LOUISE


O rei, de volta de Newmarket, visita-me solicitamente. Mas apenas à tarde. À noite, está noutros lados.

Uma tarde assistimos ao concerto dado por uns músicos visitantes. Estes convidam o rei a escolher uma canção.

– Perguntem à buchinha – diz. – Ela conhece estas baladas francesas melhor do que eu.

– Cantem aquela que começa por «Deixem-me morrer de dor, mas não de ciúme» – peço. Ele sorri, percebendo a piada.

Mais tarde, os músicos dedilham as suas guitarras.

– Dançamos? – pergunta ele.

– Não conseguiria dançar esta música, senhor – respondo. – É demasiado mexida e frenética para dançar.

Ele vira-se para trás.

– Alguém quer dançar?

– Eu – responde uma voz, e Hortense Mancini avança para o espaço entre os músicos e as nossas cadeiras. Sem qualquer embaraço, adopta uma pose: uma perna dobrada, os braços erguidos acima da cabeça.

Recordo-me da sua posição en garde: flexível, equilibrada, à espera.

Depois a música começa – rápida e estonteante. Ela rodopia e bate os pés e estala os dedos – há uma parte de mim que quer dizer: Oh, veja, Carlos, ela dança como uma cigana napolitana. Mas as palavras ficam-me presas na garganta. A dança é cruamente sensual, pagã. Mas Hortense não dança apenas para o rei: é também para mim que vira o olhar penetrante, os olhos brilhantes. Mal consigo respirar. Olho de soslaio para o rei. Está a olhar fixamente para ela.

Quando acaba e faz uma vénia despreocupada para a corte que a aplaude, somos nós, e não ela, que estamos ofegantes.

Загрузка...