23
17h45m
Dunross estava na sala de diretoria da Struan com os outros diretores da Nelson Trading, olhando para Richard Kwang.
— Não, Richard, sinto muito. Não posso esperar até depois da hora do encerramento, amanhã.
— Não fará diferença para você, tai-pan. Para mim, fará. Richard Kwang suava. Os outros o observavam: Phillip
Chen, Lando Mata e Tung Zeppelin.
— Discordo, Richard — falou Lando Mata, vivamente. — Nossa Senhora, até parece que você não se dá conta da gravidade da corrida!
— É — concordou Tung Zeppelin, o rosto tremendo de raiva contida.
Dunross soltou um suspiro. Sabia que, se não fosse pela sua presença, estariam todos gritando e esbravejando uns com os outros, as obscenidades voando de parte a parte, como acontece em qualquer negociação formal entre os chineses, ainda mais numa tão grave quanto aquela. Mas era uma regra da Casa Nobre que todas as reuniões de diretoria fossem realizadas em inglês, e o idioma inglês inibia os xingamentos chineses e também desconcertava os chineses, o que naturalmente era o que realmente se almejava.
— O assunto tem que ser resolvido agora, Richard.
— Concordo. — Lando Mata era um português bonitão, de feições marcadas, na casa dos cinqüenta anos, o sangue chinês da mãe evidente nos olhos, nos cabelos escuros e na pele dourada. Seus dedos longos e finos tamborilavam na mesa de reunião, continuamente, e ele sabia que Richard Kwang jamais ousaria revelar que ele, Tung Pão-Duro e Mo Contrabandista controlavam o banco. "Nosso banco é um empreendimento", pensou, raivoso, "mas nossas reservas são outra história." — Não podemos arriscar o nosso ouro, o nosso dinheiro vivo!
— De jeito nenhum — falou Tung Zeppelin, nervosamente — Meu pai quer que eu deixe isso bem claro. Ele quer o seu ouro!
— Mãe de Deus, temos quase cinqüenta toneladas de ouro nos seus cofres-fortes.
— Na verdade, são mais de cinqüenta toneladas — falou Tung Zeppelin, o suor porejando-lhe a testa. — Meu velho me deu as cifras... são 1 792 668 onças em 298 778 barras de cinco taéis. — O ar no salão estava quente e úmido, as janelas, abertas. Tung Zeppelin era um homem corpulento e bem-vesti-do de quarenta anos, de olhos pequenos e estreitos, o filho mais velho de Tung Pão-Duro, e falava com sotaque britânico de gente fina. Seu apelido provinha de um filme que Pão-Duro assistira no dia em que ele nascera. — Não estão certas, Richard?
Richard Kwang mexeu na folha de agenda à sua frente, em que estavam anotados a quantidade de ouro e o saldo atual da Nelson Trading. Se tivesse que entregar o ouro e o dinheiro naquela noite, abalaria fortemente a liquidez do banco, e quando a notícia transpirasse, como era evidente que transpiraria, aquilo estremeceria os alicerces do banco.
— O que vai fazer, seu osso de cachorro idiota! — gritara-lhe a mulher pouco antes que deixasse o escritório.
— Protelar, protelar e esperar que...
— Não! Finja que está doente! Se estiver doente, não poderá lhes dar o nosso dinheiro! Não pode ir a essa reunião. Venha depressa para casa e fingiremos...
— Não posso, o tai-pan ligou pessoalmente. E o mesmo fez o Mata, aquele osso de cachorro! Não tenho coragem de faltar! Oh, oh, oh!
— Então descubra quem está nos perseguindo e pague a ele para parar! Use a cabeça! A quem ofendeu? Deve ter ofendido algum quai loh sujo. Descubra-o, pague-lhe, ou perderemos o banco, nosso título de sócio do Turf Club, perderemos os cavalos, o Rolls, o nosso prestígio para sempre! Ayeeyah! Se perdermos o banco você nunca será Sir Richard Kwang. Não que ser Lady Kwang seja importante para mim, oh, não! Faça alguma coisa! Descubra-o...
Richard Kwang sentia o suor escorrer-lhe pelas costas, mas mantinha a pose, e tentava achar uma saída do labirinto.
— O ouro está totalmente seguro, e seu dinheiro vivo também. Temos sido os banqueiros da Nelson Trading desde o seu início, nunca tivemos o menor problema. Arriscamos muito com vocês, no princípio...
— Qual é, Richard? — falou Mata, disfarçando seu desprezo. — Não há risco com ouro. Certamente não com o nosso ouro.
O ouro pertencia à Great Good Luck Company of Macao, que também possuía o monopólio da jogatina há quase trinta anos. A companhia valia atualmente mais de dois bilhões de dólares americanos; Tung Pão-Duro era dono de trinta por cento, pessoalmente, Lando Mata, de quarenta por cento, pessoalmente, e os descendentes de Mo Contrabandista, que morrera no ano anterior, dos outros trinta por cento.
