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23h35m

Suslev estava sentado na penumbra do seu esconderijo no apartamento 32 do Sinclair Towers. Por causa do seu encontro com Grey, havia mudado para Iá o local do encontro com Arthur.

Sorvia o seu drinque na penumbra. Ao seu lado, na mesi-nha, havia uma garrafa de vodca, dois copos e o telefone. Seu coração batia com muita força, como sempre que tinha um encontro clandestino marcado. "Será que algum dia me acostumarei a eles?", perguntou-se. "Não. Hoje estou cansado, embora tudo tenha saído muito bem. O Grey agora está programado. O pobre idiota, impulsionado pelo ódio, inveja e ciúme! O Centro precisa advertir mais a liderança do pcb sobre ele... é influenciável demais. E o Travkin, no passado um príncipe, agora um nada, e Jacques de Ville, aquele impetuoso incompetente, e todos os outros.

"Deixe pra Iá! Tudo está saindo às mil maravilhas. Tudo está preparado para amanhã, para a chegada do tal Sinders. " Um arrepio involuntário percorreu Suslev. "Não gostaria de ser aprisionado por eles. A MI-6 é perigosa, dedica-se fanaticamente a nos combater, assim como a CIA, porém é muito pior. Se o plano da CIA e da MI-6, codinome Anúbis, para unir o Japão, a China, a Inglaterra, o Canadá e os Estados Unidos, vier a se realizar, a Mãe Rússia será destruída para sempre. Ah, meu país, meu país! Que falta sinto da Geórgia, tão linda, suave e verdejante!"

As canções da sua infância, as canções folclóricas da Geórgia, vieram à sua mente, levaram-no ao passado. Enxugou uma pequena lágrima ao pensar em tanta beleza, tão distante. "Não faz mal, minha licença não vai demorar. Aí, irei para casa. E meu filho também estará em casa de licença, na mesma época, vindo de Washington, com sua jovem mulher e o filhinho, tão sabiamente nascido nos Estados Unidos. Não haverá problemas com passaportes para ele. Será a nossa quarta geração a servir. Progredimos. "

A escuridão começava a envolvê-lo. A pedido de Arthur, para maior segurança, havia cerrado as cortinas e mantido as janelas fechadas, embora não houvesse possibilidade de serem vistos. O apartamento tinha ar-condicionado, mas também por medida de segurança pediram-lhe que o deixasse desligado, assim como as luzes. Fora sensato sair do apartamento de Finn antes de Grey, para o caso de ter havido alguma mudança de plano, e haver um agente do sei a segui-lo. Crosse lhe dissera que nessa noite não haveria nenhum, embora no dia seguinte outro homem fosse ser destacado para acompanhá-lo.

Tomara um táxi e parara no Terminal da Balsa Dourada para comprar os jornais da noite, fingindo cambalear de bêbado, para o caso de estar sendo observado. Depois fora para o Rose Court, para a casa de Clinker. Então descera o túnel e chegara até ali. Havia um homem do sei de guarda diante do Rose Court. O homem ainda estava Iá, e ficaria Iá, ou não ficaria. Não fazia diferença.

O telefone tocou. O ruído sobressaltou-o, embora a campainha fosse cuidadosamente abafada. Três toques, depois o silêncio. Seu coração bateu mais rápido. Dali a pouco Arthur chegaria.

Tocou a automática oculta atrás de uma das almofadas. Ordens do Centro. Era uma das muitas ordens que desaprovava. Suslev não gostava de armas, de pistolas ou revólveres. Podiam falhar. O veneno, não. Seus dedos tocaram o frasco minúsculo enterrado na sua lapela, perto o bastante para que sua boca o alcançasse. Como seria viver sem a morte instantânea tão próxima?

Deliberadamente, relaxou e concentrou seus sentidos como um radar, querendo pressentir a presença de Arthur antes que ele realmente estivesse ali. Arthur usaria a porta da frente ou a dos fundos?

De onde estava sentado, podia ver as duas portas. Ficou de ouvido atento, a boca ligeiramente aberta para aumentar a sua sensibilidade. O rangido do elevador. Correu os olhos para a porta da frente, mas o rangido cessou vários andares abaixo. Esperou. A porta dos fundos se abriu antes que pudesse pressentir coisa alguma. Suas entranhas se revolveram, quando não reconheceu a figura escura. Por um momento, ficou paralisado. Depois, a figura endireitou um dos ombros, e a leve corcunda desapareceu.

