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00h45m
Soldados gurkhas com lanternas de mão caminhavam paciente e cuidadosamente por essa parte da superfície perigosa, inclinada, quebrada, chamando "Tem alguém aí?", depois parando para escutar. Além e ao redor, subindo e descendo a encosta, soldados, policiais, bombeiros e pessoas desesperadas faziam o mesmo.
Estava muito escuro. Os holofotes instalados Iá embaixo não conseguiam iluminar essa área, mais ou menos na metade dos escombros.
— Tem alguém aí? — chamou um soldado. Escutou atentamente, depois adiantou-se alguns metros. Lá para o lado esquerdo da fila, um deles tropeçou e caiu numa fenda. Aquele soldado estava muito cansado, mas riu com seus botões e ficou parado um momento, depois chamou para dentro da terra:
— Tem alguém aí? — Começou a se levantar, depois imobilizou-se, escutando. Mais uma vez ele se deitou e gritou para dentro dos escombros: — Está me ouvindo? — e prestou muita atenção.
— Siiiiim!... — Veio a resposta débil, muito débil. Excitado, o soldado se pôs de pé.
— Sargento! Sargento!
A uns cinqüenta metros de distância, na beira das ruínas, Gornt estava junto com o jovem tenente que dirigia as operações de salvamento naquele setor. Escutavam o noticiário num pequeno transistor.
"...deslizamentos por toda a colônia. E agora, outro boletim direto da Kotewall Road." Houve um curto silêncio, depois entrou no ar a voz bem conhecida, e o rapaz sorriu consigo mesmo. "Boa noite. Aqui fala Vênus Poon, ao vivo, sobre o maior desastre a atingir a colônia." Havia um tremor maravilhoso na voz dela, e lembrando-se da maneira corajosa e impressionante com que ela descrevera o incêndio de Aberdeen, em que também estivera envolvida, a excitação dele aumentou. "O
Rose Court, na Kotewall Road, não existe mais. A grande torre de luz de doze andares, que toda a Hong Kong podia enxergar como um marco, sumiu numa pira impressionante de escombros. Meu lar não existe mais. Hoje, o dedo do Todo-Poderoso abateu a torre e todos os que ali residiam, entre eles a minha devotada gan sun, que me criou desde que nasci..."
— Senhor — chamou o sargento, do meio do desabamento —, tem um aqui!
Imediatamente o oficial e Gornt correram em sua direção.
— É homem ou mulher?
— Homem, sah! Acho que ele falou que se chamava Bar-ter, ou coisa parecida...
Lá no alto da barricada da Kotewall Road, Vênus Poon estava se divertindo. Era o centro de todas as atenções sob luzes das equipes móveis de rádio e tv. Continuou a ler o roteiro que fora enfiado em suas mãos, modificando-o aqui e ali, baixando um pouco a voz, erguendo-a, deixando as lágrimas correrem (mas não o bastante para estragar a maquilagem), descrevendo o holocausto de tal modo que todos os seus ouvintes sentiam que estavam com ela na encosta, sentiam arrepios de horror, e agradeciam sua sorte, que a morte os tivesse ignorado, dessa vez, e que eles e os seus estivessem vivos.
— A chuva ainda está caindo — sussurrava ela ao microfone. — Onde o Rose Court arrancou parte dos andares superiores do Sinclair Towers, já foram contados sete mortos, quatro crianças, três chinesas, uma inglesa, mais ainda soterrados...
Agora as lágrimas escorriam dos seus olhos. Ela parou, e os que a observavam também prenderam a respiração.
No começo ela quase arrancara os cabelos à idéia de ter perdido o apartamento, todas as suas roupas, as jóias e seu novo vison. Mas, depois, lembrou-se de que todas as suas jóias boas estavam no joalheiro, sendo reformadas — presente do seu velho admirador, o Banqueiro Kwang —, e que o seu vison estava no alfaiate, sendo consertado. E quanto às roupas, qual, Quatro Dedos teria prazer em substituí-las!