"E todos juntos", pensava Mata, somos donos de cinqüenta por cento do Ho-Pak, que você, seu cretino, bosta de cachorro, deu um jeito de botar em dificuldades."
— Lamento muito, Richard, mas meu voto é para que a Nelson Trading mude de banco... pelo menos temporariamente. Tung Pão-Duro está muito nervoso... e eu tenho a procuração da família Chin.
— Mas, Lando — começou Richard Kwang —, não há motivo para preocupação. — Cutucou com o dedo o jornal entreaberto, o China Guardian, que jazia sobre a mesa. — O novo artigo de Haply ressalta de novo que estamos firmes... que tudo não passa de uma tempestade num copo d'água iniciada por banqueiros malicio...
— É possível. Mas os chineses acreditam em boatos, e a corrida ao banco é um fato — falou Mata, vivamente.
— Meu velho acredita em boatos — falou Tung Zeppelin, fervorosamente. — Também acredita em Wu Quatro Dedos. Quatro Dedos telefonou para ele, hoje à tarde, contando que havia sacado todo o seu dinheiro, e sugerindo que ele fizesse o mesmo, e dentro de uma hora nós, Lando e eu, estávamos no nosso Catalina, vindo para cá, e você sabe como eu detesto andar de avião. Richard, você sabe muitíssimo bem que se o velho quer que uma coisa seja feita agora, tem que ser agora.
É, pensou Richard Kwang, enojado, aquele velho sovina e nojento saltaria de dentro do túmulo por uma moeda de cinqüenta cents.
— Sugiro que esperemos um dia ou dois...
Dunross estava deixando que conversassem para não desprestigiá-los. Já havia decidido o que fazer. A Nelson Trading era uma subsidiária de propriedade integral da Struan, portanto os outros diretores não tinham que dar opinião, na realidade. Mas embora a Nelson Trading tivesse a licença exclusiva para importação de ouro do governo de Hong Kong, sem os negócios com o ouro da Great Good Luck Company (o que significava: sem os favores de Tung Pão-Duro e Lando Mata), os lucros da companhia seriam praticamente nulos.
A Nelson Trading ganhava uma comissão de um dólar por onça sobre cada onça importada para a companhia, entregue no molhe em Macau, e mais um dólar por onça sobre as exportações de Hong Kong. Como mais uma consideração por ter sugerido o esquema global de Hong Kong para a companhia, a Nelson Trading recebia dez por cento do lucro real. Naquele ano, o governo japonês fixara arbitrariamente a sua taxa oficial de ouro em cinqüenta e cinco dólares a onça... um lucro de quinze dólares por onça. No mercado negro, seria ainda maior. Na índia seriam quase noventa e oito dólares.
Dunross olhou para o relógio. Crosse chegaria dali a alguns minutos.
— Temos um ativo de mais de um bilhão, Lando — repetia Richard Kwang.
— Ótimo — intrometeu-se Dunross, vivamente, encerrando a reunião. — Então, Richard, não faz diferença, de qualquer maneira. Não há por que esperar. Já tomei certas providências. Nosso caminhão de transferência estará na sua porta lateral às oito em ponto.
— Mas...
— Por que tão tarde, tai-pan? — quis saber Mata. — Ainda não são seis horas.
— Já estará escuro, então, Lando. Não me agradaria transferir cinqüenta toneladas de ouro à luz do dia. Pode haver bandidos à solta. Nunca se sabe. Não é?
— Meu Deus, você acha... tríades? — Tung Zeppelin estava chocado. — Vou ligar para meu pai. Mandará alguns guardas extras.
— É — disse Mata —, ligue logo.
— Não é preciso — falou Dunross. — A polícia sugeriu que sejamos discretos. Disseram que estarão presentes, a postos.
Mata hesitou.
— Bem, você é que sabe, tai-pan. É o responsável.
— Naturalmente — disse Dunross, com polidez.
— Como ter certeza de que o Victoria é seguro?
— Se o Victoria afundar, é melhor sairmos da China. — Dunross pegou o telefone e discou para o número particular de Johnjohn, no banco. — Bruce? Ian. Vamos precisar do cofre-forte... às vinte e trinta em ponto.
— Tudo bem. Nossa segurança estará a postos para dar assistência. Use a porta lateral... a da Dirk's Street.
— Sei.
— A polícia já foi informada? -Já.
— Ótimo. A propósito, Ian, Richard ainda está com vocês?
— Sim.
— Ligue para mim quando puder... estarei em casa logo mais, à noite. Andei fazendo verificações, e as coisas não estão nada boas para o lado dele. Meus amigos banqueiros chineses estão todos muito nervosos. Até mesmo o Mok-tung sofreu uma pequena corrida lá em Aberdeen, e nós também. Claro que adiantaremos a Richard todo o dinheiro de que precisar, com os seus títulos mobiliários como garantia, títulos negociáveis em banco. Mas se eu fosse você sacaria todo o dinheiro vivo que pudesse ainda hoje. Faça com que o Blacs cuide do seu cheque em primeiro lugar, logo mais, na compensação.
