinheiro?" Mas estava envolvido numa negociação chinesa da pesada. Sua cautela aumentou.

Novo silêncio.

— Bem — disse Tiptop, mas Dunross notara um tom de voz diferente. — Ah, a propósito — dizia Tiptop —, o sr. Yu telefonou de Cantão esta tarde. Gostaria de antecipar a data do seu encontro, se fosse possível. Para segunda-feira, daqui a duas semanas.

Dunross pensou um momento. Essa seria a semana em que estaria no Japão, com Toda, negociando todo o seu esquema de compra e arrendamento, que, agora que o First Central o estava apoiando, teria uma enorme chance de sucesso.

— Essa determinada segunda-feira vai ser difícil para mim. A seguinte seria melhor. Será que posso confirmar até sexta-feira?

— Sim, sem dúvida. Bem, não vou prendê-lo mais, tai-pan. A tensão de Dunross tornou-se quase insuportável, agora que haviam chegado ao estágio final. Escutou atentamente a voz agradável e amistosa.

— Obrigado pela sua informação. Imagino que aquele pobre sujeito estará na fronteira de Lo Wu ao anoitecer. Ah, a propósito, se os documentos bancários necessários forem trazidos pessoalmente pelo sr. Havergill, o senhor próprio e o governador às nove horas de amanhã, meio bilhão de dólares em espécie poderão ser transferidos imediatamente para o Victoria.

Instantaneamente, Dunross percebeu o golpe.

— Obrigado — disse, suavemente, evitando a cilada. — O sr. Havergill e eu estaremos presentes. Infelizmente, o governador recebeu ordens do gabinete do primeiro-ministro para permanecer no Palácio do Governo até o meio-dia, para consultas. Mas trarei a autorização e o carimbo dele, para garantir o empréstimo — acrescentou, pois naturalmente era impossível para o governador ir pessoalmente, de chapéu na mão, como um devedor comum, e assim abrir um precedente inaceitável. — Suponho que isso seja satisfatório.

Tiptop quase ronronava.

— Estou certo de que o banco estará disposto a adiar até o meio-dia para não interferir nos deveres do governador.

— Antes e depois do meio-dia ele estará nas ruas com a polícia antimotim, sr. Tip, e com o exército, dirigindo possíveis procedimentos contra levantes idiotas atiçados pelos hegemo-nistas. Naturalmente, ele é o comandante-em-chefe de Hong Kong.

A voz de Tiptop tornou-se mais cortante.

— Sem dúvida até mesmo um comandante-em-chefe pode arranjar uns momentinhos preciosos para o que é obviamente um assunto tão importante.

— Estou certo de que ele teria muito prazer — disse Dunross, sem medo, conhecendo a arte da negociação asiática, preparado para a raiva, o mel, e todos os estágios intermediários. — Mas a proteção do interesse do Reino Médio, assim como o da colônia, tem prioridade. Tenho certeza, lamentávelmente, de que ele teria que recusar até que a emergência terminasse.

Fez-se um silêncio hostil.

— O que sugere, então?

Novamente Dunross desviou-se da armadilha, saltando para o nível seguinte.

— Ah, a propósito, seu ajudante-de-ordens me pediu que mencionasse que Sua Excelência vai dar uma festa para alguns dos nossos mais importantes cidadãos chineses no hipódromo, no sábado que vem, e gostaria de saber se por acaso o senhor estará na colônia, para que ele lhe pudesse enviar um convite.

Manteve-se apegado à sua esperança. Apresentando a coisa daquela maneira, dava a Tiptop a opção de aceitar ou recusar sem se desprestigiar... e ao mesmo tempo protegia o prestígio do governador, que evitaria enviar um convite tão importante politicamente, e que poderia ser recusado. Dunross sorriu consigo mesmo, já que o governador nada sabia, por enquanto, dessa festa importante que ia dar.

Novo silêncio, enquanto Tiptop refletia nas implicações políticas.

— Por favor, agradeça-lhe a consideração. Creio que estarei aqui. Posso confirmar na terça-feira?

— Darei seu recado com prazer. — Dunross pensou em mencionar Brian Kwok, mas resolveu deixar aquilo no limbo. — Estará no banco às nove horas, sr. Tip?

— Ah, não. Na verdade, não tenho nada a ver com isso. Sou apenas um espectador interessado. — Novo silêncio. — Seus representantes devem procurar o diretor-chefe.

Dunross soltou um suspiro, todos os sentidos aguçados. Nenhuma menção à presença do governador. "Será que venci?"

