LOUISE
As outras mulheres vieram mascaradas de pastoras, ninfas, figuras da mitologia romana e francesa. Até as danças são francesas – minuetes e portamentos e marchas. Todas as pessoas que têm alguma importância em Londres estão presentes, bem como todos os nobres e cortesãos franceses que se encontram em Inglaterra. Um ataque a França é um ataque a todos eles, e agora toda a gente está à espera para ver se o rei mostrará o seu apoio a França ao comparecer na recepção do embaixador francês.
Se ele não aparecer, será com certeza um sinal de que a aliança está quebrada.
E depois – finalmente! – uma figura alta e mascarada aparece ao cimo das escadas, acompanhada por um pequeno grupo de cortesãos privilegiados. O ruído da multidão diminui, como um animal que sustém a respiração para olhar, e depois recomeça, mais alto ainda do que antes.
O rei. O rei está aqui.
E…
Ele já não veste o preto de luto pela irmã, mas sim o tricórnio de plumas, o casaco prateado e as botas enroladas de um mosqueteiro francês.
O rei inclina-se perante França.
À medida que ele se dirige a mim, as pessoas curvam-se numa grande onda, abandonando instantaneamente qualquer fingimento de que ele está incógnito sob a máscara – a força da sua passagem espalha as vénias pela multidão como uma foice a cortar o milho.
Curvam-se atrás dele e ele ignora-os, continuando a avançar.
Pára à minha frente.
Em vez de fazer uma reverência, ergo a pistola e aponto para o peito dele. Para o seu coração. Ouve-se uma exclamação colectiva e a sala silencia-se.
– Uma dádiva, por favor – digo, calmamente.
O rosto mascarado vira-se para mim.
– Há três coisas que poderia dar-lhe, bonita salteadora. Consegue adivinhar quais são?
Os cortesãos riem-se, já com a mente na alcova. Eu abano a cabeça.
– Posso dar-lhe uma dança, posso dar-lhe um beijo ou posso dar-lhe o meu coração. Qual será?
Levanto a arma.
– Uma dança, então.
– Muito bem. – Enquanto me escolta até à pista, os músicos voltam ao princípio da peça, pelo que toda a gente se vê forçada a recomeçar.
Quando chegamos ao fim do grupo ele coloca as mãos contra as minhas, palma com palma, e entrelaçamos os dedos. Os seus olhos, escuros por trás da máscara, trespassam-me.
Depois abre um pouco os braços, ainda com os dedos presos nos meus, e puxa-me para si. Mais uma vez, sinto a sala à nossa volta silenciar-se.
Será isto parte do nosso jogo? Ou algo mais?
O mais leve dos beijos, mesmo no canto da minha boca. O cheiro da sua colónia, almiscarada e francesa. Os pêlos do seu bigode. E depois os seus lábios pressionam mais e envolvem os meus.
Involuntariamente, fico rígida e ele recua.
Oiço os murmúrios à nossa volta.
Ele encosta os lábios ao meu ouvido.
– Por um beijo destes, travaria mil guerras.