Toda a compensação de cheques e empréstimos bancários era feita no porão do Blacs à meia-noite, cinco dias por semana.
— Obrigado, Bruce. Até mais ver. — A seguir, para os outros: — Tudo já está arranjado. Naturalmente, a transferência deve ser mantida em sigilo. Richard, vou precisar de um cheque administrativo para o saldo da Nelson Trading.
— E eu de um para o saldo do meu pai! — ecoou Zeppelin.
Richard Kwang disse:
— Enviarei os cheques amanhã, logo de manhã.
— Ainda hoje — declarou Mata —, para que possam ser compensados logo mais. — Suas pálpebras ficaram ainda mais fechadas. — E, naturalmente, um outro para o meu saldo pessoal.
— Não há dinheiro bastante para cobrir esses três cheques... banco algum poderia ter tal quantia — explodiu Richard Kwang. — Nem mesmo o Banco da Inglaterra.
— É claro. Por favor, ligue para quem quiser para empenhar parte dos seus títulos negociáveis. Ou para Havergill, ou para Southerby. — Os dedos de Mata pararam de tamborilar. — Estão esperando o seu telefonema.
— O quê?
— É. Conversei com ambos hoje à tarde.
Richard Kwang ficou calado. Tinha que achar um meio de evitar entregar o dinheiro naquela noite. Se não pagasse agora, ganharia os juros de um dia, e talvez no dia seguinte não fosse preciso pagar, "Dew neh loh moh para todos os quai loh e meio quai loh, que são os piores!" O sorriso dele era tão doce quanto o de Mata.
— Bem, como queiram. Se os dois se encontrarem comigo no banco dentro de uma hora...
— Melhor ainda — falou Dunross. — Phillip irá com você agora. Você poderá entregar-lhe todos os cheques. Está bem assim, Phillip?
— Ora, claro que sim, tai-pan.
— Ótimo, obrigado. Então, se os levar diretamente para o Blacs, estarão compensados à meia-noite. Richard, isso lhe dará bastante tempo, não é?
— Oh, sim, tai-pan — disse Richard Kwang, animando-se. Descobrira uma solução brilhante. Um falso infarto! "Fingirei que estou tendo um, no carro, a caminho do banco, e então..."
Foi então que notou a firmeza nos olhos de Dunross, e seu estômago se retorceu. Mudou de idéia. "Por que devem ficar com tanto dinheiro meu?", pensava, enquanto se levantava.
— Não precisam de mim para mais nada, no momento? Ótimo, então vamos, Phillip.
Os dois saíram. Fez-se um grande silêncio.
— Pobre Phillip, está com uma cara terrível — falou Mata.
— É. Não é de admirar.
— Malditas tríades — falou Tung Zeppelin, estremecendo. — Os Lobisomens devem ser estrangeiros, para enviarem uma orelha daquele jeito! — Estremeceu de novo. — Espero que não venham para Macau. Corre um forte boato de que Phillip já está tratando com eles, negociando com os Lobisomens em Macau.
— Isso não é verdade — declarou Dunross.
— Ele não lhe contaria, se estivesse negociando, tai-pan. Eu também guardaria segredo, de todo mundo. — Tung Zeppelin fitou carrancudo o telefone. — Dew neh loh moh para todos os seqüestradores nojentos.
— O Ho-Pak está acabado? — perguntou Mata.
— A não ser que Richard Kwang consiga manter a liquidez, está. Hoje à tarde Dunstan encerrou as suas contas.
— Ah, então, novamente, um boato é verdade!
— Parece que sim, infelizmente! — Dunross sentia pena de Richard Kwang e do Ho-Pak, mas no dia seguinte iria vender a descoberto. — As ações dele vão cair vertiginosamente.
— Como isso irá afetar a alta que você previu?
— Eu previ?
— Você está comprando muitas ações da Struan, ao que me consta. — Mata deu um leve sorriso. — Phillip também, a tai-tai dele e a família dela.
— Todos agem bem ao comprar as nossas ações, Lando, a qualquer hora. Estão com um preço muito baixo.
Tung Zeppelin escutava atentamente. Seu coração bateu mais depressa. Também ouvira os boatos de que os Chens da Casa Nobre estavam comprando.
— Leram a coluna do Velho Cego Tung hoje? Sobre a próxima alta? Ele falava sério, mesmo.
— É — disse Dunross, com ar solene. Quando a lera, pela manhã, dera uma risada abafada, e sua opinião sobre a influência de Dianne Chen aumentara enormemente. Mesmo a contragosto, Dunross relera o artigo, e imaginara brevemente se o vidente estava realmente prevendo a sua própria opinião.
— O Velho Cego Tung é parente seu, Zep? — perguntou.
— Não, tai-pan, não ao que eu saiba. Dew neh loh moh, mas está quente hoje. Vou ficar feliz em voltar para Macau... o clima é muito melhor em Macau. Vai participar da corrida de automóveis este ano, tai-pan?
— Espero que sim.