— Será que alguém poderia confirmar para a Rádio Hong Kong, a tempo para o noticiário das nove horas da noite, que o Banco da China vai dar à colônia um crédito imediato de meio bilhão de dólares em espécie?

Novo silêncio.

— Ah, tenho certeza de que isso não será necessário, sr. Dunross — falou Tiptop, e agora, pela primeira vez, notava-se uma risadinha na voz dele. — Sem dúvida a palavra do tai-pan da Casa Nobre é suficiente para uma simples estação de rádio capitalista. Boa noite.

Dunross desligou o aparelho. Seus dedos tremiam, sentia dor nas costas, e o coração batia com muita força.

— Meio bilhão de dólares! — murmurou, a mente perturbada. — Nenhum documento, nenhum carimbo, nem aperto de mão, alguns telefonemas, um pouquinho de negociação e meio bilhão de dólares estarão disponíveis para transferência por caminhão às nove horas!

"Ganhamos! O dinheiro de Murtagh, e agora o da China! É. Mas como tirar o máximo proveito deste conhecimento? Como?", perguntava-se, desanimado. Não havia motivo para ir à casa de Plumm, agora. "O que fazer? O que fazer?"

Sentia os joelhos moles, a cabeça fervia de planos e contra-planos. E então seu entusiasmo reprimido explodiu num berro enorme, que ricocheteou nas paredes do gabinete. Ele pulava, e soltou outro grito de guerra que se dissolveu numa risada. Foi para o banheiro molhar o rosto. Arrancou do corpo a camisa ensopada, sem sequer desabotoá-la, e jogou-a na lata de lixo. A porta do gabinete se escancarou, e Adryon irrompeu na sala, o rosto pálido e ansioso.

— Papai!

— Santo Deus, o que houve? — perguntou ele, estarrecido.

— O que houve com você? Ouvi-o gritar feito um touro enlouquecido. Está bem?

— Ah, sim, estou, só que... dei uma topada! — A felicidade de Dunross explodiu de novo, e ele a levantou no colo, facilmente. — Obrigado, minha querida, está tudo bem! Ah, muito bem!

— Ah, graças a Deus — disse ela, acrescentando imediatamente: — Quer dizer que posso ter o meu próprio apartamento a partir do mês que vem?

— Po... — Interrompeu-se bem a tempo. — Nada disso, dona vivaldina. Só porque estou feliz não...

— Mas, papai, não acha...

— Não. Obrigado, Adryon, mas não, vá andando! Ela o olhou de cara feia, depois desatou a rir.

— Quase peguei você, desta vez!

— É, foi, sim! Não se gsqueça de que o Duncan chega amanhã no vôo do meio-dia da Qantas.

— Não vou esquecer, não se preocupe, vou recebê-lo. Vai ser bom ter o Dunc de volta. Não jogo uma boa partida de bilhar desde que ele partiu. Para onde está indo, agora?

— Ia para a casa do Plumm, no Rose Court, para comemorar a compra de controle da General Stores, mas acho que ...

— Martin achou que foi um golpe fantástico! Se não houver o colapso da Bolsa. Disse ao bobalhão que você ia dar um jeito em tudo.

Subitamente, Dunross se deu conta de que a festa de Plumm seria o lugar ideal. Gornt estaria Iá, Phillip Chen, e todos os outros. "Gornt! Agora posso me livrar desse sacana para todo o sempre", disse com seus botões, o coração disparado.

— O Murtagh ainda está Iá embaixo?

— Está, sim. Já estávamos de saída. Ele é uma graça. Dunross virou-se para disfarçar um sorriso e pegou uma camisa de seda limpa.

— Podem esperar um minutinho? Tenho boas notícias para ele.

— Está bem. — Aproximou-se dele, fitando-o com os grandes olhos azuis. — Meu próprio apartamento de presente de Natal, por favor, por favor?

— Depois da universidade, se se der bem, solto você!

— No Natal. Eu o amarei pelo resto da vida!

Ele soltou um suspiro, lembrando-se de que ela ficara nervosa e assustada ao ver Gornt no salão de bilhar. "Talvez possa dar-lhe a cabeça dele de presente amanhã", pensou.

— Neste Natal, não, no outro!

Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele.

— Ah, obrigado, paizinho querido. Mas este Natal, por favor, por favor, por favor.

— Não, porque você...

— Por favor, por favor, por favor!

— Está bem! Mas não diga à sua mãe que concordei, pelo amor de Deus. Ela vai me tirar o couro!


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