"Quatro Dedos! Ai, ai, espero que aquele bode velho tenha se salvado como o Ching Sorridente", rezara fervorosamente. "Eeee, que milagre! Se um, por que não o outro? E sem dúvida nenhum prédio desabando será capaz de matar Ah Poo. Ela vai sobreviver! Claro que vai! E o Banqueiro Kwang a salvo! Não chorei de alegria quando soube que ele se salvara? Oh, que dia de sorte! E agora o Choy Lucrativo, um rapaz tão elegante, bonitão, interessante. Agora, se tivesse dinheiro, dinheiro de verdade, seria o homem para mim. Chega daqueles sacos de peido com os seus yangs moles para o yin adorável, o mais adorável..."
O produtor não podia esperar mais. Saltou em direção ao microfone e disse com urgência:
— Continuaremos o boletim tão logo a srta. Vênus... Imediatamente ela acordou do seu torpor.
— Não, não — disse ela bravamente —, o espetáculo deve continuar! — Enxugou as lágrimas dramaticamente e continuou lendo e improvisando: — Descendo a encosta, membros dos nossos gloriosos gurkhas e guarda irlandesa, arriscando heroicamente suas vidas, estão desenterrando Irmãos e Irmãs...
— Meu Deus! — resmungou um inglês. — Que coragem! Ela merece uma medalha, não acha, meu velho? — Virou-se para o vÍ2Ínho e ficou encabulado ao ver que o homem era chinês. — Ah, desculpe-me.
Paul Choy mal o escutou, a atenção voltada para as maças que retornavam dos escombros, os carregadores escorregando e deslizando sob as lâmpadas de arco voltaico que haviam sido erigidas poucos minutos antes. Acabara de voltar da estação de socorro instalada na bifurcação da Kotewall Road, sob um toldo improvisado onde parentes desesperados, como ele próprio, tentavam identificar os mortos ou feridos, ou dar os nomes dos desaparecidos que, supunha-se, ainda estavam soterrados. A noite toda ele tinha ido e vindo, para o caso de Quatro Dedos ter sido encontrado noutro lugar e estar vindo de outra direção. Havia meia hora um dos bombeiros atravessara uma massa de escombros e chegara na área do quinto andar desabado. Fora então que haviam tirado Mai-ling e Richard Kwang de Iá, depois Jason Plumm, com metade da cabeça faltando, depois outros, mais mortos do que vivos.
Paul Choy contou as maças. Quatro. Três tinham cobertas sobre os corpos, dois muito pequenos. Estremeceu, pensando como a vida era fugaz, imaginando o que iria acontecer agora na Bolsa de Valores, amanhã. Será que eles a manteriam fechada, em sinal de respeito? "Santo Deus, se a mantiverem fechada a segunda inteira, sem dúvida a Struan chegará a 30 na abertura de terça... tem que chegar." Seu estômago roncou, e ele se sentiu tonto. Na sexta-feira, pouco antes de a Bolsa fechar, ele arriscara cinco vezes cada centavo que Quatro Dedos lhe emprestara relutantemente, em compras futuras. Cinco vezes dois milhões de HK. Comprara ações da Struan, do Blacs, do Victoria e do Ho-Pak, apostando que, de algum jeito, naquele fim de semana o tai-pan transformaria o desastre em vitória, que os boatos de que se pedira dinheiro à China eram verdadeiros, e que o Blacs e o Victoria tinham um plano em andamento. Desde o encontro com Gornt em Aberdeen, quando lhe apresentara sua teoria de um salvamento do Ho-Pak pelo Blacs ou pelo Victoria, e notara um lampejo por trás daqueles olhos astutos, estivera se perguntando se havia farejado alguma tramóia dos Figurões. "E, sem dúvida que são os Figurões! Mantêm Hong Kong segura pelos cabelos. Deus, como estão por dentro das transas!" E... ah, meu Deus, quando, nas corridas, Richard Kwang lhe pedira para comprar ações do Ho-Pak, e quase em seguida Havergill anunciara a compra de controle, ele fora ao banheiro para vomitar. Dez milhões em ações do Ho-Pak, Blacs, Victoria e Struan, comprados na baixa. E então, naquela noite, quando o noticiário das nove anunciara que a China estava adiantando meio bilhão em espécie, e que todas as corridas aos bancos tinham acabado, ele soube que estava multimilionário, multimultimilionário!