— Ótimo! Maldito seja o Ho-Pak! Richard nos dará os cheques administrativos, não é? Meu velho vai ter um derrame se estiver faltando um tostão.
— É — concordou Dunross, depois notou um ar estranho nos olhos de Mata. — O que há?
— Nada. — Mata olhou para Zeppelin. — Zep, é realmente importante que obtenhamos rapidamente a aprovação de seu pai. Por que você e Claudia não vão descobrir onde ele anda?
— Boa idéia.
Obedientemente, o chinês levantou-se e saiu, fechando a porta. Dunross concentrou a atenção em Mata.
— Bem?
Mata hesitou. Depois, falou, serenamente:
— Ian, estou pensando em sacar todos os meus fundos de Macau e Hong Kong e investi-los em Nova York.
Dunross fitou-o, perturbado.
— Se você fizer isso, abalará todo o nosso sistema. Se você sacar, Pão-Duro fará o mesmo, os Chins, Quatro Dedos... e todos os outros.
— O que é mais importante, tai-pan, o sistema ou o nosso dinheiro?
— Não gostaria que o sistema fosse abalado assim.
— Já fechou com a Par-Con? Dunross fitava-o.
— Verbalmente, já. Contratos daqui a sete dias. Se você sacar vai nos fazer muito mal, Lando. Muito mesmo. O que é mau para nós será mau para você e muito, muito mau para Macau.
— Levarei em consideração o que está dizendo. Com que então a Par-Con vem para Hong Kong. Ótimo... e, se realmente ocorrer a compra do controle da Hong Kong General Stores pela American Superfood, isso dará novo incremento ao mercado. Talvez o Velho Cego Tung não estivesse exagerando. Quem sabe não teremos sorte? Ele já errou antes, alguma vez?
— Não sei. Pessoalmente, não acho que ele tenha uma ligação particular com o Todo-Poderoso, embora muita gente ache.
— Uma alta seria uma coisa realmente excelente. Um cálculo de tempo perfeito. E — acrescentou Mata, de modo estranho — poderíamos adicionar um pouco de combustível à maior alta da nossa história, não?
— Você ajudaria?
— Eu e os Chins juntos daríamos dez milhões de dólares americanos... Pão-Duro não vai se interessar, que eu sei. Sugira você onde e quando...
— Meio milhão na Struan, no final do expediente de quinta-feira, o resto distribuído pela Rothwell-Gornt, Propriedades Asiáticas, Cais de Hong Kong, Força de Hong Kong, Balsa Dourada, Investimentos Kowloon e General Stores.
— Por que quinta-feira? Por que não amanhã?
— O Ho-Paíc vai fazer baixar o mercado. Se comprarmos em grandes quantidades na quinta, pouco antes do encerramento do expediente, ganharemos uma fortuna.
— Quando vai anunciar a transação com a Par-Con? Dunross hesitou. Depois, falou:
— Na sexta, depois que a Bolsa fechar.
— Ótimo. Estou nessa, Ian. Quinze milhões. Quinze, ao invés de dez. Vai vender ações do Ho-Pak a descoberto, amanhã?
— Claro. Lando, sabe quem está por trás da corrida ao Ho-Pak?
— Não. Mas Richard ultrapassou os seus limites, e não tem agido sensatamente. As pessoas falam, os chineses sempre desconfiam de qualquer banco, e reagem aos boatos. Acho que o banco vai falir.
— Meu Deus!
— É o destino. — Os dedos de Mata pararam de tamborilar. — Quero triplicar as nossas importações de ouro.
Dunross fitou-o.
— Por quê? Estão no limite da sua capacidade, agora. Se os pressionarem depressa demais, cometerão erros, e sua taxa de confisco subirá. No momento, vocês estão com tudo perfeitamente equilibrado.
— É, mas Quatro Dedos e outros nos asseguram que podem fazer alguns carregamentos substanciais de ouro em segurança.
— Não há necessidade de pressioná-los... ou ao seu mercado. Necessidade nenhuma.
— Ian, preste atenção um momento. Há encrencas na Indonésia, encrencas na China, índia, Tibete, Malásia, Cingapura, agitação nas Filipinas, e agora os americanos vão invadir o sudeste asiático, o que será maravilhoso para nós, e pavoroso para eles. A inflação vai disparar, e então, como sempre, todo comerciante sensato na Ásia, especialmente os comerciantes chineses, vai querer trocar o dinheiro-papel pelo ouro. Temos que estar prontos para atender à demanda.
— O que foi que andou ouvindo, Lando?
— Muitas coisas curiosas, tai-pan. Por exemplo, que certos generais americanos importantes estão querendo defrontar-se em alta escala com os comunistas. O Vietnam foi o local escolhido.
— Mas os americanos jamais vencerão ali. A China não poderá permitir isso, como não pôde permitir na Coréia. Qualquer livro de história lhes dirá que a China sempre cruza as suas fronteiras para proteger os seus Estados-tampão quando qualquer invasor se aproxima.
— Mesmo assim, o confronto ocorrerá.