— Khristos! — murmurou Suslev. — Que susto me deu!

— Faz parte do serviço, meu velho. — As palavras, em tom baixo e ligeiro, eram misturadas com a tosse seca e fingida.

— Está sozinho?

— Claro!

O vulto moveu-se silenciosamente e entrou na sala. Suslev viu que ele guardava a sua automática e relaxou a pressão no cabo da sua, mas ainda a manteve escondida. Levantou-se e estendeu a mão, calorosamente.

— Pelo menos desta vez chegou na hora. Apertaram-se as mãos. Jason Plumm não tirou as luvas.

— Por pouco não chegava — disse, na sua voz normal, o sorriso apenas à superfície do rosto.

— O que houve? — perguntou o russo, percebendo o tipo de sorriso. — E por que toda essa história de "cerre as cortinas e mantenha as janelas fechadas"?

— Acho que podem estar vigiando este lugar.

— Como? — A inquietação de Suslev aumentou vertiginosamente. — Por que não falou nisso antes?

— Disse que acho que podem estar. Não tenho certeza. Tivemos um bocado de trabalho para fazer disto aqui um local seguro, e não quero que seja "estourado" por qualquer motivo.

— A voz do inglês alto estava áspera e irritada. — Escute, camarada, aconteceu o diabo. O sei pegou um tripulante do seu navio. Ele...

— O quê? — exclamou Suslev, fitando-o com um choque fingido.

— Metkin. Parece que é o comissário político...

— Mas isso é impossível — disse Suslev, a voz trêmula, representando magistralmente, ocultando a alegria por Metkin ter caído na sua armadilha. — Metkin jamais iria em pessoa pegar um material!

— Mesmo assim, está nas mãos do sei! O Armstrong o pegou, juntamente com um americano do porta-aviões. Pegaram-nos com a mão na massa. O Metkin sabe a respeito da Sevrin?

— Não, de forma alguma.

— Tem certeza?

— Tenho. Nem mesmo eu sabia, até alguns dias atrás, quando o Centro mandou que assumisse o lugar de Voranski — falou Suslev, a mentira retorcida fluindo com naturalidade.

— Tem certeza? O Roger quase teve um troço! Parece que o Metkin é o seu comissário político, e um major do KGB. É?

— É, mas é ridículo...

— Por que cargas-d'água ele, ou você, ou alguém não nos contou que tinham uma operação em andamento, para estarmos preparados para uma eventualidade? Sou o chefe da Sevrin, e agora vocês estão operando aqui sem ligações comigo, sem me manter a par das coisas. Sempre foi o nosso acordo. Voranski sempre nos avisava com antecedência.

— Mas, camarada — disse Suslev, apaziguadoramente —, eu não estava sabendo de nenhum material a ser apanhado. Metkin faz o que quer. Ele é o chefe, o mais antigo no navio. Eu não estou a par de tudo... você sabe disso! — Suslev estava adequadamente apaziguador e irritado, mantendo a sua "cobertura" habitual de não ser o verdadeiro árbitro da Sevrin. — Não posso imaginar o que deu no Metkin para ir apanhar um material pessoalmente. Cretino! Devia estar maluco! Graças a Deus é um homem dedicado, e há veneno em sua lapela, por isso não há...

— Pegaram-no intacto.

Suslev soltou uma exclamação abafada, agora realmente chocado. Esperava que Metkin estivesse morto há muito tempo.

— Tem certeza?

— Pegaram-no intacto. Conseguiram seu nome verdadeiro, posto e número de série, e neste momento está num avião-transporte da raf, sob forte guarda, a caminho de Londres.

Suslev teve um branco, de repente. Astuciosamente, fizera com que Metkin tomasse o lugar do agente que devia ter ido se encontrar com o americano. Há meses que vinha achando Metkin extremamente crítico, abelhudo e, portanto, perigoso. Por três vezes, no ano anterior, interceptara relatórios particulares para o Centro, escritos pelo seu número 2, criticando o modo displicente com que dirigia o seu navio e o seu serviço, e sua ligação com Ginny Fu. Suslev estava certo de que Metkin preparava uma armadilha para ele, quem sabe até tentando garantir sua aposentadoria para a Criméia — um local privilegiado — por meio de um golpe, como, por exemplo, murmurar para o Centro que suspeitava da existência de um "vazamento" da segurança a bordo do Ivánov, e que devia ser Suslev.