O rapaz não conseguiu controlar o estômago, correu para os arbustos ao lado da estrada e botou as tripas para fora, até pensar que ia morrer.
O circunstante inglês deu-lhe as costas e disse baixinho para um amigo:
— Esses chineses não têm mesmo muita garra, não é, meu velho?
Paul Choy limpou a boca, sentindo-se muito mal. O pensamento de sua provável fortuna, agora tão próxima, era demais para ele.
As maças iam passando. Atordoadamente, ele as acompanhou até a estação de socorro. Ao fundo, sob o toldo improvisado, o dr. Meng fazia operações de emergência. Paul Choy ficou vendo o dr. Tooley erguer os cobertores. Uma mulher européia, os olhos abertos e fixos. O dr. Tooley soltou um suspiro e os fechou. O seguinte era um garoto inglês de dez anos, morto também. Depois, uma criança chinesa. A última maca trazia um chinês, sangrando e com muita dor. Rapidamente o doutor deu-lhe uma injeção de morfina.
Paul Choy se afastou e vomitou de novo. Quando voltou, o dr. Tooley lhe disse, bondosamente:
— Não há nada que possa fazer aqui, sr. Choy. Tome, isso dará um jeito no seu estômago. — Deu-lhe duas aspirinas e um pouco de água. — Por que não espera num dos carros? Nós o avisaremos no instante em que soubermos algo do seu tio.
— Está bem, obrigado.
Vinham chegando mais maças. Uma ambulância encostou. Os carregadores das maças colocaram na ambulância os feridos etiquetados, e o veículo se afastou sob a garoa. Do lado de fora, longe do fedor de sangue e morte, o rapaz sentiu-se melhor.
— Alô, Paul, como vão indo as coisas?
— Oh, oh, alô, tai-pan! Bem, obrigado.
Ele havia encontrado o tai-pan anteriormente e lhe contara sobre Quatro Dedos. Dunross ficara chocado e muito preocupado.
— Nada ainda, Paul?
— Não, senhor. Dunross hesitou.
— Às vezes nenhuma notícia é boa notícia. Se o Ching Sorridente pôde sobreviver, vamos torcer pelo melhor, não é?
— É, sim, senhor.
Paul Choy ficou olhando Dunross subir apressado a rua na direção da barricada, sua mente repassando todas as permu-tações que imaginara. "Com a fantástica compra de controle da General Stores pelo tai-pan (que coisa mais inteligente!), e agora, escapando à armadilha do Gornt, as ações dele têm que chegar até 30. E com o Ho-Pak cotado a 12,50, no momento em que voltar a pregão terá que ir a 20. Agora, calcule, 17,5 por cento de dez milhões, vezes 50, são..."
— Sr. Choy! Sr. Choy!
Era o dr. Tooley chamando-o da estação de socorro. O coração dele parou. Correu com quantas forças tinha.
— Não tenho certeza, mas, por favor, acompanhe-me. Não havia como errar. Era o Wu Quatro Dedos. Estava morto, aparentemente incólume. No seu rosto havia uma calma maravilhosa, e um sorriso estranho e angelical.
As lágrimas começaram a escorrer pelas faces de Paul Choy. Agachou-se ao lado da maca, dominado pela dor. Cheio de compaixão, o dr. Tooley o deixou e foi para junto das outras maças, onde agora alguém gritava, outra mão desesperada agarrando ao peito o corpo destroçado de um filho.
Paul Choy fitou o rosto, um rosto bom, na morte, quase sem vê-lo.
"E agora?", perguntou-se, enxugando as lágrimas, sem sentir realmente que havia perdido um pai, mas sim o chefe da família, o que, nas famílias chinesas, é pior do que perder o próprio pai. "Deus, e agora? Não sou o filho mais velho, portanto não terei que tomar as providências. Mas, mesmo assim, o que faço agora?"
Uns soluços chamaram sua atenção. Era um velho que soluçava por uma velha deitada numa maca próxima. "Tanta morte aqui, demais!", pensou Paul Choy. "É. Mas os mortos têm que enterrar os mortos, os vivos têm que continuar. Não estou mais ligado a ele. E sou americano."