Dunross examinou atentamente Lando Mata, cuja imensa fortuna e envolvimento antigo na honorável profissão de comerciar, como ele a descrevia, davam-lhe uma entrada fantástica nos lugares mais sigilosos.
— O que mais ouviu dizer, Lando?
— O orçamento da CIA foi dobrado.
— Isso é coisa ultra-secreta. Ninguém poderia saber disso.
— Pois é. Mas eu sei. A segurança deles é assombrosa, Ian. A CIA tem o dedo metido em tudo, no sudeste asiático. Acredito até que alguns dos seus fanáticos mal orientados estão tentando intrometer-se no comércio de ópio do Triângulo Dourado para favorecer seus grupos amistosos das montanhas Mekong... para encorajá-los a lutar contra os vietcongs.
— Santo Deus!
— É. Nossos irmãos em Formosa estão furiosos. E há uma abundância crescente de dinheiro do governo americano sendo utilizado em pistas de pouso, portos, estradas. Em Okinawa, Formosa, e especialmente no Vietnam do Sul. Certas famílias muito conceituadas politicamente estão ajudando a fornecer o cimento e o aço, sob condições muito favoráveis.
— Quais?
— Quem fabrica cimento? Talvez em... digamos, na Nova Inglaterra?
— Meu Deus, tem certeza? Mata deu um sorriso sem humor.
— Ouvi até dizer que parte de um grande empréstimo do governo para o Vietnam do Sul foi gasto num campo de pouso inexistente, que ainda é selva impenetrável. Ah, sim, Ian, os lucros já são imensos. Assim, por favor, encomende carregamentos triplos, de amanhã em diante. Vamos começar o nosso novo sistema de hidroaviões no mês que vem... isso diminuirá a viagem para Macau de três horas para setenta e cinco minutos.
— O Catalina não seria ainda mais seguro?
— Não, não creio. Os hidroaviões podem transportar muito mais ouro e podem correr mais depressa do que qualquer outra embarcação nessas águas... teremos comunicações constantes por radar, as melhores, para podermos ganhar qualquer pirata na corrida.
Após uma pausa, Dunross disse:
— Uma quantidade tão grande de ouro poderia atrair todo tipo de bandidos. Até ladrões internacionais.
Mata deu o seu sorrisinho ligeiro.
— Eles que venham. Nunca irão embora. Temos braços compridos, na Ásia. — Recomeçou o tamborilar com os dedos.
— Ian, somos velhos amigos. Gostaria de uns conselhos seus.
— Às suas ordens... qualquer coisa.
— Acredita em mudanças?
— Mudanças comerciais?
— É.
— Depende, Lando — respondeu Dunross, prontamente.
— A Casa Nobre mudou pouco, em quase um século e meio. Em outros aspectos, mudou imensamene.
Ficou olhando para o homem mais velho, e esperando. Finalmente, Mata falou:
— Dentro de algumas semanas, o governo de Macau será obrigado a pôr em leilão novamente a concessão para o jogo... — Instantaneamente, Dunross ficou totalmente concentrado. Todos os grandes negócios em Macau eram conduzidos na base de monopólio, e este era dado à pessoa ou companhia que oferecesse mais impostos por ano pelo privilégio. — Este é o quinto ano. A cada cinco anos, nosso departamento pede lances fechados. O leilão é aberto a todos, mas, na prática, examinamos minuciosamente aqueles que são convidados a dar lances. — O silêncio pesou por um momento, depois Mata continuou: — Meu velho sócio, Mo Contrabandista, já morreu.
Os rebentos dele são na maioria esbanjadores, ou estão mais interessados no mundo ocidental — cassinos no sul da França, partidas de golfe — do que na saúde e futuro do sindicato. Para os Mos, é o destino antiqüíssimo: o cule, um em dez mil, que acha ouro, guarda dinheiro, investe em terras, poupa, fica rico, compra jovens concubinas que o desgastam rapidamente. A segunda geração é descontente, gasta o dinheiro, hipoteca as terras para comprar prestígio e os favores das mulheres. A terceira geração vende as terras, vai à falência pelos mesmos favores. A quarta geração é cule de novo. — Sua voz estava calma, até meiga. — Meu velho amigo está morto, e não sinto nada pelos filhos dele, ou pelos netos. São ricos, imensamente ricos por minha causa, e encontrarão seu próprio nível; bom, mau ou péssimo. Quanto a Pão-Duro... — Os dedos pararam de se mexer, de novo. — Pão-Duro está morrendo. Dunross ficou espantado.
— Mas eu o vi faz mais ou menos uma semana, e parecia saudável, frágil como sempre, mas cheio de vida e malícia.