Suslev estremeceu. Nem Metkin, nem o Centro, nem qualquer dos outros necessitaria de provas, a simples suspeita seria o seu fim.

— Não há dúvida de que Metkin está vivo? — perguntou, analisando esse novo problema.

— Não. Está absolutamente certo de que ele não sabe nada sobre a Sevrin?

— Estou, estou, já lhe disse. — A voz de Suslev estava mais cortante. — Você é o único que conhece todos os membros da Sevrin, certo? Até mesmo Crosse não os conhece todos, não é?

— É.

Plumm foi até a geladeira e pegou uma garrafa de água. Suslev serviu-se de vodca, feliz de que a Sevrin tivesse tantas válvulas de segurança importantes: Plumm não sabia que Roger Crosse era informante do KGB... Crosse era o único que conhecia a verdadeira posição de Suslev na Ásia, mas nem Crosse nem Plumm sabiam de sua associação antiga com De Ville... nenhum dos outros membros se conhecia... e nenhum deles tinha ciência de Banastasio e das armas, ou da verdadeira extensão da arremetida soviética no Extremo Oriente.

Engrenagens dentro de engrenagens dentro de engrenagens, e agora Metkin, uma das engrenagens defeituosas, desaparecido para sempre. Fora tão fácil dar a "deixa" para Metkin, dizer-lhe que a aquisição do manifesto de carga dos armamentos do porta-aviões garantiria promoção para o agente envolvido.

— Estou surpreso de que o tenham pegado com vida — falou, com sinceridade.

— Roger me contou que agarraram o pobre sacana pelos braços e botaram-lhe uma coleira antes que pudesse enfiar os dentes na lapela.

— Acharam alguma prova nele?

— Roger não contou. Teve que trabalhar com toda a rapidez. Achamos que a melhor coisa a fazer era arrancar Metkin de Hong Kong o mais depressa possível. Estávamos apavorados de que soubesse a nosso respeito, sendo tão graduado. Será mais fácil lidar com ele em Londres — disse Plumm, a voz solene.

— Crosse resolverá o problema de Metkin.

— Talvez — replicou Plumm, inquieto, tomando mais um pouco de água.

— Como foi que o sei ficou sabendo que iam pegar o material? — indagou Suslev, querendo descobrir o quanto Plumm sabia. — Deve haver um traidor a bordo do meu navio.

— Não. Roger disse que o "vazamento" veio através de um delator que a MI-6 tem a bordo do porta-aviões. Nem mesmo a CIA sabia disso.

— Khristos! Porra, por que Roger tem que ser tão eficiente?

— Foi o Armstrong. O sei tem verificações e controles. Mas, contanto que o Metkin nada saiba, tudo bem!

Suslev sentiu que o inglês o observava atentamente. Manteve a fisionomia inocente. Plumm não era nenhum tolo. Era um sujeito forte, astuto, implacável, protegido de Philby, e secretamente escolhido por ele.

— Estou certo de que Metkin nada sabe que possa nos prejudicar. Mesmo assim, o Centro deve ser informado imediatamente. Podem cuidar disso.

— Já o fiz. Pedi ajuda. Prioridade Um.

— Ótimo — falou Suslev. — Agiu muito bem, camarada. Você e o Crosse. Aliciar Crosse para a causa foi um golpe de mestre. Deixe que lhe dê novamente os parabéns.

Suslev estava sendo sincero no elogio. Roger Crosse era um profissional, e não um amador como Plumm e todos os outros da Sevrin.

— Talvez eu o tenha aliciado, talvez ele me tenha aliciado. Às vezes não tenho muita certeza — disse Plumm, pensativo. — Ou quanto a você, camarada. Voranski eu conhecia. Tratamos de negócios durante anos. Mas você... você é algo novo, não experimentado.

— É. Deve ser muito difícil para você.

— Não parece estar muito abalado com a perda de seu superior.

