LOUISE
–O que vai fazer agora, criança? – perguntou o rei, em tom meigo.
Mantive a cabeça baixa e as mãos cruzadas no colo.
– O que Vossa Majestade ordenar.
O rei olhou para o seu principal ministro, Lionne. A presença deste na discussão era o que me estava a intrigar e a perturbar. Que o rei desejasse falar comigo sobre o meu futuro, não era de forma alguma inesperado. Eu sabia que não tinha lugar na corte, agora que Madame fora enterrada. Havia apenas três opções, que eu visse: seria enviada de novo para a Bretanha, para suportar a desilusão dos meus pais; seria oferecida a uma outra dama bem colocada na corte – possivelmente até alguém como Olympe de Soissons, embora Deus soubesse que os meus pais também considerariam isso uma ofensa; ou, se tivesse muita, muita sorte, o rei podia escolher-me ele próprio um marido, num gesto de homenagem aos desejos de Madame.
Das três, nenhuma me agradava particularmente. Nem mesmo a terceira, embora fosse essa a única razão pela qual eu fora sequer enviada para a corte.
– Imagino que deve querer ir para casa, para junto da família – sugeriu o rei. – Os seus pais devem ter saudades suas.
Mantive a voz nivelada.
– Os meus pais, senhor, mais do que ninguém, estão conscientes da grande distinção que Vossa Majestade lhes faz ao manter-me na corte.
– Sim. – O rei pigarreou. – Certos aspectos desta vida condizem consigo, ao que parece. Madame falou-me várias vezes do seu perspicaz entendimento de questões diplomáticas.
Lionne acrescentou:
– As ligações de Madame no estrangeiro eram de grande importância para nós. Como sabe, ela correspondia-se com o irmão.
– Sim, senhor – respondi, modestamente. – Ajudei Madame a redigir algumas das cartas. – Mais uma vez, os dois homens trocaram olhares.
Eu suspeitava agora de que a minha primeira avaliação desta conversa talvez tivesse sido precipitada. Se iam de facto mandar-me para casa, já o teriam dito. Na verdade, começava a ter a sensação de que eles próprios tinham iniciado a conversa sem uma ideia clara de qual seria o seu desfecho – que estavam, na verdade, a sondar-me, e que havia algum esquema ou intriga que tinham em mente e para o qual eu podia ser adequada, mas sobre o qual não estavam ainda certos.
O rei disse, pensativamente:
– E se houvesse alguma forma de continuar o trabalho dela… de promover a causa da aliança entre nós e a Inglaterra… gostaria de estar envolvida nisso?
Ao ouvir estas palavras, o meu coração deu um salto – pois, naturalmente, não havia nada que eu desejasse mais.
– Com certeza, senhor.
– Mesmo que isso significasse adiar… temporariamente, claro… a perspectiva de casamento? – Sorriu. – Estou certo de que uma jovem tão bonita não deve ter falta de pretendentes. Importar-se-ia de lhes pedir que esperassem… o quê? Um ano? Talvez ano e meio?
Então, talvez fosse esta a explicação para a sua hesitação – a natureza necessariamente delicada deste acordo. O rei estava a oferecer-se – à sua maneira subtil e elíptica – para me arranjar um marido dentro de um ano ou pouco mais, se, entretanto, eu me dedicasse a continuar o trabalho de Madame. Bom, claro que era uma proposta que estava ansiosa por aceitar. Curvei a cabeça.
– Sou uma humilde serva de Vossa Majestade.
– Óptimo. – O rei levantou-se. – Deixarei Lionne explicar-lhe todos os detalhes. Mas lembre-se disto, minha querida: o trabalho que fizer para nós nos próximos meses será mais valioso para França do que mil navios de guerra.
Na altura, pareceu-me que era uma sugestão extraordinária para um rei fazer a uma mera dama de companhia e, durante algum tempo, nem quis acreditar na minha sorte. Só muitos meses, até anos depois, é que compreendi o quão cuidadosamente me tinham usado.