— Está morrendo, Ian. Sei disso porque fui seu intérprete junto aos especialistas portugueses. Não queria confiar em nenhum dos filhos... foi o que me disse. Levei meses para conseguir que fosse aos médicos, mas ambos deram o mesmo diagnóstico: câncer do cólon. O organismo dele está saturado de câncer. Deram-lhe um, dois meses de vida... isso foi há uma semana. — Mata sorriu. — O velho Pão-Duro xingou os dois, disse que estavam errados, que eram idiotas, e que jamais pagaria por um diagnóstico errado. — O português esbelto riu sem achar graça. — Ele vale mais de seiscentos milhões de dólares americanos, mas jamais pagará aquela conta médica, ou fará outra coisa senão continuar a beber chás de ervas chineses fedorentos e amargos, e a fumar o seu cachimbo de ópio ocasional. Não vai aceitar um diagnóstico ocidental, de quai loh... você o conhece. Conhece muito bem, não é?
— É.
Quando Dunross estava em férias escolares, o pai costumava mandá-lo trabalhar para certos velhos amigos. Tung Pão-Duro fora um deles, e Dunross lembrava-se do verão pavoroso que passara suando no porão nojento do banco do sindicato em Macau, tentando agradar o seu mentor e não chorar de raiva ao pensar no que estava tendo que suportar enquanto todos os seus amigos se divertiam. Mas, agora, sentia-se grato por aquele verão. Pão-Duro lhe ensinara muita coisa sobre o dinheiro... seu valor, como ganhá-lo, como ficar com ele, sobre a usura, a cobiça e a taxa de juros normal dos chineses, de dois por cento ao mês, nos bons tempos.
— Pegue o dobro da quantia necessária, mas se ele não tiver nenhuma, olhe dentro dos olhos de quem está pedindo o empréstimo! — berrava Tung para ele. — Se não houver garantia, cobre juros maiores, é claro. Agora, pense; pode confiar nele? Vai poder pagar o empréstimo? Ele é trabalhador ou vadio? Olhe para ele, pateta, ele é a sua garantia! Quanto ele quer do meu dinheiro suado? É um trabalhador esforçado? Se for, o que são dois por cento ao mês para ele... ou quatro? Nada. Mas é o meu dinheiro que fará o sacana ficar rico, se for o destino dele ficar rico. O homem em si é toda a garantia de que jamais se precisará! Empreste qualquer coisa ao filho de um homem rico, se estiver dando a sua herança como garantia, e tiver o carimbo oficial do pai... vai ser tudo gasto com piranhas, mas e daí?, o dinheiro é dele, não seu! Como se fica rico? Poupando! Poupa-se dinheiro, compra-se terra com um terço, empresta-se um terço e guarda-se um terço em dinheiro vivo. Empreste apenas à gente civilizada, e nunca confie num quai loh... — casquinava ele.
Dunross recordava-se bem daquele velho de olhos duros como pedra, quase desdentado... um analfabeto que sabia ler e escrever apenas três caracteres (os do seu nome), mas que tinha uma mente como a de um computador, que sabia, até o último tostão, quem lhe devia, e quando tinha que receber. Ninguém jamais deixara de lhe pagar uma dívida. Não valia a pena sofrer a perseguição incessante.
Naquele verão ele tinha treze anos, e Lando Mata se tornara seu amigo. Então, como agora, Mata era quase um espectro, uma presença misteriosa que entrava e saía das esferas governamentais de Macau como bem queria, sempre discretamente, uma figura que mal se via, de quem pouco se conhecia, um asiático estranho que ia e vinha quando lhe dava na telha, apanhava o que queria, colhendo riquezas incríveis como e quando tinha vontade. Mesmo hoje havia apenas um punhado de pessoas que sabia o seu nome, e menor ainda era o número dos que o conheciam pessoalmente. O próprio Dunross nunca fora à sua villa na Rua da Fonte Quebrada, o prédio baixo e espaçoso oculto por trás dos portões de ferro e muros de pedra enormes, nem sabia direito coisa alguma a seu respeito — de onde viera, quem eram seus pais ou como conseguira adquirir aqueles dois monopólios de riqueza ilimitada.
— Lamento saber sobre o velho Pão-Duro — disse Dunross. — Sempre foi um filho da mãe durão, mas não mais durão para comigo do que para com qualquer dos filhos.
— É. E está morrendo. Joss. E estou pouco ligando para os herdeiros dele. Como os Chins, serão ricos, todos eles. Até o Zeppelin — disse Lando Mata, com um ar de desdém. — Até o Zeppelin vai receber de cinqüenta a setenta e cinco milhões americanos.
— Santo Deus, quando a gente pára para pensar no dinheiro que o jogo dá...
As pálpebras de Mata se fecharam mais.
— Devo fazer uma mudança?
— Se quiser deixar um monumento, sim. Atualmente, o sindicato só permite jogos chineses: fan-tan, dominó e dados. Se o novo grupo tivesse visão, e se ele se modernizasse... se construísse um imenso cassino novo, com mesas para roleta, vinte-e-um, chemin-de-fer, até mesmo dados americanos, a Ásia inteira se dirigiria para Macau.
— Quais são as chances de o jogo ser legalizado em Hong Kong?