— Não estou. Devo confessar que não estou. Metkin foi maluco de se meter em tal perigo. Contrariou totalmente as ordens. Para ser franco... acho que estava havendo "vazamentos" de segurança no Ivánov. Metkin era o único membro antigo da tripulação, além de Voranski, que tinha acesso à terra. Era considerado acima de qualquer suspeita, mas nunca se sabe. Quem sabe cometeu outros erros, língua solta num bar, ou coisa assim?

— Deus nos proteja dos tolos e dos traidores. Onde foi que o Alan obteve as suas informações?

— Não sabemos. Logo que soubermos, o "vazamento" será consertado.

— Você vai ser o substituto permanente do Voranski?

— Não sei. Não me disseram nada.

— Não gosto de mudanças. As mudanças são perigosas. Quem o matou?

— Pergunte ao Crosse. Também quero saber. — Suslev também observava Plumm. Viu o outro balançar a cabeça, aparentemente satisfeito. — E quanto ao Sinders e aos relatórios do Alan? — perguntou.

— Roger já tem tudo coberto. Não há com que se preocupar. Ele tem certeza de que poderemos vê-los. Você receberá a sua cópia amanhã. — Plumm observou-o, de novo. — E se os nossos nomes estiverem nos relatórios?

— Impossível! Dunross teria contado ao Roger imediatamente... ou a um dos seus amigos na polícia, provavelmente o Lig-lig-lé Kwok — disse Suslev, num tom de deboche. — Se não a ele, ao governador. Automaticamente, chegaria aos ouvidos de Roger. Estão todos seguros.

— Talvez sim, talvez não. — Plumm foi à janela e olhou para o céu sombrio. — Nada nunca está seguro. Veja só o Jacques. Agora é um risco. Jamais chegará a tai-pan.

Suslev permitiu-se um franzir de cenho, e depois, como se fosse uma idéia repentina, disse:

— Por que não orientá-lo para que saia de Hong Kong? Sugira ao Jacques que peça para ser mandado para... digamos para a Struan no Canadá. Poderia usar sua tragédia recente como desculpa. Lá no Canadá estará num local mais afastado, e ficará marcando passo. Que tal?

— Muito boa idéia. É, isso seria fácil. Ele tem diversos bons contatos ali, que podem ser úteis. — Plumm sacudiu a cabeça. — Ficarei muito mais contente depois que tivermos lido aquelas pastas, e mais contente ainda quando você descobrir como foi que o Alan chegou até nós.

— Chegou até a Sevrin, não até vocês. Não os descobriu. Escute, camarada, asseguro-lhe de que estão a salvo para continuar o seu trabalho vital. Por favor, continuem a fazer todo o possível para agitar a crise bancária e o colapso do mercado de capitais.

— Não precisa se preocupar. Todos estamos querendo que isso aconteça.

O telefone deu sinal de vida. Os dois homens o fitaram. Tocou uma única vez. Um toque. O código, "perigo", veio-lhes imediatamente à cabeça. Horrorizado, Suslev agarrou o revólver escondido, lembrando-se de que suas digitais estavam nele, enquanto se arremessou cozinha adentro na direção da porta dos fundos, Plumm colado aos seus calcanhares. Escancarou a porta, deixando Plumm sair primeiro para o patamar. Nesse momento, ouviu-se o bater de pés que se aproximavam, e um impacto contra a porta da frente do apartamento, que agüentou, mas cedeu ligeiramente. Suslev fechou a porta de trás silenciosamente, encaixando uma trave de segurança. Outro impacto. Ele espiou por uma fresta. Outro impacto. As fechaduras da porta cederam. Por um instante, viu as silhuetas de quatro homens contra a luz do corredor, depois fugiu. Plumm já tinha descido as escadas, dava-lhe cobertura no patamar seguinte, a automática na mão. Suslev desceu os degraus de três em três, passando por ele, até o patamar seguinte, depois virou-se para dar cobertura ao outro, por sua vez. Acima dele a porta dos fundos curvava-se de modo nauseante. Silenciosamente, Plumm passou por ele e voltou a dar-lhe cobertura enquanto desciam para o patamar seguinte. Então, Plumm afastou alguns caixotes que camuflavam a falsa porta de saída junto da principal. Passos ruidosos vinham subindo em sua direção. Outro impacto contra a porta dos fundos, acima. Suslev ficou de guarda enquanto Plumm se esgueirava pela abertura para a escuridão, depois seguiu-o, fechando a porta parcialmente atrás de si. Plumm já pegara a lanterna elétrica escondida. Os passos se aproximavam. Cautelosamente, Plumm foi descendo na frente, os dois homens movendo-se rápida e silenciosamente. Os passos e o som de vozes abafadas passaram por eles. Os dois homens pararam momentaneamente, tentanto ouvir o que se dizia. Mas o som era indistinto e abafado demais. Não era possível perceber se falavam inglês ou chinês.