Ergueu o cobertor como se fosse cobrir o rosto de Quatro Dedos, tirou habilmente o colar de couro com a meia moeda e enfiou-o no bolso. Certificando-se de novo de que não havia ninguém olhando, revistou os bolsos. Notas numa carteira, um molho de chaves, o carimbo de bolso pessoal. E o anel de diamantes na sua caixinha.
Levantou-se e dirigiu-se para o dr. Tooley.
— Com licença, doutor. Por favor, por favor, quer deixar o velho aí? Volto logo com um carro. A família, nós... Pode ser?
— Claro. Informem à polícia antes de o levarem, o setor de pessoas desaparecidas está instalado na barricada. Vou assinar a certidão de óbito amanhã. Desculpe, mas não há tem... — Novamente o bondoso homem teve a atenção voltada para outro lugar, e foi até onde estava o dr. Meng. — Pronto, deixe-me ajudar. É como na Coréia, não?
Paul Choy desceu o morro, sem ligar para a garoa, o coração leve, o estômago no lugar, o futuro definido. "Agora a moeda é minha", disse a si mesmo, certo de que Quatro Dedos não teria contado a ninguém, atendo-se à sua habitual reserva, confiando apenas naqueles de quem não podia prescindir.
"Agora que tenho o carimbo pessoal dele, posso carimbar o que quiser, fazer o que quiser, mas não vou fazer isso. Isso é trapacear. Por que devo trapacear quando estou levando vantagem? Sou mais esperto do que qualquer dos outros filhos dele. Eles sabem, eu sei, e isso não é bancar o maluco. Sou melhor. É apenas justiça que eu fique com a moeda e todos os lucros dos dois milhões. Vou ajudar a família, modernizar tudo, equipar os barcos, fazer o que eles quiserem. Mas com o meu lucro vou dar início ao meu próprio império. Claro. Mas, primeiro, vou para o Havaí..."
No começo da fila de carros, perto do primeiro deslizamento, Dunross parou ao lado do seu carro e abriu a porta do banco de trás. Casey despertou bruscamente do seu devaneio, e seu rosto perdeu a cor.
— Linc?
— Não. Ainda nada. Quillan tem quase certeza de que localizou a área. Os gurkhas estão revistando aquela parte agora. Vou para Iá substituí-lo. — Dunross tentou parecer confiante. — Os peritos dizem que há uma chance muito boa de que ele esteja bem. Não se preocupe. Você está bem?
— Sim, estou, obrigada.
Quando ele voltara da primeira busca, mandara Lim ir apanhar café, sanduíches e uma garrafa de conhaque, sabendo que a noite ia ser muito comprida. Quisera deixar Casey com Riko, mas ela se recusara. E então Riko voltara para o hotel, no outro carro, com Lim.
— Quer um conhaque, Ian? — perguntou Casey.
— Obrigado. — Ele a observou enquanto ela o servia, notando que os dedos estavam firmes. O conhaque sabia bem. — Vou levar um sanduíche para o Quillan. Por que não põe uma boa dose de conhaque no café, hem? Levo isso também.
— Certo — disse ela, satisfeita por poder fazer alguma coisa. — Mais gente foi resgatada?
— Donald McBride... está bem, só abalado. Tanto ele quanto a mulher.
— Ah, que bom! Algum, algum cadáver?
— Ninguém que eu conheça — replicou, decidindo não lhe contar sobre o Plumm ou seu velho amigo Southerby, presidente da junta diretora do Blacs.
Naquele momento, Adryon e Martin Haply apareceram intempestivamente, e Adryon abraçou-o com força, soluçando de alívio.
— Oh, papai, acabamos de saber, oh, papai, eu estava apavorada!
— Pronto, pronto! — disse ele, acalmando-a. — Estou bem. Santo Deus, Adryon, avalancha maldita nenhuma jamais tocará o tai-pan da Casa No...
— Ah, não fale assim! — suplicou ela, com um arrepio de pavor supersticioso. — Nunca fale assim! Estamos na China, os deuses escutam, não fale assim!