— Nenhuma... sabe melhor do que eu que sem o jogo e o ouro, Macau acabaria indo pro brejo, e é um ponto de honra da política comercial da Grã-Bretanha e de Hong Kong jamais permitir que isso aconteça. Temos as nossas corridas de cavalos... vocês, as mesas de jogo. Mas com proprietários com uma visão mais moderna, novos hotéis, novos jogos, novos hidroaviões, vocês ganhariam tanto que teriam que abrir o seu próprio banco.
Lando Mata apanhou um pedaço de papel, olhou para ele, depois passou-o a Dunross.
— Aqui estão quatro grupos de três nomes de pessoas que talvez tenham o direito de dar lances. Gostaria de saber sua opinião.
Dunross nem olhou para a lista.
— Quer que eu escolha o grupo de três que você já escolheu?
Mata riu.
— Ah, Ian, você me conhece bem demais! É, já escolhi o grupo que deve ser o mais bem-sucedido, se seu lance for substancial o bastante.
— Algum dos grupos está sabendo que você está pensando em tomá-lo como sócio?
— Não.
— E quanto ao Pão-Duro... e os Chins? Não vão perder o seu monopólio sem chiar.
— Se o Pão-Duro morrer antes do leilão, haverá um novo sindicato. Caso contrário, a mudança será feita, porém de modo diferente.
Dunross olhou para a lista. E soltou uma exclamação abafada. Todos os nomes eram de chineses conhecidos, de Hong Kong e Macau, tudo gente de peso, alguns com passado curioso.
— Bem, pelo menos são todos famosos, Lando.
— É. Para ganhar tanto dinheiro, para dirigir um império do jogo, é preciso homens de visão.
Dunross sorriu junto com ele.
— Concordo. Então, por que não estou na lista?
— Demita-se da Casa Nobre até o fim do mês e poderá formar o seu próprio sindicato. Garanto que o seu lance será aceito. Fico com quarenta por cento.
— Lamento, mas não é possível, Lando.
— Poderia obter uma fortuna pessoal de quinhentos milhões a um bilhão de dólares em dez anos.
— O que é o dinheiro? — falou Dunross, dando de ombros.
— Moh ching, moh mengl Sem dinheiro, não há vida.
— É, mas não há dinheiro bastante no mundo para fazer com que eu me demita. Apesar disso, farei um trato com você. A Struan dirigirá o jogo para você, por meio de representantes.
— Desculpe, não. Tem que ser tudo ou nada.
— Poderíamos fazer a coisa melhor e mais barato do que qualquer outro, e com mais classe.
— Se você se demitir. Tudo ou nada, tai-pan.
A cabeça de Dunross doía ao pensar em tanto dinheiro, mas percebeu o tom de voz resoluto e definitivo de Mata.
— É justo. Desculpe, não estou disponível — falou.
— Estou certo de que você, pessoalmente, seria bem-vindo como... como consultor.
— Se eu escolher o grupo certo?
— Talvez. — O português sorriu. — E então? Dunross se perguntava se poderia correr o risco de uma tal associação. Fazer parte do sindicato de jogo de Macau não era como pertencer ao Turf Club.
— Vou pensar no assunto, depois darei uma resposta.
— Ótimo, Ian. Diga-me qual a sua opinião dentro de dois dias, certo?
— Certo. Vai me contar qual foi o lance vencedor... se decidir mudar?
— Um associado ou consultor precisa ter conhecimento disso. Agora, um último tópico, depois eu vou indo. Acho que jamais verá de novo seu amigo Tsu-yan.
Dunross fitou-o.
— Como?
— Ele ligou para mim de Taipé, ontem de manhã, nervosíssimo. Pediu-me que mandasse o Catalina especialmente para apanhá-lo. Disse que era urgente, que explicaria quando me visse. Viria direto para a minha casa, logo que chegasse. — Mata deu de ombros e examinou as unhas muitíssimo bem-tratadas. — Tsu-yan é um velho amigo. Já atendi a velhos amigos antes, portanto autorizei o vôo. Ele não apareceu, Ian. Oh, veio com o hidroplano... meu chofer estava no molhe para apanhá-lo. — Mata ergueu os olhos. — É uma coisa incrível. Tsu-yan vestia trapos imundos de cule e um chapéu de palha. Resmungou que iria me ver logo mais, à noite, enfiou-se no primeiro táxi e arrancou como se estivesse sendo perseguido por todos os diabos do inferno. Meu chofer ficou estupefato.
— Não houve um engano? Tem certeza de que era ele?
— Ah, tenho, Tsu-yan é muito conhecido... felizmente meu chofer é português, e tem alguma iniciativa. Saiu correndo atrás dele. Disse que o táxi de Tsu-yan se dirigiu para o norte. Perto do Portão da Barreira, o táxi parou, e então Tsu-yan fugiu a pé, o mais rápido possível, cruzou o Portão da Barreira e entrou na China. Meu empregado o viu correr até chegar junto dos soldados do lado da RPC, e depois sumir dentro da casa da guarda.
Dunross fitou Mata, sem poder acreditar. Tsu-yan era um dos capitalistas e anticomunistas mais conhecidos de Hong Kong e Formosa. Antes da queda do continente, fora quase que um minissenhor da guerra na área de Xangai.