Plumm virou-se de novo e foi na frente, descendo as escadas, ambos apressados mas extremamente cautelosos, não querendo fazer nenhum ruído desnecessário. Logo chegaram à saída secreta. Sem hesitar, os dois homens levantaram o fundo falso e desceram para a umidade fresca da galeria de escoamento. Tão logo chegaram ali, em segurança, pararam para recobrar o fôlego, o coração disparado com o inesperado da coisa.

Quando conseguiu falar, Suslev sussurrou:

— Kuomintang?

Plumm apenas deu de ombros. Enxugou o suor do rosto. Um carro passou acima deles. Dirigiu o facho de luz para o teto, que pingava. Havia muitas rachaduras, e outra avalancha de lama e pedras veio cascateando. No chão havia uns quinze centímetros de água que cobriam seus sapatos.

— É melhor nos separarmos, meu velho — disse Plumm suavemente, e Suslev notou que, embora o homem estivesse suando, sua voz estava gelidamente calma, e o facho de luz não tremulava. — Mandarei o Roger cuidar do que houve imediatamente. Extremamente tedioso.

O coração de Suslev começava a voltar ao normal. Ainda tinha dificuldade em falar.

— Onde nos encontramos amanhã?

— Eu aviso. — O rosto do inglês estava extremamente severo. — Primeiro Voranski, depois Metkin, agora isso. "Vazamentos" em excesso. — Fez um gesto com o polegar para cima. — Essa passou perto demais. Talvez o seu Metkin soubesse mais do que você imagina.

— Não. Estou lhe dizendo que ele não sabia de nada sobre a Sevrin, nada, do apartamento, de Clinker, ou de coisa alguma. Eu e o Voranski éramos os únicos que sabíamos. Não há "vazamento" da nossa parte.

— Espero que tenha razão — acrescentou Plumm maldosamente. — Vamos descobrir, Roger vai descobrir, de um jeito ou de outro, algum dia, e então Deus tenha piedade do traidor!

— Ótimo. Eu também o quero. Depois de uma pausa, Plumm disse:

— Ligue para mim de meia em meia hora, de diversos telefones públicos, a partir das sete e meia da noite de amanhã.

— Está bem. Se por acaso houver algum problema, estarei na casa de Ginny das onze em diante. Mais uma coisa. Se não conseguirmos dar uma olhada nos papéis de Alan, qual a sua opinião sobre o Dunross?

— A memória dele é incrível.

— Então devemos isolá-lo para um interrogatório com substâncias químicas?

— Por que não?

— Ótimo, továrich. Tomarei todas as providências.

— Não. Nós o pegaremos e o entregaremos. Ao Ivánov? Suslev concordou, e contou-lhe a sugestão de Metkin de pôr a culpa nos Lobisomens, sem dizer que a idéia fora de Metkin.

— Que tal?

— Muito inteligente! Até amanhã — disse Plumm, sorrindo. Entregou a lanterna elétrica a Suslev, tirou do bolso uma lanterna do tamanho de um lápis e virou-se, afastando-se pela galeria do escoamento, os pés ainda submersos em água. Suslev ficou olhando até o homem alto dobrar a esquina e sumir. Ele nunca descera galeria abaixo. Plumm lhe dissera que não o fizesse, que era perigoso, sujeito a quedas de pedras.

Respirou fundo, já sem medo. Outro carro passou ruidosa e pesadamente acima da sua cabeça. "Deve ser um caminhão", pensou, distraidamente. Mais lama e um pedaço de concreto caíram, espadanando água e assustando-o. Suslev esperou, depois começou a subir a encosta, cuidadosamente. Outra pequena avalancha. Subitamente, Suslev odiou a galeria subterrânea. Fazia com que se sentisse inseguro e condenado.


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