— Está bem, meu amor! — Dunross abraçou-a e sorriu para Martin Haply, que também estava cheio de alívio. — Tudo bem?
— Oh, sim, senhor, estávamos Iá em Kowloon, eu estava fazendo a cobertura do outro deslizamento quando soubemos da notícia. — O jovem estava aliviado. — Puxa vida, mas como estou contente por vê-lo, tai-pan! Nós... infelizmente amassamos um pouco o carro para chegar aqui.
— Não faz mal. — Dunross afastou Adryon de si um pouco. — Tudo bem, filhinha?
Ela o abraçou de novo.
— Tudo bem. — Foi então que viu Casey. — Oh, oh, alô, Casey, eu estava tão...
— Deixe de ser boba! Entrem e saiam da chuva! Os dois. Adryon obedeceu, Martin Haply hesitou, depois disse para Dunross:
— Se não se importa, senhor, vou dar uma olhada por aí.
— Christian se salvou — disse Dunross rapidamente.
— Eu sei, senhor. Liguei para o escritório. Obrigado. Não vou demorar muito, meu bem — disse para Adryon, e dirigiu-se para a barricada.
Dunross observou-o enquanto ele se afastava, jovem, durão e muito autoconfiante, depois enxergou Gornt descendo o morro, apressado. Gornt parou, bem longe do carro, e fez-lhe um sinal ansioso. Dunross lançou um olhar para Casey, o coração batendo inquieto. De onde estava, ela não podia ver Gornt.
— Volto logo que puder.
— Cuide-se.
Dunross acercou-se de Gornt. O homem mais velho estava imundo, as roupas rasgadas, a barba empastada, o rosto tenso.
— Nós o localizamos — disse Gornt. — Bartlett.
— Está morto?
— Não, nós o encontramos, mas não conseguimos chegar até ele. — Gornt fez um gesto para a garrafa térmica. — É chá?
— Café com conhaque.
Gornt aceitou e bebeu, agradecido.
— Casey ainda está no carro?
— Está. A que profundidade ele está?
— Não sabemos. Fundo. Talvez seja melhor não contar a ela nada sobre ele, por enquanto.
Dunross hesitou.
— Melhor não tocar no assunto — repetiu o outro homem. — A coisa parece preta.
— Está bem. — Dunross estava exausto de tanta morte e sofrimento. — Está bem.
A chuva tornava a noite mais imunda e o atoleiro ainda mais perigoso. À frente, para além da área do desabamento, a Kotewall Road seguia reto por quase setenta metros, subindo de modo íngreme, depois se enroscava na encosta da montanha, e sumia de vista. Os moradores já vinham jorrando dos prédios evacuados.
— Não há o que errar quanto ao Tiptop e ao dinheiro? — indagou Gornt, andando com cuidado, iluminando o caminho com a lanterna elétrica.
— De jeito algum. A corrida aos bancos acabou.
— Ótimo. Qual foi a permuta?
Dunross não lhe respondeu, apenas deu de ombros.
— Abriremos a 30.
— Isso é o que veremos — Gornt acrescentou sarcasti-camente. — Mesmo a 30 estou seguro.
— É?
— Perderei uns dois milhões de dólares americanos. Foi isso o que o Bartlett me adiantou.
Dunross sentiu uma alegria interior. "Isso ensinará o Bartlett a não tentar me passar a perna", pensou.
— Eu já estava sabendo disso. Foi uma boa idéia... mas a 30 você perderá uns quatro milhões, Quillan, os dois dele e dois do seu bolso. Mas aceitarei a Ail Ásia Airways.
— Jamais. — Gornt parou e olhou-o de frente. — Jamais. Minha companhia aérea ainda não está à venda.
— Você é quem sabe. A oferta é válida até a abertura da Bolsa.
— Que se danem os seus negócios!
Continuaram a subir pesadamente para o topo da encosta, aproximando-se agora da área do saguão. Passaram por uma maca que voltava. A mulher ferida não era conhecida de nenhum dos dois. "Se Dunross estivesse numa dessas maças", pensou Gornt, sombriamente, "isso resolveria os meus problemas direitinho..."