— Tsu-yan jamais seria bem-vindo na República Popular da China — disse. — Jamais! Deve estar no topo da lista negra deles.
Mata hesitou.
— A não ser que estivesse trabalhando para eles.
— Não é possível.
— Qualquer coisa é possível, na China.
Vinte andares abaixo deles, Roger Crosse e Brian Kwok estavam saindo do carro da polícia, seguidos por Robert Armstrong. Um policial à paisana do sei veio ao seu encontro.
— Dunross ainda está no escritório, senhor.
— Ótimo.
Robert Armstrong ficou na porta de entrada, os outros dois se dirigiram para o elevador. Saltaram no vigésimo andar.
— Ah, boa noite, senhor — cumprimentou Claudia, e sorriu para Brian Kwok. Tung Zeppelin esperava ao lado do telefone. Fitou os policiais, com choque repentino, obviamente reconhecendo-os.
Roger Crosse disse:
— O Sr. Dunross está me esperando.
— Sim, senhor. — Apertou o botão da sala de reuniões, e logo falou ao seu telefone: — O Sr. Crosse está aqui, tai-pan.
Dunross disse:
— Dê-me um minutinho, depois faça-o entrar, Claudia. — Recolocou o seu telefone no gancho, depois virou-se para Mata. — Crosse está aqui. Se não o vir logo mais no banco, falo com você amanhã de manhã.
— Sim, eu... por favor, ligue para mim, Ian. É. Quero alguns minutos em particular com você. Logo mais ou amanhã.
— Logo mais às nove — replicou Ian imediatamente. — Ou amanhã, a qualquer hora.
— Ligue para mim às nove. Ou amanhã. Obrigado. Mata cruzou a sala e abriu uma porta que mal se notava, camuflada como parte das estantes de livros. A porta se abria para um corredor particular que levava ao andar inferior. Ele fechou a porta atrás de si.
Dunross ficou olhando para o lugar por onde ele se fora, pensativo. O que estaria querendo? Guardou os papéis da agenda numa gaveta, trancou-a, depois recostou-se na cabeceira da mesa, tentando se concentrar, olhos fitos na porta de entrada, o coração batendo mais depressa. O telefone tocou e ele deu um pulo.
— Sim?
— Papai — falou Adryon, sempre afobada —, desculpe interromper, mas mamãe quer saber a que horas você vem jantar.
— Vou chegar tarde. Diga a ela para não esperar, que como qualquer coisa no caminho. A que horas chegou ontem à noite? — indagou, recordando-se de que ouvira o carro dela voltar pouco antes da aurora.
— Cedo — retrucou, e ele já ia dar-lhe uma bronca daquelas, quando percebeu a tristeza na voz da moça.
— O que há, meu bem? — perguntou.
— Nada.
— O que há?
— Nada, verdade. Tive um dia ótimo, almocei com o seu Linc Bartlett... fomos fazer compras. Mas aquela besta do Martin me deu o bolo.
— O quê?
— É. Esperei uma hora inteira por ele. Tínhamos combinado ir tomar chá juntos no Victoria, mas ele nem deu as caras. É uma besta!
Dunross abriu um sorriso.
— Não se pode confiar em certas pessoas, não é mesmo, Adryon? Veja só! Dar o bolo em você! Mas que audácia! — falou, adequadamente solene, radiante porque Haply ia ouvir poucas e boas.
— Ele é um monstro! Um monstro de vinte e quatro quilates!
A porta se abriu. Crosse e Brian entraram. Ele lhes fez um gesto de cabeça, chamando-os para perto. Claudia fechou a porta atrás deles.
— Tenho que desligar, agora. Ei, boneca, amo você! Tchau! — Desligou o aparelho, e não estava mais perturbado. — Boa noite — cumprimentou.
— As pastas, Ian, por favor.
— Por certo, mas primeiro temos que ir ver o governador.
— Primeiro eu quero aquelas pastas.
Crosse tirou do bolso o mandado de prisão, enquanto Dunross pegava o telefone e discava. Esperou apenas um momento.
— Boa noite, senhor. O superintendente Crosse está aqui... sim, senhor. — Estendeu o aparelho. — Para você.
Crosse hesitou, a fisionomia dura, depois pegou o aparelho.
— Superintendente Crosse — falou. Escutou durante um momento. — Sim, senhor. Pois não, senhor. — Colocou o fone no gancho. — Ora, que diabo você está aprontando?
— Nada. Estou apenas sendo cauteloso. Crosse ergueu o mandado.
— Se não me der as pastas, tenho autorização de Londres para entregar-lhe isto aqui às dezoito horas, com ou sem governador!
Dunross devolveu-lhe o olhar, igualmente duro.
— Por favor, à vontade.
— O mandado está entregue, Ian Struan Dunross! Sinto muito, mas está preso.
O queixo de Ian empinou um pouco.
— Muito bem. Mas antes, por Deus, iremos ver o governador!